Aquaman (2018)


Quando eu era um moleque adorável, gordo, cheio de sonhos, esperança e vitalidade, eu adorava ver desenho antigo. Especialmente porque era basicamente isso que passava no SBT, qualquer coisa que a Hanna-Barbera tivesse feito e que fosse barato. Pepe Legal, Maguila o Gorila, Tutubarão e o que mais pudesem botar pra tapar buraco daqueles minutos finais antes de ir pra programação local.

Um dos desenhos que passava era Os Superamigos, que ainda tinham muito daquele clima brega dos anos 60-70. Se me perguntasse qual meu herói favorito naquela época (que não fosse o Superman) provavelmente seria El Dorado e os Supergêmeos. Mas quando eu comecei a estudar entretenimento (num curso de quadrinhos há 8 anos atrás) eu passei a gostar do Aquaman, que conceitualmente era um personagem bad-ass. Mas na internet ele era uma punchline, porque era "o cara que fala com os peixes". Até Sunny Entre Estrelas mencionou por cima, eu lembro que o gordinho loiro listava coisas que ele gostava e não gostava, e uma das que ele não gostava era o Aquaman.

Enfim, aparentemente depois dos Novos 52 o personagem voltou a ter mais respeito, no reboot escrito por Geoff Johns. Eu li na época e achei sensacional, embora os Novos 52 foi provavelmente o que me fez rapidamente perder o saco pra acompanhar quadrinhos de heróis. Hoje eu só leio encadernados e quadrinhos de comédia.

Agora que a DC tá tentando correr atrás do prejuízo moral que Zack Snyder fez com Homem de Aço e Batman vs Superman, Aquaman faz por merecer?




A história começa quando Satine, a rainha de Atlântida, aparece no farol de Jango Fett, que se cansou de ser um mercenário espacial e queria uma vida tranquila. Eles acabam tendo um filho, Khal Drogo, que cresce e descobre seus poderes de controlar a vida marinha, e usa seus dons pra proteger o mar de piratas. Até que  Ariel aparece e chama Khal pra reclamar o direito ao trono, já que seu meio-irmão rei de Atlântida quer matar todo mundo que zoava o Aquaman, afogando a superfície.

Como Khal não é um porco inculto e já leu Joseph Campbell, ele recusa o Chamado à Aventura até o momento em que não pode mais e vai atrás do Garfão do primeiro rei de Atlântida e zoar o irmão mais novo, como de costume entre irmãos.


Após o desastre que foi Batman vs Superman, parece que a Warner decidiu mudar alguma coisa na organização ou gerência dos filmes da DC. Liga da Justiça ainda não foi perfeito, mas foi ao menos tolerável e tinha um pouco mais de coração que os seus predecessores. Mulher-Maravilha foi o primeiro filme realmente bom dessa era moderna da DC, e Aquaman realmente te dá fé pro futuro.

A narrativa do filme é praticamente uma Sessão da Tarde: tu sabe os pontos principais da história, sabe o que vai acontecer e sabe mais ou menos quando vai acontecer, mas o filme te pega pelo COMO vai acontecer. A forma que eles explicam as coisas não é forçada e os personagens são simpáticos e interessantes, e os atores conseguem te cativar mesmo que te botem uma escolha de dublagem tão ruim quanto o Luciano Huck em Enrolados. No caso, só a Mera mesmo, mas ela tem a voz da Docinho, pelo amor de Oz!

"O desenho novo ou antigo?" Não existe reboot de Meninas Superpoderosas, é fruto da sua imaginação. "Mas eu vi no Burg-" O Cartoon Network mente pra você "E-" Também não existe reboot de Ben10.



Jason Momoa é basicamente o Lobo numa versão diet PG-13. Ele é fortão, grandalhão, bebe, sarcástico, mas não usa suas habilidades pro mal ou procura briga, mas caso precise ele vai quebrar tua cara e ainda vai te zoar. É um herói com falhas, mas que procura compensar ou esconder as falhas da melhor maneira que sabe. É um personagem identificável e gostável, e o ator consegue te passar isso.

