Labirinto - A Magia do Tempo
Se você acompanha o blog, sabe que The Dark Crystal não obteve muito sucesso na época, por ser assustador e por estar competindo com E.T. do Spielberg.
E se não acompanha, passe a acompanhar ou seu Toddynho vai vir sem canudinho.
E eis que alguns anos depois, Jim Henson iria novamente em sua empreitada de fazer um filme de fantasia, dessa vez tendo a ajuda de George Lucas e a estrela David Bowie.
Será que Jim Henson sairia vitorioso dessa empreitada? Acompanhe-me e não vá por aquele caminho, nunca.
A história começa com Sarah, uma aspirante a atriz que se irrita com seu irmão bebê, e deseja que alguém venha pegá-lo.
E eis que Jareth, o rei dos goblins, atende a seu pedido. Mas Sarah se arrepende de ter pedido isso e Jareth diz que, se a garota quiser de volta o irmãozinho, vai ter que tomar dele em seu castelo, no meio de um labirinto.
E assim a história começa, com uma narrativa um tanto quanto estranha, já que como o primeiro ato acontece muito rápido, o resto do filme tem uma impressão de arrastamento, até porque se nota nele pouco sinal de estrutura narrativa conhecida.
No entanto, o que o roteiro falha em narrativa, é compensado com visuais extremamente criativos. Jim Henson fez sua lição de casa de Dark Crystal, e trouxe de volta Brian Froud, que fez o design visual da produção. E como não pode deixar de ser, faz um trabalho belíssimo, com criaturas que estão entre Muppets e as de Dark Crystal. Assim como a equipe que confeccionou e manipulou os bonecos, em especial Hoggle, que de fato se expressa e move com naturalidade.
A atuação da jovem Jennifer Connelly tem altos e baixos. Digo, a personagem dela é (aparentemente) uma aspirante a atriz, então algumas das atuações dela soam um pouco forçadas no nível "peça escolar", mas quando ela faz um bom trabalho, ela faz um bom trabalho. Não é espetacular, mas... Bom.
David Bowie como Jareth é uma coisa interessantíssima de se olhar. Ele se move, age, fala com muita naturalidade. Jareth tem um certo ar de estrela do rock, então foi algo até natural para Bowie. Mas não só isso, ele parece de fato confortável com o papel, e parece até se divertir com ele.
Digo, pelas marias-chiquinhas da Mayuyu, vejam a sequência de "Dance Magic".
Esse cara tá vivendo o sonho, ele tá se divertindo ao máximo com isso, e talvez por isso acabe sendo divertido pra nós.
E já que falei nisso. Eu deveria me irritar, mas por algum motivo a música extremamente datada não incomoda o cenário de fantasia.
Mesmo elas tendo uma pegada psicodélica/disco/sei lá, ela é usada pra criar mistério, excitação, ou simplesmente aventura. E funciona muito bem, sem mencionar que as letras escritas por Bowie adicionam muito às interpretações da obra como um todo.
Mas o estilo musical provavelmente também faz parte da interpretação que temos do filme.
O filme em si aparentemente se passa na mente da jovem Sarah, com as coisas que ela tem no quarto. É como se ela sonhasse em viver nesse mundo do Labirinto, habitada por criaturas "infantis", sem ser perturbada pelo irmão e tendo seus desentendimentos com o pai e a madrasta. No entanto, ela parece notar que "não há lugar como o lar". E durante sua jornada, ela percebe que não precisa abandonar totalmente as coisas de criança, e que pode desfrutá-las sem culpa mesmo depois de crescida.
E assim como os referenciados (no filme) Mágico de Oz, Branca de Neve, e Onde Vivem os Monstros, Labirinto tenta ser uma história pra crianças atemporal, mas com uma substância a mais, perguntas que não são exatamente respondidas. Como por exemplo, os eventos no Labirinto foram reais, ou foram só imaginação de Sarah? Jareth estava mesmo apaixonado pela Sarah? O que teria acontecido se Michael Jackson fosse Jareth?
A propósito, o bebê Toby é, na verdade, Toby Froud, filho de Brian Froud, que mais tarde trabalharia no departamento visual de Crônicas de Nárnia, Paranorman, e Lessons Learned.
Mas aqui ele é Simba. |
E David Bowie agora pode ser considerado oficialmente um Muppet.
Fora o Tim Curry, claro.
Outra coisa que chama a atenção (e que tá em falta hoje no cinema em geral) é o uso de sets reais com efeitos visuais práticos e engenhosos. Chroma key é usado apenas quando necessário e ainda assim eles tiram proveito dele. Tá mais que claro que eles não estão tentando enganar ninguém.
Em resumo, Labirinto é um filme fantástico. É um exemplo de filme original e criativo ao extremo, dois elementos que estão MUITO em falta no cinema de hoje, em especial quando se trata de algo voltado para crianças.
É de fato uma pérola dos anos 80 -cuide muito bem dela.
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