Acertando as Contas com Papai

Essa é a imagem mais ano 90 que verá hoje.

Agosto chegou, e com ele o Dia dos Pais, e logo eu me peguei me perguntando "o que será dessa geração que não conhece o Domo-kun?" Digo, por algum motivo a internet brasileira resolveu apelidar o mascote de "mafagafo" através da Desciclopédia. Isso num tempo em que a internet não tinha o alcance de hoje e algumas coisas ainda eram BASTANTE obscuras pro público comum. Raios, uma vez eu tive que fazer um trabalho escolar sobre Rick Astley e tive dificuldade pra explicar o que era um "meme".

Curiosamente a disseminação do termo não me ajudou a explicar pra exata mesma demografia o que é de fato um "meme".

...

Enfim, eventualmente eu comecei a pensar no que eu traria pro Dia dos Pais, então...


...uh...


Macaulei Cookin.




Se tu já é antigo por aqui (ou tem um mínimo de vivência geral) deve ter visto eu mencionar a Regra dos 15 anos. "Se tu gostava de algo antes dos 15 anos, provavelmente não vai gostar agora. Caso ainda goste, há uma chance desse algo passar no teste do tempo."

Eu amava esse filme quando pirralho. De fato, devo ter visto mais esse filme e Riquinho de 94 do que Esqueceram de Mim. Em minha defesa, eu não tinha o épico natalino gravado em VHS, logo eu não podia assistir quantas vezes eu quisesse.

Ao contrário de Acertando as Contas e Riquinho. Eu ainda lembro que minha gravação de Riquinho tinha a logo verde do SBT (indicando que era um filme livre para todos os públicos) e Acertando as Contas tinha uma propaganda de Natal com a Fat Family que eu NUNCA mais consegui achar.

Acredite ou não, era uma propaganda da Mesbla.

MESBLA!!!!

Eu não lembro dessa lendária loja em meus anos pueris, nunca entrei em uma e só fui tomar conhecimento de sua existência anos depois, mas essa propaganda de alguma forma adentrou a fita. Negócio é que eu não consigo achar em lugar algum, só essa.  Mas a propaganda que eu tinha gravado lá era num fundo branco, câmera em cima, eles tudo de branco abraçados cantando "Eu quero um presente Mesbla" ao ritmo de We Wish You A Merry Christmas.

Ou pode ser só um Efeito Mandela, vai saber.

...do que eu falava? Ah, sim, o filme.


A história começa com Ray e seus dois amigos planejando um roubo à um monte de moedas antigas que foram deixadas por uma velhinha ao falecer. Mas a coisa muda de figura quando aparece o filho de Ray, MOCKOULEI, que acaba descobrindo sobre o roubo e esconde a bolsa de moedas, obrigando o seu pai a passar uma semana com ele fingindo que se importa com o guri em troca da localização da bolsa. Enquanto isso, uma policial investiga o caso e acaba se envolvendo com Ray.

Sim, alguém algum dia se tocou que o menino Mack estava crescendo e achou melhor aproveitar o máximo que podia da oportunidade. Pegou o moleque de Esqueceram de Mim, o cara de Três Homens e Um Bebê, e misturou as duas coisas e viu no que dava.

O que temos como resultado é um filme incrivelmente... Eh.


Cena obrigatória porque motivos.

Dia desses eu tava vendo o Rental Reviews do James Rolfe (assistam, é do balaco baco), onde eles debatiam sobre Plan 9 From Outer Space. Alguém lá disse que depois desse filme, cineastas tentavam fazer ou o pior filme possivel, enquanto outros almejavam pelo melhor filme possível. James então zoa dizendo que ninguém almeja o meio, o "filme mais medíocre e meio-termo possível".

Bom... Esse é um desses filmes.

O plot em si tem um potencial absurdo. Um moleque de 11 anos chantageando um bando de ladrões em troca de passar um tempo de qualidade com o próprio pai, pode ser engraçado, dramático, e ainda dá pra fazer todas as paradas que crianças gostam de ver. Tipo as coisas do Riquinho, que tinha um McDonald's e uma montanha-russa no quintal, o sonho de todo moleque remelento e minimamente decente.

Mas não é o que acontece aqui.


De quem é a culpa? Todo mundo. Os roteiristas não se esforçam em tornar o setup em algo interessante por mais que 50 minutos, os personagens principais não são desenvolvidos como deveriam (nem a nível de comédia, que geralmente toma mais liberdades conforme necessário), o romance é a coisa mais incrivelmente básica e descartável possível, fazendo com que Romeu e Julieta se pareça com George Bailey e Mary Hatch. Não, sério, o tempo que eles passam juntos é basicamente o mesmo tempo de Aladdin e Jasmine e ainda assim os dois tem tanta química quanto o arquivo de legenda que eu usei pra ver o filme.