Mera também tem algumas características semelhantes, mas ela se aproxima mais da Ariel, e não só pelo cabelo vermelho ou por ser incrivelmente linda ou ter a cor verde como predominante. Ela tem um certo receio da superfície, mas ainda é curiosa, se encanta com as coisas daqui, e até os momentos de peixe fora d'água (trocadilho intencional) não são dolorosamente envergonhosos, tanto ela como Momoa conseguem passar esses momentos com naturalidade.

Tão natural quanto a atuação, é a ação do filme. Os combates são rápidos, variados, e simplesmente divertidos de assistir, especialmente com câmeras que voam livremente pelo cenário, e ainda sem prejudicar o andamento ou entendimento das cenas de ação, mesmo quando acontece duas ao mesmo tempo.
Sério, toda a sequência na Itália é sensacional, e eu não duvidaria que fosse uma das primeiras coisas que os caras mostrariam aos acionistas pra dizerem "Ó COMO TÁ FICANDO MASSA O FILME".



Mas o verdadeiro trunfo do filme (além dos atores protagonistas) pra mim foram os visuais. O fundo do mar é ridiculamente vasto, colorido e criativo. As criaturas são um misto de criaturas reais, mas com um twist fantasioso que é sensacional, sejam luzes fosforecentes ou uma armadura ou estrutura biológica do animal. Eu também adorei como os habitantes de cada tribo subaquática tem uma característica física marcante, algumas mais escancaradas como a tribo dos pescadores, mas os atlanteons tem um tipo físico de elfo que simplesmente casa bem com o conceito deles. Eles tem um ar de nobreza e superioridade típica dos elfos, então faz sentido.

E até quando estamos na superfície, ainda temos cenários fantásticos, como a vilazinha na Itália e ironicamente, um deserto. É literalmente um filme que vai pra todo lugar e eu adoro isso.
E Julie Andrews dubla o kraken, ou seja lá como se chama. Sei lá, achei relevante mencionar.


As comparações com Pantera Negra são inevitáveis: ambos os filmes tem temas semelhantes: um reino escondido dos humanos, uma disputa pelo trono, e uma guerra no final. Mas ambos os filmes tratam de formas e narrativas diferentes, e... Se for comparar a isso... Aquaman é infinitamente melhor. Nossa, mas como Pantera Negra é um filme "meh".

A gente passa mais tempo com outros personagens do que com o Pantera, ou ao menos é assim que eu me senti. E ainda assim, eu não consegui me importar com nenhum dos personagens, exceto talvez a irmã dele porque o relacionamento dela com o protagonista é adorável. Mas o personagem-título é plano demais, e a atuação dele é engessada demais. A narrativa de Pantera Negra é meio monótona, e o clímax usa tanta CG que eu tava esperando a hora que eu ia controlar o personagem.

Aquaman não te passa isso: ele constrói o personagem, constrói o mundo, e cria uma história que é clichê, mas ele te conta de uma forma interessante e te dá visuais interessantes e memoráveis, e te faz se perguntar o que mais falta acontecer. É exatamente o que eu espero de uma produção que adapta quadrinhos de heróis: é exagerado, é cartunesco, mas consegue se levar a sério o suficiente pra que não pareça ridículo (quando essa não é a intenção).


Eu até pensei em comparar com Mulher-Maravilha, mas os dois filmes são diferentes em todos os sentidos, até na máxima que geralmente usam pra comparar Marvel e DC. Marvel é "humanos se tornando deuses" e a DC é "deuses se tornando humanos". Aquaman cai mais na definição da Marvel e Mulher-Maravilha na segunda. Além disso, Mulher-Maravilha é mais um filme de guerra realista (com base em fantasia, mas um filme de guerra) e Aquaman é pura fantasia. É como comparar Homem de Ferro com Guardiões da Galáxia, não faz sentido.

Mas meu ponto é: Mulher Maravilha e Aquaman são dois passos na direção certa pra DC. São divertidos, interessantes, engajantes, e criativos tanto em roteiro quanto em visuais.


Definitivamente, Aquaman é mais um acerto Marvel.
E como bônus, ainda dá pra fazer uma PENCA de piada com Moana e Procurando Nemo.


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