Quatro Histórias em Quadrinhos Antigas da Branca de Neve

Não, não tem Muppets no artigo.
Usei essa imagem porque achei fofinha. É.
Ano passado, caso não recordem, eu fiz um artigo sobre uma história da Branca de Neve, onde a Rainha Má voltava pra atazanar a vida da princesinha
É uma história que não faz o MENOR sentido mesmo dentro dela própria, mas que ainda serve pra dar umas risadas do quão antiquada e simples ela é.
Mas como o mercado e universo de quadrinhos é tão maleável quando uma bala de gelatina Tubes da Fini, é claro que mais histórias foram feitas com Branca de Neve e outros filmes clássicos.

Como eu mencionei nesse artigo da Rainha Má, tem uma história de Natal onde o Gepeto se encontra com Peter Pan e conserta a varinha da Fada Madrinha. É claro que usar personagens conhecidos e amados do público e misturá-los de qualquer jeito iria trazer atenção do público da época. Isso meio que tem ligação com House of Mouse, mas divago.

Ok, então hoje veremos mais 4 histórias em quadrinhos que envolvem Branca de Neve, por motivo nenhum exceto que eu tenho muito respeito pela primeira Princesa e primeiro longa Disney.

Coisa que o Disney Channel não tem.

Oh, Disney Channel. Por um lado você nos dá o excelente reboot de DuckTales, e por outro... Descendentes.

Enfim, adiante.


Aliás, só um esclarecimento. Como a Inducks é uma ótima ferramenta de localização de histórias (onde e quando foi publicada, inclusive), eu vou linkar as histórias pras suas respectivas páginas no título. Espero fazer disso uma prática usual.



Contar histórias no formato de tira de jornal é um trabalho hercúleo. Você tem uma área específica pra contar sua história, e pode fazer quantos quadros quiser, mas normalmente havia um número específico pra cada formato, dependendo da área que a história ocupava no jornal. Foi assim que surgiram heróis como O Fantasma e Mandrake.

Era basicamente como um folhetim em quadrinhos: havia uma história maior, mas cada semana presenciávamos uma parte da história sendo continuada, dando um gancho pra te manter interessado em voltar ao jornal na próxima edição. Imagine as tiras de Calvin e Haroldo, mas com a dramaticidade de um Batman do Adam West.

As histórias podiam ser imbecis e até meio engraçadas, como também mais sérias e dramáticas, e algumas seguiam detetives hard-boiled, mágicos, ou o Billy Zane em um collant roxo ridículo e uma máscara do Sr. Incrível lutando contra japoneses na Segunda Guerra.

...é mais legal do que eu faço parecer, eu juro.


Enfim, antes da estréia de Branca de Neve, Walt mandou prepararem uma série em tiras de jornal adaptando o filme. Na semana de estréia, o público já tinha vislumbrado os sete anões voltando pra casa na icônica cena da caminhada sobre o tronco.

Provavelmente era uma tentativa de atrair ainda mais a atenção do público, uma vez que o público se sente mais confortável indo consumir um entretenimento que já é familiarizado com ele. Por isso Chaves e Chapolin são reprisados à exaustão até hoje, e é por isso que a Illumination e Blue Sky continuam a fazer o exato mesmo filme de novo e de novo e de novo e de novo. Eles encontraram uma fórmula mágica pra fazer os filmes renderem, e vão usá-las até o fim dos tempos.

A Illumation, eu digo. Blue Sky tá tentando se reerguer, já que o último filme realmente bom a ponto de competir com a concorrência foi Peanuts.

Agora, talvez Tio Walt não tenha pensado nisso quando mandou fazer a tirinha. Não, não, ele talvez tivesse mais preocupado em confortar os investidores que ele convenceu a mandarem grana pra ele terminar o filme, e aproveitou o espaço que já tinha no jornal com tiras do Mickey e Silly Symphonies e usou pra promover o filme.


O motivo que eu trago essa tirinha pra cá é que a história é levemente diferente do filme final. Incluindo algumas cenas que poderiam ou não estar no filme final.

Digo sim, a cena em que a bruxa prende o príncipe nas masmorras de fato foi cortada do filme, mas na versão impressa não temos os esqueletos dançantes, que eu aposto minha pelúcia do Sonic como a equipe ia reciclar a mesma animação usada em Skeleton Dance e Mickey Haunted House.

