A Saga do Tio Patinhas




Sejamos francos, quem não adora o Tio Patinhas ou a Família Pato?
Estão conosco há gerações, e continuam divertindo adultos, crianças e adolescentes. Mas o que eles tem de tão especial? Por que gostamos tanto de acompanhar as histórias de animais que usam roupas?
Porque eles são humanos. Isso claro, dependendo do escritor.

O mais notável escritor dos Patos foi Carl Barks, ele criou praticamente toda a mitologia: Os Metralhas, Os Escoteiros-Mirins, Professor Pardal, Patópolis, a Caixa-Forte, e o Tio Patinhas. Em suas histórias haviam várias tiradas engraçadas, mas também haviam elementos que eram realmente um estudo do comportamento humano, e também um modo de mostrar as ideias pessoais do escritor.
Uma das coisas mais interessantes é que o Sr. Barks não se preocupou em dar uma ordem cronológica aos fatos, as coisas simplesmente aconteceram. Porém, espalhou pistas em diálogos e histórias.

Alguns cidadãos tentaram reunir e criar uma ordem cronológica, e um deles é Keno Don Rosa, que escreveu A Saga do Tio Patinhas.





A Saga do Tio Patinhas teve início há muito tempo atrás, ainda em 1974, quando um escritor de ficção científica chamado Jack Chalker tentando botar uma ordem, mas teve pouca repercussão. Mais tarde, Mark Wooden faria uma árvore genealógica baseada em um esboço de Barks. No início da década de 90, após pedidos de fãs do mundo todo, a Disney decidiu que o Pato mais Rico do Mundo deveria ter sua biografia revelada, e o Egmont Group (que publica quadrinhos Disney em boa parte da Europa) pegou o projeto. 2 anos e meio de trabalho árduo depois, os 12 primeiros capítulos estariam completos. Nos anos seguintes, foram lançadas histórias que complementam ou fazem muitas referências à Saga, algumas delas publicadas como capítulos extras.



Primeiro falarei da história em geral.

A história focaliza a infância, juventude e idade adulta de Patinhas MacPatinhas, o último MacPatinhas do clã. O seu clã um dia foi grande e poderoso, mas acabou caindo, e as terras e o castelo ficaram pra pastores de ovelhas. Patinhas, pra ajudar a família, começa a trabalhar de engraxate em Glasgow, na Escócia. Porém, seu pai combina com um limpador de fossa pra ele dar uma moeda de 10 centavos ao pequeno Patinhas, pra que o mesmo ficasse mais atento aos que quisessem passar a perna nele.

Essa história é antiga, e provavelmente seu pai já lhe contou isso. Mas é muito legal ver como Don Rosa narra esse episódio.

Depois disso, Patinhas começa a vender turfa, que era usado pelos ricos como lenha. Essa turfa era pegada nas terras do castelo do clã MacPatinhas, mas como as terras não eram mais deles, era proibido ir lá. Ele acaba tendo que se esconder dos pastores de ovelhas, e com uma ajuda de um MacPatinhas ele expulsa os pastores das terras.

Após esses eventos, o último membro do clã MacPatinhas decide ir aos Estados Unidos, ajudar seu tio Patico no Mississípi.

A partir daí, começam as aventuras de Patinhas MacPatinhas ao redor do mundo.


Don Rosa tinha um grande trabalho em mãos. Pegar todas as histórias de Carl Barks, todas as referências, e tentar colocá-las numa linha do tempo que seria igual o do nosso mundo. É interessante notar também o grande número de personagens reais que aparecem na história: Theodore Roosevelt, Gerônimo, Os Daltons, Buffalo Bill, Wyatt Earp, dentre vários outros. Alguns são exagerados, como o Steele, outros mais realistas, como o Teddy.

Por exemplo, em uma história de Barks, Tio Patinhas diz que andou na bolsa de um canguru na Austrália. Isso está na Saga, inclusive tem uma história inteira sobre Tio Patinhas na Austrália. Admiradores e leitores compulsivos e detalhistas de Carl Barks irão se realizar procurando referências aqui. Referências essas que são explicadas e guiadas nos comentários no final de cada volume, já já chego lá.

