The Innocent




Avi Arad é um israelense naturalizado estadunidense que durante muito tempo, foi presidente da Marvel Studios e tirou a empresa de situações críticas com licenciamento de personagens.

Um de seus projetos pessoais era fazer uma HQ nos estilos orientais. Com a ajuda de Junichi Fujisaku (Blood +, Ghost in the Shell, Moshidora) e Yasung Ko (Lost Seven, Stigmata), seu projeto pôde ser finalizado e o resultado é The Innocent, que foi lançado pela JBC no Brasil.





A história começa com Ash J. Wright, que é setenciado com a pena de morte injustamente, e o Comitê Angelical decide que ele poderá viver de novo, se ajudar outras pessoas na mesma situação. Para isso, designa Angel, um anjo que a primeira vista parece uma cópia da Rukia (e em parte é...), mas o modo com que Angel lida com Ash é totalmente diferente de Rukia com Ichigo.

À medida que a história se segue, descobrimos mais sobre os motivos que levaram Ash à cadeira elétrica, assim como a personalidade do mesmo, que é um anti-herói que tá pouco se lixando pras leis do Comitê e quer resolver seus problemas do próprio jeito.

Falemos primeiro da impressão. Não é comum ver one-shots à venda no Brasil, então a JBC quis chamar atenção pra este, colocando inclusive páginas coloridas. São apenas duas, referentes a uma arte e a aprentação dos autores. O papel não é quase transparente (como One Piece-Panini) e a gráfica não deixa nada a desejar.


A arte de Yasung Ko é tipicamente... Coreana. O design de Ash parece uma releitura de Raito (Death Note) com um cabelo levemente diferente. Não que seja um problema, o visual dele condiz com a personalidade de um cara sério. Os outros personagens estão mais caracterizados no estilo oriental, com olhos grandes. Fora o vilão, que tem um design mais realista, e Wal, que é o antagonista de Ash.

Mas eu não posso deixar essa chance escapar. O Ash da capa tá parecendo um personagem do Nas Garras da Patrulha, com ombros grandes e beiços grossos.

O grande destaque da arte provavelmente é também um problema em alguns casos. Ela é bastante detalhada e bela, sim, mas em alguns momentos é exagerada demais. Na tentativa de mostrar coisas demais acontecendo com poucos elementos, acaba-se causando uma certa confusão visual. Mas no geral, a arte é condizente com a proposta da história.

Detalhe pra balonagem, onde Angel tem um tipo de balão diferente dos outros personagens, o que ajuda quando Ash e Angel estão falando e não aparecem.

O desenvolvimento da história é... Corrido. Não que haja muita coisa acontecendo, mas os fatos nos são mostrados um atrás do outro, mostrando que poderia ser melhor executado em dois ou três volumes.



Outro problema da narrativa derivado deste primeiro é a péssima inclusão de certos elementos, como outro anjo chamado Holly White que aparece apenas pra explicar algo sobre a falta de asas de Angel, mas o assunto não é bem apresentado, nem mesmo pelo próprio Angel. Muito menos o citado Pacto de Sangue que Ash faz e nem os poderes overpower dele são bem explicado. É algo como "Caraca, o Ash pode fazer o Pacto de Sangue igual outra pessoa que também era overpower igual protagonista de Shonen", sem explicar exatamente quem é essa outra pessoa ou o que é o Pacto de Sangue. O que podemos deduzir é apenas que essa pessoa está ligada de alguma forma à perda das asas de Angel, mas não é um elemento bem trabalhado, o que é uma oportunidade desperdiçada.



Outro personagem mal-explorado é o guarda-costas do vilão, Wal. Ele serve de antagonista para Ash, em todos os sentidos: as roupas, o contraste entre o preto e branco, os cabelos e a personalidade.
...infelizmente também contrastam seus desenvolvimentos.

Vejam bem, sabemos pouco de Ash, mas principalmente porque ele é um cara fechado e frio, mas que no decorrer na história vamos conhecendo melhor a personalidade dele e seu passado.

Wal é um zé qualquer muito doidão cujo propósito de vida é matar um homem com nome de mulher.
E... É basicamente isso. Não sabemos porque ele pode ver Ash, qual a relação dele com Ash, nem ao menos sabemos se ele tem uma personalidade fora "assassino louco de pedra".
O que é chato é que ele parece ser um personagem muito bacana. Digo, um cara com problemas psicológicos e tendência pra matar, fora que ele aparece no verso do livro numa pose badass e que  condiz com a personalidade de assassino psicopata. No entanto, não tem muita função fora nos dar lutas maneiras e suas motivações são praticamente nulas.



Já que eu falei nos nomes, há algo que quero comentar. Sim, o nome "Ash" vem de "Ashley" e ambos servem tanto pra homem quanto pra mulher, mas aqui há analogias bem diretas, como o fato de Ash ser feito de cinzas ("ashes", em inglês) e poder manipulá-las; o vilão se chamar Flame Burns ("chama" e "queima") e a advogada Rain ("chuva"). Ao lerem, espero que entendam, não quero dar spoiler. E a propósito, o nome de Angel poderia ser mais criativo.

Há erros mínimos de roteiro, que mais uma vez mostram que a história poderia ter sido melhor desenvolvida com um ou dois volumes a mais, como a irmã do cara que Ash tem que ajudar que chega na advogada e mostra que sabe sobre Ash, mesmo sem antes nos mostrar como ela sabia. O que não é um problema, mas se torna um furo quando depois, não se explica como ela sabia. Ela podia muito bem ter pesquisado sobre a advogada e a relação dela com Ash antes e nos mostrar essa cena depois dela mostrar que sabia sobre Ash.

E finalmente, há uma discussão bem interessante sobre justiça e punição. Quem me conhece sabe que eu adoro esse tema e acho interessante colocá-lo em pauta.

Somando os prós e os contras, vale a pena?

Se você está procurando algo pra ler, quer sair da pancadaria normal, e ao mesmo tempo não quer gastar muito, eu recomendaria The Innocent. Mesmo com os erros de roteiro apontados, continua sendo uma história divertida e com elementos bem construídos, e que vão te dar alguns momentos de distração.

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