Mas não só isso, é sabido que o Príncipe teria um papel maior no filme, e aqui vemos não só que ele foi preso pela rainha (não vemos a rainha de fato o prendendo), mas ele também escapa das masmorra, dos guardas, e assim que foge inicia uma busca frenética por Branca de Neve pra alertá-la do perigo iminente. Tem até mais lógica do que ele aparecer do nada, encontrar a Branca, beijá-la e irem ambos pra possível analogia de Paraíso.


De repente ele se torna um personagem MUITO mais interessante do que tá no filme. Não que o filme se esforce pra torná-lo interessante, afinal eram os anos 30, numa mídia experimental, com um orçamento tão apertado que se forçasse um pouco mais peidava. Não tinha a menor possibilidade de colocar todas essas cenas complicadas, e ainda desenvolver o relacionamento entre ele e Branca no começo do filme, usando o Príncipe Buckethead (que aparece na imagem que abre esse trecho). Considerando também que o estúdio não conseguiria animar um príncipe bonito e interessante sem parecer afeminado até os anos 80, com o príncipe Eric de Pequena Sereia, é melhor do jeito que ficou mesmo.

E sim, eu sei que o design do príncipe Phillip melhorou BASTANTE desde o Príncipe Sem Nome de Branca e o Príncipe do Rímel de Cinderela. Mas ele é tão interessante quanto a casca de um mamão, então eu sumariamente o ignoro, bem como Aurora.

VÁ PRO INFERNO AURORA, PRINCESA IMPRESTÁVEL E IRRELEVANTE! DÊ ESPAÇO A VERDADEIRAS HERÓINAS COMO A MEG! SEU DESPERDÍCIO DE CELULOSE!



Enfim, nota-se também que a qualidade técnica do quadrinho era ridiculamente precária, com essa paleta de cores zoada. Mas eu também acho que pode ser algo da época de produção do filme, que ainda não tinha avisado ao colorista sobre as cores. O pôster de época do filme tem a mesma paleta de cores dos personagens (com branca usando roupas com tons vermelhos, por exemplo) e o design alterado de alguns personagens.
Alguns mais leves e que tu só notaria olhando lado a lado (ou se tivese o pôster pregado na parede do quarto logo acima do monitor, como eu); mas também alguns mais gritantes, como o Príncipe de cabelos longos e sem chapéu, e o caçador que parece o Bud Spencer usando o terceiro chapéu mais esquisito que eu já vi na vida.

Mas os tons amarelo-mijo eu tenho certeza que era falta de técnicas de impressão mesmo.

A narrativa visual também é meio zoada, em alguns momentos ele mantém o flow e guia bem os teus olhos pro próximo quadro; e em outros ele quebra essa totalmente o flow. Aliás, na mesma página, confere comigo:



Veja nessa página acima, como o Mestre aparenta estar olhando pros anões no outro quadro. Dá pra se fazer o argumento de que ele tá propositalmente apontando pro lado oposto do flow pra fazer uma espécie de "esquina" visual com o rumo que Zangado propõe, mas eu pessoalmente faria ele apontando pro outro lado, que daria a impressão de estar falando com os anões do quadro seguinte.

Da mesma forma que a Branca na linha abaixo parece estar falando diretamente com Zangado. Essa mesma técnica é usada na página seguinte e em outros momentos da história.

Sei lá, dá pra se defender essa decisão, mas pra mim soa estranho toda vez que eu vejo.

Mas a arte é sensacional e a história é bem fiel e acrescenta novos plots que tornam a história mais interessante. Se tiver curiosidade de ver como o filme poderia ter ficado ainda melhor, dá uma chance e lê, tem completo no blog Filmic Light (que é provavelmente o maior e melhor acervo sobre Branca de Neve que você pode encontrar online).
Também foi publicada em outros formatos, inclusive com quadros maiores, caso esteja interessado. Nesse artigo usei a publicação original de 37.


