Bakuman (Filme)




Você sabem o quanto eu amo Bakuman. Posso não saber todos os eventos de cabo a rabo, ou o nome de todos os personagens, mas é impossível não sentir algo por uma história que tu acompanhou e que trata de um assunto que te incentiva a seguir teus sonhos, em especial quando são da mesma área. O que é o meu caso.

E naturalmente, eu fiquei levemente empolgado quando soube da adaptação em filme, que incluía o Takeru Sato, que também atuou como Kamen Rider Den-O, Samurai X e nos comerciais dos chicletes Fits.

E como o filme se saiu? Me acompanhe…





A história conta sobre dois adolescentes, Mashiro e Takagi, que são interpretados por atores que seguem o padrão Malhação. Não na atuação, aqui eles atuam bem, mas só de olhar pra eles cê nota que eles parecem velhos demais pra estar no colégio. Mashiro ao menos, já que tem 27 anos, ao passo de que seu amigo tem 23. Mas divago.


Mashiro tem boas notas, mas nenhuma expectativa de faculdade ou emprego. Até que Takagi descobre o talento artístico de Mashiro e o intima a fazer um one-shot pra Jump e viverem de fazer quadrinhos. Mashiro só aceita porque Takagi manja dos contatos de boatos e soube que a Miho, guria que o Mashiro gosta, quer ser dubladora, o que os fazem selar um acordo de que, quando a série deles for um sucesso, Miho vai dublar a heroína deles. E quando isso acontecer, ela e Mashiro vão se casar.


Guardem isso, vai ser muito importante lá pra frente.
E sim, vai ter spoiler, se não viu o filme, vá ver. É um ponto que eu me sinto obrigado a falar.


Enfim, em termos de narrativa, o filme segue bem a história original, mas dando os próprios toques. Por exemplo, como raios tu vai deixar interessante dois caras escrevendo e desenhando num cubículo?
E é nessas horas que o filme se destaca, nos dando imagens criativas, divertidas e algumas em certa medida engraçadas.
Desculpa, por mais que faça todo o sentido do mundo e seja uma cena tecnicamente bem executada, eu ainda fiquei rindo feito uma foca no duelo de Mashiro/Takagi e Eiji.



O filme também se destaca pela caracterização dos personagens. Claro, Mashiro e Takagi parecem dois cosplayers excelentes (e um pouco acima da idade que deveriam ter), mas todo o resto do elenco também pega um pouco desse conceito cosplayer (o figurino original já dava brecha pra isso, afinal). Mas tudo é perfeitamente transposto dos desenhos pro figurino e caracterização. E não só isso, os atores de fato fazem um excelente trabalho, mostrando as personalidades caricatas de seus personagens sem perder o toque de realismo necessário.



Os únicos personagens que ficaram um pouco fora do tom foram Hattori e Eiji. Em defesa de Hattori, fisicamente é quase impossível de se adaptar o visual, e o ator faz um trabalho bastante decente com o que lhe é proposto. Ainda assim, ele parece um pouco deprê demais, que eu lembre Hattori era um cara extremamente sério, mas que ao mesmo tempo tentava alegrar seus autores. Embora Hattori ainda tenha momentos de alegria, o tom geral dele ainda é meio pra baixo. Talvez tivesse procurando parecer mais um editor real da Jump, sei lá. Não é uma mudança que vá irritar, e na real combina com o tom do filme.

Por outro lado, eu não consigo engolir Eiji.
Não pela caracterização visual, ele tá de boas. O problema é a atuação do cara.



Vejam bem, Eiji era um cara enérgico, que não conseguia parar quieto num canto e que ficava fazendo trocadilhos com nomes de séries. Era o tipo de cara que podia sair correndo a qualquer instante porque viu algo que interessou muito a ele, e ainda vai gritar enquanto corre. Tipo eu quando vi a coleção Little Kingdom da Disney.


Aqui ele é um cara tranquilão, cujas ações são em certa medida inconsequentes, mas o cara se mexe tão lento e fala de uma forma tão desinteressada, que mesmo quando ele desenha, não tem a mesma energia que o personagem original tem, embora faça os tradicionais ruídos com a boca.



O ponto dele é mostrar que há autores que levam muito em consideração números, estatísticas e probabilidades ao fazerem suas séries, e há autores como Eiji que são movidos à paixão de fazer arte. Uma vez que Eiji é o grande rival, essa característica poderia ter sido mais exagerada.


Eu não sei bem de quem foi a culpa, mas certamente o ator não parecia à vontade no papel. Ele parecia mais aquelas crianças que quando tão aprendendo a atuar ou tocar violão sofrem da síndrome materna de “Meu Filho Tá Aprendendo a Violar Tocão, Mostra Pra Visita, Filho”, e o pobre ser vivente o faz da forma mais encabulada possível.



