Secret of Kells



Quando eu soube que o diretor e criador de Song of the Sea havia feito outro filme antes, eu fiquei muito empolgado pra assistir, e finalmente ele está aqui.

E vamo logo que eu não tou inspirado pra criar introdução.





A história conta sobre um guri chamado Brendan, que é sobrinho do abade de uma cidade pequena chamada Kells, mas rodeada por muros. O abade Cellach teme a invasão dos Vikings, e lidera a construção do muro ao mesmo tempo que treina o jovem Brendan. Mas Aidan, um clérigo iluminador (o cara que fazia as iluminuras), traz um livro em andamento pra cidade e Brendan resolve ajudar o velho a terminar. Nisso, Brendan acaba descobrindo a floresta (área proibida por seu tio) e descobrindo um mundo novo e mágico.


A narrativa do filme começa com problemas, com um mundo pouco estabelecido e uma sequência de ação confusa. Eu não faço idéia do ponto que a cena quis passar, mas logo o filme migra pra um estilo mais calmo e focado na história.



O que faz o filme de fato são os personagens. A curiosidade de Brendan, a aparente irreverência de Aidan (que não combina com a imagem que esperamos), o superprotecionismo de Cellach e a fofura incrivelmente fofa de Aisling, a fada da selva. Não são personagens necessariamente complexos, mas os motivos são bons o suficiente pra que nos identifiquemos e torçamos pelos personagens. E fora que eles em si são divertidos de assistir, então ajuda bastante.


Em termos de animação, é onde o filme realmente brilha. Sendo o primeiro longa dirigido por Tomm Moore, a animação se sente um pouco estranha às vezes. Em certos momentos o movimento dos personagens é um pouco travado, e não dá pra não notar. Mas são poucos momentos e a animação geral é ótima, sem falar no estilo visual que é fantástico.



Sendo a arte das iluminuras um dos pontos principais do filme, é de se esperar que a arte siga esse estilo, e de fato segue, com algumas ressalvas. O cenário dentro da cidade é bastante geométrico, com muitas formas quadradas e poucas formas redondas, sendo reservadas mais em ângulos específicos. Na floresta, há círculos por toda a parte, de fato evocando a alma das iluminuras medievais, e é simplesmente uma obra de arte.


O design da produção se baseia bastante nas artes medievais irlandesas. A idéia partiu depois que Tomm e alguns amigos assistiram The Thief and the Cobbler (que tem uma história fascinante por trás, aliás), e Mulan, e esses filmes inspiraram Tomm a fazer o mesmo conceito visual, mas baseado nas lendas da Irlanda. E há um equilíbrio muito bom entre as referências medievais e em um design visualmente agradável, de novo se inspirando em desenhos como Laboratório de Dexter e Samurai Jack.



A narrativa do filme pode ser meio estranha a alguns, mas, de novo, se tu tá acostumado com os trabalhos de Hayao Miyazaki, não vai sentir muita diferença. Em alguns momentos o filme te deixa respirar e apreciar um pouco dos designs de personagens e cenário, o que realmente contrasta com o clímax, que é um dos clímaxes (?) mais bem executados que eu já vi. É agressivo, perturbador, desnorteante, e não se intimida em mostrar mortes cruéis, de inocentes a crianças, de uma forma que não seja violenta ao extremo.



Eu realmente gostaria de falar mais sobre Secret of Kells, mas assim como Song of the Sea, é uma experiência única e muito audiovisual. Os personagens são simples, mas carismáticos. A trilha sonora celta é, de novo, fantástica, bem como o design de produção e a forma que eles incluem as influências de ilustrações medievais, e a narrativa nos faz importar com a vida desses personagens. Definitivamente, um must watch.

Mais imagens (clique para ampliar):