I Sette Nani e l'incantesimo di Natale (The Seven Dwarfs and the Christmas Spell; ou O Feitiço de Natal, em Portugal) 


Tendo em vista que o Natal é mês que vem e eu normalmente me empolgo nessa época, eu queria usar essa história pra fechar o artigo com um gancho tipo o Nostalgia Critic faz pro mês temático. Mas aí esbarrei no problema que é: não existe scan dessa história.
Sério, eu já procurei em todo lugar, não existe UM link de download pra essa história e nem pra maioria das outras histórias com os Anões Maus e o filho da Branca de Neve.

Mas me adianto.



Os Sete Anões Maus eram a versão negativa dos Sete Anões, obviamente. Como eles surgiram? Não faço a menor idéia. Tudo o que eu sei é que são personagens criados nos quadrinhos italianos e que apareceram até em histórias feitas no Brasil, geralmente contracenando com vilões e heróis como o Mancha Negra, Madame Min, e Morcego Vermelho.

Enfim, me baseando na sinopse que o Filmic Light dá, a Rainha Grimhilde Mariana contrata os sete anões DUMAU e transformam o filho de Branca, Glauco, em uma árvore de Natal. Ao atraírem também a princesa e os anões pra uma avalanche, Branca se joga na frente da árvore (?) e porcausa desse ato de amor maternal, Glauco volta ao normal (????).

...eu... é...

...hein?


Sim, eu não faço a MENOR idéia do que aconteceu aqui. Fica pior em ter que se apoiar em descrições vagas de outras fontes, ao invés de ler a história. O problema é que essa história nunca foi publicada no Brasil, assim como a primeira aparição de Glauco, na história O Mago Basilisco. Ambas as histórias foram publicadas em Portugal, no entanto, mas eu não encontro scans em lugar NENHUM.

Então, se algum leitor de Portugal quiser fazer um favor, me manda essas histórias. Nem precisa mandar o gibi físico, eu me contento com scans mesmo. Se isso acontecer, seu nome estará nos anais do Super Review Time e eu serei eternamente grato a você, e lhe prometo pagar um salgado de carne com São Geraldo assim que possível.

Eu queria falar dessas duas histórias mais por mostrarem o filho de Branca de Neve, o que a coloca no seleto grupo de Princesas que foram mães, junto com a Ariel.

“ai mas Descendentes” DESCENDENTES NÃO CONTA, É UMA FANFIC DE LUXO ESCRITA POR UMA ADOLESCENTE EDGY COM AS HABILIDADES NARRATIVAS DE UM PÃO DE QUEIJO!

Aliás, Glauco é um personagem TÃO esquecido que sequer tem uma página na Inducks.
E eu achei que eu era ignorado.


I Sette Nani e la fata incatenata (The Seven Dwarfs and the Enchanted Faerie; ou Os Sete Anões e a Fada Acorrentada, em Portugal)



Essa é mais uma história feita pela mesma equipe de A Volta da Rainha Má, mas ao contrário dela, essa história é qualquer coisa, menos esquecível.

A história começa com a Rainha Má obviamente viva, porque dane-se a lógica. Vai por mim, essa vai ser a coisa mais normal dessa história. Enfim, a velha Grim vê Branca de Neve linda, saudável, fofolete e vivinha da silva, e não suporta essa visão tão açucarada e cheia de vigor. Porque ela é uma VILÃ DO MAL QUE ODEIA O BEM!

Em um acesso de raiva, ela joga o espelho de mão no chão, e ao se despedaçar, emite uma fumaça, a qual Grim usa pra invocar raios e trovões...

Primeira página e eu já tou perdidaço. É só ladeira abaixo a partir daqui.



Rainha Mariana joga um raio em direção à Branca, e cortamos pra aventura dos anões, que enfrentam um terremoto em sua mina de diamantes, que acaba com a entrada fechada por entulho. Zangado diz "ah bem, amanhã a gente arruma" e a trupe se volta a marchar cantando.

Até que... isso acontece.



...

Se acostumem.


Os anões não conseguem rasgar a teia, mas Dunga faz um novelo, que aparentemente ganha vida e parece querer que os anões o sigam. Mais coisas estranhas acontecem quando o novelo salva Zangado de ser comido por um jacaré, quando cobras se tornam em cordas, e morcegos com a cara da Rainha Má se tornam vaga-lumes.

Seguindo gritos de socorro na caverna, os anões encontram... uma fada com cabelos tão longos e loiros que poderia ser a Rapunzel. Ou membro de Glam Rock, sei lá. Só o que falta são as roupas espalhatafosas. Ou... roupas, só roupas.


