O Último Unicórnio


Oh, Rankin/Bass. Cê é ao mesmo tempo tão charmosa e tão... Meh.

Eu já falei de outros filmes do estúdio aqui no blog, a maioria especiais de Natal. Mas no mesmo ano de Flight of Dragons, um outro filme chamou atenç...
...existiu.


Também baseado em um livro e ligeiramente mais interessante que Flight of Dragons... Eu acho.
Digo, Flight of Dragons era basicamente um tratado científico sobre como dragões funcinoariam, acomodado dentro de uma narrativa. Era meio estranho, mas meio que... Funcionava.

No entanto, o filme que veremos hoje é puramente história, e eu imagino que seja basicamente o mesmo que ler o livro que o inspira, já que o autor escreveu o roteiro.

Ao menos é o que eu presumo, porque o filme tem uma pancada de problemas. Isso o torna ruim? Ééééé... Vamo dar uma olhada.



A história começa numa floresta onde dois caçadores praticam seu ofício, e um deles menciona que a floresta continua viva, limpa, bela, e intocável somente pela mágica de um unicórnio. De fato, poderia muito bem ser o último de sua espécie.

A dita cuja unicórnia ouve a conversa e diz "AAAAAHH NÃO MANO" e vai atrás dos outros unicórnios. No caminho faz amizade com um feiticeiro que não consegue usar magia direito e uma fora da lei que desde pirralha sonhava em ver unicórnios. Juntos eles embarcam numa aventura e blablabla.


A história realmente não parece lá essas coisas, mas é bem... Ok.
Uma vez que o próprio Peter S. Beagle fez o roteiro final, o filme tem vários momentos que... Soam melhores num livro.

Várias cenas de introspecção, ou que os personagens dizem coisas que precisam de mais explicação, ou elementos que ficam meio soltos no ar. Como quando o rei demite o mágico real e o príncipe diz que vai escrever uma recomendação pra ele. Fica meio... Estranho. É o tipo de coisa que acabaria sendo cortado ou feito como uma piadinha.

Mas o que funciona do roteiro, realmente funciona. Há um momento que o rei diz como percebeu o disfarçe da unicórnia, mas ele fala de uma forma poética e funciona. Grande parte pela voz do Conde Dooku (ou Dookan, ou Coronel Penambooku, ou Ansem, sei lá), que realmente dá um peso magnífico ao personagem.


E ao menos os produtores tiveram a esperteza de botar músicas em momentos longos e arrastados, pra ao menos amenizar a sensação de tédio. Mais ou menos como Maravilhoso Mágico de Oz (o livro), há muitos momentos em que pouca ou nenhuma coisa acontece, restando apenas a descrição dos lugares do meio da jornada.


Mas não é só nessas situações que a música toca, mas em outros onde realmente a emoção não poderia ser descrita de outra forma, como normalmente acontece nesses filmes.

Cê sabe, fantasia, animação, pra criança, eventualmente vai ter uma música, tu goste ou não.

Eu ainda tenho pesadelos com a salamandra cantando que nem o Mr. Catra em Ferngully, por exemplo.


Mas ao menos aqui as músicas dão um tom mais folk ao filme, o que ajuda a complementar a narrativa. Na real, a única música que eu legitimamente gostei foi a que o príncipe canta pra unicórnia (e sim isso é tão estranho quanto parece), mas mais porque... É tão relaxante. Não só a música, mas as imagens que acompanham. São calmas, nostálgicas, brilhantes.

Aliás, a animação nesses momentos é belíssima, mas devido ao fato de que o filme foi animado no Japão.

E como eu não explorei o suficiente esse tópico em Flight of Dragons, o farei aqui.

Pode falar, cê começou a cantarolar
mentalmente o primeiro encerramento de Sailor Moon agora.

Uma prática muito comum da Rankin/Bass era contratar estúdios japoneses pra fazer suas animações. Seja porque era mais barato, o serviço dos japoneses era realmente bom, ou porque o contrato envolvia pagamento em miojo e calabresa, sei lá.
Tanto os stop motion quanto animações comuns eram feitos no Japão, por estúdios que mais tarde viriam ser comprados pela Disney e pela Ghibli.

Ou seja, pra quem define "animê" simplesmente como "desenho animado feito no Japão", The Last Unicorn, Rudolph, Flight of Dragons e a série da Pequena Sereia são todos "animês".

