Procurando Dory


Vocês tem notado como ultimamente não se tem saído muita coisa original? Digo, claro, até nos anos 30 era comum ter-se filmes baseados em livros e contos populares, mas ultimamente isso tem servido mais pra criar uns trocados rápido do que de fato contar uma história ou oferecer uma experiência audiovisual interessante.

Disney que o diga, que praticamente cimentou a Era dos Re's. Eu pessoalmente não me incomodo com readaptações/reimaginações/wathever, contanto que os produtores entendam a fonte. E eu sei, é um ciclo. Tivemos um tempo só com filmes (maioria, ruins) de heróis, estamos vivendo a Era da Reciclagem.

Eu falei um pouco disso aqui, aliás. Sustento o que eu disse, tenho genuíno medo do futuro, dos filmes que querem apelar demais pra nostalgia e o público comprar uma idéia, achar que recebeu mais, mas na verdade recebeu menos. Basicamente, o que os restaurantes fazem relacionando a imagem meramente ilustrativa™ com o prato em questão.

Felizmente, não é o caso aqui.



O filme começa nos mostrando a história de Dory, até chegarmos ao ponto de Procurando Nemo, e então saltamos para um ano depois, quando tudo está bem estabelecido. Professor Raia dá suas aulas, Marlin tenta ser menos superprotetor com Nemo (passando a se preocupar mais com Dory), e Dory acaba tendo uma torrente de flashbacks da sua infância e da sua família.



Com medo de esquecer desses flashbacks, ela arrasta Marlin e Nemo pra cruzar o oceano de novo em busca de seus pais.


A história em si lembra bastante o primeiro filme, em termos de estrutura. Mostra como o recife de corais tudo é bonito e seguro, escola, o famigerado Paredão, até que eles são engolidos pelo Mundo Especial e encontram personagens carismáticos no decorrer da trama e aprendem alguma lição valiosa.

No entanto, o que difere Procurando Dory de Procurando Nemo são os detalhes dos eventos, que acontecem de forma diferente. Ao mesmo tempo em que Dory passa pelos lugares que aparecem em seus flashbacks, mais vamos descobrindo sobre ela e montando as peças. Temos uma noção de uma coisa ou outra tomando o que vimos no começo como referência, mas novas informações vão sendo reveladas e isso faz com que tenhamos quase a mesma sensação de descoberta que Dory tem.


Isso não só funciona pra manter seu interesse no filme e torcer pelos personagens, como também ajuda a criar o clima de ansiedade e desorientação que acontece umas 3 vezes perto do final.

Eu pessoalmente achei o tempo no recife de corais curto demais, eu gostaria de me estabelecer um pouco mais num lugar conhecido antes de adentrar novos ambientes, mas eu sou chato mesmo.
Porque o pouco de tempos que passamos no recife é suficiente pra nos mostrar um dos motivos da Pixar estar no topo de animações.


Se Procurando Nemo, de 2003, ainda se sustenta muitíssimo bem em termos gráficos (bem como narrativa; sério, se não assistem Procurando Nemo faz um tempo, assistam de novo, é impressionante), Procurando Dory não faz por menos, e nos oferece ainda mais cenários belíssimos, desde o recife de corais, até os aquários, ou mesmo espaços abertos que te deixam naquela pontinha de frio na barriga.

Eu já falei, mar aberto é um negócio que me dá medinho, me deixem.


Mas não só os cenários, mas um cuidado especial foi dado a multidões, como ao cardume (?) de arraias, e o aquário do mar aberto, com sua variedade incrível de espécies.


Outro cuidado especial foi dado ao polvo Hank, que tem um desenvolvimento bacana de personagem, mantendo alguns aspectos da personalidade dele. A habilidade de camuflagem abre possibilidades criativas pra diversas gags visuais, fora que ele se movimenta de uma forma belíssima.
E uma nota sobre a dublagem dele: aparentemente conseguiram acertar na direção de celebridades pra dublagem, depois do fiasco total de Frozen e A Grande Catástrofe em Enrolados. Zootopia é outro exemplo que deu certo. 

Assim como Cinderela, Procurando Dory nos mostra uma personagem com dificuldades que estão além do controle dela. Como todos nós, aliás. E assim como Cinderela (o de 50 ou o live action da Disney), temos os momentos de tensão e ansiedade perto do fim. No entanto, o que o filme faz é de uma natureza totalmente diferente, e se demora mais a desenvolver.


O filme tem um foco maior no problema de memória de Dory, e como ela dá um jeito pra viver com isso. Embora no primeiro filme fosse algo mais cômico, agora é mais um fator dramático, embora ainda seja um forte fator cômico.
Em vários momentos Dory se vê totalmente sozinha e tem que se virar pra continuar e superar seus problemas. Assim como cada um de nós, diariamente, temos nossas batalhas internas pra superar nossos problemas.

Agora, eu não sei se foi só eu, mas eu fiquei com uma impressão menor do filme. Não me entendam mal, eu adorei, provavelmente gostei tanto quanto Procurando Nemo (o que já é um feito considerável), mas eu tive uma impressão que foi um filme menor. Talvez por focar mais em Dory e na reconstrução de sua história (o que foi muito bem montado), mas teve menos momentos memoráveis que Procurando Nemo. Nemo teve mais personagens, mais falas engraçadas, enquanto Dory foi mais dramático.

Eu não sei, foi a impressão que eu tive. Mas isso é assunto pra outro post.


No mais, Procurando Dory é um sucessor digno de Procurando Nemo. É mais dramático que engraçado, mas não deixa de mostrar a beleza do oceano, personagens carismáticos, além de uma aventura genuinamente bem montada e divertida. Se você ainda não viu Procurando Nemo, QUE CÊ TÁ FAZENDO DA VIDA, VÁ ASSISTIR AGORA. Não é necessário pra entender o filme, mas certamente te dá um insight muito melhor de tudo. Recomendado com força.

A propósito, tem uma cena pós-créditos que eu provavelmente vou comentar depois.