Blankman - Um Herói Muito Atrapalhado


Muito antes de Kick-Ass, e muito antes de Pantera Negra ser o primeiro super-herói negro do cinema (ignorando Steel, Meteor Man, Tempestade, Blade, e o tema de hoje), Blankman existiu.

O herói do povo, dos ignorados, dos oprimidos, que busca fazer pelo menos sua própria vizinhança melhor, mesmo morando no equivalente americano do Rio de Janeiro. Ou do Pirambu, mas o Wolverine supostamente resolveu esse problema.

Sério, me cobrem de escrever sobre Wolverine: Saudade qualquer dia desses.

Mas por ora, vamo relembrar Blankman e tentar descobrir porque é um filme que divide tantas opiniões.



Esse filme costumava passar na Sessão da Tarde, e uma dessas vezes eu vi e cheguei a gravar em VHS. Seja lá por qual motivo, eu não o vi tantas vezes, era sempre um filme que ocupava um espaço no canto da minha mente. Vez ou outra eu passava na frente dele, lembrava de algo sobre ele (algum fragmento de cena, provavelmente as mais cartunescas), e dizia pra mim mesmo “ah é, isso existiu”, e seguia em frente.

Mas chega de lembrar vagamente desse filme, eu resolvi rever ele depois de adulto e… Surpreendentemente, ele se sustenta. Um pouco.


Detonado pela bilheteria e crítica na época, é um filme que tem um pouco de coração no lugar certo, e uma ou outra piada cai exatamente no lugar certo, com a delivery certa, enquanto o resto é… confuso, mas funciona.

A história conta sobre Darryl e seu irmão Kevin, que cresceram criados pela avó e pela televisão, onde brigavam com a antena pra assistir Batman do Adam West com a melhor qualidade possível, que ainda era em preto-e-branco com chiados e cheio de fantasmas. Exatamente como eu fazia quando pirralho pra ver alguma coisa da TV Cultura.

Crianças de hoje jamais saberão o sufoco que era passar a tarde inteira em pé, segurando uma antena improvisada feita de barras de metal entortadas e tubos PVC. Os sacrifícios que a gente tinha que fazer pra assistir o desenho do Rupert, vou te contar.


Enfim, os moleques cresceram, Kevin trabalha na redação sensacionalista de um jornal e Darryl é um conserta-tudo com jeito de inventor maluco, e provavelmente autista. Nunca deixam claro no filme se ele tem realmente algum desequilíbrio mental, ou atraso, ou deficiência ou algo do tipo, mas ele é escrito como um man-child alheio ao mundo ao seu redor e que constantemente tem que usar fantasia pra entender um pouco da realidade.


Após a morte da avó pelas mãos dos homens de Minelli, um mafioso local, Darryl resolve fazer justiça com as próprias mãos e tentar tornar sua vizinhança um lugar mais seguro. Sua vizinhança é infestada de gente detestável, como batedores de carteira, assassinos, drogados, gangues, e jornalistas como Kevin. A polícia não é paga há semanas, mas o novo prefeito-eleito já prometeu resolver a situação e não se curvou a Minelli, pelo contrário, prometeu investigar ainda mais o maluco.



Usando suas próprias invenções (que envolvem nunchakus elétricos, bombas de fedor e um uniforme à prova de balas), Darryl vira o vigilante local e começa a atrair olhares do mesmo mafioso que matou sua avó como de Kimberly, a jornalista que trabalha com Kevin e é provavelmente a única jornalista íntegra da redação.

Uma jornalista íntegra e um político que lembra o Bill Clinton mas é eficiente? Esse filme tá empurrando cada vez mais os limites entre realidade e fantasia.


E de fato, sem piada, talvez esse seja o maior charme e maior defeito do filme. Ele tem um drama crível e engajante, do cara que até ontem não sabia que tinha um ponto de crack em frente de casa e que agora resolve ser um super-herói, mas também das possibilidades cômicas que isso gera, com ele sendo um nerd abirobado que sente a necessidade de gritar frases de efeito durante uma briga.


O lado dramático de super-herói em sua luta em defesa da própria vizinhança,que normalmente é algo ignorado pelos heróis “maiores”, que geralmente precisam deter ameaças cósmicas de proporções épicas e que esquecem do maluco que todo dia é assaltado na porta de casa.


Claro, mesmo nos universos de heróis “grandes” existem heróis que lidam com os problemas do dia-a-dia do cidadão comum, e vira e mexe são as melhores histórias. Mas Blankman faz isso de uma forma mais crua, mais verossímil, mesmo sendo uma fantasia pra nós. É tipo MacGyver, as soluções que ele chegam são obviamente exageradas e impráticas, mas são explicadas de uma forma que tu compra a idéia num cenário realista.


Agora, ao mesmo tempo que tem o lado de super-herói, tem o lado da comédia que… É muito tentativa-e-erro. Como o Damon Wayans que tá envolvido, tem muito humor de banheiro e piada de quinta série, mas vez ou outra ele atinge um bom balanço cômico, ou a piada de quinta série simplesmente funciona num nível de narrativa. Tipo… sei lá, a vó dos caras insultando Minelli.

Essa diferenciação de realidade e fantasia fica ainda mais bizarra lá pro final do filme, onde vamos ter a batalha final entre Blankman e Minelli. Todo o estilo de fotografia do filme até agora tem sido realista com cores cruas, e o diálogo cômico, mas nada fora do dramático.