Bom, agora temos uma história da Disney com uma moça linda e completamente nua. Curiosamente, esse não é o ponto que vai te fazer dizer "A FAAAAAAMILY COMIC" ainda, tenha calma.

Enfim, a guria explica que é uma fada aprisionada pela Rainha Má, após salvar a vida de uma moça. Ela diz que há só uma forma de salvá-la, mas ela não pode dizer qual é. Mas ela vai ajudar desfazendo as maldades da Rainha, como ela tem feito até agora.



A caverna e a fada desaparecem, e os anões se vêem no meio da floresta de novo. Zangado pergunta por direções pra uma velhinha, que diz ser cega mas pode dar direções caso ela tenha os olhos do Zangado. Relutante, o anão ranzinza aceita e é transformado em espantalho pela velhinha, que era a Rainha Má.

WHAT A TWIST!

A partir daqui cada anão vai caindo em alguma armadilha do tipo: Soneca dorme o sono da morte (provavelmente um truque que Grimhilde aprendeu com a Bruxa Má do Oeste); Atchim dá um espirro e cai da ponte; Dengoso pega uma arma e enfrenta um dragão, etc.

O curioso aqui é que quando eles encontram um corvo com o rosto da Rainha Má (porque é claro que sim) que rouba o saco de diamantes que tava com Zangado, aparece DO NADA um maluco com uma arma que ele chama de "Judas Gun". Ele não explica direito (e eu acho que a tradução nesse balão ficou estranha, mas enfim), e a arma transforma Mestre em uma estátua de pedra.


...YO TIENGO PRIEGUNTAS.


1-Quem raio é esse maluco que parece um parente distante do Asterix, e porque ele taria andando com uma arma dessas? Qual a história dele? Qual a história dessa arma? Quem fez, como fez, porque fez?

2-É muita coincidência ele aparecer justamente nessa hora que o corvo Grimhilde rouba o saco de pedras preciosas. Ele era parte da armadilha? Se era, porque ele tentou alertar Mestre sobre o funcionamento da arma? 

3- Ok, ele claramente não era parte da magia da Rainha, já que ele vai embora de boas. Mas porque ele não ficou e tentou ajudar os anões? Pra que essa pressa? Ele tinha algo a fazer com essa arma?

4-O saco tinha as pedras minadas do trabalho dos anões naquele dia. Depois que Mestre atirou com a Judas e virou pedra, o saco agora continha não jóias, mas quatro chaves e um pergaminho com uma charada relevante pro plot. COMO. RAIOS. ISSO. ACONTECEU?


Ok, após enfrentar um guerreiro gigante que não era o Daileon, Feliz e Dunga chegam numa caverna com 7 baús, cada um representando alguma coisa e com uma sereia em cima. Porque... porque não?

Feliz abre o baú da tristeza e Dunga, o baú do bem. A sereia do baú da tristeza se transforma na Rainha Má e amaldiçoa o anão com lágrimas. Mas Dunga tem mais sorte no seu baú, e encontra 7 cântaros. Ele poderia ter ido no baú secreto, pagado as prestações do carnê e ter ganhado o CD do Soldadinho de Chumbo,  mas 7 garrafa de água, tá no lucro. Agora é só vender em reunião da Tapaué.

Nãão, as garrafas são usadas pra guardar as lágrimas de Feliz, porque motivos. As sereias então prendem Dunga em uma roda de ciranda, viram fogo, e o Fantasma da Força da Rainha Má aparece.
Diga o que quiser da lógica dessa história, mas ao menos nos dá imagens MUITO daora e memoráveis.



Dunga resiste a mais tentações da Rainha Má de pegar os cântaros, e chega até a... seja lá o que for isso, e despeja as lágrimas no cântaro, uma de cada vez. E cada cântaro vazio, é alguém que ele salva.

...OW! Entendi! Lágrimas curam! Eu acho...?

Enfim, Dunga usa os cântaros pra salvar seus irmãos, e cada vez que ele esvazia, ele fica mais fraco e cansado, já que teve que andar e subir montanha feito um condenado e sem poder nem beber água. Dunga está por um triz, e usa o último cântaro pra salvar a fada.


