Tio Walt: Flubber


Cê provavelmente conhece Flubber. Aquele filme dos anos 90 onde Robin Williams contracenava com a Ariel e uma gosma verde em CG. Claro que lembra. Aquela praga passava quase que direto no Cinema em Casa do SBT, sei lá se ainda passa porque eu não vejo TV aberta há pelo menos 5 anos.

Mas esse filme na real é um remake de outro filme dos anos 60, que por sua vez é baseado em um conto curto que eu não consegui achar então dane-se, vamo ficar nos filmes.

Na real, nem consegui achar todos os filmes então vamo ver no que vai dar, essa é a mini-retrospectiva da franquia Flubber.
Ou Professor Lezado, sei lá.




O Fantástico Super-Homem (The Absent-Minded Professor, 1961)


Esse é um dos poucos filmes feitos pelo estúdio na época que ainda era em preto-e-branco, por qualquer motivo. Sim, vamos comentar Shaggy Dog e Frankenweenie outro dia.

A história conta sobre um professor de química chamado Ned Brainard, que tá prestes a fazer uma grande descoberta, mas falta alguma coisa que ele não sabe o que é e dedica seus dias a descobrir o que raios seria. De fato, ele é tão dedicado que já perdeu o próprio casamento não uma, não duas, mas TRÊS vezes. A pobre Betsy merece alguém melhor, como o professor de literatura do colégio rival.

Mas Ned descobre uma borracha moldável que gera energia própria, que ele apelida de "Flubber", a junção de "flying" e "rubber'. Não faço a menor idéia da desculpa que deram na dublagem.

Aliás, vamo falar desse título RETARDADO que é "O Fantástico Super-Homem"? Primeiro que faz uma associação direta com o herói da DC, e segundo que... Bom, sim, ele voa no filme, mas na real o carro dele que voa, então... Não tem muita associação. "Um Professor Desmiolado" faria mais sentido, além de ser uma tradução direta do título e chamaria mais atenção pro fator comédia do filme, ao invés de parecer um filme sobre um herói.


E como filme de comédia... Eh. É estranho porque ele não parece ter muitas piadas, nem ter comédia como foco, mas eu lembro de dar algumas risadas pelo filme, ele tem falas e situações legitimamente engraçadas. A história do professor é interessante o suficiente e a forma de contar a história não é muito diferente do que se fazia na época, embora a decisão do protagonista ser um professor e passar pelos problemas de relacionamento que ele passa possa ser maçante pra crianças. Se eu fosse um moleque vendo isso, provavelmente ficaria passando pras partes onde mostram o Flubber.

De fato, os efeitos visuais usados no filme não são inovadores, mas é interessante como eles usam uma boa variedade de efeitos pra algo tão... vago como Flubber. Quando é uma bolinha pula pula ela é uma bolinha pula pula, se precisa exagerar usa-se animação tradicional sobreposta; quando é o carro voando usa-se miniaturas e tela verde (ou cinza-escuro, sei lá); se é pro pessoal ficar pulando usam cordas, etc.



O que sustenta o interesse na história na real é o arco de redenção do professor. O que é uma forma... Não usual pro protagonista. Vejam, assim que conhecemos o professor descobrimos que ele já adiou o casamento duas vezes antes, e agora mais uma vez porcausa da descoberta do Flubber. Ele definitivamente não é um cara confiável, e nos faz até ficar do lado do professor de literatura egocêntrico.
Ok, a gente já sabe como isso vai terminar, todo mundo viu Um Herói de Brinquedo, O Mentiroso e Flubber com Robin Williams. Mas o que torna (ou deveria tornar; já chegamos no remake) esses personagens interessantes são suas atitudes que mostram arrependimento.

Claro, Ned é um desgraçado que deixou a moça no altar TRÊS VEZES pra se dedicar aos seus estudos, mas ele não é um cara exatamente ruim, ele só fica focado muito em algum problema muito específico quando acha que tá perto de encontrar a solução. E isso é uma falha comum e familiar a nós. Ainda é uma falha imensa com consequências desastrosas, mas mesmo assim. É uma falha explorada e exagerada pra fins de comédia... eu acho. Não tem nada muito engraçado sobre isso, mas ao menos cria o conflito.

Vemos que ele tenta explicar pra Betsy o motivo de ter se atrasado ao experimentar o Flubber no time de basquete, o que nos leva a uma looooooooooooooooonga sequência de atletas usando truques com cordas enquanto tiram onda com os adversários. É engraçadinho no começo, mas depois cansa. Humor sessentista, sei lá.


