Batalha de Versões - Ponte para Terabithia
Muitas vezes bons livros conseguem se tornar populares o suficiente para caírem na boca do povo, fazendo com que sua demanda seja cada vez mais alta até chegar no mais alto dos patamares a que um livro pode chegar, tornar-se um filme. Toda uma expectativa para com os fãs da obra, contratação de atores, todos os cenários que o leitor idealizou em sua mente ali! Ao alcance de seus olhos mais visível do que nunca e... A adaptação da história para que ela possa se encaixar em um filme acontece.
Não me entendam mal, na trajetória das adaptações, muitas conseguirem ser o mais fieis possíveis a história original, outras nos trouxeram um novo modo de enxergar aquilo que já conhecíamos sem desmerecer a obra original. E... temos ponte para Terabithia.
Enquanto o livro nos enriquece com diversas informações sobre família, amizade, vida escolar entre muitos outros aspectos da vida de um pré-adolescente (com alguns estereótipos bem fortes, mas que na visão do livro são bem esclarecidos) o filme cria um universo que não só confunde quem está assistindo, mas até mesmo os personagens presentes em sua trama.
Então vamos lá, o filme “Ponte para Terabithia” dirigido por Gábor Csupó (O segredo do vale da lua) foi lançado em 2007, baseado em um livro de mesmo nome escrito pela autora Katherine Paterson e publicado no ano de 1977(1999 no Brasil). Ambos contam a história de Jesse Aarons, um garoto que sofre de bullying na escola, tem problemas em casa, sua família é pobre e é o único filho homem entre cinco filhos. Um dia, um casal se muda para uma casa perto da sua e ele conhece a filha deles, Leslie Burke que apresenta uma imaginação que consegue cativar o garoto iniciando assim uma amizade. Ambos acham um lugar na floresta que decidem chamar de Terabithia, um reino (de faz de conta ou não) em que eles eram Rei e Rainha e podiam escapar das dificuldades que enfrentavam na escola e em casa.
Como proposto pelo meu excelentíssimo mestre Kapan, teremos uma batalha de versões entre o filme e o livro! Dentre alguns aspectos presentes, vou compara-los (da melhor forma possível) e direi qual é a melhor versão.
Vou deixar bem claro, não estou dizendo em momento algum que o filme é ruim. Somente que o livro pode se sobressair em alguns detalhes. Se discordar de algum ponto, vamos conversar e debater um pouco sobre com muito amor carinho no coração ok?
E vamos ao que importa, BATALHA DE VERSÕES -> START!
1- História
De forma simples, ambos apresentam a mesma história, os garotos se encontram, uma amizade começa, eles “criam” Terabithia e o resto alterna entre a terra mágica, escola e acontecimentos nas casas de ambos. No ponto da história pura e simples o filme foi extremamente fiel. O problema começa quando você quer entender os porquês da história e eu vou exemplificar.
Os problemas de Jesse em casa, o pai ignorar ele, a mãe também não aparentar dar muita atenção, só quando tem alguma ordem ou trabalho para dar; as duas irmãs mais velhas são chatas e mimadas e as duas mais novas são um ótimo exemplo daquele estilo de criança de filmes antigos, meio manhosas, mas sem maldade no coração. No filme, quando você tenta entender o porquê da relação entre Jesse e seu pai ser tão vazia...
Nop, nada que te explique de forma concreta isso. Você sabe que tem algo, pode até imaginar, mas o filme não te dá a certeza e o mesmo se aplica a mãe, o tratamento dela com as filhas é diferente do que ela dá ao garoto, e nunca lhe é explicado isso. A forma como Jesse se sente também nunca é explorada, ele só fica com um olhar sério de como se ele não se importasse com mais nada.
Enquanto no livro, enxergamos a
carga emocional que tudo isso pesa no Jesse, como ele realmente se sente mal
pela distância que ele tem com o pai e como ele sente falta de um carinho que
nunca teve.
“Jess viu o pai parar o caminhão e se inclinar para destravar a porta,
para que May Belle pudesse entrar. Virou-se para o outro lado. Menina de sorte.
Ela podia correr para junto do pai, abraçá-lo e dar um beijo nele. Era uma
coisa que dava um aperto de dor por dentro: toda vez que Jess via o pai pegar
as pequenas e pôr nos ombros, ou se abaixar para abraçá- las. Tinha impressão
de que fora considerado grande demais para essas coisas desde o dia em que
nascera. ”
E logo após:
“— Hoje você se atrasou um pouco com essa
ordenha, não foi, filho?
