Zootopia




Eu sei, eu sei. É o Mês do Dr. Seuss, mas semana que vem ainda é Março, então tá valendo.
E como eu só planejei 4 assuntos sobre Dr. Seuss, não sabendo da quinta semana, eu agradeço à Disney por lançar esse filme esse mês.

Então vamola, que essa resenha não tem spoiler.



O filme narra a história de Judy Hopps, uma coelha que nasceu no interior, mas sonha em ser uma policial. O problema é que nunca houve um coelho policial, justamente por serem animais pequenos e frágeis.

Mas tal qual aqueles alunos brasileiros que dedicam 24 horas e 7 dias por semana de suas vidas a estudarem coisas que nunca usarão na vida cotidiana e fecham a nota do ENEM/ITA e nós aplaudimos como se fosse um exemplo para todos os outros, Judy passa no teste e se torna uma policial na metrópole de Zootopia.

Mas ao chegar lá, ela sente que suas habilidades são subestimadas, e após vários imprevistos, Judy entra na pista de uma série de desaparecimentos que se ligam a um crime muito maior, e ela precisará da ajuda de Nick Wilde, raposa malandra das ruas, mesmo as raposas tendo uma péssima imagem.




A história em geral é muito criativa. É basicamente um filme de buddy cop, com todos os clichês que vocês já viram em tantos filmes como Segurança Nacional, Máquina Mortífera, e Osmosis Jones. No entanto, esses clichês não soam forçados e são integrados ao filme com naturalidade, principalmente porcausa do design dos personagens e ambiente (já chego lá). O filme tem esses clichês, mas trabalha bem em cima deles, principalmente porque o filme é anunciado como uma coisa mais fofinha, enquanto a história em si fica mais e mais sombria.



Eu tenho a impressão de que esse é o primeiro buddy cop que a Disney faz em toda sua História (salvo algum filme extremamente obscuro), e os produtores mostram que fizeram o dever de casa e entregam uma história bem amarrada, interessante, com personagens identificáveis e gostáveis, além de domínio de narrativa, mostrando mais plot twists que o último arco de Brasil 2016.

Lá pro final do filme, eu consegui prever praticamente todos, mas é bem planejado, entregado, e o filme sabe que não tem mais muito o que esconder, ele não fica mais tempo tentando te enganar, já que isso causaria que os plot twists fossem mais previsíveis ainda.

Os personagens são muito bem escritos e tem histórias de fundo que pendem pro clichê, mas sempre com alguma coisa diferente, que é o suficiente pra nos fazer importar com os personagens. Judy veio de uma fazenda e fora as limitações (físicas e psicológicas) não tem grandes pretensões, só quer fazer a parte dela pra tornar o mundo um lugar melhor. Nick Wilde é um malandro em todos os sentidos, mas que sofreu um trauma de infância e decidiu que nunca mais seria humilhado e teria que ser melhor que todos os outros pra sobreviver, mais ou menos como o Tio Patinhas.



Mas o que chama a atenção no filme, é a cidade. Não só a qualidade gráfica, mas principalmente os conceitos da cidade. Ela abriga animais de diferentes espécies, tamanhos, e necessidades específicas, e busca preencher todos esses espaços.

Por exemplo, os trens tem portas de vários tamanhos para os vários tipos de animais; há uma cidade específica para os roedores, com tudo em miniatura; os hipopótamos saem da água e passam por um secador no chão; tudo isso ajuda a dar credibilidade à cidade. De fato, uma das melhores cenas do filme é quando o trem de Judy passa pelas áreas da cidade, e tem aquele vislumbre inicial da cidade grande.



A moral do filme é justamente a de não julgar um livro pela capa, e o filme toma todas as vantagens que pode pra mostrar isso. No entanto, pra você que já entende a mensagem, isso pode se tornar um incômodo. Mas ele se esforça em não passar essa mensagem de forma forçada; ao invés disso, ele mostra com situações e desenvolvimento de personagem, de forma que tu realmente se importe com eles. 

Se ele consegue se conectar com você pessoalmente ou não, são outros 500, mas eu, mesmo entendendo as alegorias, não tive aquele sentimento de "uurgh, eu já entendi, prossiga com o plot". Entretanto, eu gostaria de ver mais da cidade, mais desenvolvimento de personagem que não fosse martelando a moral do filme.

Mas é interessante como ele fala que todos somos diferentes e temos nossas limitações, e algumas vezes não vamos conseguir superá-las por algum motivo, mas não nos impede de continuar tentando.




No entanto, a moral funciona mais ainda quando você para pra estudar a forma que ele foi anunciado. Como um filme policial, sim, mas mais focado na fofura, na comédia, vemos os personagens tirando selfie e sendo adoráveis. Mas o filme em si acaba por ser um filme policial de ação, dramático, com excelentes ideias criativas, e com comédia e fofura o suficiente pra não te distrair do plot de investigação, e até pra balancear nas cenas de perseguição.

Não é um filme espetacular, ao meu ver. Não consigo ver como o melhor filme da Disney desde Bela e a Fera, como diz uma resenha da Forbes. Mas foi um passo que a Disney não tá acostumada a fazer, e é o filme que cimenta a chamada Segunda Renascença Disney. (Isso já é assunto pra outro dia.)

Pelo que é, é muito, muito bom. Tem comédia, drama, ação, perseguição de carros e trens, tudo numa história bem amarrada com personagens carismáticos. Nota-se um esforço muito grande dos produtores de ser um filme não só engraçado, divertido e fofinho, mas que tenta passar uma mensagem importante, mais pras crianças que pros adultos. Definitivamente, vale a pena ver.

Inclusive, a dubalgem ficou muito boa. Uma ou outra adaptação de termo que ficou estranho (como a piada do elefante na sala), mas no geral ficou bom. Até a escolha das vozes, com Rodrigo Lombardi (que embora seja mais ator de novela tem se dado bem em dublagem, não sendo só publicidade como vem acontecendo), e Judy nunca soa como aquela guria que era do CQC e que agora tá no Video Show, ela é Judy.
Eu diria pra verem dublado, mas vamos encarar, é um desenho animado. Claro que não vai ter sessão legendada.

Nick Wilde me representa
quando me chamam pra bater foto.

(E porque raios nos créditos botaram os nomes dos dubladores brasileiros, mas a Gazelle ficou como "Shakira" mesmo? Que injustiça.)