É Fada!







Sim, isso foi minha introdução.


A história começa com Geraldine, uma fada madrinha incompetente que causou o 7x1 de 2014 (a especificação é necessária, já que todo dia tem um 7x1; esse filme incluso). Sua última chance de ganhar suas asas de volta é ajudar uma guria com problemas familiares e sociais, Júlia. O problema é que ela é uma fada ornitorrincamente Millennial, e com morais totalmente confusas. O que claro, ocasiona em vários problemas pra Júlia e seus pais divorciados.


E... Basicamente o filme é isso.



São as tentativas de Geraldine pra ajudar Júlia, aparentemente conseguindo transformar a vida da guria mais fácil. O problema é como ela faz isso.
A solução de Geraldine é deixar Júlia o mais parecida possível com as garotas populares do colégio, a ponto dela ignorar o amor e preocupação de seu pai e do único guri que de fato se importa com ela. Sim, você já viu esse filme na Sessão da Tarde, provavelmente. Nada de novo é feito aqui, exceto que ele se passa no Brasil.

A mensagem é bastante clara: seja quem você é, não queira se espelhar nos outros. O que eles não deixam claro são os padrões morais dos personagens, a mensagem pára no "seja você mesmo", mas não ressaltam é que as gurias que Júlia queria se espelhar eram pessoas que faziam coisas más e que prejudicavam a si mesmas e até aos outros, além de serem estereotipadamente fúteis e mesquinhas.
Meu Deus eu fico com agonia só de ver um bando de pirralha que mal teve tempo de tirar as fraldas querendo agir como adulto, que merda de geração a gente vive.

E o problema da moral não para por aí, porque Geraldine, a suposta heróina, personagem principal, que estampa os pôsteres também não tem um pingo de bondade.


Tudo que ela faz por Júlia é por benefício próprio, pra conseguir suas asas de volta. Fica claro quando tu liga o fato dela dar uma solução rápida pra Júlia como ela tá pouco se lixando pra guria. E como Geraldine quer suas asas de volta o mais rápido possível, todas as atitudes que ela toma ignoram todos os efeitos que elas vão ter na vida da guria. Fora que o plano dela é que ela faça amizade e se pareça com as gurias fúteis e mimadas da classe, apelando inclusive pra sexualização delas mesmas.

Eu juro tem uma cena que ela manda Júlia apertar os peitos "pra criar teta" ELA TEM 15 ANOS SEU PROJETO DE MOSCA DAS FRUTAS COM ANEMIA!


E caso você tenha esquecido desse detalhe, o filme faz questão de te lembrar perto do terceiro ato, esfregando na sua cara toda a babaquice e egoísmo de Geraldine.


Esse filme é um achado. Foi uma das piores experiências que eu já tive, com diálogos excessivamente clichês e irritantemente datados, com morais erradas a torto e a direito, mensagem confusa e passada rapidamente como se não fosse grande coisa, uso constante de palavrões em um filme que deveria ser family-friendly (já que o foco são pré-adolesentes de 15 anos) e uma trilha sonora cujo efeito é como se eu tivesse ligando uma furadeira num ouvido com aquelas bolinhas Bate-Bate batendo no outro.


O único personagem gostável é o pai da Júlia, que é legitimamente preocupado com a guria e esforçado. Meu instinto paternal claramente se identificou com ele. Mas ele não é o suficiente pra salvar esse filme.

Esse flme é um resumo de tudo que tá errado nessa era, em especial no Brasil. Morais são maleáveis, crianças que se acham adultos (e não é uma atitude devidamente repreendida ou punida), e a falta de conteúdo real são simplesmente irritantes, a ponto de eu mal conseguir fazer uma piada pra essa resenha.
É praticamente a nossa versão de Jem e as Hologramas (2015).

É ruim assim.


E uma pequena história pessoal. Eu queria muito ver Kubo e as Duas Cordas nos cinemas. Pelos trailers parecia ser um filme fantástico, com cenários e designs criativos, com animação soberba e conceitos interessantes. E embora o roteiro não seja exatamente desenvolvido (como eu expliquei na resenha), ele faz bem o seu trabalho de divertir e até te dar algo pra pensar.

Eu não pude ver Kubo no cinema pelo simples motivo de que não havia mais uma sala ou horário decente pra Kubo porque a maioria tava ocupada passando É Fada!.
E não, eu não odiei esse filme simplesmente porcausa disso. Qualquer um com o mínimo de noção poderia ver pelos trailers que esse filme seria um amontoado de fezes de cavalo.


Eu poderia terminar com uma piada, mas eu não consigo. Simplesmente não consigo. Eu não me sinto pessoalmente ofendido por um filme desde 2013, quando eu vi The Cat in the Hat de 2003. É um filme estúpido, irrelevante, sem nenhuma mensagem que de fato funcione, e é um desperdício de tempo, dinheiro, e esforço.


Se eu um dia ter o DVD desse filme em mãos, será pra pendurar numa estaca e botar fogo.



(Essa resenha foi sugerida por JCarlos, se tiver alguma sugestão pode mandar.)