Avalon High



Graças a Deus, eu me considero um cara preconceituoso.

Ao contrário do pensamento comum, isso é ótimo. Todo ser humano é preconceituoso naturalmente, e eu diria até que é necessário, é um mecanismo de defesa. E mostra que você tem certa referência do mundo.

Ao ver os anúncios de Avalon High, eu me interessei. Mas ao mesmo tempo eu fiquei com a pulga atrás da orelha. “Rei Arthur no colegial? E da Disney? Disney CHANNEL? Eu só espero que seja um filme pelo menos assistível, com sorte vai ser uma pérola subestimada como 'Treinando o Papai'”.

Fui enganado.

É mais que assistível.




A história começa quando Allie, filha de professores de literatura medieval, entra na nova escola, Avalon. Lá ela faz amizade com Will e Lance, do time de handegg (a.k.a. futebol americano) e a namorada de Will, Jen. Também faz amizade com Miles, que tem o poder de prever o futuro.


Allie e Miles vão fazer um trabalho sobre a Ordem do Urso (trabalho cujo tema foi escolhido ~aleatoriamente~), que fala de que, no momento em que o mundo precisar, o Rei Arthur e sua turma vão retornar para trazer a luz de volta. Negócio é que alguns alunos da Avalon são reencarnações das histórias do Rei Arthur.


A história é praticamente toda dada pelos nomes. Todos os plot twists, quem é quem, qual o papel de cada um, são sugeridos pelo próprio filme. Quando os nomes dos personagens foram ditos, quem fazia o quê, quando deram um maior insight das lendas do Rei Arthur, eu juro que me levantei e bati a cabeça na parede, em sinal de frustração. Duas vezes.
Sim, filmes-família tem muito disso, mas aparentemente eles não estavam nem tentando fazer algo que preste.


E fui muito bem surpreendido. O filme toma rumos diferentíssimos do livro (sim, é baseado num livro, acabei de descobrir também), e que ainda assim, fazem muito sentido. E que ficaram bons!

Mesmo você sabendo dos plot twists (como foi meu caso, graças a uma visita inapropriada ao IMDB no meio do filme), é notório que há um esforço tremendo para escondê-los, e fazer você acreditar que X é X, e não dar pequenas pistas de que X é Y. Claro, algumas coisas são mais óbvias que as outras, mas algumas de fato são meio imprevisíveis. O próprio filme faz esforço em quase esquecer algumas das coisas mencionadas, ele sabe onde colocar o foco.


O clima de High School é mínimo, considerando o esperado. Eu realmente esperava algo mais estereotipado, como em High School Musical, Bully ou em Kamen Rider Fourze, onde lá é de fato zoado a questão das panelinhas.

Aqui, os nerds (ou pelo menos o único nerd que conhecemos) tem sim a característica de serem estudiosos, socialmente esquisitos, mas na verdade é mais timidez, e não chegam a serem desagradáveis, inconvenientes, e ainda devolvem os insultos aos bullies (ou pelo menos o único bully que conhecemos) ao mesmo nível.


Se tem uma coisa que eu gostei nesse filme desde que bati o olho, foi a fotografia. Eu não sei explicar, ela é simplesmente agradável de se ver. Jogando muito com escuro e claro, cores frias… Talvez até evocando o ambiente da Inglaterra Medieval. Talvez seja isso mesmo. Eu não sei, é simplesmente agradável e marca o filme.

Os personagens são o que deviam ser. Se eu fosse reclamar de algo, talvez seria as explicações corridas e até meio específicas demais de alguns personagens no começo do filme, mas é algo que logo vai embora e deixa o filme correr sozinho.



E ele tem uma fluidez muito boa, diga-se de passagem. Ele não toma eventos que a gente já sabe (ou deduz) e os torna grande coisa. Ele simplesmente deixa rolar. Deixa o momento ser construído. Até porque são momentos-chave na trama, e o filme sabe que eles precisam de um pouco mais de tempo e construção.

Talvez se possa dizer que a protagonista é meio plana, meio previsível demais, mas não creio que seja o caso. Ela é a típica protagonista-novata-que-vive-mudando-de-colégio-que-acaba-tendo-um-papel-importante-na-descoberta-e-desenrolar-dos-fatos-que-podem-salvar-ou-destruir-o-mundo.


...acontece.

Ela não é irritante, ou prepotente, ou perfeitinha demais. Ela é gente fina, tá procurando o lugar dela, mas ainda assim comete erros gravíssimos. Basicamente, o que precisa ser pra um filme assim.



Avalon High é como o Sky High.

...não só no nome, vejam bem.

É um filme que pega um conceito que já conhecemos, coloca num outro contexto, e simplesmente deixa rolar, com seus personagens e situações agradáveis e com uma trama e conceitos interessantes, que se desenvolve mais a cada momento, mas sabendo deixar seus personagens respirarem. E de quebra ainda dá uma surpresa no final que não só é um plot twist bem montado, mas que há todo um build-up do momento.

"É só uma maquete."
"Shh."

É como comer arroz, feijão e bife preparado por alguém que manja dos temperos. Você acha que vai comer só arroz, feijão e bife, e de certa forma, é só isso mesmo. Mas a cada mordida, você nota que há algo diferente, há um esforço em se tornar único, memorável, mas sem tentar ser mais do que é, sabendo seu lugar, sabendo que é apenas uma refeição diária.

É uma refeição diária, conhecida, mas que sendo bem temperada, acaba surpreendendo positivamente.




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