Cassiopéia


Quando eu tive que fazer um trabalho sobre a história da animação, lá em 2013, um dos filmes que mais me intrigavam era Cassiopéia. Não por ele em si parecer ter uma história interessante, ou por ter bons visuais, mas sim por ser o mote de uma polêmica sobre o primeiro filme totalmente feito em computador.
Eu vou chegar lá mais tarde, mas por ora, eu pretendo apenas analisar o filme como ele é. Não percamos mais tempo e vejamos se Cassiopéia realmente vale a pena.




O filme começa nos jogando em um planeta habitado por robôs que está sofrendo um ataque alienígena. Aparentemente os alienígenas querem roubar a fonte de energia do planeta. Em uma série de medidas desesperadas, o Conselho do planeta resolve lançar cápsulas de fuga pelo espaço, e os aliens vão atrás dessas cápsulas, para que não os incriminem.



Uma das cápsulas acaba caindo em outro planeta habitado por robôs, que por sua vez vão atrás das outras cápsulas porque… Eu não faço idéia. Eles nunca explicam direito, mas logo eu falo disso.
Após pegar todas as cápsulas, eles chegam no planeta atacado e vão defendê-lo de seus invasores.

Eu realmente não esperava muito graficamente. Digo, até Toy Story em alguns momentos é datado demais (especialmente pra fazer seres biológicos, como humanos e o cachorro). O nível que temos aqui é superior aos filme da VideoBrinquedo, os personagens tem pouquíssimas texturas, mas a atuação deles de fato mostra ter um certo esforço. Ao menos gestualmente, porque a expressão facial dos personagens é basicamente a mesma, possuindo poucas variações. Especialmente em momentos necessários.

Esses olhos comuns, que parecem
desinteressados.
Há momentos onde um personagem deveria estar assustado, mas os olhos não ficam “arregalados”. Eu compreendo, dificuldades da época, era um método ainda mais artesanal que o de Toy Story, com menos recursos. Se bobear isso foi uma falha técnica que o diretor notou e disse “deixa assim mesmo, vai.”.

Eu consigo perdoar até os designs de personagens extremamente sem inspiração. Eu não sou técnico na área, mas eu não duvido que eles tenham esses designs simples pra reduzir gastos.

Entretanto, analisando o roteiro e a fotografia do filme, começam os problemas.

O famigerado Vaporwave?

Todos os diálogos entre os personagens são explicações. Sabe o efeito que temos no ÚltimoMestre do Ar do Shyamalan, onde nenhum personagem parece vivo, ou demonstra emoções, ou fala sobre o que sente… É mais ou menos isso que temos aqui. É um esteriótipo de esteriótipo de ficção científica, onde se resume nos personagens falando termos semi-técnicos, o procedimento que vão tomar, narrando o que tá acontecendo, etc. Claro, tudo numa linguagem que as crianças conseguem entender, mas continua sendo só explicações.

Eu juro, eu não consigo sentir absolutamente nada pelos personagens, ou pelas situações que acontecem. Tudo é simplesmente jogado na tua cara, sem muito pensamento. É um filme onde simplesmente coisas vão acontecendo, mais ou menos a ideia do George Lucas pra Star Wars, mostrar como um personagem foi de A a B, quase como numa aula de História.


E fica pior. Em sci-fi, o diálogo semi-técnico serve pra nos dar uma base científica de algo que poderia acontecer (como, por exemplo, raios laser e viagem na velocidade da luz). Mas aqui eles de fato não explicam nada, e quando acontece algo extremamente idiota, como dobrar a luz, eles simplesmente não explicam absolutamente nada.

Mesmo que a história seja boba, se os personagens são carismáticos, já é um grande avanço pra tornar o filme divertido. Por exemplo, a série de curtas do Pateta aprendendo alguma coisa, poderia ser simplesmente um guia pra te dar uma ideia do assunto em questão, mas o personagem tem tanto carisma que acaba mudando totalmente o contexto da narração (sem contar a brilhante execução da animação em si).

E você achou que eu tava brincando.


Aqui os personagens vão de um canto para o outro, você não os conhece, não tem porque torcer por eles. Chegou no final do filme e eu juro como esqueci qual era o propósito dos vilões, se eles não tivessem citado isso eu teria que dar uma olhada no artigo da Wikipedia sobre o filme.
O filme sequer se preocupa em apresentar o mundo novo pro público, assim você fica perdido logo de cara, perdendo o interesse rapidamente.

A fotografia também não ajuda, com planos repetitivos que envolvem os personagens mexendo em computadores com muita constância do mesmo ponto de vista. Fora a sempre andante câmera, que não consegue ficar quieta.


Agora, sobre a polêmica. Segundo o artigo sobre o filme no Risca a Faca (que vocês deveriam ler depois daqui, aliás, vale a pena), os produtores acreditam que foi sabotagem da Disney. A Casa do Mickey descobriu que eles tavam fazendo o filme, lembraram de Jobs e sua Pixar, e jogaram umas verdinhas pra acelerar o processo. Fora a invasão nos laboratórios onde o filme estava sendo gravado em película, onde levaram CDs contendo cenas de Cassiopeia.

No entanto, Cassiopeia ainda tem o trunfo de ter sido feito 100% digital, enquanto os modelos de Toy Story foram feitos em argila e escaneados pro computador. Cassiopeia pode ter sido iniciado antes de Toy Story, mas Toy Story saiu antes, e tem Disney do seu lado. E já sabemos com o caso Tezuka que, mesmo estando certo, contra a Disney, você tá errado.

Tipo discutir com sua esposa ou pais.



O que eu acho disso tudo? Cassiopeia foi sim o primeiro filme animado a ser feito 100% em computação, mas Toy Story foi o primeiro que colocou emoção na animação 3D.

Cassiopeia é um filme entediante, desinteressante, com uma narrativa monótona. Eu recomendaria assistir apenas por motivos históricos, porque como sabemos, o Brasil não tem um nome muito bom em se tratando de animação (ou filmes em geral, vai.).

E sabem o que isso me lembrou? O Grilo Feliz. Eu lembro desse desenho, na revista Recreio. Boas recordações a partir disso…



...quer saber? Semana que vem, resenha dos dois longas d'O Grilo Feliz.


O nome dela é Lisa.
Quadro feito por um personagem chamado Leonardo.
Eu juro.