Os anos 80 foram anos bastantes curiosos pra animação. Animação pra crianças que não as subestimava, como O Segredo de NIMH, Em Busca do Vale Encantado, A Aventura dos Chipmunks, Transformers O Filme, e o eterno clássico e um dos únicos filmes que são capazes de me fazer chorar com a animação do cabelo, A Pequena Sereia.
Também tivemos filmes como Ultraman USA, Pinóquio e o Imperador da Noite, e o filme do Gato Félix.
Mas também tivemos alguns filmes voltados ao público adulto, como Heavy Metal e o tópico de hoje, Rock and Rule.
A princípio, parece que vai ser um filme bom. Temos aquele som de teclados dos anos 80, assim como em Labirinto, e a identidade visual parece promissora. Bem como o plot.
Aconteceu uma Terceira Guerra (provavelmente nuclear), e os únicos sobreviventes foram ratos, gatos, cães, e o Sílvio Santos. A partir daí, evoluíram mutantes, que passaram a dominar o mundo.
Mok, um roqueiro-mágico lendário descobre que há um modo de abrir um portal para outro mundo, invocando uma besta terrível. Ele descobre que a chave para abrir o tal portal é uma voz muito específica, e ele a encontra em Angel, uma das vocalistas de uma banda qualquer nos subúrbios de Ohmtown. Ele atrai a banda e sequestra Angel, e a leva pra Nuke York pra completar o ritual e liberar o monstro.
Sim, parece um plot interessante. Tem um vilão duas-caras megalomaníaco, uma banda de everymans que se veem no meio de uma treta interdimensional, tudo isso ambientado num mundo semi-pós-apocalíptico (essa palavra existe? Enfim) oitentista. Os próprios personagens são tropes comuns da época, sendo animais antropomórficos, só que mais parecidos com humanos que com animais.
E é aí que começamos a ver um dos principais problemas do filme: não tem motivos pra eles serem animais antropomórficos. Assim como em O Espanta Tubarão, se essa história fosse protagonizada somente por humanos, não mudaria basicamente nada. Talvez se tivéssemos uma população mista entre antropomórficos e humanos, pra termos uma coerência na cena da boate, onde vemos um dos mutantes que não mutaram direito.
Porque raios ele parece o Etemon está além das minhas capacidades mentais. |
Mas ainda assim, é uma escolha puramente estética que não influencia no plot ou no desenrolar da história. Se tu soubesse que o mundo de Patópolis fosse o resultado de uma guerra nuclear que dizimou os humanos e permitiu que os animais evoluíssem devido à radiação, faria diferença? Pois é.
Mesmo com tudo isso, os personagens em geral ainda tem bons designs. Não são perfeitos, e eu tenho meus problemas com os dois protagonistas muito humanos e o resto muito cartunesco. O que nos leva à animação.
Eu não tenho problema nenhum com rotoscopia. Walt Disney basicamente construiu o império dele nisso, e como alguém que estuda desenho, eu sei a importância de ter uma referência real, especialmente em se tratando de animação.
Mas é algo que precisa-se saber fazer. Por exemplo, os animadores Disney usavam como referência, mas eles se lembravam de que eram desenhos animados, e tomavam algumas liberdades, mesmo quando os personagens deviam ser mais realistas. Havia um senso de timming, o não ser 100% fiel. Pois bem, aqui, Omar (o outro protagonista que eu quase esqueço o nome) e Angel são animados basicamente como seres humanos reais. O que fica extremamente confuso porque, embora em teoria eles tenham um bom design, ele definitivamente não combina com o movimento realista, e fica especialmente estranho quando tu nota o cabelo de Angel e os olhos e nariz de Omar.
Fora que todos os outros personagens se movem mais como desenho animado, com as tais liberdades que eu mencionei, o que acaba destoando MUITO de todo o resto.
Mas de longe, a maior falha do filme é a história e a narrativa.
Nós iniciamos o filme e terminamos, e não sabemos ou aprendemos nada sobre os personagens. Omar e Angel? Só o que sabemos é a relação de amor e briga que eles tem. O cara magrelo e o menino gordinho cujo nome não importa, também. São só alívio cômico. Porque raios Mok quer libertar o Aku durante um show? Eu suponho que seja vingança pela sua popularidade estar caindo.
...ok, como raios isso funciona? Ele queria fazer um show tão memorável que a popularidade dele ia voltar a crescer, ou ele ia usar os poderes do bichão pra matar a galera...? Nunca é explicado.
Eu já vi background ponies mais complexos e bem desenvolvidos que os protagonistas desse filme, pelo amor do Don Rosa!
Então, se tem alguma coisa que o filme faz certo... Eu acho que são os momentos musicais. Não é meu estilo e eu entendo de música tanto quanto um macaco treinado pra tocar um xilofone, mas eu suponho que pra quem goste de rock pauleira oitentista seja... Mais ou menos...?
Porque o mundo, por mais interessante que possa ser, por mais que os designs dos locais e dos veículos sejam atraentes, mesmo que as imagens e linguagem por vezes parecida com a de um videoclipe sejam divertidas, o âmago, os personagens, o coração do filme tá no lugar errado. Sem personagens que nos cativem, que nos façam torcer por eles, que nos deixem emocionalmente investidos, todas essas falhas começam a saltar aos olhos e a experiência do filme é arruinada.
Eu sei lá se eu recomendaria pra alguém, se tu gosta de uma história merreca com uma zuada e imagens epilépticas (sério, tem no mínimo 4 cenas com flashes coloridos e rápidos, cuidado), eu provavelmente diria... "Meh, wathever".
Agora, eu só acho curioso que a produtora desse filme, a canadense Nelvana, tenha feito mais nome com séries e filmes educativos e/ou family-friendly, como Ursinhos Carinhosos, Babar, Tintin, Hot Wheels, e dublagem de séries como Medabots e Sakura Card Captors.
Uma boa carreira pra quem começou com um filme sobre rock pesado com nudez e drogas num mundo pós-apocalíptico.
Oh sim, David Bowie aparece. Em quadruplicata. Não questione. |
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