Batalha de Versões - Como o Grinch Roubou o Natal






Então, finalmente é Natal! Essa época tão amada por uns e odiada por seguidores da filosofia do Sr. Scrooge, com comidas, festas, parentes, parentes chatos, e lembrar do nascimento de Jesus Cristo!
Eu pessoalmente adoro o Natal, e há um elemento que é tradicional nessas festas: filmes natalinos. Algum filmes água-com-açúcar e filmes genuinamente bons.
E então temos "O Grinch".


...ainda acho "O Estranho Mundo de Jack" superestimado.
Enfim.

Pra quem não sabe, o filme "O Grinch" foi baseado em uma animação chamada "How the Grinch Stole Christmas!", que por sua vez foi baseada em um livro homônimo escrito e desenhado por Theodore Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss. (Pronuncia-se "Sóós")

Uma das principais características desse escritor era escrever livros rimados para crianças mas que são tão criativos que até hoje são lidos, até mesmo por pessoas mais velhas.


Nos anos 60 fizeram-se várias adaptações para animações de seus livros, como "The Cat in the Hat", "The Lorax", e "Green Eggs with Ham", além claro, de "How the Grinch Stole Christmas!".
E eis que, lá pelo ano 2000, alguém achou uma boa ideia fazer um remake da animação do Grinch.
Provavelmente essa é a versão que todos conhecem, o que me deixa um pouco triste, já que a animação tem muitas qualidades e inclusive foi dublada, mas é encontrá-la na internet é uma tarefa árdua. Lembro-me apenas de ter visto em 2012 no Tooncast.

O que me faz sentir muita saudade da TV a cabo...

...

Enfim, hoje decidi fazer uma coisa diferente. Ao invés de simplesmente resenhar o filme, eu irei fazer a primeira Batalha de Versões! Dentro das proporções, irei analisar e decidir qual é a melhor versão das 3: o livro, a animação e o filme.

Agora, antes de mais nada, quero deixar bem claro que, mesmo tentando ser o mais imparcial possível, o que eu disser não é lei, não tome como verdade absoluta. Pense, debata consigo mesmo. Aliás, se achar que algum ponto não está esclarecido, venha falar comigo, debater comigo, estou sempre aberto a uma boa discussão.

E se você for uma ruiva asiática que gosta de bacon, te dou meu telefone.

...haha, zuera.

Enfim, QUE SE INICIE A PRIMEIRA BATALHA DE VERSÕES: COMO O GRINCH ROUBOU O NATAL!


1-História



A história das três versões é essencialmente a mesma, mas vamos com calma.

O livro narra sobre a vila dos Whos (em português, os Quem), que adoram o Natal e se empolgam bastante enfeitando a vila e dando presentes e visitando parentes chatos com conversas intermináveis de "e as namoradinhas?"

Se opondo a tudo e todos que representam essa festividade, está um ser maligno e verde, o Grinch. Que, no final, todos sabemos, volta a ser bonzinho e blá blá blá.



Mas o que quero chamar atenção é que a animação é extremamente fiel ao livro. Ela pega o livro literalmente e o transforma em uma animação bem interessante, acrescentando um pouco mais de profundidade ao personagem. E o interessante é que as músicas (escritas pelo próprio Dr. Seuss) também definem um pouco melhor o Grinch, além de serem divertidas e encaixarem na história.

Quanto ao filme... É... Eu tenho alguns problemas com ele.
Pra início de conversa, eu sei que muitos aqui amam o filme. Eu não o odeio, só acho que há certas coisas que não precisavam estar ali. Mas tudo a seu tempo.

O filme não começa exatamente do mesmo jeito. Ele mostra os habitantes da vila Who se preparando para o Natal. Mas, ao contrário das outras duas versões, aqui os Whos são egocêntricos, consumistas, e tratam o natal com a mesma religiosidade consumista que otacos tratam eventos de animê.

