A Pequena Sereia (Ningyo Hime)



Já pararam pra pensar como adaptação pode ser um negócio complicado?

Não só por tentar entender uma obra e executá-la da melhor maneira possível, mas sim de enfrentar uma fanbase. Sempre irá ter diferenças entre a fonte e o produto, algumas gritantes. Mas como eu venho falando há algum tempo, tem diferenças que não fazem a mínima falta no produto final e ainda assim os fãs insistem em dizer que é de fato um problema. Como, sei lá, a cor do cabelo da Annabeth em Percy Jackson.

Eu só enxergo neles uma aspiração a serem a própria P.L. Travers.

Aí vamos pras animações Disney e todo mundo fica “nossa ainda bem que eles mudaram isso né?”
...ok eu nunca ouvi ninguém dizer isso, mas eu tenho quase certeza de que todos nós pensamos isso ao descobrirmos algumas coisas. (Recomendo a leitura disso aqui)


E hoje lhes apresento A Pequena Sereia da Toei, de 1975.




A história foca em Marina, sereia princesa. Ela sonha em ir nadar na superfície junto de suas irmãs, mas ainda é muito jovem para isso. Após usar uns cheats, ela chega na superfície e salva um príncipe de uma catástrofe com seu barco, e se apaixona por ele. Por salvar o príncipe, ela ganha o direito de ir até a superfície, mas agora ela quer mais que isso, e faz um contrato com a bruxa do mar para ganhar pernas (em troca de sua voz) e conquistar o príncipe. O final, todos vocês sabem (ou deviam saber): o príncipe se casa com outra; Marina entra em depressão, mas recebe uma proposta de matar o príncipe pra voltar a ser sereia; mas decide se sacrificar e morre, virando espuma marinha.


A história segue muito fielmente o conto de fadas de Andersen, mas infelizmente dá pouco desenvolvimento aos personagens. Eles são muito unidimensionais, não tem características marcantes ou identificáveis, o que torna o final meio sem sal (embora ele seja muito bem executado).


Marina é a típica princesa que quer explorar novas coisas e novos mundos, mas acaba sendo só isso, e talvez mais estúpida e mimada que a Ariel (já que vemos pouco da personalidade dela, e o que vemos acaba não sendo tão interessante ou identificável quanto Ariel); Fritz é o típico sidekick bonitinho que atua como golfinho de guarda de Marina, bem como a consciência dela. E o príncipe acaba sendo quase tão sem graça que o príncipe de Cinderela (1950).

Essa estátua tem quase tanto
carisma quanto o príncipe
Isso quer dizer que eles são intragáveis? Não exatamente, eles só são… Simples demais. A história é interessante o suficiente pra continuarmos assistindo. A edição atrapalha, tendo cortes rápidos e falta de música de fundo; fora que o supervisor de layout tirou férias durante o filme, já que ele tem excesso de close-ups nos rostos, que depois de um tempo incomoda.


A animação é 8 ou 80, ou ela é desconfortavelmente preguiçosa, ou ela é muito boa. Por exemplo, os personagens falando e flutuando na água são bem próprio de animações japonesas da época, mas quando se trata de coisas como movimento das ondas, barcos quebrando, ou mesmo Marina no seu dilema de matar ou não o príncipe são boas. Detalhe também pros cenários, que não são exatamente criativos, mas que nota-se que houve um esforço neles.


Mas de longe, a coisa que mais irrita é o gato falante.



Me ouçam: animais marinhos falam com Marina, ok. Mesmo depois dela virar humana, eles de alguma forma conseguem se comunicar com ela. Estranho, mas ok, não é como se o filme explicasse os detalhes da magia do mundo. Mas aí do nada um gato começa a falar, e ele tramava contra Marina. Ok, então o gato é a bruxa do mar transformada?



De fato não, porque depois o gato é nos mostrado tramando contra Marina juntamente com o primeiro ministro. Então, ok, então o primeiro ministro é a bruxa e o gato é algum lacaio dela.



Adivinha? DE FATO NÃO, porque depois vemos o gato falando com o rei e rainha sobre o príncipe não querer se casar como se fosse a coisa mais normal do mundo!

E se você procurava uma explicação, azar o seu.

"A TALKING CAT?"
Yup, eles botam essa coisa totalmente aleatória que tem pouco ou nada a ver com a trama principal e simplesmente deixam por isso mesmo.


Ok, mas no final, vale a pena? Bem… Se tu tiver muito interessado em saber sobre a história original, não é tãão ruim… Embora com certeza deva existir alguma coisa mais entretível que isso.
Tem em português no YouTube e eu juro como deve ter um DVD de 6,99 nas Americanas desse filme.

Eu nunca vi, mas durante um tempo saíram várias animações japonesas sobre contos de fada (já vi à venda O Pequeno Príncipe e eu lembro de um VHS do Robin Hood), então as chances de ter por um preço acessível são altas.


Mas, se quiser algo de fato divertido e agradável com a história mais fiel ao conto original, eu não posso te ajudar por não conhecer tal filme, mas a versão da Disney é boa o suficiente. Só assista se lembrando de que Ariel poderia ter morrido no final, e o príncipe carregado a culpa de ter casado com a moça errada e ainda ter indiretamente causado a morte da protagonista.


...your know, for kids!