Na real, parando pra pensar, é um filme engraçado. Parte da comédia dele vem da vingança de Ned contra o professor de literatura, as formas que ele faz pra botar o professor numa cilada, e o milionário que quer comprar o Flubber. É meio catártico, mas ao mesmo tempo... Esse é o cara que DEIXOU A GURIA NO ALTAR TRÊS VEZES. Eu tenho dificuldade em gostar dele, mas ainda assim, eu gosto, eu simpatizo com ele. Eu quero ver ele vencer, fazer algo útil com o Flubber, fazer o pessoal acreditar nele. De fato, duma hora pra outra a Betsy começa a acreditar nele, e eu não sei se era algo dos anos 60 mas... Hoje soa meio forçado.

Sim, ela viu o lance do jogo de basquete e viu Ned dançando feito loco e ligou 2+2 e "nossa realmente ele deve ter dito a verdade vou ficar do lado dele" mas ainda assim... Eeehhhh. Funciona, mas... Eeehhhh.



Ainda assim é um filme divertidíssimo, se considerar os padrões da época. A comédia é pontual, mas eficaz; os efeitos visuais não são inovadores, mas são usados de uma forma criativa e divertida; e o próprio desenrolar da história é engajante o suficiente. A cena do jogo de basquete é meio lenta, mas dá pra passar. E o filme pode ser um pouco longo demais, ele parece querer esticar com muito filler. De novo, a cena do basquete poderia ter sido muito reduzida, o único filler que eu senti que valeu a pena mais foi o da vingança contra o cara da companhia de empréstimos.

Eu sei lá, é uma comédia inocente mas com um certo tom maquiavélico, eu adoro isso.

Aparentemente o filme foi incrivelmente popular na época, sendo um dos filmes de maior bilheteria do ano, ficando alguns lugares atrás de A Guerra dos Dálmatas.

MEU DEUS, os brasileiros dos anos 60 eram terríveis em dar nome aos filmes da Disney ou é impressão minha? Era muito Roleta Russa, às vezes botar algo diferente demais funcionava (Mogli, O Menino Lobo; A Espada Era a Lei) e às vezes era um tiro no pé.

Also, o grito de guerra do colégio foi a primeira composição dos Irmãos Sherman com a Disney, provando que todo mundo começa em algum lugar.


O professor Hubert Alya serviu de inspiração pro título do filme (mesmo sendo baseado em um conto; vai entender), e Walt conheceu o maluco durante uma Feira Mundial nos anos 50. O professor ganhou o apelido de Dr. Boom por fazer experimentos com explosivos, e Walter deve ter ficado tão impressionado com uma figura curiosa dessas e chamou o cara pra Califórnia ensinar química pro ator de Ned, que usou o professor como inspiração pro seu papel.

E ele relatou que nunca tinha entendido química até conhecer Alya.

DISNEY! FAZENDO VOCÊ APRENDER COISAS CHATAS E MAÇANTES DE UMA FORMA DIVERTIDA DESDE OS ANOS 60!




The Absent-Minded Professor é um filme pra um humor muito específico. Se tiver sem fazer nada de tarde, querendo ver um filme com um ritmo e estilo de comédia um pouco diferente mas eficaz, dê uma chance a esse filme, talvez encontre algo que goste. Demora um pouco a engrenar, mas é um bom filme.

E claro, fez sucesso o suficiente pra ganhar uma sequência.




O Fabuloso Criador de Encrencas (The Son of Flubber, 1963)



Como dizem os Muppets na canção We're Doing a Sequel, geralmente a sequência nunca chega aos pés do original. Há um problema em potencial maior caso a sequência seja simplesmente uma recontagem do primeiro, quase como um loop, tais como Caça-Fantasmas 2 e Pequena Sereia 2. Outros casos mostram que essa recontagem do original é quase uma necessidade, como que pra provar que os produtores do filme conseguem contar uma história no mesmo estilo da original, mudando o suficiente e avançando a história ao mesmo tempo, como Acorda pra Cuspir e Mary Poppins Returns.

Son of Flubber faz parte do primeiro grupo.



A história começa exatamente onde o primeiro filme parou, com o professor Brainard deixando a patente do Flubber com o Governo dos EUA e esperando receber tanta grana que faria Michael Eisner parecer pobre. Mas os chefões dos departamentos de Defesa pretendem fazer testes antes de revelar ao público, e o professor volta de mãos abanando.

