Ah, Hércules e Xena. Lembram de quando a Record passava as duas séries no período da tarde, lá por volta de 2006? Quando a gente podia passar a tarde toda deitado na cama assistindo séries medievais de aventura e mitologia sem ter que mover um músculo, exceto se estivesse merendando suco de caju com bolacha Trakinas.
Ou estudando pra prova de História, como aconteceu uma vez comigo.
Pessoalmente eu tenho várias lembranças ótimas dessa época. Ir pra casa da vó, passar a tarde com meu primo, assistir a Sessão Aventura (ou seja lá como se chamava) e logo depois ter nossas doses de atores fantasiados brigando com outros atores fantasiados em histórias imbecis, mas feitas com esforço e coração.
E ainda querem me convencer de que produções ocidentais não podem ser consideradas tokusatsu. PFFFFFF!
E por mais idiotas que as séries poderiam ter sido, elas tentavam ao menos ser divertidas. E raios, conseguiam. Se bem que eu não vejo faz alguns anos, então pode ser só devaneios de um velho nostálgico.
Enfim, algum dia alguém fez um pitch de um argumento até bom pras séries, sendo um crossover entre Xena e Hércules tentando recuperar o Monte Olimpo dos Titãs libertados. Mas a produção provavelmente seria cara demais, então mandaram o escritor de alguma sequências de Em Busca do Vale Encantado e Ultraman USA pra fazer o roteiro, e chicotearam escravos coreanos pra fazer uma animação baseada nisso.
E assim nasceu Hércules e Xena: A Batalha pelo Monte Olimpo!
Agora, em defesa do roteirista, eu não acredito que ele seja um mau escritor. Ele trabalhou em outros desenhos, como Cavalo de Fogo, Smurfs e De Volta pro Futuro. E recentemente tem trabalhado em A Guarda do Leão.
Entretanto... Ele também fez roteiros pra Teen Titans GO!, mas ninguém é perfeito.
Mas eu divago, hoje temos outro desenho pra falar mal.
A história começa até bem simples pros padrões da série. Hércules mata um monstro e luta com ladrões, Xena luta com ogros enquanto Ares tenta xavecá-la mais uma vez. Até que Zeus aparece e leva a mãe de Hércules, o que deixa Hera furiosa. A venenosa esposa de Zeus então rouba a kriptonita de Cronos que dá a possuir o poder de dominar o Universo e os Titãs e blablabla. Claro que isso desperta os personagens rejeitados de Missão Totem, e óbvio que eles invadem o Monte Olimpo e Hércules e Xena precisam lutar pra retomá-lo.
A princípio, é um plot muito bom. Tem o clima de aventura, tem a questão pessoal dos personagens, as interações levemente cômicas, a ação, tá tudo ali, e conceitualmente, deveria funcionar.
Infelizmente, o roteirista nunca escreveu nada de Hércules ou Xena, exceto 7 episódios de Young Hercules depois desse especial.
E assim como Homem de Aço e Batman vs Superman, esse especial é mais um exemplo de que você não deve entregar franquias nas mãos de quem não entende o material original.
Os personagens tão lá, os atores originais fazem o melhor possível pra dar suas interpretações e tirar leite de pedra, mas o roteiro é tão desprovido de alma, ou de algo que lembre o mesmo clima de aventura das séries, que simplesmente... Meh.
Embora tenha um ou outro momento que o filme tente se lembrar das séries, no geral não tem nada que lembre as mesmas.
Assim como a animação.
Oh, meu DEUS, as animações.
Eu entendo totalmente o estilo que eles buscavam. Nos anos 90 o Cartoon Network já trazia o estilo em O Laboratório de Dexter, Meninas Superpoderosas, 2 Stupid Dogs, e Batman TAS. E algumas pessoas de Batalha pelo Monte Olimpo foram trabalhar em desenhos como Clone Wars 2D, The Haunted World of Superbeasto, e Samurai Jack.
Mas é simplesmente um character design malfeito, mesmo que com boas intenções. O rosto da Xena e da Gabrielle parecem aquele teu amigo que se diz desenhista tentando desenhar pessoas reais de uma forma cartunesca. Tecnicamente, o desenho é fiel aos traços originais, mas é tão mal arrumado nas proporções e linhas que o resultado parece o Rocky Balboa depois de lutar contra o Zangief. Com as mãos atadas.
O único personagem que tá realmente bom é o Hércules e talvez o Iolaus, e ainda assim a animação tem uma direção tão bugada que eu nem consigo fazer uma piada.
Eu entendo que as séries originais tenham momentos cômicos, mas elas sabiam como dosar esses momentos. Os atores conseguiam passar uma performance que poderia ser sutilmente cômica, mas que nunca era exagerada demais.
A direção de animação aqui é basicamente é "exagere o suficiente até fazer com que Os Simpsons pareça O Silêncio dos Inocentes".
Viu? Eu nem consegui fazer essa piada direito.
Os personagens constantemente estão esbugalhando os olhos de maneira pouco dramática, se virando como se fossem cães farejadores, e tudo isso é executado quase que intencionalmente pra que não case de forma alguma com o contexto.
Mas eu nem sei se dá pra culpar tanto. Os frames de animação são tão limitados que talvez esse seja o motivo dos personagens serem tão tchaikoviskamente exagerados, e os cenários tão vazios. O que é uma pena, aliás, porque são cenários bem pintados, mas eles parecem que foram tirados direto do departamento de arte conceitual: são imprecisos, inacabados, e muitas vezes simplesmente abstrados, o que mostra que a essa altura a direção de arte tava mais preocupada em zerar Aladdin do MegaDrive do que de fato em trabalhar.
Eu não culpo eles, o Jafar é um pé no saco de matar.
E por algum motivo, tem 3 músicas aqui. A única que de fato funciona é a primeira, que é legitimamente uma melodia boa de ouvir, com vozes bem afinadas e num contexto que ajuda o público a entender elementos chave do plot, explica a Pedra de Cronos, os Titãs e o raio a quatro. As outras músicas... A que a Xena canta é até suportável, mas a essa altura tu simplesmente não consegue levar a sério. E a que os titãs cantam usam a mesma cena reciclada no mínimo 3 vezes e tem gíria de basquete no meio.
É um nível de idiotice que não dá pra suportar, e é simplesmente uma música irritante no geral.
Ok então. O roteiro é ruim, as músicas em geral são ruins, e a animação foi feita por crianças cujo pagamento foi um Pelon Cabelon pra cada. Ainda assim, eu recomendo assistir.
Agora, você precisa do momento e gente certa pra ver. Não é pra qualquer um, é um filme que acaba por ser fraco e desinteressante, mas ele tem vários pontos zoáveis, e depois de uma maratona de Xena/Hércules com os amigos, é bom ver algo ruim, mas zoável pra assistir. Nesse caso, esse filme é a escolha ideal, seguindo o tema da maratona.
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