[Mês do Dr. Seuss] The Seven Lady Godivas


Todos nós conhecemos e sabemos o legado que Seuss deixou para as crianças, mas pouco se sabe (ou sabia) sobre um dos poucos livros para adultos que ele escreveu. Conta-se que, quando o Doutor mudou de editora, ele quis primeiro fazer um livro para adultos, e esse é o resultado.

Publicado em 1939, de 10 mil cópias apenas cerca de 2,500 foram vendidas, mesmo a 2 dólares (preço relativamente alto pra época da Grande Depressão), e se tornou, como dizem os jovens, um flop grandioso.

Mas porque exatamente o livro foi um fracasso? Me acompanha.

(E sim, a postagem pode conter imagens de nudez não explícita, não erótica, cartunesca, mas tem gente que não quer ver, e eu entendo. Clica lá na resenha aleatória que provavelmente tu vai ganhar mais.)



A história do livro é absurda, mas simples e curta, como a maioria dos livros de Seuss. O Lorde Godiva foi pra Batalha de Hastings, mas no momento que montou no cavalo, o animal usou de toda sua petulância e o arremessou,que resultou na morte do véi. Então, as suas sete filhas nudistas fazem um juramento de que cada uma só iria casar com seus respectivos amados (sete membros da família Peeping) depois de avisarem à humanidade os perigos dos cavalos. E então cada uma vai atrás de suas Verdades Cavalares (não achei outro nome melhor), que resulta em ser ditos populares envolvendo os equinos.



Pra quem não sabe, Lady Godiva é o nome de uma figura lendária medieval. Reza a lenda que a aristocrata queria protestar contra os impostos altos do marido, que disse que ia abaixar, mas só se ela desse um rolê pela cidade nua, e mandou que todo o povo não olhasse. Exceto que Peeping Tom olhou e porcausa disso ficou cego.


Ao iniciar a leitura, podemos saber porque o livro foi um fracasso na época. Ele é… Chato. Embora ele seja feito com a ideia de ser para adultos, se botar outro conceito no lugar das irmãs nudistas, fica praticamente igual aos livros pras crianças, precisando de uma ou duas polidas. E isso não é interessante o suficiente pra atrair o público adulto, ou mesmo de contar uma história que faça sentido.


A fórmula dele segue muito o padrão de outros livros, como Th… Thi...d...wick… Thidwick! Onde há um certo padrão que culmina numa moral. No caso do alce, os bichos vão subindo e se acomodando no chifre dele, até que os chifres quebram e os animais perdem a mamata, dando a lição de que quem fica se escorando, um dia vai perder essa escora; e que nós devemos ser generosos, sem ser capacho dos outros.



"Lady Godivas" usa uma fórmula semelhante. Cada irmã procura usar o cavalo como meio de transporte ou algo do gênero, o que acaba resultando num ditado. Exemplo: uma delas tentou botar a carroça na frente do cavalo; outra tentou olhar os dentes do cavalo e acabou sendo mordida; outra pintou o cavalo e fugiu na noite, já querendo descumprir a promessa (resultando no ditado do cavalo de cores diferentes, usado no Mágico de Oz de 39, inclusive).


O problema é que, ao contrário de Thidwick, o livro é contado em prosa, e acaba sendo uma história cansativa por não oferecer um diferencial (como nos outros livros, onde o diferencial eram as rimas bem boladas e vocabulário criativo, musicalidade). "Lady Godivas" acaba sendo uma narrativa arrastada, desinteressante, e com um conceito que se sente fora de lugar. Parece uma daquelas comédias “adultas” que se acham adultas simplesmente por fazerem piadas de banheiro, ou aqueles filmes-paródia que acham que sabem fazer paródia só por citar alguma coisa da moda, sem se importar em tornar isso engraçado.



E enquanto a esmagadora maioria dos livros de Seuss terminam com aquele sentimento de tempo bem aproveitado, de final fechado, conclusão (mesmo que seja só um guri falando sobre os tipos de peixe que ele imagina encontrar), não temos a mesma coisa aqui. O cavalo da última irmã é roubado, ela bota uma tranca no curral (fazendo referência ao ditado análogo a “não chorar o leite derramado”), e vai se casar com o amado mesmo se passando mais de 30 anos ou algo assim. E a história para. Não tem aquele sentimento de conclusão, mesmo a história estando completa. Tipo aquele teu trabalho escolar que tu fez no quinto ano, que só fez o suficiente porque a professora disse que só ia sair quem entregasse a tarefa. É esse mesmo sentimento de preguiça aqui.


De longe, é o pior trabalho de Dr. Seuss. Mesmo Pontoffel Pock, que era chato e entediante, tinha visuais criativos e tentava ser interessante (mas ainda acredito que parte da culpa era do tempo de duração), The Seven Lady Godivas é um negócio pra tu passar longe a todo custo.



E semana que vem estarei de volta fechando o Mês do Dr. Seuss, com um filme live-action do Doutor.