A Felicidade Não se Compra


Essa vai ser a última resenha do ano, e há bons motivos pra isso.



Esse filme falou comigo de uma forma forte, e reflete bem o que eu passei esse ano, a um nível pessoal. Então achei mais do que justo do que deixá-lo como um lembrete e um agradecimento, mas primeiro vamos ao que interessa.


Esse é um filme que aos poucos se tornou um clássico, especialmente depois de cair no domínio público durante um tempo e ser exibido à exaustão nas TVs durante o feriado de Dia de Ação de Graças e Natal (o que, parando pra pensar, parece ser o caminho que todos os filmes que acabam mal de bilheteria trilham pra se tornarem clássicos atemporais). Obviamente foi parodiado por todo o tipo de mídia, de desenhos japoneses aos Muppets, de um quadrinho dos Flintstones ao Nostalgia Critic. Assim como Christmas Carol, essa é uma história que aparentemente todo ser humano com condições decentes de televisão conhecem quase que por osmose, e que é um plot que não se torna cansativo, colocando em diferentes histórias.


Então, fechemos esse Natal com algo pra pensar.




A história começa com um anjo que, para ganhar suas asas, é incubido da missão de ajudar um homem, George Bailey. Mas, pra isso, ele precisa conhecer o sujeito, e passamos quase 2 horas de filme vendo como a vida do cara resultou em uma tentativa de "tirar o dom mais valioso que Deus nos deu".

Ao final de tudo, o anjo impede George de se suicidar, e faz o que ele, inocentemente, pede: mostra o mundo sem George, e como todas as pessoas que ele conhecia estão em estado péssimo porque George nunca nasceu pra ajudá-los.


Embora a narrativa e atuação sejam um pouco datadas pros padrões de hoje, ainda é perfeitamente assistível. A história do jovem cheio de sonhos de explorar o mundo, conhecer lugares exóticos, estudar fora, pra então voltar e ajudar sua cidadezinha a crescer com sua arquitetura é extremamente identificável e honrável, tendo até um breve debate sobre o que faz um trabalho ser útil, com o pai de George. Que é o que o leva a tomar conta do banco do pai, mesmo a contragosto.


Também ajuda o fato de vermos desde a infância de George, estabelecendo futuros plotpoints e criando simpatia pelo rapaz. (Aliás, o lance de Mary falar que sempre vai amar George no ouvido surdo dele é incrivelmente funcional e fofo.)

A atuação também é supimpa, com James Stewart (que meu pai instantaneamente reconheceu de Janela Indiscreta) como um carismático e simpático jovem, que sempre tenta ser o mais útil possível ao próximo. De certa forma, é isso que acaba acarretando o seu surto próximo ao final do filme, que, comparando ao que tínhamos conhecido do personagem, é bastante chocante.


O filme consegue ter seus arcos narrativos bem contados, sem que se torne cansativo, o que é um trunfo, considerando as duas horas e pouco de exibição. Provavelmente o segredo seja que sabemos o final, sabemos que George vai acabar querendo se suicidar, e queremos saber o que vai levar ele a isso. Especialmente porque basicamente tudo vai de boas com ele durante o filme, de um jeito ou de outro. Tanto nos rumos da vida dele quanto ele como indivíduo.


Vemos George tirar dinheiro que seria gasto numa belíssima e luxuosa lua-de-mel pra pagar clientes do banco durante o Crack de 29, e quando ele volta pra casa, sua esposa e alguns amigos arrumaram a cozinha pra que os dois tivessem o melhor jantar romântico possível. É esse o tipo de coisa que eu vejo e não consigo fazer nada, exceto sorrir feito um bocó. 

O esforço que Mary e os amigos botaram nesse jantar, sabendo das condições infortúnias que foram colocados, é simplesmente heartwarming.

Sim, é uma palavra inglesa que eu não consigo traduzir direito, me deixe.


Toda a trajetória de George nos mostra alguém atencioso, carinhoso, gentil, preocupado com sua comunidade. Mas ao mesmo tempo com seus defeitos (a cena onde ele visita Mary ainda me confunde, o que raios ele queria agindo daquela forma?), mas as qualidades se ressaltam. E provavelmente esse foi o que o levou a surtar daquela forma.


Ele ajudava os outros, era carinhoso, e não esperava nada em troca, e isso é louvável. Mas ao mesmo tempo, quando vieram as dificuldades, ele se esquece de que nem tudo está nas costas dele, que ele não tem que tentar resolver tudo, que ele pode tentar se apoiar em alguém, especialmente na sua família, que era quem devia, em primeira instância, fazer esse papel de apoio.


Mas o que me quebrou foi o final do filme, com toda a cidade, todos aqueles a quem George ajudou, se juntaram e pagaram a dívida dele e ainda mais do que precisava; e o anjo ainda deixou o seguinte recado numa cópia de Tom Sawyer:


Pra você que não entende inglês, "heartwarming" significa, "emotivo" ou "emocionante", ou literalmente, "aquecedor de coração", mas eu não consigo achar uma palavra que seja equivalente.

E o texto ali é algo como "Lembre-se: nenhum homem é um fracasso se ele tem amigos".

Eu tenho quase certeza de que essa gramática do anjo tá meio zoada, mas sei lá se era coisa da época. Enfim.


O negócio é que, esse ano, eu tive uma crise FORTE de desânimo, não necessariamente porque eu fui abandonado pelos meus amigos, não não. Mas simplesmente porque era uma coisa atrás da outra dando errado, que acabava me fazendo desistir de fazer certas coisas por achar que não iriam dar certo. Uma dessas sendo a faculdade, eu cheguei num ponto que basicamente eu ia pra faculdade pra treinar meu desenho, enquanto tentava desenvolver algum projeto próprio, já que as únicas aulas que tavam me servindo pra algo eram as de design de jogos.

E pra comer chocolate que eu comprava no caminho vez ou outra.
E Disney GoGo's.


Sim, foi um período bem... sombrio, eu diria. Eu terminei o semestre conseguindo fazer menos do que eu queria e adquirindo péssimos hábitos que eu tou tentando deixar (como dormir estupidamente tarde). E nesse período, foi quando eu comecei a considerar mais o SRT.

E foi nesse período que me apareceu a GunterSenshi, pedindo pra eu ensinar ela a resenhar.


Eu sou um merda nisso, eu nem sei como raios ela foi gostar dos meus textos. Mas assim como ela, outros gostam, e é um dos motivos que eu continuo com isso.
Ela se tornou minha aprendiz, mas, na real, eu é que sou ajudado por ela.


Gunther e Professor Carvalho tem me ajudado muito aqui no SRT, mas também me ajudado muito no pessoal. Você nem fazem idéia. E eu só posso me envergonhar porque eu sinto que tou fazendo muito menos do que deveria e vocês muito mais. Eu amo vocês. Obrigado.


E também amo meu pai e minha mãe, que tem me ajudado e cuidado muito bem de mim durante esses períodos, incluindo no mínimo dois mini-surtos. E também minhas duas irmãs postiças, cuja mera presença delas faz com que eu me sinta melhor.

E obrigado você, que continua lendo meus textos de merda. Obrigado por me fazer me sentir mais útil. Tudo o que eu quero é te fazer rir por um momento, esquecer o mundo lá fora por uns minutos, pra relaxar. Às vezes é tudo que precisamos pra encarar o dia-a-dia, e eu prometo que vou tentar melhorar cada dia pra que meu trabalho seja melhor.


Obrigado, de coração.


E vamo que vamo, 2017.