Isto é Tóquio, Charlie Brown!


Charlie Brown e seus amigos estão acompanhando gerações de crianças e de adultos, mesmo após a morte de seu criador, Charles M. Schulz. Até hoje, as animações e tiras de jornal sobre Charlie Brown, o garoto mais azarado do mundo, são antigas, mas os sentimentos permanecem atuais.

Então, sim, eu estranhei quando descobri que haviam graphic novels novas de "Peanuts" (conhecida no Brasil como "Snoopy"), e feitos por outra artista.




A história abre já referenciando a animação, com a mostra do título sendo mostrada dentro da história. O que, narrativamente, dá um certo conforto pra quem reconhece o estilo.


A história começa quando Charlie Brown recebe uma carta do presidente dos EUA convidando o time de baseball dele pra um jogo de demonstração no Japão. Ignorando que talvez o presidente seja um trollão pra que o time do pequeno Minduim seja massacrado e humilhado internacionalmente, as crianças se alegram e partem pra terra do sushi, junto com Patty Pimentinha e Marcie, pra dar aquela forcinha no time.


Uma das coisas que eu devo parabenizar é como Vicki Scott conseguiu emular lindamente não apenas os desenhos de Schulz, mas também o roteiro. Os personagens são crianças, agem como crianças, pensam como crianças, e ainda tem a mesma personalidade. Linus continua sendo uma espécie de conselheiro de Charlie Brown, Snoopy continua sendo um "garoto estranho" com uma imaginação muito fértil, Sally continua sendo uma criança com manias de gente grande (nunca esqueço o episódio onde ela estava treinando pra formatura dela, hilário e crítico, de certa forma), Lucy continua sendo uma tsundere tentando chamar atenção de Schroeder, Charlie Brown continua sendo Charlie Brown, e por aí vai.

Sim, "Charlie Brown" se tornou praticamente um adjetivo.


Mesmo que a HQ referencie muito a animação, ela sabe que não é uma animação, e usa técnicas para que lembremos que é uma HQ, como onomatopeias. Aliás, esses elementos ajudam a reforçar mais o clima de desenho animado e de "Peanuts",  ainda conservando traços das tiras de jornal, como os pensamentos do Snoopy.


O desenvolvimento da história nos mostra as crianças fazendo um passeio turístico por Tóquio, que pra alguém que aprecia cultura japonesa e Peanuts (como eu) é algo sensacional, vê-los junto, por exemplo, de um  templo budista ou da Tokyo Tower. Um ponto turístico que acredito que muitos gostariam de ver era Akihabara, mas acredito que, além de esticar mais a história sem precisão, provavelmente iria distanciar um pouco do clima "Peanuts", porque... Bem, Akihabara.

Prédio 109, em Shibuya.

Todas as piadas seguem bem o estilo de Schulz de escrever, explorando as características marcantes dos personagens, ou fazendo alguma reflexão sobre elas. (Como a conversa de Linus e Charlie no avião). Talvez uma ou outra piada eu não tenha entendido por questões culturais ("Quem atende a todos os telefones por aqui?"), mas besteira. Inclusive, destaque pras explicações e curiosidades sobre o Japão, e como as crianças reagem a alguns costumes.


Um único probleminha foi no tocante ao desenvolvimento do grande jogo. Eu gosto de baseball, entendo as regras básicas, mas eu fiquei confuso ao ler a sequência do jogo porque... Não fazia sentido o que estava acontecendo.

Outra coisa que me incomoda é ter o nome e a assinatura de Schulz, como se ele tivesse feito. Mas o último desejo dele foi que não fizessem mais nada relacionado à série dele e eu cansei de pesquisar sobre direitos autorais relativos a ele, então melhor deixar quieto.

Deixar quieto, porque a graphic é realmente cuidadosa em relação à mitologia criada por Schulz, além de ser genuinamente divertida, e ter um tratamento muito bom pela Editora Nemo. Recomendado à crianças de 8 a 80 anos.

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"Minha vó já dizia..."

Agradecimentos especiais ao Blog do Selback, por fazer a promoção, e à minha amiga Fernanda Bender do Duas Épocas, por ter me lembrado que eu ganhei a promoção.