Kubo e as Cordas Mágicas
Vamos começar dizendo que eu nunca vi nenhum filme da Laika. Nem Coraline, Nem Paranorman, nem Boxtrolls. Mas eu conheço a fama do estúdio por fazer filmes em stop-motion de uma qualidade altíssima, com histórias que pendem pro lado dark que era relativamente comum nos anos 80.
Aliado a isso, Kubo tratava sobre mitologia japonesa, que eu tenho um certo fascínio. E eu realmente queria assistir no cinema, mas infelizmente não pude.
Mas isso é assunto pra outra resenha. Vamos nos ater a Kubo e as Cordas Mágicas, por enquanto.
A história nos conta sobre Kubo, um guri que vive com sua mãe numa caverna, após uma fuga desesperada pelo oceano. Sua mãe aparentemente ainda guarda traumas daquele dia, passando o dia todo num estado apático, voltando a si apenas à noite. De dia, Kubo vai até a cidade, se apresentar no mercado tocando um shamisen mágico, que o permite controlar origamis; assim, podendo contar histórias com ele.
E vemos que as histórias que ele mais conta são as do guerreiro Hanzo, onde ele enfrentava o Rei Lua. Ou Rei da Lua, sei lá como ficou na dublagem.
O negócio era, Kubo nunca poderia ficar fora da caverna durante a noite. E claro que um belo dia ele fica até mais tarde no rolê e o Rei Lua acha ele.
Sua mãe consegue salvá-lo, mas acaba morrendo durante a batalha, e agora Kubo vai ter que se juntar com uma macaca e um samurai desmemoriado e amaldiçoado pra encontrar as 3 partes da armadura de seu pai, para então derrotar o Rei Lua.
A história é de fato, um dos aspectos mais interessantes do filme. Ela é ridiculamente básica (alguns até comparam demais com Coraline), mas de alguma forma funciona. Ela segue a Jornada do Herói bem à risca, mas consegue ter seus plot twists bem montados (outros, nem tanto, mas o filme se esforça em escondê-los). A reclamação que eu ouvi nos comentários do IMDB é que o filme era muito previsível.
Aos quais eu digo "vão se lascar", porque Nightmare Before Christmas também o era, e hoje é um filme cult.
Tanto Kubo quanto Nightmare tem seus motivos pra serem extremamente previsíveis (e até certo ponto, bem formulaicos e com um diálogo meio plano/travado). Nightmare emulava o estilo de histórias pra dormir (em especial, The Night Before Christmas), que são em geral histórias simples, curtas, e fáceis de acompanhar. Raios, Tim Burton fez um poema longo e só depois adaptou pra cinema.
Kubo, por sua vez, busca o estilo de conto clássico. Pegando as referências de histórias sobrenaturais clássicas japonesas, ele tenta ser o mais simples e direto possível, mas ainda assim tentando andar com as próprias pernas, desenvolvendo e criando personagens cativantes e interessantes.
Beetle é um exemplo de personagem que poderia ser irritante (e eu realmente não culpo quem achar, ele te dá motivos pra isso), porque ele conta piada direto e normalmente são piadas imbecis. Mas ao mesmo tempo, isso faz parte do personagem desmemoriado, e quando ele precisa de um momento quieto, ou um momento sério, ele sabe ser quieto e sério. Você consegue gostar dele pela honra, pela lealdade, e pela energia que ele adiciona ao grupo.
Kubo é um personagem que poderia ser apático, ele tá na mesma posição de seu público: descobrir seu passado e realizar uma missão. Mas ao mesmo tempo ele é só um garoto, e vez ou outra faz alguma graça, ou toma um ato impulsivo típico da idade.
Então sim, a história é bastante direta e o diálogo é meio previsível, mas ele não tenta ser nada mais que uma aventura, tomando como base contos clássicos sobrenaturais japoneses.
O que realmente torna esse filme memorável é a animação e os designs dos personagens.
A animação é simplesmente soberba. Os bonecos são extremamente bem articulados e os rostos são bem expressivos. Utilizando misturas de técnicas (os rostos são feitos em impressoras 3D usando como base modelos digitais; e em alguns momentos CG é usada pra adicionar ou realçar um ou outro efeito), o filme consegue ter uma variedade maior de personagens e de conceitos. Os personagens principais são bastante simples, se comparados aos inimigos. Eu simplesmente amo os designs das tias de Kubo, bem como o esqueleto gigante e o monstro do clímax.
Mas os protagonistas também merecem sua atenção, já que o estilo que foram desenhados remetem a desenhos ukiyo-e, mas tendo uma originalidade moderna.
E as coreografias, rapaz! Dignas de um filme de ação strogonofficamente exagerado, mas com a liberdade que a animação permite, o que torna as cenas mais naturais. Não tem tantas cenas de luta, mas as que tem, são o suficiente pra empolgar.
2 comments
Adorei! Eu adoro ver Matthew participando de filmes, sigo muito os filmes deste ator, sempre me deixa impressionada em cada nova produção, Muito interessante! O trailer foi a chave para captar o espectador, é um dos melhores do gênero. Eu amo assistir filmes de drama, e acho que é uma boa opção para o fim de semana, as atuações são ótimas. Desde que vi o elenco imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos de Hollywood. O filme superou as minhas expectativas, realmente o recomendo.
ResponderExcluirEu não consigo associar grandes nomes a grandes produções... Dá pra pegar um elenco só de nome conhecido e ainda ser uma bomba, ou fazer um filme com gente desconhecida mas absurdamente talentosa. Kubo me atraiu pelo visual mesmo, que é diferente de tudo que tem hoje (que geralmente tenta seguir um padrão de estúdios grandes, como Disney ou DreamWorks. Alguns ainda conseguem achar seu próprio estilo, tipo a Ilumination e a Aardman)
ExcluirMas sim, é um filme ridiculamente perfeito pro fim de semana, é um filme pipoca, sabe o que é e tenta se divertir sem forçar algo que não é.
Obrigado por comentar!