Sim, é sério. A série da Pequena Sereia foi feita pela Walt Disney Animation Japan. Pode ir checar o IMDB e Disney Wiki.


E tanto em Last Unicorn e Pequena Sereia, dá pra notar como os olhos da personagem feminina jovem e bela carregam muita característica de lá, como o estilo dos brilhos e levemente na forma que eles são feitos.

Eu não sei apontar, se é a forma que são animados, se é o acabamento, a estrutura, o traço... Mas eu bato meu olho e eu tenho aquela sensação que diz "é do Japão". Tipo as artes pra Disneyland Shanghai ou Tokyo, que são finalizadas de uma forma levemente diferente das outras.

O estúdio responsável por Last Unicorn inclusive trabalhou em uma adaptação de Mágico de Oz, Nausicaa, e em séries animadas incluindo a dos Jackson 5, além de adaptar O Hobbit e Retorno do Rei.



Enfim, a animação não é exatamente ruim, mas é BEM limitada. Os keyframes são feitos de maneira certa, mas há poucos frames de in-between e pra piorar ainda usam MUITO o efeito vai-e-vem.

É boomerang que os jovens chamam hoje? Sei lá.


Em cenas como por exemplo, em que a unicórnia se expressa com a cabeça e o movimento vai-e-vem acaba soando muito artificial. Claro, é um desenho, mas meio que te distrai da cena.

Esse mesmo efeito acontece constantemente com outros personagens, mas a unicórnia é claramente a personagem que botaram mais esforço. Ela realmente age como um ser encantado, quse divino, é massa demais.

Aliás, o design de personagens é bom demais, bem como os cenários. São claros, divertidos, e numa olhada tu tem uma noção do que eles são ou fazem, mas ao mesmo tempo, o roteiro consegue dar uma certa profundidade a eles.


Shmendryck (ou seja lá como for o nome desse infeliz, é meia-noite e meia e eu acordo cedo amanhã) é um mago que não sabe bem soltar magia, mas quando consegue ele fica se congratulando e achando ser o rei da cocada preta.

(O que raios era pra ser essa expressão, aliás? Eu nunca entendi, cocada é pra ser branquinha ou no máximo marrom, não? Doce preto o mais próximo que eu imagino é o pé-de-moleque. Que eu nunca gostei, aliás, sempre achei um bolo com gosto de podre.)

É uma característica comum a nós, mas ao mesmo tempo ele tem uma certa lógica ao fazer planos que coincidam com a forma que a magia aconteceu.


Molly representa o everyman, aquele personagem comum, sem nenhuma habilidade especial; mas que acaba sendo necessário na viagem. Ela esperava ver um unicórnio quando criança, e agora quer ajudar a unicórnia a achar os outros.


Mas o filme não deixa de ter personagens irritantes, como a mariposa do começo ou o esqueleto perto do final. São personagens com vozes TÃO irritantes, diálogos tão randomicamente escritos que fazem o gerador de lero-lero parecer o Hino da Bandeira, e que provavelmente duram mais do que o necessário de tela. São ideais pra tu ir pegar mais refrigerante ou regar a porcelana.

Sério, não valem a pena. Se se sentir incomodado, é só pular.


Então, The Last Unicorn, vale a pena?

Depende...


Pra crianças, é um filme maçante. Pode ser interessante se ela gostar de unicórnios, ou de fantasia. Não é violento nem sangrento. Na real, tem algumas cenas que podem ser assustadoras, como dos bichos presos; mas é o de menos, no geral é um filme bem relaxante. O problema é que ele é relaxante demais, a narrativa é arrastada, e ao contrário dos filmes do Ghibli, ele não consegue lidar bem com a ausência de um propósito, um objetivo. Parece nunca dar em canto nenhum, e quando tu chega no final... Não é exatamente satisfatório.


Mas se tu tem interesse por esse estilo de história, ou arte, vale a pena ver pela curiosidade. A pintura dos backgrounds é linda, a história tem elementos interessantes e que podem acabar te dando idéias pras tuas próprias histórias e artes.


Mas por mim, gostei de ter visto, mas poderia ser o último mesmo e não faria falta nenhuma.


Ah sim, tem um gato pirata.
Sim, não faz o menor sentido.
Mas é mó daora.