Em casa, ele e sua agora esposa Betsy recebem um... marketeiro? Empresário? Nem lembro, mas é um cara que pretende comercializar variantes do Flubber, incluindo pisos, pastas de dente, chicletes, e provavelmente ovomaltine caso tivessem a oportunidade. Mas como os direitos exclusivos do Flubber tão com os caras do governo, ele não pode vender ou fazer os produtos, o que dificulta ainda mais a situação financeira do casal, que tá se alimentando de pipoca e ovo frito.
O que falando agora em voz alta parece uma combinação deliciosa, mas divago.


Pra piorar, o diretor do colégio esperava que Brainard aparecesse com um cheque gordo o suficiente pra quitar as dívidas com Hawk (que perduram desde o filme anterior) e novamente o colégio tá na beira de ser demolido caso não pague os empréstimos. E por qualquer motivo, uma antiga amiga de Ned reaparece através do professor de literatura, que começa a causar ciúmes em Betsy.

Sim, o filme quase banca o Caça-Fantasmas 2.

Mas Ned tem um novo projeto: com os restos de Flubber, ele descobriu um gás que tem... Efeitos... variados. Criar chuva, destruir janelas, inflar e flutuar. Se o gás também permitisse alterar a voz e fazer a bandeira do Brasil, poderia ter sido o precursor do Windows 98.


Aspectos positivos primeiro: os efeitos visuais são ok. O cara inchando e flutuando durante o jogo de handegg; a chuva artificial é interessante; os vidros quebrados causam um efeito cômico em alguns momentos; e... o ator do Ned realmente consegue tocar bem o saxofone, eu tou impressionado.

Mas todo o resto é maçante. Irritantemente similar. A princípio, parece ok. A história realmente avança e tem progressão de onde fomos deixados no filme anterior, mas fica sempre aquele gosto na boca de "eu já vi isso antes, e o antes era melhor que isso". É quase uma versão diet do original, as batidas narrativas tão lá, só que mais magras.
Tipo o remake de Rei Leão e Bela e a Fera, só que sem um público-alvo facilmente manipulável pra defender o filme.


Hawk ameaçando destruir o colégio? Check. Betsy irritada com Ned por algum motivo? Check. Professor de literatura fazendo enxame no relacionamento de Ned e Betsy? Check. Ninguém querendo ouvir sobre Ned e sua nova invenção miraculosa? Check. Betsy para de falar com Ned? Check. Hawk fazendo proposta pra comprar o novo experimento de Ned e Ned rejeitando? Check. A exata mesma cena do Ned perseguindo o professor de literatura no carro inclusive com a exata mesma sequência narrativa dos faróis acendendo do escuro com som de "DUUNNN!" e em seguida flutuando por cima do carro do professor de literatura aloprando o projeto masculino de Sra. Who em Wrinkle in Time? Bibbidi-bobbidi-check.


As cenas são basicamente iguais, mas com pouquíssimas diferenças que as tornem interessantes. O lance de encher o carro do professor de literatura de água é interessante e o efeito é daora, embora a sequência seja basicamente igual ao anterior, sem o aftermath engraçadíssimo com o diálogo entre o professor e os policiais. A crise de casamento entre Ned e Betsy é forçadíssima e não acrescenta absolutamente NADA à história. Tem uns segmentos novos dos alunos testando o flass (flubber+gas; embora eu não lembre de terem nomeado no filme, mas consta na Disney Wiki então ok) como enchimento no uniforme de handegg, que acabam destruindo o galinheiro do vizinho.

Não é nada exatamente interessante nem novo, é só... Mais do mesmo, só que menos. Até a comédia foi diminuída, antes era pouca, mas o pouco que tínhamos era engraçado. Agora parece mais diluída e sem graça.


As atuações tão ok, os atores fazem o trabalho direito e os personagens não parecem agir fora de si, exceto pelo que o roteiro manda. Ed Wynn tem um pouco mais de tempo de tela no final e até isso o roteiro parece não aproveitar como deveria. Sei lá, alguma coisa simplesmente parece fora do lugar em parte do tempo.

Son of Flubber é uma sequência INCRIVELMENTE inferior ao original, só vale a pena ver por curiosidade mesmo.




Mas o nome era evidentemente forte o suficiente pra receber MAIS remakes ao longo dos anos. Além de versões coloridas dos mesmos filmes, mas são exatamente os mesmos filmes, só que em cores. Então obviamente eu não vou rever tão cedo.

Vejamos então os remakes.




