Godzilla the Series - Especial Dia do Tokusatsu


No fim dos anos 90, alguém achou que seria uma boa ideia adaptar o clássico monstro da Toho, Godzilla, pras telonas ocidentais. E todos nós sabemos a bomba que foi.

No entanto, nos anos 90 veio uma safra de desenhos baseados em filmes daquela época, como A Múmia, King Kong, e MIB.

E então veio Godzilla the Series.





A série começa exatamente onde o filme terminou, recriando inclusive as cenas finais. O que faz muito sentido, se me perguntarem.
Pra quem não se lembra, o filme termina com a humanidade (leia-se: Nova York) comemorando que o Godzilla e seus trocentos filhotes morreram, e agora podem voltar às suas vidas pacatas comendo cachorro-quente com mostarda e assistindo baseball.


Mas nos é mostrado que um ovo ainda sobreviveu, e já terminara de chocar. Esse Godzilla Jr. é a estrela desse desenho, o que me faz acreditar que o argumento seria o plano de uma continuação, se o filme não tivesse sido um fracasso de público, crítica e bilheteria.

Ao encontrar o ovo, o pequeno dinossauro mutante se afeiçoa ao Dr. Nick Tatopoles e começa a tratar ele como se fosse um pai. Ou dono.

...eu não tou brincando, o bichão age literalmente como um cachorro, cumprindo normas do protocolo "bicho que acha que é cachorro" como lambendo o cientista, abanando o rabinho, e dormindo de bruços. No primeiro episódio, pelo menos. No restante ele se limita a obedecer ordens e proteger o Dr. Tatópolis.


O que é estranho, considerando que ele nunca viu um cachorro e seu material genético está há quilômetros do de um cachorro.

Enfim, outros monstros mutantes continuam a aparecer depois de Godzilla, e ele como Melhor Amigo do Homem™, vai proteger Nova York e o mundo dos ataques dos novos mutantes, mesmo que a opinião pública e militar seja contra o figurante rejeitado de Jurassic Park. Dr. Tatopoodles quer proteger o bichão para continuar suas pesquisas científicas com o auxílio dos seus amigos do filme, e de novos personagens como um nerd "cool" hispânico e uma francesa bonitinha no lugar de Jean Reno.




O desenrolar dos episódios segue o padrão ocidental. Ou seja, os episódios não tem muita ligação entre si (exceto, claro, o começo). O que não quer dizer que não tenha uma ordem cronológica, mas ela é bem menos visível do que, por exemplo, My Little Pony.

Prova disso são os relacionamentos entre os personagens, que aos poucos são desenvolvidos, com tempo e lugar certo.

Os roteiros envolvem a recém-formada equipe na caça de criaturas mutantes, porque... Aparentemente só depois do Zilla aparecer que essas criaturas decidiram se revelar.

Os personagens seguem os típicos esteriótipos de time: o líder, o cérebro (que normalmente é o alívio cômico), o jovem zuero, e a moça bunitinha. Ainda temos mais uma aqui que é meio que uma mistura entre o cérebro e a moça bunitinha.


Sim, são típicos esteriótipos dos anos 90, sim eles fazem trocadilhos e piadinhas demais, mas ainda assim, eles tem uma certa humanidade, e possuem características gostáveis, muitas vezes até surpreendendo, como um alívio cômico salvando o dia.
...
Sim eu sei, mais um esteriótipo dos anos 90, mas a série é cheia disso, é quase uma cápsula do tempo.
E devo dizer, o Dr. Nick Tatopoules não lembra em NADA aquele retardado do filme.


Não lembra fisicamente, psicologicamente, e graças a Deus, ele de fato ATUA na série. E ao invés de apontar o óbvio aleatoriamente, ele dá observações e comandos com a autoridade e conhecimento de um verdadeiro cientista de Sci-Fi. Sem esquecer o lado mais humano dele, é claro.

E falando em visual...


Até Godzilla tá mais bonito!
Sim, claro, ele ainda lembra vagamente o Dragon Booster, mas hey, eles se dão ao trabalho de dar uma personalidade a ele e de iluminar mais as cores, sem falar que a animação é excelente.

De fato, arrisco dizer que a animação de ação são uma das melhores que já vi. Ao contrário de...


...um certo filme.
CACO O SAPO FAZENDO COSPLAY DE DRAGÃO É MAIS REALISTA QUE ISSO!

No entanto, nem tudo são flores.

Enquanto a animação de ação é excelente, a animação de atuação continua... Estranha, especialmente em relação a expressões faciais.



Ora é culpa do design de alguns personagens, como Nick, que tem os olhos "acabei de acordar", e outras da direção de animação. Contudo, os dubladores fazem um trabalho bom com a entonação de vozes, que por sua vez salva as emoções dos personagens (por mais que a expressão não acompanhe.


Os monstros são muito criativos, e realmente exigem um pouco mais de pensamento por parte da equipe de cientistas, tanto pela investigação quanto como lidar com as ameaças.

E é interessante notar como algumas vezes Godzilla serve apenas pra ganhar tempo pros humanos terminarem de preparar o método anti-mutante, o que ressalta que a série é mais sobre os humanos sobreviverem do que o monstro em si. O que é o espírito do Godzilla original, fora que dá um efeito de que o calangão é parte da equipe, fazendo o que ele pode naquele momento.


Godzilla the Series é uma série que definitivamente me surpreendeu. Tendo em vista o material em que foi baseada, eu imaginei que seria uma catástrofe, mas o que recebi foi uma série que pelo menos tentava ser boa, mesmo com seus erros e acertos. E que até traz alguns conflitos interessantíssimos pro gênero Monstro Gigante.

Mesmo fazendo relativo sucesso entre as crianças, a série foi cancelada, aparentemente porque era o início das Guerras PokéDigi, e as crianças preferiam capturar e fazer amizade com monstros do que usar eles em experimentos científicos.

É uma cápsula do tempo do início dos anos 2000 interessantíssima de se ver.


"Oh, olha só. Godzilla de novo.
Mais uma segunda-feira entediante."