Outra mudança que de fato funciona muito bem é toda a linguagem visual do filme, que não se aplica quando eles tão desenhando, que toma ares mais fantasiosos. A fotografia é bastante realista, em alguns momentos até sombria demais, que destoa completamente dos quadrinhos ou animação. Até o estúdio do tio de Mashiro é mais claustrofóbico, pouco iluminado, e desconfortável. O ponto do filme é justamente mostrar o quão pesado e perigoso pode ser o literalmente se matar de trabalhar, que é infame no Japão.



O problema é justamente no final, onde ele não deixa claro se é melhor você dar literalmente seu sangue e suor pelo trabalho, ou seguir orientações médicas pra repouso dentro da lei pra que tu possa seguir trabalhando normalmente. Ou seja, escolher entre seguir a paixão e morrer porcausa dela, ou seguir orientações médicas e continuar a trabalhar na paixão…? É confuso, na série original essa situação foi resolvida de forma melhor e moralmente... menos ruim.


Mas o que pra mim completamente destruiu esse final foi o que aconteceu durante esses dias que Mashiro ficou doente de tanto trabalhar.
Lembram que o ponto principal de Bakuman era o da dupla conseguir uma série animada pra então Miho fazer a heroína e então ela e Mashiro se casarem?

Então, quando Mashiro tá no hospital, Miho aparece e diz que seu produtor investigou o passado dela e descobriu que Miho e Mashiro foram colegas de sala, e que o estúdio proíbe funcionários de namorarem.



O que não só não faz absolutamente nenhum sentido, uma vez que Mashiro é funcionário da Jump e não do estúdio, ignorando o fato de que o produtor dela deve ter o nível de contatos boateiros do mesmo nível que Takagi, mas também faz com que ela diga que não pode esperar Mashiro pra sempre, acabando com toda a motivação de Mashiro de trabalhar na série, bem como o ponto de existência da situação atual.


“Ah mas no final a personagem baseada na Miho diz que vai esperar pra sempr-”E O QUE IMPORTA? A personagem dizer isso não significa que Miho tenha dito. Miho já acabou com todas as esperanças dela, vai viver como uma idol virgem pra todo o sempre e Mashiro não vai trabalhar direito nas séries futuras, porque ele basicamente só vai trabalhar automaticamente e não com paixão, quando ele tinha um motivo pra seguir em frente!

“M-mas como cê mesmo disse, é pra ser algo mais realista, e na vida real, merdas desse tipo acontecem, ainda mais no extremamente competitivo mercado do entretenimento japon-”
BIBBIDI-BOBBIDI-BULLSHIT

Pode ser realista, pode ter o clima mais deprê e mostrar o lado mais obscuro de quem trabalha com o mercado editorial japonês (que de fato é quase um trabalho pesadíssimo, vejam que fim o Tite Kubo chegou em Bleach), mas no momento que o principal pilar da história é destruído assim, num ponto sem retorno, e da forma que foi feito, lenta e dolorosamente, é porque tem alguma coisa errada.



Eu não acho ruim o plot de Miho e Mashiro não poderem ficar juntos, isso é um plot comum de histórias do gênero e algo que acontece na vida de casais comuns. Sendo tratado da forma certa, é um obstáculo interessante de ser usado.
Na série original, eles tinham obstáculos como casal público, por assim dizer. Mas foi tratado de uma forma mais crível e menos forçada.

Fora que a narrativa dos 10 primeiros minutos do filme é horrível, ela mal apresenta os personagens e os principais plotpoints. Sendo um filme de 2 horas, dava pra ter gastado uns 10 minutos a mais e fazer uma edição melhorzinha.

A idéia geral que dá é que o filme foi feito na mentalidade de “a gente tá fazendo pros fãs, eles conhecem a história então não vamo se demorar aqui”, o que é uma falha em qualquer tipo de filme.



Homem Aranha do Sam Raimi tomou um tempo imenso pra contar a história de origem e deixá-la crível e identificável. Claro que com o Amazing Spider-Man isso deixou de ser necessário, necessitando salientar apenas os pontos importantes pra construção daquele universo rebootado. (Nota: ainda não vi Amazing Spider-Man, não sei como eles lidaram com isso. “Mas Kapan já dava tempo de ter visto o filme, pare de cutucar o nariz e vá ver”, ao qual eu respondo, você também não viu Song of the South, vá se lascar.)


O problema do filme não foi só deixar a introdução apressada, não só apresentar os personagens nem suas motivações direito, colocando uma coisa atrás da outra sem te dar muito tempo de absorver as informações. O problema também foi na conclusão desses arcos narrativos e basicamente matar o ponto principal da história, sem dar uma brecha clara de retorno desse mesmo ponto.



No geral, é um filme mediano pendendo pro fraco. Ele recebe muita liberdade, e em alguns momentos ele a utiliza muito bem, nos dando twists interessantes e imagens brilhantes, ao mesmo tempo em que se mantém fiel aos personagens. Em outros momentos ele simplesmente toma liberdade demais e desperdiça pontos-chave que tornavam a história tão interessante.

Pode ter sido um filme feito pra agradar aos fãs, e eles vão encontrar coisas boas. Mas no geral, só te dá vontade de voltar ao material original e de lá pegar inspiração pra começar a desenhar feito louco.