Com isso dito, eu acho que o motivo do Grinch odiar o Natal tem mais sentido aqui.
Há apenas uma linda garotinha chamada Cindy-Lou Who, que eu juro que vai ser o nome da minha terceira filha.

A segunda será Drusilla e a primeira Misato.
...se eu achar alguma garota louca o suficiente pra me querer.
...

Enfim.

Cindy-Lou é a única pessoa em Whoville que acha que toda essa agitação mesquinha e digna de Nova York não é o verdadeiro espírito do Natal, e tenta convencer a todos sobre isso.
Até que ela escuta uma lenda sobre um tal de Grinch que odeia o Natal e vive longe de Who-Ville. Então ela decide descobrir mais sobre o passado do Grinch e tentar salvar sua pobre alma cheia de alho.

Algumas considerações a se fazer: primeiro, o filme tem a classificação PG-13 (13 anos acompanhado dos pais). O que pode ou não ser uma coisa boa. Se tratando de um filme baseado em um livro e uma animação voltado para crianças, não era de se esperar que eles botassem coisas como... bem, isso.



E isso.



Nessa cena o prefeito sonha com a paixonite dele e o Grinch o faz beijar a bunda de Max, o cachorro.
...pois é. Dr. Seuss estaria tão orgulhoso!

No entando, isso não chega a incomodar muito, já que o filme em si é muito bem escrito e adiciona diversos elementos interessantes aos Whos e ao Grinch. Por exemplo, os Whos tem o Livro dos Who, que é como se fosse a Bíblia deles, incluindo as interpretações erradas e adições que muitos fazem.

Mas talvez esse seja um ponto que incomoda muita gente. Eles adicionaram MUITA coisa. É, de fato, uma tática arriscada, porque Sun Tzu já dizia, "(...)um caso em que o 'bom' é melhor do que o 'excelente'. Quanto mais te elevares acima do 'bom', mais te aproximarás do 'pernicioso' e do 'ruim'.
Ou, aplicado ao nosso caso, "menos é mais".


Enquanto o filme faz uma longa exposição e adição de material para que pudesse ser desenvolvido (o que não é necessariamente ruim), o especial animado de 66 vai direto ao ponto e adiciona material apenas para que se tornasse um pouco mais longo e não tivesse a sensação de que falta alguma coisa. Porque, convenhamos, o livro não é lá essa cocada-preta toda.
As cenas adicionadas foram as músicas (que falaremos mais a frente), algumas gags visuais e as cenas de corridas de trenó. E a propósito, há uma piada metalinguística engraçadinha sobre as rimas.

Com isso dito, qual das duas versões tem a melhor história, mais fiel, e que passa a mensagem da melhor forma? Acredito que o ponto vá pra animação, por conseguir ser fiel ao livro e adicionar material apenas o suficiente. Quanto à transmissão da mensagem, eu falarei dela mais adiante.


Animação 1 x 0 Filme

2-Visual



Dr. Seuss não só escrevia os livros, mas também os ilustrava. E cara, que ilustrações.
Com um estilo único e criativo, o Dr. é autor de várias criaturas, cenários, plantas, personagens, e letras que nos fazem questionar se ele consumia algum alucinógeno como Hot-Cat ou Sopa de Feto.
O visual da animação chega bem próximo dos desenhos do tio Seuss, mas não só isso, ele os melhora! Digo, olhem pro Grinch do livro e do especial!




Claro, a ideia do Dr. era que ele parecesse alguém odiável, mas o character design dele é... fraco, por assim dizer. Não sei se é porcausa do imenso intervalo de tempo, mas é um visual poluído, com cada pelo desenhado. Já o Grinch do especial, Chuck Jones e sua equipe fizeram um trabalho estético bem bacana no Grinch, que ficou com uma imagem mais clara e gravável.


Outro personagem que recebeu um tratamento estético merecido foi a pequena Cindy-Lou, que passou de um protótipo de rato a uma criatura doce, fofa, adorável, chocolatante, e bochechamente apertável.