Foi a única coisa que o pai disse diretamente a ele, a noite toda. ”
Você consegue sentir o peso dessas palavras. O jeito como Jesse ficou, como ele se sentiu.
Também temos a forma como a mãe atende aos caprichos das filhas mais velhas (do jeito que a família consegue, mas atende) e... Temos o Jesse.
“— Vamos, Jesse. Vamos acabar com essa preguiça e levantar logo desse
banco. As tetas de Miss Bessie já devem estar quase arrastando no chão, de tão
cheias de leite. E você ainda tem que ir colher vagem.
Preguiçoso. Então o preguiçoso era ele. Deu mais um minuto de descanso
à cabeça em cima da mesa. ”
Senhoras e senhores, quem realiza praticamente todas as tarefas daquela casa é o pobre Jesse, enquanto as mais velhas reclamam por aí ou saem com amigos e as mais novas são muito jovens para realizar as tarefas.
A fixação de Jesse pela grande corrida que acontece nos recreios da escola. Vejam bem, esse é um ponto bem emocional da história.
No livro, Jesse treina todos os dias das férias de verão (faça chuva ou faça sol) para as corridas do recreio por que ele deseja a atenção do pai.
“Talvez o pai ficasse tão orgulhoso que até se esquecesse de como
ficava cansado de viajar diariamente a Washington, e de cavar e carregar peso o
dia inteiro. Ia até deitar no chão e brincar de luta com ele, como costumavam
fazer havia muito tempo. O Velho ia ficar surpreso ao constatar como ele tinha
ficado forte nos últimos dois anos. ”
Some isso com a falta que ele sente do pai e a inveja da atenção que as mais novas ganham e pronto! Você consegue sentir a dor do garoto.
Enquanto isso o filme nos passa a impressão de que o Jesse quer ganhar a corrida, por ganhar. Só isso. Sério. Ele PRECISA ganhar. Só. Por que? Não tem, ele quer ganhar, tem que ganhar. Fim.
A corrida nos leva a outro personagem, a doce Leslie. O filme meio que nos apresenta uma noção de tempo até que a relação dos dois garotos fiquei mais forte, porém... não é tão bem trabalhado como deveria ser. Me desculpem, mas eu sempre tive a impressão que no filme o Jesse via ela como uma menina doida e que ele relevava isso por que ao mesmo tempo ela era legal e dava atenção para ele. Quando comparamos a forma como a amizade deles foi construída no livro, o que é apresentado no filme é muito fraco. Num contexto básico do filme funciona, porém, após assistir algumas vezes você começa a estranhar como a amizade deles foi desenvolvida ao longo do filme.
Vamos a um veredito. A história do filme funciona, porém, após assisti-lo mais de uma vez, algumas inconsistências começam a aparecer, o que passa a ser um pouco incomodativo. O livro por outro lado tem uma história bem sólida, a carga emocional é mais pesada e clara, e a forma como a história é explorada encima do personagem principal e dos secundários é precisa, informando exatamente aquilo que é preciso para se entender cada personagem.
Filme 0 x 1 Livro
2- Personagens principais
Aqui começamos a ter divergências um tanto quanto grandes entre livro e filme. Jesse e Leslie são bem interpretados no filme, porém sua profundidade não consegue chegar no mesmo ápice da obra original.
No filme, Leslie parece uma garota.... Diferente. Como eu disse anteriormente, se dá a impressão de que o próprio Jesse por um tempo não acha ela muito normal, algumas vezes tive a impressão que ele olhava pra ela como se fosse uma doida e isso realmente não é muito distante do que a personagem apresentada realmente aparenta. Enquanto no livro Leslie é uma personagem doce, curiosa, um tanto inocente e realmente, diferente no seu jeito de ver o mundo, o filme explorou isso ao extremo, transformando a garota naquela típica adolescente diferente de todos, que age estranho e pensa estranho. As melhores qualidades foram exageradas demais. No filme funciona? Sim. A atriz é cativante. A personagem é um clichê exagerado. (E isso não torna a personagem ruim, só... é estranha)
O Jesse também teve suas características exageradas no filme. Ele é quieto? Sim. Mas não é tão antissocial quando o filme dá a entender. Ele vive em uma situação difícil, sua vida em casa e na escola não é fácil, ele é uma criança TIMIDA, mas não tão grosso quanto o longa apresenta.
