Chico Bento: Pavor Espaciar

O personagem Astronauta, de Maurício de Sousa, já havia ganhado uma Graphic Novel nas mãos de Danilo Beyruth, assim como a Turma da Mônica em Laços de Vitor e Lu Cafaggi (que eu ainda não tive o prazer de pôr as mãos).




Mas consegui ler "Pavor Espaciar", do cartunista, chargista, colaborador do "Lance!" e quadrinhista Gustavo Duarte, que já havia lançado os álbuns "Có!", "Taxi" e "Birds" (com característica marcante e comum de não possuírem diálogos), além de ganhar prêmios do Troféu HQ Mix.




A história é bastante simples: Chico Bento e Zé Lelé vão passar uma noite sozinhos em casa enquanto os pais de Chico visitam uns parentes. Mas, como são crianças indefesas e ninguém acreditaria nelas, aparecem alienígenas e raptam Chico e Zé, além do porco Torresmo e a galinha Giselda.

E... Basicamente é isso. Não há reviravoltas, grandes temas complexos, filosofias sobre a humanidade e sua existência. É simplesmente uma história do Chico Bento, apenas exagerando em alguns pontos. O que é bom, porque não foge do clima das histórias de sempre do pequeno caipira, assim como o Astronauta de Danilo não fugiu ao tom melancólico que constantemente toma o personagem.



A arte é simplesmente linda. Gustavo tem uma maneira bastante única de fazer seus personagens, dando a eles bastante expressividade. O que é bem útil, pois boa parte do álbum é narrada sem falas. Embora em alguns momentos (como o mostrado abaixo) a característica boca fique meio exagerada, dando ao personagem uma cara estranha.



Ainda falando da arte, a finalização também é muito bem trabalhada. O estilo cartunesco de Gustavo possui personagens com bocas imensas, e graças ao belo acabamento, dá até pra imaginar o dedo dentro (como se fossem bonecos, claro).

Na apresentação, o Sr. Maurício diz que a arte de Gustavo é tão dinâmica que quase dá pra vê-los se mexendo. Achei que fosse exagero, mas quando li, entendi. Fora o estilo ser bem propício a uma animação, o modo que os quadros e as cenas retratadas são tão interligadas que realmente lembra uma animação. Algo semelhante ao que Shotaro Ishinomori costumava fazer.



O fato de a arte não possuir onomatopeias ou linhas de movimento ajudam a produzir essa ideia de desenho animado, sem chegar a prejudicar a leitura. Em alguns momentos, cheguei a "ouvir" os sons dos passos na trilha sonora, recurso que os desenhos cômicos usam constantemente.

Fora a história, há vários easter eggs durante a leitura. Alguns mais óbvios, outros mais escondidos, que dão um toque final na narrativa.

A apresentação do Roger, do Ultrage a Rigor, apresenta o artista, mas não me pareceu muito inspirado pra escrever. Ao contrário do Mauricio, que chega a mostrar uma certa intimidade com o leitor, por meio de marcas de oralidade.



Extras de esboços e curiosidades no final, bem como um breve histórico do personagem Chico Bento, fecham o álbum com leveza.



"Pavor Espaciar" é um típico "causo" de interior. É uma história relativamente curta, mas se o leitor for parar pra ver cada referência, além de apreciar a arte, vai passar mais tempo e, logicamente, aproveitar mais.