Após Grimhilde explicar pro público que o cervo na primeira página era a fada que tomou a raiada no lugar de Branca, a fada é liberta e acorda a princesa de seu sono... semi-eterno?


...pera... a fada tava disfarçada de cervo...? Ou todos os animais que Branca interagiu são na verdade seres fantásticos disfarçados, ou o roteirista abusou das Leis da Conveniência Universal aqui. Branca já gastou toda a sorte do mundo nas duas vezes em que ela morreu, acho que ela não sobrevive a uma terceira tentativa.


Mas ao acordar, Branca sente uma sensação ruim... e descobre...


...




...OH YEAH.

Agora sim, A FAAAAAMILY DISNEY COMIC BOOK!

CANTEM COMIGO! WHEEEN YOU WIISH UPON A STAAAAR!

Oh nossa, esse quadro é terrível. Nossa, nossa. Ok, vamos por partes: Dunga está morto. O personagem mais inocente e debativelmente o anão mais carismático e mais próximo do público infantil, está morto. E eles não deixam num lugarzinho bonitinho pra parecer que tava dormindo como fizeram com a Branca, não senhor. Eles usam a abertura desse... artefato que leva ao esgoto? Existia esgoto na Alemanha mediev-ESTOU DIVAGANDO! Eles usam o próprio artefato e escavam o nome de Dunga, botam flores, e todos choram o sacrifício de Dunga.

Mais ainda, Zangado, que era o durão e que no filme, quando Branca morre e o vemos lentamente começando a chorar (o ponto onde quem não tava chorando começa a chorar), tem dificuldade pra falar a palavra "morto", e gagueja. Nem ele acredita no que aconteceu. Matar um personagem assim é impensável, especialmente porque foi uma morte honrosa, sacrificial. Dunga é retratado como um personagem MUITO além do que demos créditos por todos esses anos.


Mas claro, ele volta à vida quando Branca chora em cima do Artefato. Faz sentido e é um final feliz. Melhor ainda, a sereia boa dá um desejo a Dunga, qualquer que seja. Ele pede o poder de falar por um momento, ele se dirige à Branca e...



...

...EU NÃO ESTOU CHORANDO, VOCÊ ESTÁ CHORANDO!


A Volta da Rainha Má é uma história muito meh. Tem uns conceitos interessantes, mas nunca faz nada de realmente interessante com o material proposto. Essa história sim, é memorável, divertida, e engajante. Aprendemos mais sobre o lore dos anões, especialmente Dunga, onde descobrimos que ele fala com o coração e é um personagem muito mais esperto e valoroso do que pensávamos. Também vemos a riqueza do mundo fantasioso ao redor dos personagens, com dragões, sereias, fadas, e o primo do Asterix com sua arma-dilha de nome curioso.

Não, sério, dar a uma arma traiçoeira o nome de Judas é um conceito absurdamente sensacional, pra ums história da Disney.

Agora, eu só queria lembrar que lá pelos anos 2000, o finado DisneyToon Studios pretendia fazer um filme (potencialmente uma franquia, tal qual os filmes da Sininho) de aventura/fantasia mais sombria com os Sete Anões, no estilo Senhor dos Anéis. Essa história é uma prova de que o conceito é funcional e tem um potencial ridiculamente bom.
Eu ia oferecer meus serviços pra uma potencial volta a essa idéia, mas aí eu lembro que o DisneyToon foi fechado recentemente. Oh well.

Essa história foi publicada em Portugal, mas a versão que usei pra esse artigo foi do blog Duck Comics Revue, que traduz e comenta quadrinhos Disney (especializado nos patos, como o nome sugere) O que nos leva à última história... 


Donald Fracassa (ou O Capitão Fracasso, no Brasil) 


Antes de mais nada, é bom mencionar que "fracasse" em francês significa "esmagar". Como o Geoffrey do blog lá diz,  "Donald Smashes" soa muito Hulk.

E sim, eu tou trapaceando um pouco, a história não é focada na Branca de Neve, mas sim no Pato Donald. Mas essa é uma daquelas histórias cross-over de vários personagens, que incluem Branca e os Anões. Então tá ok.

Meu blog, minhas regras. Se na semana seguinte eu quiser ensinar vocês como fazer um miojo do balaco-baco, POR OZ, eu o farei.

