Look Out, Officer!
Fantasmas não são assustadores. Pelo menos não o conceito base de fantasma, comparado a outras criaturas que há eras tem assombrado a humanidade em histórias. Vampiros sugam sangue, o monstro de Frankenstein é basicamente uma versão horrenda e emocionalmente instável de André o Gigante, e quanto menos falarmos de lobisomens, melhor.
Mas fantasmas são intocáveis e dão sustos. No máximo eles acabam sendo inconvenientes, mas perigosos, não.
Claro que há várias versões e regras diferentes pra fantasmas, e o lado de "negócios não terminados" acaba sendo o conceito que mais gera histórias interessantes.
E hoje vamos dar uma olhada em uma dessas histórias, Look Out, Officer!.
Antes de mais nada, esse artigo foi um pedido do Padrim Cauã. Se você tem algum pedido de filme ou série ou episódio, contribua no Padrim, veja lá as recompensas, não é muito mas é com sinceridade.
Obrigado Cauã pelo apoio, e de volta ao artigo.
Oh joy, um filme dos Shaw Brothers. Eu já escrevi sobre outros filmes deles, como Super Inframan e The Mighty Peking Man. Faz um booom tempo que eu vi esses filmes, mas eu só lembro de serem incrivelmente maçantes, talvez seja bom dar outra assistida qualquer dia desses.
O filme trata sobre um policial que é morto ao investigar traficantes de drogas, e recebe uma permissão especial pra voltar e terminar o serviço. O clichê de um espírito ajudar os vivos ou terminar uma missão com o auxílio de um vivo é recorrente, mas eu não sou muito próximo dele pessoalmente.
Digo, eu consigo citar de cabeça filmes como O Sexto Homem, Angels in the Outfield, Um Anjo Muito Louco, e Na Terceira Você Dança, mas eu só vi mesmo Bleach e O Céu Pode Esperar.
Se bem que eu só vi O Céu Pode Esperar uma vez quando moleque e a única piada que eu lembro de rir foi o Chris Rock tentando pegar um táxi depois de conseguir seu corpo de volta. E provavelmente porque eu vi dublado, a voz do Chris Rock consegue ser irritante às vezes.
Enfim, quando Cauã me pediu pra resenhar esse filme, eu me empolguei só pela sinopse. Parece muito algo feito nos anos 80, mesmo sendo uma produção noventista. Mas o clima do filme e da própria Hong Kong nesse período exala anos 80, então ok.
E o filme acaba sendo absurdamente diferente do que eu tinha em mente. NADA conseguiria me preparar pro absurdo surrealista da comédia.
Ok seguinte, o policial é morto por traficantes de droga e vai parar nos portões do céu, que parece uma esquete d'Os Trapalhões. O juiz dá a ele uma segunda chance de terminar a investigação e o manda de volta com uma bolsinha cheia de feitiços ofuda. Bolsinha essa que parece muito aquelas parada que tu encontra no Centro ou na 25 de Março, mas divago.
O juiz mostra ao policial uma marca que identifica seu salvador, bem como outra marca que identifica seu algoz. E ele encontra seu salvador num policial novato, medroso, e ligeiramente mulherengo, o que é sempre uma combinação comum nesse tipo de filme.
O policial e o novato fazem um acordo: o maluco resolve o caso e prende o traficante pro velho, e em troca o velho ajuda o maluco a conquistar uma guria. Pra incrementar o quid pro quo, a guria é filha do parceiro do policial fantasma.
E aqui chega a parte estranha do filme, o que é dizer muito comparado ao tipo de comédia que o filme faz. O parceiro do policial fantasma é metido com o sobrenatural, e de alguma forma tem poderes mágicos, tipo se esticar e incorporar a divindade que ele serve.
Isso poderia passar desapercebido, mas a narrativa do filme é mais seca e rápida que Inspetor Faustão e o Mallandro fazendo propaganda da Tramontina. Sério, o filme mal te dá tempo pra digerir certas cenas no começo, com 10 minutos de filme eu tive que olhar o tempo de duração pra ter certeza que passou 10 e não 20 minutos.
O ritmo de edição acelerado continua no decorrer do filme, mas dá uma amansada, ou talvez eu que tenha me acostumado com os cortes inesperados e nonsense. Ao menos a edição de som é aceitável, ao passo que a comédia é meio hit and miss.