O problema maior é que o filme realmente não sabe o que quer ser. Por um lado, ele parece querer apelar pro público de Três Homens e um Bebê, com marmanjos se prestando ao ridículo por não saberem como lidar com coisas básicas do dia-a-dia... Mas o moleque tem 11 anos e consegue se virar sozinho então... Não tem comédia nisso. O filme até tenta mostrar esse lado, com eles passando mal na montanha-russa ou fazendo um videoclipe num... Eu nem sei como chamar porque eu nunca vi aquilo num parque. Se bem que eu nunca fui pra um parque, mas tu paga lá, tem um cenário faz um videoclipe, escolhe a música, etc enfim.

Por outro lado, ele tenta apelar pro público de Esqueceram de Mim, só que sem o plot principal... O que resta são os slapsticks que aqui, acabam forçados a nível profissional. Tem um momento específico que desde moleque que incomoda, que um dos ladrões lá tá no jogo de baseball, a torcida se levanta vibrando pelo ponto ou home run ou sei lá e o cara cai rolando escada abaixo. O problema é que ele tava longe demais do cara na arquibancada, então como raios ele barroou no outro?

Raio, nem Flubber com Robin Williams tinha um slapstick ruim assim! Era criminalmente exagerado, mas ao menos sequência visual fazia sentido.


E a atuação aqui... ééé. Dá pra dizer que a atuação do Culkin é um bom resumo do filme: morto por dentro, tá aqui só pra receber um cheque.
O moleque a essa altura já tava cansado da popularidade e parecia tar aceitando papéis pra aproveitar a febre com o nome dele, também. Cada linha de diálogo, cada expressão facial, tudo parece ter sido filmado com um único take. Os únicos que parecem se importar um pouco com o papel são os adultos, mas a essa altura de suas carreiras eles já tavam acostumados com o trabalho de atuar.

Ainda assim, é uma performance medíocre, até porque o roteiro não lhes dá muita liberdade. Culkin era um moleque que tinha descoberto na pele o porque de super-heróis como Homem-Aranha queriam tanto viver uma vida normal: ser famoso pode ser um pé no saco.

E ele já tava de saco cheio.

De fato, as coisas mais memoráveis do filme são as trapalhadas dos outros ladrões. A entrega das falas e o slapstick chega bem perto de funcionar, e há setups engraçados e até uma cena improvisada legitimamente engraçada. Mas não é suficiente quando o cerne principal do filme não tem fôlego pra se sustentar como deveria.

Also o gordinho fazendo Disneybound de Baymax
antes que isso fosse modinha.

Acertando as Contas com Papai poderia ter sido um filme grandioso. Poderia ter sido engraçado, poderia ter nos dado arcos de desenvolvimento real ou ao menos mais emocionantes. Todos os ingredientes tão lá, até algumas linhas de diálogo onde Ray explica pro filho o motivo de querer roubar as moedas, mudar de vida, comprar a loja de bolos que trabalha, viver honestamente: mas pra isso ele tem que roubar as moedas.

Tem um potencial real nessa história, mas o filme quis ser de tudo um pouco e ele até tem bons momentos. Separados. Os caras roubando a igreja, Culkin zoando com os ladrões, motivações pessoais de cada personagem... Mas juntos é um filme... meh.

Sabe aquele bolo que tu compra na padaria que não tem gosto de nada? É esse filme. O bolo tem todos os ingredientes corretos, mas falta um recheio, falta um sabor a mais, talvez uma cobertura, qualquer coisa que o torne mais memorável do que "a casca é bem crocante". Que é bom, eu adoro casca crocante de bolo, mas se essa for a única qualidade do bolo, então temos um problema.

A meu ver, o maior problema do filme foi a falta de desenvolvimento pai e filho. Eles passam tempo juntos, conversam, tentam entender um ao outro, mas não há uma ligação real entre eles. Quando Ray briga com Timmy eu não vejo um pai se desentendendo com o filho pela falta de comunicação ou esclarecimento de planos, eu vejo um maluco com rabo de cavalo brigando com Macaulei Colquem.


Eu sei lá, é um filme nostálgico pra mim, mas que eu prefiro rever na minha mente. Com a sujeira do VHS que mudava de lugar entre duas cenas específicas que eu lembro até hoje (a tela ficava toda preta quando o chefe de Ray que era dublado pelo Miguel Rosenberg dizia "Ah, que lindo trabalho, Ray!" se referindo ao bolo que ele tinha feito, daí eu voltava pra cena do policial perseguindo culkin e depois voltava pra essa e tudo normal; por sua vez, a cena de perseguição ficava preta, em troca), é um filme que eu não vou rever tão cedo.


Como eu não quero terminar o artigo num tom tão medíocre quanto o filme, toma aí a entrevista de dubladores (incluindo o Miguel Rosemberg) no Programa Livre:




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