Dia desses eu conversava com o Complexo sobre cinema. Ele já não tem mais o hábito de ver filmes, porque os filmes bons não o atraem mais, não há mais aquele mistério, aquele senso de descoberta. E eu concordo 100% com ele.
Quando tu começa a trabalhar assistindo filmes, tu começa a notar os padrões, e aquela magia que tu tinha antes fica meio morta. Dificilmente ela é atiçada.
Por isso que normalmente filmes fast food, ou mesmo bizarramente ruins são melhores do que filmes legitimamente bons. Se eu tiver que escolher entre Guerra Civil e o Musical do Superman, com certeza eu vejo o Musical.
...e depois Guerra Civil porque é um filme do balaco baco.
E esse é um desses filmes. Um fast food japonês, praticamente. Um nível de self-aware do quão bizarro e cômico ele é que chega perto de Josie and the Pussycats.
Hoje eu lhes trago Death Kappa.
Alice no País das Maravilhas é uma das obras mais difíceis de serem adaptadas. É um livro que vai do nada a lugar nenhum, e seu único mérito é ser incrivelmente bizarro e viajado. Mas era o que ele se propunha a fazer, e nos dá uma viagem criativa. Não é pra mim, e eu entendo isso perfeitamente.
Agora, por ser difícil, não quer dizer que não tenham tentado. É uma daquelas histórias clássicas que tem trocentas versões porque o livro tá em domínio público, e é uma história conhecíssima, grande parte graças ao esforço de Valdisnei.
Mas em 1966, a Hanna-Barbera lança na ABC seu especial de 40 minutos baseado no livro, com uma pegada mais moderna (pra época), usando a melodia do jazz e a animação barata que era conhecida. Mas é divertido de assistir?
Às vezes um crítico pode errar. Às vezes ele tá tão atolado em filmes pra ver, que quando aparece, sei lá, um Ameaça Fantasma da vida, na época eles dizem ser a melhor coisa que a humanidade já fez desde batata frita congelada. Pode levar um tempo pra público e crítica perceberem a merda que o filme é, seja pelo hype ou algum fator do tipo.
Claro, isso parte muito daquele sentimento de querer desesperadamente gostar de algo, e ignorar todas as falhas e buracos argumentais do tamanho do Estado do Amazonas que o filme (ou série, ou jogo, sei lá) tenha. Ou às vezes aquela opinião vem de uma formação diferente.
Eu, por exemplo, gosto muito de apreciar a idéia por trás daquilo, mas eu tento não fechar os olhos pras falhas que possam ter (que é o que me faz gostar mais da franquia da Sininho, mas divago). E talvez seja por isso que eu tenha gostado de Magia Estranha, ao contrário de... Bem, todo mundo.
Mas o que torna esse conto de fadas semi-shakesperiano produzido por George Lucas tão... estranho? E mais importante, é um estranho bom ou um estranho ruim?