Stardust: O Mistério da Estrela


Eu sempre tive um certo problema com histórias de fantasia medieval. Sei lá porque, tudo me soa incrivelmente genérico. Princesa, dragão, cavaleiro, mago, etc. Eu considero um trabalho dificílimo fazer uma história nesse estilo funcionar e não parecer um rip-off de Senhor dos Anéis. De cabeça, eu só consigo lembrar de Flight of Dragons, e nem é tãããão bom assim.

Mas eu também não vi muito filme nesse estilo, até por ter esse certo preconceito mesmo. Depois que eu vi Eragon, eu sinto como se qualquer filme medieval de fantasia fosse algo do mesmo nível. Meu Deus, que filme CHATO.
Felizmente, ainda há filmes que me surpreendem, como o já citado Flight of Dragons, e outros que saem mais da fantasia medieval mas ainda tem o mesmo clima, como Labirinto e Cristal Negro.

E Stardust é uma dessas pérolas.




Baseado no livro de mesmo nome escrito por Neil Gaiman, Stardust conta sobre uma vila com uma muralha que, segundo o folclore do povo, dá acesso a um mundo fantástico. O único que ousou desafiar o guarda foi Príncipe Caspian, que descobre um mundo fantástico habitado por elefantes de duas cabeças, bruxas, e o Anton Ego. Mas o que importa mesmo é a princesa que é escrava de uma bruxa, e lá mesmo eles geram Tristan, o herói da aventura.


O moleque Tristonho se apaixona pela Baronesa de G.I. Joe, mas ela está prometida a Superman, e, como sabemos, não dá pra competir com o Superman.
Especialmente se for o Superman de Zack Snyder, que distribui bofetada em todo mundo com uma carranca que faria as esculturas dos barcos no São Francisco chorarem.
Ou seja, o Hulk.


Mas Tristan Gonçalves é britânico e não desiste nunca, e durante um encontro com a jovem Baronesa, eles veem uma estrela cai dente, e ele promete pegar a estrela pra guria, em troca da sua mão em casamento.
O que é um negócio meio retardado por parte dele, já que dificilmente estrelas caem na Terra, né. Sorte a dele, a estrela era nada mais nada menos do que uma moça segurando uma jóia do reino além da muralha, e a jóia determinará quem será o próximo rei.
Só que além dos traiçoeiros príncipes que querem a jóia, Michelle Pifáifer quer o coração da estrela pra se tornar mais jovem, e o moleque ainda precisa se virar pra voltar pra sua vila.


Ao contrário do que eu faço parecer aqui (porque são 3 horas da manhã e eu não dormi muito bem), a história é incrivelmente bem narrada e tem uma fluidez e ritmo agradáveis. Nada se sente muito apressado, e cada elemento é divertido e interessante o suficiente pra que você continue investido na história.


O filme começa a narrar pelo pai de Tristão, e teoricamente poderia ser um pouco sem foco e tirar a atenção no começo do filme, nos fazendo gostar e investir nesse personagem pra em seguida descobrirmos que ele não é o protagonista. Mas tudo funciona na direção pra conhecermos esse mundo e entendermos algumas de suas regras.

Vemos o pai de Tristão conhecendo o mundo fantástico além da muralha, pra então conhecermos Tristão e seu dilema amoroso, pra logo em seguida vermos a situação do reino mágico, pra ligarmos isso à situação do jovem e da moça. E isso tudo é contado através de uma narrativa visual espetacular.

Por exemplo, a câmera fica voando em momentos chave pra criar a relação, ao mesmo tempo que mostra que tudo acontece no mesmo mundo geograficamente falando. É tanto funcional pra história como um efeito agradável de assistir.

Aliás, esse é um dos grandes trunfos do filme: os visuais são estupendos. Misturando referências como fantasias européias e steampunk, o filme cria um mundo onde magia e tecnologia coexistem de uma forma harmoniosa, até. Na real, lembra vagamente os Final Fantasy recentes, mas eu não joguei nenhum então essa comparação ficou sem sentido.



O que realmente faz esse filme são os personagens e os atores. Cada um é perfeitamente compreensível, e mesmo os vilões não são necessariamente retratados dessa forma. Digo sim, são pessoas ruins que fazem coisas ruins, mas os irmãos príncipes nunca atuam como se fossem os vilões principais, é mais um obstáculo extra pros heróis. Quem posa de vilão mesmo são as bruxas que querem matar a moça-estrela e fazer churrasquinho de gato com o coração dela.


Aliás, a analogia com jogos faz muito sentido, a narrativa do filme se sente muito um RPG ocidental, com um herói bobão que começa com desafios pequenos e se vê no meio de uma batalha em um mundo fantasioso, incluindo o momento pra conhecer melhor a acompanhante na aventura e sequências onde ele aprende a lutar e se torna realmente um herói. Há uma evolução no personagem e tu sente isso de uma forma sutil, até. Raios, o próprio clímax lembra muito algo que Kingdom Hearts ou Final Fantasy faria, com aquele trope clássico de "this isn't even my final form".
Sem de fato a vilã usar outras formas, mas é tipo minibosses e... Ora, assistam que cês vão entender.


O design de produção do filme é outro ponto que te mantém investido na história. Cada set é desenhado e produzido de uma forma que é familiar, mas ao mesmo tempo novo. Conceitos como os pescadores de raios e a linhagem de reis são coisas novas, mas que tem uma base familiar, o que não causa estranheza e ao mesmo tempo é uma mistura interessante. Eu quero conhecer mais dos pescadores, saber a história da tripulação, passear pela feira, ou conhecer outros lugares além da muralha.


É complicado falar de um filme que não tem muita surpresa por ser uma história bastante previsível, mas ao mesmo tempo que é executada de uma forma tão interessante que você precisa testemunhar. Não é necessariamente espetacular ou vai explodir tua cabeça de tão bom e inovador, mas não precisa ser. É só um filme divertido, com conceitos interessantes e personagens gostáveis (tanto heróis quanto vilões) que no final tu vai ter aquele sentimento de tempo bem aproveitado.


Faça um favor a si mesmo, e assim que tiver tempo, assista.