Adiante.



Após a primeira página spoilar todas as aparições especiais, a história começa quando Donald deixa HZL (a sigla pra Huguinho, Zezinho e Luisinho. Aparentemente usam na gringa, gostei da idéia.) num encontro de Escoteiros, que provavelmente devia ficar nas montanhas da Escócia. Ou na serra de Pacoti, sei lá. Mas o carro começa a pifar e desce a ladeira enquanto Donald tenta pegar um pouco de água.

Perdido e com frio, Donald encontra um castelo abandonado, onde encontra o Gato de Cheshire. Ou Gato Risonho. Ou Mestre Gato. Ou Lúcifer, como é chamado em uma das edições francesas. Provavelmente foi traduzida por uma daquelas tias que dá filme da VideoBrinquedo ou da GoodTimes pro sobrinho achando que é o artigo original.


Enfim, o Gato tá comendo nepenta mágica...


...



Siiiiiiim, claaaaaaaro. Magic catnip. Que te deixa "quite mad". Ok. Wathever.



E aqui começamos a nos questionar exatamente onde ou quando essa história se passa. Digo, ok, o Gato é meio que uma entidade amorfa, provavelmente se manifestar em outros mundos não é estranho pra ele. Até porque a história que ele vem é baseada na falta de lógica, então ok. Daonde Donald conhece ele, é um mistério.


Enfim, após descobrir que não tem comida no castelo, Donald decide caçar, mas é incapaz de matar... Bambi? A namorada do Bambi? Sei lá.


Com fome, ele ao menos corta a erva-de-gato (que eu descobri hoje que se chama Nepenta, aliás), e usa pra acender uma lareira e se aquecer. Porcausa disso, o Gato diz que Donald não é digno de seu tesouro, um barril de tampinhas douradas.

Lembre-se disso, será útil no final.


Pouco tempo depois, aparecem os Sete Anões com um baita de um problema: Branca de Neve ficou cega por uma maldição da Bruxa Má. Na tradução de Geoffrey, foi o irmão da Rainha Má, mas como ele explica no post dele, é simplesmente algo que faz mais sentido do que ter a personagem morta. Mas como vimos anteriormente, a Rainha Má tá vivinha da silva por motivo nenhum exceto que sim.

O problema é que a única cura pra cegueira de Branca é o orvalho da nepenta mágica. O que leva Donald a...


SANTA FRIGIDEIRA, DONALD!

E ele continua lá, esperando seu destino no quadro seguinte. What a drama duck.

Gato Risonho diz que há mais nepenta mágica num lugar chamado Ninho da Coruja, mas Zangado prefere ir ver o Professor Magistus (Magus Gufus na versão francesa), que é basicamente um nômade. Donald resolve ir com eles, e se arma de uma espada e um tambor, já que os anões agora são músicos viajantes pra poder ter dinheiro durante a viagem (já que o feiticeiro transformou as gemas preciosas deles em folhas secas).

E eles vão precisar de dinheiro caso queiram chegar em seu destino, "Dias Sem Fim".
Sim, aparentemente existe um lugar chamado "Dias Sem Fim". Parece algo que o Tetsuya Nomura faria.




A trupe chega numa pousada, mas está lotada. Donald oferece os serviços musicais dos anões, que atrai o único hóspede do lugar (que alugara um quarto pra ele e todos os outros pras suas bagagens), que diz pra que paga o jantar de todo mundo se eles prometerem não cantar mais.



O que nos leva também a uma das cenas mais surreais dessa história: Branca de Neve, uma princesa da Alemanha medieval; ao lado de Pato Donald, um animal antropomórfico que mora numa versão alternativa dos Estados Unidos que tem a arquitetura clássica com algumas tecnologias novas; e um ricaço semi-humano fumando charuto e com uma arma de fogo. Tudo na mesma cena. Quando cê para pra pensar nisso em detalhes, dá pra bugar o célebro.

Céleblo. Cé... re... bluh.


Mas não para por aí, um macaquinho entra na pousada e vê que Branca tem jóias bordadas no vestido, e vai avisar seu dono, um ladrão pobre.
Ele se comunica com seu dono através de seu estômago.


Sim, o ESTÔMAGO do MACACO é capaz de fazer sons que são compreensíveis como uma fala normal. E você se gabando de conseguir falar "farofa" com a boca cheia de farofa.

