O Segredo de NIMH (ou A Ratinha Valente)
Don Bluth é um nome conhecidíssimo no mundo da animação. Se você lembra de Em Busca do Vale Encantado, Anastasia, Todos os Cães Merecem o Céu, ou TitanA.E. , todos foram feitos pelo ex-animador disneyano. Entre altos, baixos, e Um Troll em Nova York, o diretor amargou várias derrotas financeiras e de crítica, com algumas exceções.
E cá estamos nós, com o filme que é considerado por muitos o Magnum Opus de Bluth, O Segredo de NIMH.
...ou A Ratinha Valente, no Brasil. Embora seja um nome igualmente apropriado, é um nome enganoso e já veremos os motivos.
A história começa quando Sra. Brisby vai atrás de Ages, um rato que aparentemente também é um cientista. A razão da procura é que o filho de Brisby está doente, e Ages fornece uma medicação pra ele.
No caminho de volta, Brisby descobre que a época de colheita veio mais cedo, e todos os ratos precisam se mudar para outra área. Mas o filho dela ainda está doente, e embora ela tenha conseguido quebrar o trator, é uma questão de tempo para que a colheita aconteça.
Aconselhada pela Grande Coruja, Brisby vai a uma espécie de Conselho dos Ratos para falar com Nicodemus, que saberá o que fazer. A jornada mostrará a ela como os ratos ficaram inteligentes após uma série de testes de laboratório e como um amuleto deixado pelo seu falecido marido é a chave pra resolver parte dos conflitos, bem como aflorar a coragem que está dentro dela.
A animação, bem como os cenários, são bem típicas da época, onde outros estúdios tentavam emular o estilo Disney ao mesmo tempo em que procuravam algo próprio. Especialmente porque Bluth trabalhou na Casa do Rato durante um bom tempo.
Os personagens se movem com naturalidade (exceto em raras exceções, onde eles se movem mais do que o necessário) e expressam os sentimentos de uma forma convincente.
O mais interessante da movimentação dos personagens é que eles de fato se mexem como ratos. Normalmente em filmes assim ou os ratos se mexem mais semelhantes aos seres humanos ou mais como ratos; aqui eles se mexem realmente como ratos inteligentes, respeitando as regras anatômicas gerais de seus corpos com fluidez na transição do andar de 4 e 2 patas.
O design geral do filme é espetacular. A atmosfera é completamente sombria e misteriosa, o que reflete e complementa bastante o roteiro. Eu particularmente adoro a sala do Nicodemus, é o tipo de lugar que poderia facilmente estar em um filme como Dark Crystal, por exemplo.
Aliás, todo o tom do filme tem muito de Dark Crystal. Era bem comum nos anos 80, aparentemente. Embora o primeiro ato demore a engrenar de fato (especialmente devido ao corvo Jeremy, que acaba sendo um personagem relativamente irritante e até certo ponto dispensável), a partir do segundo ato a trama começa a ser explorada e melhor desenvolvida, com mais foco no desvendamento dos mistérios desse mundo.
A protagonista recebe um amuleto deixado pelo seu falecido marido, o que acaba sendo a chave para parte do solucionamento dos conflitos. Deus Ex Machina? Talvez, mas a ideia do filme é mostrar algo além disso.
Os ratos foram transformados pela ciência, Nicodemos usa magia, aparentemente. Mas o que o medalhão desperta em Brisby é algo desconhecido, e muito profundo nela. Ela não é uma grande heroína, ela não é atlética, muito inteligente, ou treinada nos combates. Pelo contrário, ela é relativamente ingênua, doce e amável. Mas toda a motivação dela estar na missão é apenas uma: a segurança de seus filhos.
Brisby é uma mãe viúva com 4 crianças, e uma delas com pneumonia. Tudo que ela faz no filme é pensando em deixar seus filhos a salvo, especialmente com a ameaça da colheita. A partir de um certo ponto na exibição você para de se importar sobre o que é o medalhão e os poderes dele, ou as disputas de poder interno no Conselho dos Ratos, e mais se Brisby vai conseguir salvar sua família e por tabela os outros ratos.
E é a coragem altruísta de Brisby que libera o poder desconhecido do medalhão, o qual Bluth descreveu como algo espiritual.
Embora o filme falhe em tentar nos dar mais exposição de personagens importantes (passamos muito tempo com o corvo, por exemplo), ele definitivamente triunfa em dar uma história charmosa, relativamente profunda, e sombria na medida certa. Talvez não seja um filme pra todos (ele não é exatamente divertido em termos de experiência, ou não tem tantas piadas), mas definitivamente vale uma olhada por ser uma belíssima pérola da animação oitentista.
Antes que eles tentem fazer um remake ou algo assim.
...ah, merda.
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