Q10



Em 2012, minha amiga Taty me sugeriu que eu assistisse essa série. Por algum motivo (provavelmente internet ruim), eu parei de ver, e o Facebook me lembrou de que, há 4 anos, eu postei uma imagem fazendo uma piadinha besta com uma das imagens.

Sim, é um hábito antigo.

E eu resolvi acabar logo com isso antes que meu TOC atacasse. Só tem 9 episódios mesmo, bora lá.



A propósito, essa era a imagem. Perdão.

A história nos conta sobre Kenshin Himura, um samurai viajante do tempo disfarçado de colegial. Nessa linha do tempo, ele não tem nenhum amigo perturbado querendo fazer quadrinhos; ao invés disso, ele tem uma falha no coração devido a uma cirurgia. Ou um coração frágil, algo assim.

Mas, numa bela noite de luar, o diretor da escola encontra uma garota no lixo e a leva pra escola porque motivos.
Sim, ele tava bebaço, mas o cara que escreveu o argumento provavelmente também tava.

Kenshin acaba encontrando a tal guria, e resolve testar se a arcada dentária dela tem som, tal qual ele viu em um livro quando era criança. Com certeza, o melhor rumo a se tomar diante desta situação.
E é nesse momento que ele, o diretor, um professor que mora com a mãe, e uma professora de biologia que mora num laboratório não usado no colégio descobrem que a garota é uma robô, a qual Kenshin apelidou de Kyuuto, por ser o código impresso no pé dela.

Então, eles tentam seguir normalmente com Kyuuto como uma aluna normal, mesmo ela falando e agindo estranho constantemente. Vai entender.



Embora seja uma ficção científica, ele não foca tanto em "quem é Kyuuto e porque ela tá aqui", mas sim em "quem são esses alunos e porque eles tão aqui".
Como todas as classes escolares, há alunos com problemas, que normalmente não falam sobre eles entre si, especialmente num país com pessoas culturalmente mais frias como o Japão. Kyuuto chega e acaba quebrando certas barreiras, e indiretamente ajudando outros alunos.

Acaba que fica muito mais interessante acompanhar os outros personagens, alunos e professores. Eu quero saber mais sobre o cara cujos pais tão se divorciando, eu quero saber mais sobre a guria roqueira, eu quero saber mais e torcer pelo cara popular que se apaixona pela guria fanática por idols masculinos. São personagens identificáveis e interessantes, e são desenvolvidos de uma forma que tu genuinamente se conecta a eles.



Kyuuto também é uma graça, do seu jeito próprio. Seria muito fácil pegar a Acchan no auge da sua carreira e botá-la em roupas fofinhas ou provocantes, ou ter vários trejeitos que poderiam acabar sendo irritantes. O que temos de fato é uma personagem bem construída, com uma direção e performance igualmente excelentes. Kyuuto pisca pouco, diminuindo o lado humano da personagem, faz movimentos mais duros e rápidos com os braços e cabeça, fala com mais automação que o Google Translate, mas continua fofa e adorável por de fato tentar compreender comportamentos e elementos humanos, e colocá-los em prática, por vezes dando certo de forma... pouco casual.
Mas sei lá, talvez funcione pros japoneses... E esse é um dos problemas, no entanto.


Embora algumas coisas eu entenda perfeitamente que são parte da cultura japonesa, e que um baka gaijin como eu jamais compreenderia perfeitamente as nuances do GRORIOSO NIPPON (como a professora de biologia espalhando adesivos pra espantar pobreza, ou algo assim), algumas coisas não funcionam muito bem dentro da lógica comum.



Como no primeiro episódio, onde Kyuuto, Kenshin e o guri com problemas familiares começam a pedir socorro, porque segundo Kyuuto viu num filme antigo sobre samurais, é só gritar que aparece alguém pra ajudar. Agora, esse é um conceito que funciona bem no momento, porque o guri tinha medo de se abrir pros colegas, e Kenshin e Kyuuto queriam mostrar que eles tavam dispostos a ouvir e ajudar. O problema foi que eles começaram a gritar por socorro no pátio, e logo os colegas de classe deles foram pro pátio, organizaram as carteiras fazendo S.O.S., pra chamar a atenção de um helicóptero de notícias que iria cobrir um show surpresa da banda da guria roqueira... Espera, quê?

É... A série tem alguns momentos assim. Mas quando são referências mais leves, é de boa de entender, e até fofo, como o carinha popular dando força pra guria dos idols durante um festival lá.
Se bem que os fansubs (tanto o inglês como o português) não ajudaram muito, com a gramática zuada, mas, problema menor.

que
QUE


Outra coisa que me incomodava profundamente era quando eles tentavam elevar o nível de conceito. Como num momento que uma guria lá começa a falar sobre massa negra do universo e como tudo tem um fim, nesses momentos a série se torna tão pretensiosa que me dá uma agonia. Eu quero tentar acompanhar, mas não divaguem, pelo amor do raio!
Eu posso divagar, eu sou um velho que escreve besteira na internet.


Kenshin é o típico cara que perdeu a esperança na vida, e só vai levando. E Kyuuto aparece pra, de certa forma, dar esperança pra ele. Eu adoraria desenvolver essa idéia, mas eu não quero passar spoiler. E a química entre o cara do chiclete Fits e da moça com cabelo de Kick Buttowski funciona lindamente, aliás. Eu totalmente consigo acreditar que o cara de fato se apaixonou pela robô, que aliás, é um dos temas trazidos, se podemos amar algo que não é humano, como aviões ou personagens 2D.

Até personagens mais secundários, como o diretor,
ganham a simpatia e são identificáveis.

Poderia ser só mais um romancezinho colegial com uma certa pitada de filosofia no meio, mas o que tivermos foi uma série que trata de temas sensíveis e que permeiam a mente de adolescentes e jovens adultos. Sobre decisões difíceis, sobre manter essas decisões, sobre a vida, sobre amor. E é tratado de uma forma interessante, com algumas alegorias funcionais.

Se você conseguir ignorar os aspectos culturais intraduzíveis e uma ou duas conversas muito pretensiosas, você vai encontrar uma narrativa bem estruturada, com personagens cativantes, interessantes, e identificáveis passando por situações que podem te fazer pensar sobre a vida. Sim, tem um bom número de plotholes, mas o que é bom, é realmente bom. Se tiver um tempo livre, eu diria pra dar uma olhada.


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