O assaltante arma uma emboscada, mas Donald e os Anões o neutralizam usando um tambor, e o assaltante conta sua história. Ele era um policial DO BEM, mas sofre de uma terrível cleptomania, que o levou a roubar todos os discos de Eric Clapton da loja próxima à delegacia. Ele quer fazer um tratamento, mas custa caro, então ele rouba pra ter dinheiro pra fazer o tratamento pra parar de roubar.

Eles avistam o ricaço da pousada, que se interessa em comprar a espada que Donald carrega consigo desde o castelo. O ricaço paga o equivalente ao tratamento do ladrão, e sai cantando vantagem consigo mesmo que a espada lendária de alguém lendário vale pelo menos 5 milhões, e que vai mostrar isso no clube de colecionadores de armas ou algo assim.

Lembre-se disso também.

Ok, então depois desse momento... necessário, o bando levanta acampamento, e também chama a atenção de dois personagens conhecidos...


OH! JOÃO HONESTO E GIDEÃO!

GIDEÃO QUE FALA!

...QUE?

Ok, eu sei que eu tiro onda com a produção de Descendentes, que eles nunca viram os filmes ou viram uma vez quando moleques e escrevem o roteiro baseado em artigos do BuzzFeed, mas... agora eu tenho quase certeza que foi isso mesmo que aconteceu aqui. Qualquer um que se lembre de Pinóquio lembra que Gideão NÃO FALA. Foi cotado até Mel Blanc pra dublar o personagem (que também poderia até ter dublado Dunga, mas Walt não conseguiu encontrar nenhuma voz que encaixasse no personagem), e ele até fez uns soluços, mas só.

O tradutor aqui resolveu o problema ao fazer Gideão gago, o que poderia ser uma evolução no personagem, sei lá?


Eles planejam usar os anões no circo do Stromboli, e pra isso João droga a sopa dos anões enquanto Gideão faz acrobacias. Enquanto todos dormem profundamente devido ao sonífero, a dupla rouba a carruagem e deixa Donald perdido e sem pistas. Enquanto procura por rastros, Donald encontra seus sobrinhos ensaiando pra uma peça onde serão três espíritos com cabeça de abóbora.


HZL informam Donald que viram uma carroça sendo puxada por um gato e uma raposa, e Donald vai atrás, com os trigêmeos seguindo-o porque é claro que Donald vai precisar de ajuda.

Donald chega numa torre onde os anões e Branca estão cativos até chegar Stromboli. Com a porta trancada, a única alternativa é usar as pernas-de-pau dos meninos e subir até a janela. Mas Donald se segura em um galho de musgo ou algo assim, e o joga pra longe, onde ele é raptado por uma cegonha, que o solta no famigerado Ninho de Coruja.

Não só isso, mas ao acordar Donald descobre estar na presença do tal Professor Magistus, que é... uma coruja.

Porque é claro que sim.


Para provar o valor de Donald, Magistus propõe um teste. Ele mostra uma pereira com três mil trezentas e trinta e três peras, e apenas uma é comestível, as outras trazem a morte. Donald precisa escolher sabiamente caso não queira morrer.

Você não AMA como quadrinhos italianos botam os personagens em situações assim? Eu amo. Sério, dá um pouco mais de escala pra jornada dos personagens, e é algo totalmente inesperado, quando se para pra pensar. Especificamente nesse caso, que trata da jornada do Donald como herói improvável, mas já já falamos disso.


Enfim, as peras não eram envenenadas, era apenas um teste pra saber se Donald seria bravo o bastante pra se sacrificar por alguém. Magistus aponta a direção pra tal erva mágica e diz que mais tarde irá pedir um favor a Donald, mas que agora ele deve ir o mais rápido possível pra salvar seus amigos.



Assim, a erva mágica impulsiona Donald de volta até a torre. Isso é o mais normal que ela fará, como veremos a seguir.


