My Little Pony - Friendship is Magic (Temporada 1)


My Little Pony era uma franquia horrível.
Perdoe-me quem gosta, mas, vamos ser francos. Eles eram feios.

Criada pela Hasbro, foi criado para ser uma linha de brinquedos para meninas nos anos 80. Mas, como era comum nos anos 80, tinha seu próprio desenho animado na TV pra ajudar nas vendas, assim como Transformers e G.I. Joe. Porém, o desenho era MUITO ruim. Os roteiros eram desinteressantes, as personagens eram tão profundas quanto uma mão, e as crianças não se identificavam com as situações e os personagens. Sem ter apego aos personagens, não dava pra ter apego ao show, e assim não se prestava muita atenção tanto à história quanto às lições ensinadas.

Isso durou por muitos anos, até que, numa bela manhã de sol, o canal Discovery Kids acaba nos EUA, e se torna o HUB. A proposta do novo canal era ser um "canal família", onde toda a família poderia assistir e se divertir junta.

Alguns programas de jogos (baseados nos jogos da Hasbro), e desenhos animados, era disso que o canal recém-criado precisava. Desenhos clássicos como Transformers G1, Batman - The Animated Series, G.I. Joe, e os novos baseados nessas franquias, como Transformers Prime e G.I. Joe Renegades. Nunca vi Renegades, mas vi boa parte de Prime e gostei, é realmente uma série que você vê que foi posto esforço. E quanto à My Little Pony?

Tudo mudou quando o HUB contratou Lauren Faust pra desenvolver a nova série de My Little Pony.




Pra quem não conhece de nome, ela trabalhou em desenhos como Meninas Superpoderosas, Laboratório do Dexter, A Turma do Bairro, e Mansão Foster. Aliás, ela é casada com o criador de Mansão Foster, Craig McCracken.

Quando pequena, Lauren brincava com suas pôneis, e assistia o desenho na TV. Porém, ela mesmo admitia que o desenho tinha várias falhas.

Quando ela foi contratada para desenvolver a série nova, ela tratou de arrumar todos esses erros. E quer saber? Deu muito certo, agradando mesmo aos homens de mais de 18 anos. De fato, eles são maioria.

O desenho conseguiu grande fama na internet, especialmente no 4chan. Se não sabe o que é 4chan, vá pesquisar. Se eu fosse falar disso, iria me distanciar muito do propósito. Digamos que é um fórum BEM livre na internet.

Enfim, alguns amaram o novo desenho, e outros odiaram mortalmente. Os que odiaram acabaram sendo conhecidos por "haters" (mas isso não se especifica apenas nesse caso), os que amaram acabaram por formar uma fanbase chamada "Bronies". (Brother [Irmão]+Pony). As mulheres ficaram conhecidas por Pegasisters. (Pegasi+Sister [Irmã]).

Ok, então. O desenho conseguiu grande fama por parte dos adultos, mas qual seria o motivo?



Os dois primeiros episódios contam a história de uma estudante bolsista da Escola de Magia, uma unicórnia anti-social chamada Twilight Sparkle. Twilight, no meio de seus estudos, descobre sobre uma profecia de uma égua do mal que foi banida pra Lua.

Acontece que havia duas irmãs gêmeas, uma que trazia o Sol, e a outra a Lua. Porém, a irmã da Lua ficou com ciúmes porque durante o dia, os pôneis brincavam e trabalhavam. Mas durante a noite, os mesmos pôneis iam dormir, e não aproveitavam a noite. Por causa do ciúme em seu coração, ela se tornou Nightmare Moon, e a irmã do Sol foi obrigada a baní-la para a Lua, usando o poder dos Elementos da Harmonia. E a irmã do Sol ficou trazendo tanto a Lua quanto o Sol, durante mil anos, que é o tempo em que a maldição iria acabar.

Twilight descobre sobre a profecia, e descobre também que ela está perto de se cumprir. Ela então manda uma carta para a sua mentora e soberana do país, Celestia.



Mas Tia diz algo como "Saia da sua toca, sua anti-social desgraçada, e vai conversar com outros pôneis e arrumar a festa do Solstício."
...não com essas palavras, mas enfim. Celestia manda Twilight ir para outra cidade chamada Ponyville para arrumar os preparativos para a festa do Solstício de Verão.

Pra encurtar os dois episódios, Nightmare Moon aparece, Twilight e as pôneis que viriam a ser suas amigas conseguem derrotá-la com os Elementos da Harmonia, Nightmare Moon volta a ser Luna, a égua boazinha que era, e Twilight fica na cidade pra aprender sobre a amizade.

Sim, é um enredo meio ridículo, previsível e clichê, mas quer saber? Não importa, o que importa realmente é o desenvolvimento, e a série sabe trabalhar muito bem isso.

Durante os episódios, Twilight e suas amigas vão descobrindo sobre a amizade, e são situações tão comuns a nós, que é quase impossível não se identificar com algumas. Aliás, as próprias personagens são mais humanas que muitos seriados ditos "adolescentes" que tem por aí. Todas elas surtam alguma hora, a que mais marcou foi Pinkie Pie, onde sua loucura foi mostrada de uma forma realista e madura.