As versões de 88 e 89




Essas são duas versões que eu não consegui encontrar, então vou ter que deixar pra outro dia caso encontre. Parece ser exatamente o mesmo filme, a julgar pela propaganda da época, só que adaptado aos anos 80, incluindo um Mac com inteligência artificial e um desenho pixelado de Albert Einstein. 

No entanto, a Disney Wiki registra o plot se passando no mesmo universo dos filmes originais: o Flubber original de Brainard se perdeu no tempo, mas Albert conseguiu resgatar e o professor Henry Crawlford refaz o projeto. Eles até reconstróem o Ford T original de Brainard, mas no momento eu tou mais intrigado com o fato de que o programa de Albert seria basicamente Albert Einstein numa toga com luzes em LED ou ele seria parecido com o seu programador?

Sim eu já tou pensando nesse filme dentro do universo de Tron. Aliás, como raios funcionaria uma sociedade com trocentos programas sendo exatamente iguais? Como geral iria diferenciar eles? Através de nomezinhos em cima de suas cabeças como se fossem um bando de adolescentes remelentos em Payon?


Enfim, é estranho o filme ser basicamente uma sequência direta dos filmes originais, mas tem o exato mesmo nome do original. Nem pra botar um subtítulo tipo "The Next Generation" ou "The New Flubber". Mas isso só prova que não é de hoje que a Disney tem esse costume de refazer seus próprios filmes usando o exato mesmo nome pra chamar atenção e ganhar uns trocados em cima da nostalgia.

Hey, lembremos que a essa altura era Michael Eisner que tava à frente da companhia, o cara basicamente escreveu o livro de regras sobre como capitalizar em cima de nostalgia moderna.



A sequência pra esse remake veio no ano seguinte, ano em que a Disney iria renascer com Pequena Sereia. The Absent-Minded Professor: Trading Places ao menos tenta dar alguma novidade: o professor Henry reencontra um antigo colega que hoje trabalha na robótica, e ambos decidem trocar de emprego. Não sei se por frustração mútua dos caras ou por zoeira típica infantil (eu tenho quase certeza que tem um episódio de Cailou com esse plot), mas isso acontece e parece ser algo interessante.

O professor de química trabalhando na robótica e causando altas confusões enquanto se envolve em projetos ultrassecretos? Dá pra fazer um filme direto pra TV engraçado.

Sim, ambos os filmes foram feitos especificamente pro Wonderful World of Disney da NBC, que era a nova encarnação da série antológica iniciada pelo próprio Valdisnei, e que era apresentada por ninguém menos que Michael Eisner.



Eu tou deixando esse vídeo aqui por um número de fatores.

1-A interação entre Michael Eisner e Alice é a coisa mais adorável desse mundo, mesmo com o roteiro incrivelmente sem sal e forçado.
2-Sério que eles passavam SPLASH como um filme-família no domingo?
3-Essa versão disco de When You Wish Upon a Star é mó daora.
4-O cabelo da Oprah. Eu queria fazer uma piada mas não consigo.




Teve também uma versão em quadrinhos do filme original, publicada em Almanaque Disney 98 e outra revista que nunca ouvi falar. Ambas tiveram o layout remontado, o que talvez explique o tamanho claustrofóbico dos quadrinhos. É uma adaptação em quadrinhos de um filme, não chega nem aos pés da experiência de ver o filme mesmo. Incrivelmente sem graça.

UAU, ISSO É QUE É PREGUIÇA DE ADAPTAÇÃO!

Até que em 97, após o bem-sucedido 101 Dálmatas, John Hughes escreveu e produziu uma nova adaptação de Absent-Minded Professor: Flubber (no Brasil com o subtítulo Uma Invenção Desmiolada; curiosamente, em Portugal é O Professor Distraído).


Flubber - 1997



Então... John Hughes. Escreveu filmes que se tornaram clássicos como Clube dos Cinco, Esqueceram de Mim, e Construindo uma Carreira, dentre outros que tu deve conhecer mas eu tou sem saco de listar. Mas depois de um tempo ele parece ter errado a mão... Ou a grana falou mais alto. Especialmente porque o remake de 101 Dálmatas com Glenn Close foi o filme mais lucrativo da carreira de John, já que ele ganhava uma parte de TODO merchandising sobre o filme.

Provavelmente isso que o motivou a escrever e produzir o remake de Absent-Minded Professor, agora com o nome mais simples, porque marketing. Na real, esse filme todo parece um grande golpe de marketing numa tentativa de reutilizar uma propriedade antiga Disneyana pra ganhar uns trocados.