Donald chega bem a tempo na torre, já que João e Gideão estão voltando, mas a erva mágica se transforma em botas e chuta os dois pela janela. Em seguida, se transformam em rodas pra carruagem, e leva a trupe de volta ao castelo onde tudo começou. O Gato Risonho revela que o seu tesouro é na verdade o lendário pote de ouro no fim do arco-íris, e antes que Donald berre "PELA CRIPTA DE JOÃO FIGUEIREDO! ESTOU RICO! RIIIICO! VOU PODER HUMILHAR TIO PATINHAS! VOU PODER VIAJAR O MUNDO DE PRIMEIRA CLASSE! VOU PODER EXTENDER MEU NAMORO COM A MARGARIDA ATÉ O FIM DOS SÉCULOS!", o Professor Magistus aparece revelando que ele não nasceu como coruja, mas também foi amaldiçoado pelo irmão da Rainha Má (suponho que no original seja a própria Rainha mesmo), e que sua alma está presa no tesouro.

E ele só poderá retomar sua forma original se uma alma nobre de puro coração que vai todos os dias ao campo recolher lenha (Donald) dê o tesouro de volta ao professor voluntariamente. O qual obviamente, Donald o faz.

E o professor revela na verdade, ser um cometa.

Eu ADORARIA estar brincando.


Na seção de comentários do Duck Comics Revue, dois leitores mencionam que em uma das versões dessa história, o cometa era masculino, tendo inclusive uma barba, mas na versão original era uma moça mesmo.


Enfim, Branca é curada, os Anões vão ter um problema desgraçado pra atravessar o mar numa carroça de novo (pressupondo que a história se passa nos EUA), e o gato risonho vai continuar a comer sua ervinha na ilegalidade. Mas e quanto ao carro de Donald que virou farofa no começo da história?



Novo em folha, graças à magia da erva deus-ex machina.

Mas a história não acabou, ainda temos que lidar com Tio Patinhas, que durante a ausência de Donald, precisou dele pra ir em mais alguma aventura louca que paga 30 centavos a hora. O ricaço lá que comprou a arma de Donald mandou um telegrama pro velho Scrooge dizendo que encontrou uma arma lendária cujo nome eu não consigo me importar o suficiente pra lembrar.

Mas Patinhas nota o arco que HZL estão usando no quintal, em tempo de causar uma fatalidade grave em um transeunte desavisado. Esquecendo que é um ótimon negociante, Patinhas faz a ÚNICA coisa que não deveria fazer numa barganha: mostrar animação. Ele oferece cinco conto pelo arco de Donald, mas os meninos o avisam que pelas inscrições nele, o arco pertenceu a Robin Hood.

Se foi o humano ou a raposa, fica aí a dúvida. Eu aposto na raposa.

Donald e Scrooge se degladiam pelo melhor preço, e Donald vende o arco por 20 mil conto, e FINALMENTE, temos a conclusão da história, com Donald e os meninos de férias no Havaí.


É uma EXCELENTE história, não só pelos crossovers e pela aventura digna de um Super Nintendo, mas por mostrar Donald como um personagem diferente do que normalmente é. Mais humano, altruísta, e legitimamente tentando melhorar a si mesmo e corrigir erros. Provavelmente por se sentir culpado por dificultar a vida de gente que ele conhece, mas não tem tanta intimidade, que é um traço de personalidade comum a todos nós.


E enquanto eu escrevia esse artigo, eu descobri pelo meu amigo Naggos que a história foi publicada no Brasil em 2010, em Clássicos da Literatura Disney #1 de 2010. Eu tratei logo de baixar, e olha... é um DESASTRE.


As cores tem tanta vida quanto um pedaço de fezes, e as cores tão completamente erradas (como o Gato Risonho estar MARROM) e os quadros foram recortados e rearranjados, tornando algumas cenas menos e mais desinteressantes. O diálogo também tá mais pobre e sem graça.

Pra variar, a tradução amadora feita por um fã é mais competente que a oficial. Vai entender.


Aliás, podia aproveitar e aparecer alguém pra publicar quadrinhos Disney de forma direita, agora que a Abril começou o processo de falência, né?


E é isso por hoje, se tiver mais alguma história antiga Disney (ou de outra editora) que tu ache que valha a pena revisitar, me avisa aí nos comentários que eu dou uma olhada, quem sabe vire um artigo algum dia.


Esse artigo foi feito com o apoio do padrinho João Carlos. Se quiser ajudar com o blog ou simplesmente não quer que nós morramos de fome, peste e miojo barato, considera contribuir com qualquer valor no Padrim