Insânia... É SÓ INSÂNIA!


Já falei de Twilight Sparkle, que aos poucos vai ficando bem mais sociável. Temos Applejack, a caipira simpática e honesta; Rarity, a unicórnia chique e estilista e age como uma lady (acho que muitos não vão gostar dela); Rainbow Dash, a pégaso esportista e tomboy; Fluttershy, a pégaso tímida e boa com os animais; e Pinkie Pie, a aleatória. Além delas, temos Spike, o dragão bebê assistente de Twilight e apaixonado pela Rarity.

...não, sério. Pinkie Pie é quase uma força da natureza. Não há como descrevê-la em poucas palavras.
..
...
Quer dizer, dá, mas eu tou com preguiça.

Ela só está sendo a Pinkie Pie.


Enfim, como podem ver, todas as personagens principais são bem diferentes umas das outras, coisa que não acontecia nas outras séries. É possível gostar mais de uma personagem do que de outras.

Por exemplo, eu me identifico muito com a Rainbow Dash, porque ela gosta de coisas mais radicais, ação, o linguajar dela é parecido com o que eu uso normalmente, etc.



Não gosto tanto da Aplejack porque... Não sei bem, eu só acho que ela "brilha" menos que as outras, mas a família dela é legal! Desafio você a discordar olhando pros irmãos e a avó dela!

Os roteiros são extremamente bem-escritos e guardadas as devidas proporções, são bem semelhantes às situações em que vivemos no nosso mundo real. São os medos de ser substituído por outra pessoa, de seus amigos não gostarem mais de você, saber escolher seus amigos, não julgar o livro pela capa, etc. Há várias situações em que os próprios adultos se identificam e podem aprender com o desenho. Sem brincadeira, eu mesmo aprendi lições valiosas assistindo isso. Lições que ninguém ensina às crianças hoje, como "espere as coisas no tempo certo", ou lições pros jovens e adultos mesmo, como "aquela pessoa por quem você é apaixonado, pode não ser quem você imagina".



Aliás, é justamente por esse o motivo que o desenho conseguiu ter tantos fãs adultos. Quem viveu os anos 80 lembra dos desenhos do He-Man e She-Ra? Todo fim de episódio eles ensinavam alguma coisa pras crianças, e esse tipo de coisa estava dentro do episódio. Em My Little Pony também há as mesmas lições, mas algumas bem mais profundas e mais bem ensinadas. O desenho ajudou várias pessoas com problemas sociais como timidez, anti-socialismo (sem relação com o Karl Marx, por favor), ou mesmo problemas mais sérios, como Asperger.



Não adianta só dizer o que é certo fazer, quem convive com crianças (como eu) sabe do que falo. Aliás, isso é lógica básica. Mesmo se você disser pra uma criança "coma as verduras", e ela não ver você comendo as verduras, não vai adiantar de nada. É mais capaz que ela coma as verduras se simplesmente ver você comendo as verduras. Raio, eu comecei a comer sanduíche com salada porque eu via o pessoal comendo assim. É isso que acontece em MLP, as personagens realmente agem de acordo com o que falam. Elas falam a lição no final, como em He-Man e She-Ra, mas não é tão forçado quanto nos desenhos oitentistas.



As músicas são um show à parte. Normalmente em musicais as músicas vem do nada. Isso é do gênero, claro, mas em MLP geralmente as músicas tem um contexto. Rarity canta "Art of the Dress" enquanto faz os vestidos, porque é legal cantar enquanto faz um trabalho pesado; tem o Hino do Acampamento de Voo da Rainbow Dash; as Cutie Mark Crusaders cantam numa apresentação da escola; Fluttershy canta pra ninar as Cutie Mark Crusaders; etc. Quando a música não há um contexto, só há duas explicações: 1-É a regra dos musicais, então nada de estranho. Ou 2-É a Pinkie Pie. Outro ponto: as músicas não são enjoentas/fru-frus, muito pelo contrário, elas são bastante agradáveis de se ver e ouvir.

De novo, ela só está sendo a Pinkie Pie.

E há referências por todo lado: Pokémon, Doctor Who, Guia do Mochileiro das Galáxias, filmes cult, Rei Arthur, Mitologia, Benny Hill Show, etc. Quem gosta de caçar essas coisas vai ter um prato cheio aqui. (Algumas que há na internet são um tanto quanto forçadas, mas enfim.)




A animação e o design são ambos muito bons. O design ajudou aos pôneis a serem mais simpáticos e fofinhos, e não os hipopótamos coloridos das gerações clássicas. A animação usa vários elementos clássicos de desenhos animados, como slapstick, por exemplo. Você sabe, quando um personagem parece feito de borracha e se estica até o infinito, ou quando ele sofre todo tipo de mazelas físicas e não morre.