Outro dia escrevo sobre isso especificamente.


A história acompanha o professor Phillip Brainard, que tenta salvar o colégio ao fazer uma nova invenção e blablabla. Mas ele se esqueceu pela terceira vez de seu casamento com Sara, diretora do colégio. Ele obviamente perde o casamento porque acidentalmente descobriu o Flubber, que por algum motivo agora aparenta ter vida e auto-consciência.
É. o Flubber não é mais só um composto químico novo, ele também tem vontade própria. Vai saber.

E agora o professor Phillip precisa dar um jeito de convencer sua ex-noiva a voltar a sequer falar com ele enquanto tenta descobrir o que fazer com o Flubber. Essa frase deveria te mostrar boa parte dos problemas desse filme.



Primeiro que o maluco basicamente inventa um assistente robótico flutuador com inteligência artificial que se desenvolve sozinha. Em um momento do filme, vemos que Weebo basicamente faz um backup de si mesma e ainda melhora alguns pontos, algo que o professor provavelmente esqueceu. A robozinha também aprende a amar, como visto na imagem acima.
Como se isso não fosse o suficiente, Weebo ainda tem a voz de Jodi Benson, a própria Ariel. Se isso não é suficiente pra que se inicie uma pesquisa e venda aos montes pelo equivalente ao PIB da Austrália, eu não sei o que é.

Segundo, o Flubber é um invento espetacular, e Phillip não vai imediatamente tentar vender pra algum lugar. Ao invés disso, ele usa no basquete. No original, temos um pouco mais de tempo pra desenvolver o personagem e Ned parece ser bem mais cauteloso com sua invenção. Ele não quer vender pra qualquer um, ele é um cara altruísta e acha que o Flubber teria boas utilidades pra toda população. Além de que a partida de basquete serviu pra testar as propriedades do composto. A história de Phillip parece mais desesperada, a faculdade precisa de dinheiro AGORA e ele poderia acelerar o processo de venda.

O senso de urgência também existe no original, mas o uso do Flubber no basquete acaba sendo mais pra desenvolver o subplot do professor e de Betsy, que pouco a pouco passa a acreditar nele.




Aqui, a diretora lá passa pro lado de Phillip após Weebo mostrar um vídeo de Phillip desabafando sem que soubesse que tava sendo gravado. E aí na cena seguinte já vemos a diretora deitada em cima do prof-this is a Disney movie, right?

Por algum motivo, essa não é a única cena bizarra do filme. Em um momento, Weebo constrói uma versão digital de si mesma em holograma pra poder estar mais próxima do professor. Sim, a robozinha que parece pertencer ao Mundo Redondo de Ollie após passar por uma prensa hidráulica é apaixonada pelo professor. De fato, ela propositadamente não o avisou de seu casamento.

...o que torna o professor distraído menos distraído, pra que ele fosse mais vítima? Mesmo ele tendo deixado a moça três vezes no altar...?


Aliás, o meliante não aparece no próprio casamento DE NOVO PELA QUARTA VEZ AO FINAL DO FILME. No original ao menos ele ainda consegue se casar e nos dá alguma esperança de mudança em seu personagem, aqui ELE BASICAMENTE SE CASA PELA INTERNET.


Com isso dito, é um filme que ao menos tenta inovar alguns pontos. Embora com a velhinha que cuidava da casa, bota Weebo e mais um monte de geringonças rejeitadas de Wallace e Gromit; a partida de basquete é mais divertida de assistir e mais rápida, mas usa menos efeitos ou piadas visuais; e temos um Flubber em CG que dança mamb-ah meu raio.


É, tem uma sequência inteira do Flubber se multiplicando e dançando mambo como se tivesse num maldito filme dos anos 30-40. Bom saber que o professor tem um pedaço da casa reservado só pra isso, aliás. É uma sequência imbecil, exagerada, e estrogonoficamente demorada.

E é a única coisa que eu lembro desse filme

Digo, isso e o cara peidando o Flubber no final.


Esse filme foi feito exatamente como os remakes recentes tão sendo feitos: a maioria sem alma, numa linha de produção, pra aproveitar uma propriedade antiga parada tempo o suficiente pra criar dengue, só pra fazer o caixa da empresa movimentar sem necessariamente arriscar nada. E a idéia faz sentido, se alguém viu Absent-Minded Professor quando era moleque na época de Flubber já teria lá seus quase 30 anos. A diferença é que naquela época não existia internet e o filme original era bem meh pra início de conversa.