Aliás, coisa pra procurar é o que não falta. Costumo dizer que Don Rosa é um excelente quadrinhista, pois escreve e desenha de maneira excepcional. O estilo dos desenhos é quase como "mundo real encontra mundo Disney". Roupas, prédios, cenários, personagens, expressões, tudo é muito bem detalhado e rebuscado. O roteiro também é genial, incluindo referências históricas e piadas de segundo ou terceiro plano, muitas vezes tendo mais de uma piada por quadro. As piadas em diálogo também costumam pelo menos dar um sorriso de canto.

Detalhes de desenho em que você pode perder bons minutos em apenas um quadrinho procurando coisas cômicas ou simplesmente apreciando o desenho. Sério, comprei a Saga em 2008 (se não estou errado), e desde aquela época leio e releio, a ponto de praticamente saber a história decorada, e ainda descobri detalhes de cenário semana passada, e outras que um amigo meu que percebeu. E não somente isso, mas ele desenha muito bem quadros normais mesmo. Se duvidam de mim, vejam o primeiro quadro do cap. 12 e o último quadro do cap.11, só como exemplo. Aliás, melhor, leiam QUALQUER história de Don Rosa, e irão concordar comigo.

Além disso, tem uma narrativa muito legal, incluindo algumas quebras de quarta parede, algumas bem sutis, e outras bem à vista, mas muito inteligentes.

Sobretudo, uma das coisas que mais gosto de Don Rosa é que seus personagens são humanos.

Vejam bem, essa é uma das vantagens dos quadrinhos feitos do modo ocidental: ter várias versões de escritores.

Na mitologia original, a moeda Número 1 do Tio Patinhas era seu amuleto da sorte. E isso funciona muito bem pro personagem, devo admitir. Porém, segundo Don Rosa, a moedinha é apenas uma moeda comum. Tio Patinhas mesmo admite que ela não dá sorte (e é endossado pelo Vovô Metralha). A Moeda Número um foi o primeiro salário que o pequeno Patinhas ganhou, então é algo quase sentimental. Imagine o seu primeiro pagamento por algo que você fez por esforço próprio. É isso que o Patinhas sente pela moeda.

Após terminar a leitura dos capítulos, há textos que explicam a história de cada capítulo, trazendo curiosidades, referências à obra de Barks, dentre outras coisas, sem contar os textos grandes que explicam a história da Saga, sobre a outra Saga e imagens de árvores genealógicas.


Pontos negativos? Bem, eu diria só que em algumas páginas a impressão deixou a desejar, mas foram 2 ou 3, nada que estrague o brilho da obra. Se quer um conselho, vá atrás. Como é meio antigo (de 2007 ou 2003, houveram duas impressões), provavelmente você ache em lojas especializadas.

Pra finalizar, quero dizer que a Saga é uma prova de que não importa o que você use, seja uma franquia destinada a crianças, ou animais meio-humanos, se a história for bem-escrita, então ela deve ser tratada como tal. A Saga do Tio Patinhas é a série de histórias mais dramática e realista que eu já vi, usando os personagens Disney.

E outra coisa, há uma história na Saga que fala dos Cavaleiros Templários. A história anterior a essa, A Coroa dos Reis Cruzados, você encontra na Disney BIG número 3, onde também tem uma história que faz referências à Saga.

A propósito, se você quiser um pouco mais de desafio, aqui estão algumas coisas pra vocês procurarem, depois digam se acharam ou não.

Cap.2: Um homem discutindo com um cavalo.
Cap.6: Um Mickey.
Cap.10: Uma galinha fazendo a pose "Draw me like on of your french girls". 


A propósito, ignorem a péssima qualidade das fotos, eu fiz há algum tempo, e minha máquina digital é um Decepticon que age por conta própria.