A Verdadeira História de Papai Noel (1970)


Eu já resenhei outros filmes da Rankin/Bass aqui, e esse ano eu queria poder falar mais desses especiais.

Mas infelizmente a faculdade me sugou ânimo, energia, sanidade, dinheiro, suor, e em troca me deu stress desnecessário e gordura, então eu meio que esqueci de fazer uma schedule bonitinha que nem ano passado.
...
é.

Mas ao menos esse ano vamo falar desse filme sobre a origem do Papai Noel.
Não, não o baseado no livro do mesmo autor de Oz, esse deixa pro ano que vem.
Mas sim, esse filme que tem gente que você provavelmente nunca ouviu falar, a menos que tu lembre de alguma Sessão da Tarde de antigamente, ou algum vídeo gringo por aí.

Ou que já viu e não sabe. Sei lá, só vamo.


Aliás, cês ouviram que provavelmente vão acabar com a Sessão da Tarde? A TV aberta tá realmente morrendo aos poucos...


A história é baseada na música Santa Claus is Coming to Town, que ao contrário dos outros hits do estúdio (Rudolph, Frosty, etc) não narra uma história, é basicamente um alerta e orientação pras crianças se comportarem e receberem a visita do bom velhinho com brinquedos. Caso contrário, iriam acordar na manhã de Natal com um pedaço de carvão no lugar dos presentes.


Se me perguntar, é uma tática bem imbecil. Dá um carvão pra um moleque e em 5 minutos ele vai tar se divertindo feito um otaku na seção de aeromodelos da livraria, desenhando na parede da casa toda enquanto a avó da criança defende e não deixa os pais encostarem n'um fio de cabelo do anjinho. 

É meio contraprodutivo, se me perguntar. Devia dar alguma coisa que REALMENTE deixassem crianças tristes, como roupa, ou meia, ou panetone, ou a discografia da banda Calypso, ou uma toalha de mesa.

EU GANHEI UMA TOALHA DE MESA UMA VEZ
Hoje eu uso como lençol.


Enfim, a história fala sobre a origem do Papai Noel, de como ele foi abandonado numa cidadezinha random da Alemanha e adotado por elfos, e como não tinha nada melhor pra fazer, aprende o ofício de fazer brinquedos e resolve entregar na mesma cidadezinha. Mas o prefeito (ou o equivalente genérico a isso) se machuca por conta de um brinquedo e bane todos os brinquedos da cidade.

Parece muito com os termos de uso do Facebook, mas eu divago.


Noel não sabe absolutamente nada disso e ganha a simpatia das crianças ao distribuir brinquedos secretamente durante a noite, onde a necessidade vai criando vários dos aspectos do folclore do personagem.


E quer saber? É muito bem feito e interessante. As motivações por trás de coisas como entrar pela chaminé, deixar presentes nas meias da lareira, tudo é feito quase como um ato de resistência política. E essa é uma frase que eu nunca imaginei que diria na vida.

Aliás, a legenda que eu peguei na guarita da deep web (porque POR ALGUM MOTIVO esse filme é praticamente IMPOSSÍVEL de achar uma mísera legenda decente) foi feita automagicamente pelo YouTebes, então tem muita coisa traduzida errada.


Enfim, a história é incrivelmente bobinha, mas de alguma forma consegue te cativar. A narrativa é realmente próxima de um livro infantil, mas tem um certo charme e graça em tudo. Eu não sei bem explicar o motivo, mas a história em si é criativa e tem potencial.


A forma como eles te guiam por esses clichês como a professora bonita que se casa com o protagonista, a cidade governada pelo malvadão birrento, as pobres crianças que não podem se divertir cuja vida se resume a estudar e fazer tarefas domésticas...

OH! ALGUÉM PENSE NAS CRIANÇAS!

É uma narrativa simples, mas eficaz, e os personagens são divertidos de se acompanhar. Eles tem uma inocência, uma simplicidade típica de livros infantis, que é um tom que casa perfeitamente bem com a história.
Assim como Nightmare Before Christmas, são personagens ridiculamente simplórios, mas a característica principal deles é identificável e interessante o suficiente.

Eu amo o Feiticeiro do Gelo sendo essa criança que nunca ganhou nada quando era moleque, e por isso é mau. Mas quando Noel dá um presente ele sente o amor e fica bonzinho. É incrivelmente bobo, mas funciona no tom da história, e é um personagem que representa um grande elemento do Natal.


São personagens interessantes na medida do possível e com papéis interessantes no desenrolar da história.

Exceto talvez o pinguim, mas eu gosto de pinguins então deixa quieto o pinguim.

Os elfos são uma das bases da história do Noel, explicando porque o fazer e entregar brinquedos é tão importante pra ele; o feiticeiro do gelo mostra como a bondade do Noel muda os outros; a professora realmente tenta ajudar Noel em sua missão, etc.

E cada um tem um certo desenvolvimento, dependendo da importância.

...ok basicamente a professora tem uma música, mas é suficiente.


As músicas são melhores que Rudolph... Ou ao menos sequências mais memoráveis com as músicas. Rudolph tinha músicas? Sei lá, são quase 4 da manhã, eu tou com sono.

A animação é o que tu espera de Rankin/Bass, mas por algum motivo, me parece pior que Rudolph. Não sei se eles tinham menos tempo ou menos dinheiro (o que é improvável, já que os bonecos e cenários tão bem mais bonitos e detalhados, mas algumas tomadas sugerem que ou a qualidade era amadora/artesanal ou os caras não tinham tempo pra caprichar em alguns momentos), mas os movimentos não são fluidos, mas sim beeeeeem travados.

Mas ainda tem alguns efeitos interessantes, como o reflexo na água de Jessica.






No geral, é um filme incrivelmente melhor que Rudolph. Eu realmente consigo ver esse filme como um clássico natalino, e digo mais, um remake seria totalmente viável, dando mais peso e detalhes à história. Aliás, o próprio especial tem algumas cenas solenes e até poéticas, como o casamento de Noel e Jessica.


É um especial quase obrigatório pro Natal, se tu não se incomodar com a animação travada.