Todo esse exagero auxilia e complica ao mesmo tempo quando tentamos entender a amizade dos dois, funciona ao mesmo tempo que força a relação dos dois.
Os sentimentos do personagem são mais bem explorados no livro, o que é o esperado, afinal, É UM LIVRO, mas isso não deveria impedir o filme de conseguir o mesmo. A trilha sonora oferece uma grande ajuda nesse quesito, mas expressar os sentimentos do personagem ao longo do filme foi confiado totalmente nas expressões do ator.... O que não funcionou tão bem assim.
Jesse com olhar de peixe morto o filme todo se expressando no filme.
Os personagens no contexto isolado do filme são bons e funcionam, mas estamos numa batalha de versões, e é impossível negar que o livro aborda melhor os personagens principais e sua relação.
Filme 0 x 2 Livro
3- Terabithia (Terra encantada ou não tão encantanda assim)
Sim, vamos comparar a terra mágica em que os dois “viveram”
suas aventuras.
O filme ganha um ponto fácil nesse tópico. Por que? Por que eu quero. No livro, é fácil você esquecer de terabithia, ele se foca mais na vida dos dois garotos na “vida real” e terabithia serve mais como uma válvula de escape. Aquelas brincadeiras que toda criança tem de um lugar só deles, logo, a terra mágica fica em segundo plano na história. O filme lhe dá um pouco mais de destaque e o torna especial, pelos efeitos bem feitos e pelos adolescentes em boa parte do filme estarem interagindo com terabithia de alguma forma. Isto nos ajuda a ver uma coisa: O filme é um pouco mais centrado na história ao redor de Terabithia em conjunto com os eventos da vida dos garotos, enquanto o livro tem seu real foco na vida deles e em seu relacionamento.
Então sim, ponto para o filme!
Filme 1 x 2 Livro
4-Momento de impacto supremo
SIM,
ESSE É O NOME DO ULTIMO TÓPICO. (Não me julguem)
Ao final do filme e do livro temos um momento emocional muito forte, que é efetivo no filme e no livro. Por que darei o ponto para o livro se os dois tiveram êxito? Muito simples.
Como falei lá em cima, o pai de Jesse não liga para o garoto. O pai mostra isso no filme, mas não vemos isso refletido tão bem no personagem durante a história. No final, quando Jesse está desesperado o pai corre atrás dele e o abraça. A cena funciona por que o clima do filme a carrega, mas individualmente ela não consegue ser efetiva como o livro, o qual fica claro que o pai foi atrás do filho, entendeu e abriu seus braços para ele. É sério. O garoto fica destruído e no filme e pai dá suporte para ele. Pode parecer pouca coisa(e no filme ainda soa como algo normal, afinal o pai tem que ajudar o filho), mas em todo o contexto do livro, isso faz muita diferença.
Com relação ao resto da “cena destruidora”, a reação de Jesse é a mesma em ambas as mídias e foi bem representada se não fosse o fato do Jesse ficar com a aquela cara o filme todo.
Filme 1 x 3 Livro.
É injusto comparar livro com filme? Talvez. O livro tem mais espaço para trabalhar com os personagens, porém os fatos que eu coloquei aqui poderiam ter sido mais bem trabalhados no filme também, mas não foram. Isso não torna o filme ruim, entretanto quando lemos o livro e analisamos o que o filme poderia ter sido, e não era uma realidade tão distante, só alguns pequenos ajustes de roteiro e direção, o livro é melhor, com o filme um pouco atrás dele.
Vencedor: Livro
NO FIM O LIVRO GANHOU. Mas eu gostaria de dar um ponto extra na questão da trilha sonora para o filme, que ajudou muito na construção de muitas cenas. (Posso fazer isso? Não sei, agora posso.)
RESULTADO FINAL FILME 2 X 3 LIVRO!
Obrigado para aqueles que leram, recomendo tanto o livro quanto o filme para aqueles que ainda não os viram e tenham paciência e fé, estou começando minhas resenhas aos poucos. E se tiverem erros a culpa é do Kapan.
Vejo vocês na próxima resenha
1 comments
hi, I mean you were very good on this site
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