Outra coisa sobre o roteiro é que não há protagonismo. As outras personagens também tem episódios solo, até mesmo o Spike tem um episódio só dele. Isso mostra que todos os personagens tem um espaço para si, para se desenvolverem, sem ter que ficar na sombra da Twilight. Porém, isso causa um pequeno problema (que foi contornado na segunda temporada, num episódio épico): é sempre a Twilight que escreve as cartas sobre o que aprendeu para a Princesa Celestia. Mas nem sempre é ela que aprende mesmo. Ou seja, há episódios onde as outras são protagonistas, e Twilight aparece só pra mandar a carta. Nada que tire o brilho da série, no entanto.



Ok, ainda não acredita que esse desenho não é tão bom? Veja a declaração de um fã:

“A alquimia bizarra de que Lauren Faust se utilizou quando se dispôs a tornar o programa acessível às crianças e seus pais invadiu o cérebro primitivo reptiliano dos nerds/geeks do sexo masculino, removendo a doutrina comportamental contra o cor-de-rosa!” declarou o brony Allen, do Novo México.“Tenho Síndrome de Asperger, e aprendi mais sobre teorias da mente, amizades e interações sociais com esta temporada do até hoje em 31 anos de vida.”

E algo dito pela própria Lauren em sua página no dA:



Usuário de DevianatArt — “O que você acha dessa cultura bizarra de crianções chamados bronies que lhe idolatram?”
Lauren Faust — Olá. Principalmente, eu ainda sou inspirada pelos bronies. Como grupo, eles não sucumbiram a pressão da sociedade de que homens devem menosprezar algo por ser feminino não importa o quê. Eles foram capazes de enxergar além das noções de preconceitos com as quais foram criados para julgar algo por seus próprios méritos. E ainda por cima, eles são corajosos o bastante para demonstrar isso abertamente apesar de poderem indubitavelmente se tornar objeto de escárnio (como você demonstrou).
Todo fandom tem seu lado desagradável. Existem os fãs estranhos de ficção científica, fãs de esportes assustadores e pessoas que acham divertido corromper qualquer coisa que seja importante para alguém. Até onde posso ver, na comunidade brony essas pessoas são minoria.   
Você tem direito a sua opinião, então esteja à vontade para ver as coisas como quiser.

Sei bem o que é ser objeto de escárnio. Até hoje meu pai não me entende e acha ridículo, e até mesmo depreciativo eu ser um fã do desenho. Pra esse tipo de coisa, eu ligo meu modo "haters gonna hate". (E sim, isso é um conselho.)



O negócio é: Lauren quis que o desenho fosse mais do que "20 minutos de propaganda", e um desenho que os pais pudessem assistir com os filhos, sem que o pai tenha que dizer mentalmente "Que raio, vou ter que passar meia hora vendo esse desenho idiota com meu filho." Quando você é criança, é provavelmente a idade onde você começa a conversar com seus pais. Se esse período se passar e você não conversar com seus pais, isso pode ser perdido para sempre, ou "FOOOOOREEEVEEEER!", como diria Pinkie Pie.



Uma última coisa: o fandom que foi criado, os "Bronies". É interessante que eles tem uma cultura de "Love and Tolerate", "Amar e Tolerar". É basicamente, "eu não sei porque você gosta disso, eu odeio isso, mas isso não quer dizer que eu não possa ser seu amigo e te amar". Querem um exemplo?

Crepúsculo. Raio, eu sinceramente não vejo nada demais naqueles filmes... Ok, eu vejo de fato vááários erros, mas considere que eu nunca vi ou li a saga. Mas eu li as resenhas do Amer, então acho que deve contar algo. De qualquer forma, tem uma guria na minha sala que ela adora os livros e os filmes. Ela não entende porque eu gosto de MLP (e até zombou quando soube, e até hoje ela me pergunta porque eu gosto). E quer saber? Ela é uma das minhas melhores amigas no colégio. Quase uma irmã pra mim. É mais ou menos isso que o "Love and Tolerate" é. Claro, há bronies que não acreditam nisso, mas acho que esse lema não deve ser exclusivo da fanbase, deveria ser algo levado a todos os seres humanos. Estou errado?

Nível de sutileza: MAIS DE OITO MIL!


Se eu recomendo MLP? Com certeza. Vá assistir agora, mas se quer meu conselho, procure legendado. A dublagem ficou beeeem ruim.

A propósito, as citações que usei vem do blog equestriabr.com, e são artigos traduzidos pela Petra. Você pode achar as postagens com os artigos traduzidos aqui:

http://equestriabr.com/2011/12/04/bronies-my-little-pony-conquista-os-fas-mais-improvaveis-artigo/
http://equestriabr.com/2012/02/09/porque-lauren-faust-e-a-heroina-dos-bronies/

Desculpem se o post ficou muito grande, mas a série realmente precisava disso tudo.
Aproveitando, começaram minhas férias do colégio! HURRAY! Isso explica a falta imensa de posts. Mas em Julho tentarei recuperar, e meu próximo post será sobre Ultraman. Não percam! o/