A tranformação de Whoville do desenho para o filme teve obviamente alterações. Vemos Whoville como uma cidade de verdade, e com mais detalhes, como o posto de correio, prefeitura, casas dos Whos, etc, e que se encaixam bem com a proposta de "cidade de desenho animado surrealista". De fato, é muito mais difícil simular uma cidade que parece um desenho animado feito em live-action, e a equipe de produção do filme fez isso direito, além de se relacionar com a proposta dos Whos do filme, de serem egocêntricos e competitivos. Não que a ambientação da animação não esteja de acordo com a ideologia dela própria, muito pelo contrário, mas a equipe de produção do filme certamente teve mais trabalho.




Cindy-Lou está tão fofa quanto a sua contraparte animada, e tem até mesmo um papel fundamental no filme, ao contrário da animação. E inclusive, nos é mostrado o quão esperta ela é, mostrando as mentiras do prefeito em praça pública lotada de Whos. Mesmo sendo tão inteligente e não tendo medo do Grinch, eu não consideraria ela uma criança-prodígio.





Já o visual do Grinch... Uau. Eles deram uma boa trabalhada aqui. Com um visual realista que ainda contém resquícios do desenho dos livros, a fantasia do Grinch realmente está como deveria ser. Detalhe pros olhos dele.
Não é a toa que eu tinha medo dele quando criança.
...ah, vá, quem não tinha medo de algum personagem de algum dos dois live-action de Dr. Seuss? Digam nos comentários que eu orarei pela mente de vocês.


Com esses pontos em vista, e por ter um esforço imenso que produziu um resultado do balaco baco, o ponto vai pro filme.

Animação 1 x 1 Filme

A fantasia do Grinch, como falei, estava perfeita. O que me leva ao próximo ponto:

3-Grinch



O Grinch de 66 é dublado por ninguém menos que Boris Karloff, o ator que consagrou a imagem que todos nós temos quando é pronunciado o nome "Frankestein". E ele faz um trabalho duplo, de narrador e de Grinch, com óbvias alterações na voz.

A atuação dele é extremamente boa, em ambos os casos. A narração dele tem a entonação correta nos momentos corretos e seu Grinch consegue se expressar de forma apropriada, e sua voz casa com o design e a animação, que é bastante fluida e bonita.

Quanto ao Carrey como o Grinch... Ele É o Grinch.



Vejam como ele se move, como ele fala, como ele gesticula, ele realmente encarna o personagem, e entende o universo em que se coloca, já que o Grinch tenta socializar, mas quando ele se lembra de todas as humilhações que passou, volta a debochar dos Whos em grande estilo. Mas ainda assim há momentos onde ele exagera demais e parece precisar de uma direção melhor, como quando o coração dele aumenta 3 vezes.

Inclusive o discurso que ele faz contra o consumismo dos Whos é belo pois funciona dentro da ideia do filme, e ele consegue ser sério e ao mesmo tempo sem perder características próprias do personagem.

O mais legal provavelmente é a relação dele com Cindy-Lou, já que ela é a única que acredita nele e ele tenta assustá-la e espantá-la de alguma forma. Mas aos poucos ele vai criando uma certa afeição por ela, mesmo que estranha.

...e sim, nos dá mais algumas cenas de atuação forçada. Mas no geral, a atuação de Jim é fenomenal, digna de um desenho animado.

Aliás, se fosse uma animação, provavelmente as partes forçadas não seriam tão forçadas assim.

Sinto muito, Boris. Você fez um trabalho lindo na animação, como o Grinch e narrador. Mas mesmo com alguns probleminhas de exagero, Carrey teve uma performance melhor.

Animação 1 x 2 Filme

4-Músicas



As músicas são praticamente as mesmas, com a exceção de "Where are you, Christmas?".
As músicas são "Welcome, Christmas" e "You're a mean one, Mr. Grinch".