A estratégia agora tá BEM mais potencializada, pegando na nostalgia do pessoal na faixa dos 20-30 anos, mas também nas crianças que cresceram vendo os filmes clássicos e da Renascença no Disney Channel. O que motiva os produtores a fazerem qualquer coisa sem o mínimo de esforço decente, como temos visto com Rei Leão. Claro, podemos ter bons filmes dessa leva, mas eles são mais acidentes felizes.

E não, eu não vou resenhar o remake de Rei Leão ainda. Só o vídeo de Hakuna Matata foi prova suficiente pra mostrar que não vale um centavo da minha grana, vejo quando sair no torrent e aconselho que façam o mesmo. Vão ver o original.


A única coisa que realmente se salva em Flubber (além das pequenas mudanças que são de fato uma melhora em relação ao filme original, como a CG e Weebo) é a atuação de Robin Williams. Pelo amor de Oz, como esse cara era um excelente ator. Ele sabia que esse filme não tinha um pingo de valor artístico que se salvasse, mas ainda assim ele deu tudo de si na atuação, colocando emoção e slapstick bem mais do que deveria.

Não, sério, a cena que Weebo "morre" só é engajante porque Robin Williams te faz se importar com os personagens. Fosse um Sociedade dos Poetas Mortos, Bom Dia Vietnã ou Flubber, o cara dava tudo de si na atuação e isso é louvável. De fato, o maluco que fez o filho do banqueiro (o Wesley de Star Trek) mencionou que eles gravavam a cena do jeito que o roteiro pedia, e logo depois Robin pedia pra refazer suas falas improvisando. O que ele gravou daria pra fazer um filme totalmente diferente.

Eu PAGARIA pra ver essas cenas.

O único tipo de legado que Flubber deixa na Disney é o nível absurdo de babaquice de seus personagens, algo que só seria rivalizado por Chicken Little alguns anos depois. Isso e ter um quadro e escritório de Phillip Brainard na atualização de 2002 de Journey Into Imagination with Figment (e uma menção rápida na HQ baseada na atração). Tem outra referências a outros filmes Disneyanos, os quais escreverei outro dia.

DISNEEEEEEEEEEEEEY


E esse foi a mini-retrospectiva de uma das franquias esquecidas da Disney, e... Por bons motivos. O filme original é criativo e divertido, mas não tem exatamente nada de especial que o sustente. A sequência é uma releitura do primeiro só que consegue fazer menos do que o original. Os dois filmes do soft-reboot eu literalmente não consegui encontrar, e talvez seja burrice minha por não saber procurar direito, sei lá. E o reboot de 97 é pior que o original, embora faça algumas coisas pra melhorar a história.

No geral, só vale realmente a pena ver essa série de filmes se tu tiver uma mórbida curiosidade. Eu poderia ter gastado meu tempo com algo mais produtivo, tipo rever Para Sempre Cinderela, sei lá.

De fato, vejam Para Sempre Cinderela. E A Princesa Prometida, esse último tá na Netflix. Será um uso bem melhor do seu tempo, eu te garanto.

Aliás, uma última trivia: sabe aquela geleca que a molecada hoje chama de Slime, e que na minha época se chamava Amoeba? Essa mesma substância também é chamada de Flubber, porcausa do filme.

De fato, nos anos 60 a Disney e a Hasbro fizeram uma parceria pra fabricar o Flubber como um brinquedo. Todos os testes foram feitos e deu negativo pra alergia. Assim, o produto foi enviado a milhares de crianças que logo estavam com coceiras, gargantas inflamadas e erupções cutâneas. Após um recall e uma investigação minuciosa, descobriu-se que o Flubber tinha um componente químico desconhecido que causava a tal alergia nas crianças. A Hasbro tentou se livrar do brinquedo, mas não dava nem pra tacar fogo porque criava uma nuvem preta imensa. Jogar no mar causou mais problemas, porque o Flubber acabava flutuando de volta pela baía.

Qual a solução? Usaram o Flubber como composto de construção no estacionamento do armazém novo. Lendas entre os funcionários da Hasbro contam que uma vez ao ano, quando o verão tá de lascar, dá pra ver um pouco do Flubber querendo sair pelas rachaduras do chão.


Disney e Hasbro ou algum cineasta independente que esteja lendo isso: proponho usar essa história como pano de fundo pra um revival de Flubber como um zumbi. De nada, ponha meu nome nos créditos.
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