No clímax, no entanto, eles completam a paródia/homenagem à série do morcego do Adão Oeste, com ângulos de câmera inclinados, cores ligeiramente mais vibrantes, onomatopéias na tela e os heróis presos numa armadilha que os matará dentro de pouco tempo enquanto o vilão faz seu grande discurso descrevendo seu plano maligno.


É algo que é totalmente destoante do resto do tom do filme, que é uma comédia, mas uma comédia mais baseada na realidade, mais sitcom e menos fantasiosa. De alguma forma, funciona. Eu não sei como, mas funciona.

Talvez pelo próprio filme ter uma despretensão na maior parte do tempo, e Darryl ser meio pirado e ser o contraponto do resto do mundo ao seu redor e o clímax ser o fechamento da história pessoal dele. Sei lá.


Eu gosto do humor que não é de banheiro, tem um senso de comédia que por vezes chega a ser sutil e vai aumentando. Kevin é o straight man, o cara que tem que cuidar de Darryl e da avó enquanto vive sua vida normal, mas Darryl/Blankman sempre acaba roubando a cena de um jeito ou de outro. Mesmo assim, ele é peça fundamental pra que seu irmão não morra em combate, mas só Blankman é notado.

Isso nos leva a uma série de piadas nos últimos momentos do filme onde Kevin não é levado a sério de forma nenhuma, seja recebendo o apelido de Outro Cara, não recebendo os louros da vitória ou a garota, Blankman ganhando a chave da cidade e Kevin ganhando uma camisa do Blankman, ou o fato de que tiveram que pregar o nome dele na faixa de agradecimento, porque esqueceram de botar o nome dele.

É sutil, mas é o tipo de humor negro que por ser mais sutil, é engraçado.


O filme tem uns nomes conhecidos que fazem a comédia funcionar, tipo o Jason Alexander de Seifeld, Duckman e… Corcunda de Notre Dame… E Robin Givens, de… Riverdale, onde ela é a mãe da não-Josie.


Also, Joe Pollito, que faz Minelli, fez uma ponta em Rocketeer. Digo uma ponta porque eu literalmente não lembrava dele e não vou rever The Rocketeer só pra confirmar o que ele fez. Se eu for rever Rocketeer é por estar me sentindo infeliz depressivo e com uma necessidade imensa de ver Jeniffer Connely em qualquer coisa que seja.


Mas eu descobri agora que Joe é irmão de Jack Pollito, que trabalhou nos efeitos visuais de Perdidos no Espaço (a série dos anos 60), Túnel do Tempo, e dirigiu The Dancing Pumpkin.

E uma das esquetes de Damon Wayans era sobre Handiman, um herói deficiente. Outra esquete, Homie D. Clown, ganhou um jogo point and click pra PC.

Uau.


As críticas da época e recentes odiaram o filme, e eu não tiro razão. Não é um filme que vai te fazer rolar de rir, mas ele tem coração o suficiente e algumas piadas legitimamente boas que valem a pena dar uma ou outra assistida.


Pelo menos é um filme que tem uma estrutura sólida e parece saber o que fazer com os personagens e conceitos, especialmente se tratando de “cara comum enfrentando o crime inspirado em heróis de fantasia”. Darryl parece ser um personagem mais complexo do que damos crédito, eu lembro de um momento que ele aceita ser entrevistado pela repórter, ele pede que ela leve um cravo consigo. Ao terminar a entrevista, ela pergunta pra que o cravo, e ele responde “uma mulher bonita deveria sempre andar com um cravo”.

Eu gosto até de detalhes do design de produção, tipo o controle da TV ser um carrinho de controle remoto gambiarrado e uma das pernas do óculos de Darryl ser um garfo. Esse óculos mostra tanto da personalidade de Darryl que é fascinante, na real.


Claro, há momentos que não fazem sentido (exceto talvez na cabeça de Darryl), tipo ele achar que a repórter não vai gostar dele se ele revelar que ele é o Blankman. Ou pelo menos não ficou claro na versão final o porque disso.

Na real eu tou impressionado que essa seja a única produção com o personagem. Não digo uma sequel, mas talvez uma série animada de sábado de manhã. Claro, o filme tem um excesso de piada de banheiro e piada adulta (o que me faz questionar como raios eu via esse filme sem problemas quando pirralho), mas se é possível fazer  um desenho sobre Rambo e Little Shop of Horrors...


Seja lá como for, dá uma chance sem esperar muito. Não é um filme hilário, mas como filme de super-herói, é interessante.

E parabéns Harris Peet por ser um
dos poucos desenhos animados a interpretar um humano.

***
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1 comments

  1. +Kapan, gostei bastante da resenha!

    Devo ter assistido esse filme em algum ponto dos anos 2000 (não lembro exatamente o ano), e de fato devo possuir uma memória muito fraca para esse filme!

    Um ponto interessante para uma possível sequência (caso alguém queira financiar isso), seria pegar o pequeno fato do Darryl e Kevin acompanhar Batman e Robin do Adam West quando crianças e colocar como um pequeno cameo do Burt Ward (o Robin), como forma de motivar o protagonista a não desistir de seus princípios!

    No mais, estou no aguardo para o artigo sobre o filme Planeta do Tesouro e por que falhou nas bilheterias!

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