Ambas são excelentes na animação. Tem seu momento certo e suas respectivas funções dentro da história. Mas eu devo admitir que "Welcome, Christmas" parece ter uma força maior no filme, devido aos figurantes e à execução da cena. Infelizmente, a música não parece bem afinada (e não falo do Grinch cantando mal de propósito), o que me faz voltar ao desenho.

"You're a mean one, Mr. Grinch" é um clássico atemporal, assim como a própria história do Grinch, tão clássica quanto "Um Conto de Natal". Com uma pegada no jazz, a música é interessante e continua atemporal, jazz sempre será legal.

No filme não muda muita coisa, mas uma das mudanças interessantes foi que quem canta é o próprio Grinch, como se fosse um hino de louvor a sua perversidade.

Isso até eles botarem notas exageradas e a mudança de melodia, ambas totalmente dispensáveis. Se eles tivessem continuado com a linha que estavam seguindo, tava tudo de boa.

Quanto a "Where are you, Christmas?", há duas versões. Uma quando Cindy-Lou canta no filme, e outra no encerramento, com uma voz e arranjo mais bem trabalhados.

Eu... Não tenho nada contra ela. Claro, a voz da garotinha não é tão boa, mas eu aposto como ela está dando o melhor de si pra acertar as notas. E a letra reflete um pouco da forma que a personagem vê a situação atual do Natal e a relação dos Whos com a festividade. Embora um pouco... Vaga, é rápida e cumpre seu papel.
Seria um empate técnico pra mim, mas como eu tenho que escolher, ponto pra animação.

Animação 2 x 2 Filme

Conclusão: Empate Técnico

Ok, deixem-me explicar. Mesmo se um ganhasse, eu iria considerar um empate técnico. Porque? Porque considero o filme "O Grinch" como uma releitura da animação e do livro.

O livro e a animação se chamam "Como o Grinch Roubou o Natal", e o filme "O Grinch". Nada mais natural que os dois primeiros cheguem logo ao ponto de nos mostrar como o Grinch roubou o Natal.

Já o filme parece dar um destaque maior ao personagem Grinch. Porque ele odeia o Natal? Como ele surgiu? O Grinch é um Who? Essas perguntas são respondidas e fazem sentido dentro da proposta.
Aliás, parando pra pensar, os Whos do filme são todos babacas (com exceção de Cindy-Lou e Martha May). O Grinch era o único diferente da cidade, e todo mundo fazia bullying racial com ele, o que o fez se tornar um ser antipático e anti-social que odeia a TODOS os Whos e toda a festividade do Natal, porcausa do trauma que sofreu. Ou seja, os Whos tem sim uma parcela na culpa de sofrerem o que sofreram ao trazerem o Grinch pro Natal.

Ouvi reclamações da mudança de atitude dos Whos, mas, venhamos e venhamos, faz mais sentido pra época em que vivemos.



Não sei como era nos anos 60, mas vivemos uma era consumista que a cada ano, a cada dia só piora. Um dos motivos do Grinch odiar o Natal é que os Whos mostram que o Natal é apenas presentes, presentes, e presentes. E é a esse consumismo desenfreado que ele faz uma crítica em um dado momento do filme, e que é propriamente debochado (embora botar um ramo de avezinho na bunda seja um exagero).


Concluindo: alguns veem o filme como uma mancha à memória da animação e do livro, mas eu acredito que as duas versões podem conviver pacificamente. O fato é que a animação pegou o livro (que era bom) e tornou em algo melhor ainda. O filme veio como uma fanfic extremamente cara e bem executada que, mesmo com certos momentos desnecessários, são relativamente inofensivos às crianças. O fato é que cada versão está boa para sua época e proposta. A atuação de Boris está excelente para a proposta do Grinch animado, assim como a atuação de Jim está muito boa para o Grinch live-action. Todos os três são clássicos atemporais do Natal, assim como um Conto de Natal e suas trocentas versões.