Provavelmente é mais uma questão cultural, já que a maioria das piadas envolve algum elemento religioso/sobrenatural/mitológico de cultura oriental num geral. De novo, o policial que achávamos ser um cara normal faz umas preces pra algum santo ou sei lá o nome, e do nada consegue esticar os braços. O que ressalta o design surrealista da comédia, mas falha ao ser justaposto a piadas de ereção que tem o mesmo teor cartunesco.
Oh sim, o nível da comédia é MUITO grossa, às vezes beirando o absurdo dentro das próprias regras de mundo. Por exemplo, eles estabelecem que a velhinha que limpa o chão da delegacia é a virgem mais velha do mundo ou algo assim, algo que é dito como uma piada corriqueira entre os trabalhadores do lugar. Lá pro final, um dos ingredientes pra salvar o policial fantasma envolve fazer uma poção que é uma mistura de uma pancada de coisas nojentas, incluindo xixi de uma virgem.
Só que a filha do policial também é virgem e eles nunca sequer consideram pedir pra ela ajudar. Se ao menos eles tivessem perguntado a ela e ela desse um tapa no pai e no namorado, teria um motivo pra recorrer à zeladora velha.
E talvez esse seja um ponto que afaste a maioria desse filme: a comédia é grosseira e muitas vezes nonsense a ponto de não fazer sentido pra outras culturas, por ser muito específico. Agora, eu totalmente consigo ver um remake ocidental desse filme, o que provavelmente irritaria militante de internet.
Não, sério, dia desses eu vi alguém bocejar "ain vocês só assistem remakes de filmes coreanos ao invés do original porque são xenófobos, herp derp", esquecendo (ou não mencionando por mau-caratismo mesmo) que a Coréia do Sul é quem mais faz remake de filme e série japonesa, e inclusive fez remake de filme brasileiro recentemente.
Meu ponto é que tem histórias cuja sinopse é universalmente agradável, mas particularidades culturais da obra impediriam o entendimento em outros países, ou foram até melhorados praquela cultura específica ou até criaram um produto totalmente novo. Como Três Solteirões E Um Bebê, Ninguém Segura Esse Bebê, e O Candidato Honesto. Todos esses filmes são remakes ou foram refeitos em algum momento.
Três Solteirões e um Bebê, baseado em um filme francês; O Candidato Honesto, basicamente O Grande Mentiroso só que Brasileiro; e Ninguém Segura esse Bebê foi um sucesso ABSURDO na Índia, ultrapassando até Star Wars, e recebeu um remake indiano e um malaio, este último inclusive se chama James Bond, e saiu em 1999, no mesmo ano de O Mundo Não É O Bastante.
A realidade é sem condições mesmo, eu vou te contar.
Ok, já que eu fui por essa tangente, como eu refaria Look Out, Officer! pro ocidente? Eu provavelmente manteria a maioria dos elementos: policial investigando traficantes, morto, tem que treinar um policial novato em troca dele conquistar a garota que é filha do parceiro do policial fantasma, tudo isso é receita pra uma boa comédia. Mas eu tiraria o lance dos ofudas e faria os poderes fantasmagóricos mais próximos do Bill Cosby em Ghost Dad.
E como é uma comédia surreal, faria o vilão ser um traficante de drogas que contrata um químico que investiga material ectoplasmático, porque é claro que sim. Daria pra fazer um clímax de ação cômica com os caras virando e desvirando fantasma, sei lá.
Also, o filme seria mais focado na investigação do que nos quid pro quos amorosos do protagonista. Teriam um espaço, claro, mas envolveria mais ele saindo em investigações com o pai da guria e eles tendo aqueles momentos constrangedores que todo namorado passa, com a diferença que eles trabalham juntos e o pai não confia muito no maluco, e eles precisam ganhar a confiança um do outro.
E a cena do cara indo morar no apartamento do falecido, encontrando o fantasma, e se descobre incapaz de fugir da sala, sempre voltando ao ponto de partida. Tem umas trucagens de edição e cenário fantásticas e absurdamente efetivas, tanto pra comédia como pra narrativa.
E a cena do cara indo morar no apartamento do falecido, encontrando o fantasma, e se descobre incapaz de fugir da sala, sempre voltando ao ponto de partida. Tem umas trucagens de edição e cenário fantásticas e absurdamente efetivas, tanto pra comédia como pra narrativa.
Look Out, Officer! é um filme com uma vibe muito específica, não sei se recomendaria pra todo mundo. Mas é um ótimo filme pra ver caçoando com os amigos numa noite de sábado entediante.
Ele tem até uns momentos de fotografia oitentista fantásticos, sem contar a moda e prédios e etc. Vale a pena ver pela aesthetics também.
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Sério, já viu o preço do salmão? Pois é.
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