Parece que resgatar contos de fadas e dar uns retoques têm virado moda. Especialmente por parte da Disney. Da mesma forma que descobriu-se lucrativa a adaptação de contos de fada nos anos 30 (e foi o que salvou a Disney no fim dos anos 80), parece que a Disney descobriu uma nova fórmula mágica: refazer os filmes.
Por N motivos, o cinema tem feito essa estratégia há um tempo. E não me entendam mal, às vezes é interessante recontar uma história de outro ângulo, ou com novos elementos. Mas é algo que precisa saber ser feito. Raios, Oz The Great and Powerful era uma história nova, uma fanfic de luxo, e ainda comete uns buracos argumentais do tamanho de melancias.
Agora o negócio é aproveitar as IP's da própria Disney. Algumas vezes funciona (Kingdom Hearts) e outras vezes não.
Com isso dito… Descendentes.
Eu não consigo citar o plot sem contar os plot holes, então vamo lá.
O Rei Fera, após ser liberto de sua maldição, unificou os reinos e baniu todos os vilões (e mais um pessoal que devia ser ladrões menores, políticos e cozinheiros que botam frutas na salada de verduras) pra uma ilha protegida por uma barreira mágica.
Mas o filho deles, Ben, vai ser coroado rei (não me pergunte como raios funciona a política de lá), e a primeira ordem dele é liberar o acesso a algumas pessoas da ilha banida.
Os filhos dos vilões Cruela DeVil, Malévola, Rainha Má, e Jafar. Em ordem, Carlos, Mal, Evie e Jay.
Vamos ignorar por um segundo que todos esses vilões deviam estar mortos (e que especialmente a Rainha Má teve uma das mortes mais cruéis dos longas da Disney). Mas se estamos dispostos a aceitar todos eles no Point do Mickey (embora lá a ideia é mais a de que eles são atores), também estamos dispostos a ignorar que são todos de época e lugares diferentes.
Mas eu divago.
O plano de Malévola é simples: botar a pirralhada dentro do colégio pra então roubar a varinha da Fada Madrinha e então se vingar da galera toda.
Mas os guris acabam se entrosando e agora tem que decidir se vão seguir seus pais ou os próprios corações e blablabla.
Vamos começar pelo mais rápido. O visual é bonito. Os cenários são bem estruturados, as roupas são marcantes e passam bem a personalidade de cada personagem. As atuações são ok, eles entregam o que foi pedido, mas a Dove Cameron tem um estilo bem interessante de atuar. Ela parece sempre estar analisando alguma coisa, maquinando algo, mas, ao mesmo tempo, parece fofa. E ela faz um equilíbrio interessante entre esses elementos e ficar confusa quando o plano não dá certo ou quando tem que enfrentar a própria mãe.
Hey, não venha reclamar de spoilers, eu estou lhe fazendo um favor.
Agora sente-se, vou falar do que não funciona no filme.
O roteiro é PÉSSIMO. Nenhum dos personagens são personagens, parecem ser mais as impressões de uma criança de 5 anos sobre os vilões. Todos eles, em suas encarnações originais, tinham orgulho, graça. Jafar era manipulador, e agia como tal. A Rainha Má era uma rainha orgulhosa. Malévola era elegante no agir e no falar. Até Cruela tinha mais dignidade do que aqui.
Minha reação aproximada
depois de 6 minutos de filme.
(imagem por Guilherme Dea)
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Todos eles estão caricatos demais. Em excesso. Há um momento onde a Rainha Má diz que quer a cintura antiga de volta. E pelo amor do Plank, o que aconteceu com a Malévola? Ela agora anda quase saltitando, dá gritos até na hora de cantar (já já chegamos lá). Até a atuação plana e sem emoção da Angelina Jolie tem mais dignidade do que essa.
Como raios a gente salta da Malévola original, que parecia a prima fina e britânica da Bruxa Má do Oeste pra maldita Rita Repulsa?
Não, sério! Ela é praticamente a Rita Repulsa! Pense um pouco sobre isso: chifres, gritos, piadas idiotas e previsíveis sobre ser má, planos de dominar o mundo...
Eu nem consigo fazer uma piada com essa cena. |
E uma coisa que eles nunca explicam: se eles são filhos dos vilões, quem são os cônjuges? Quem é a esposa do Jafar? Que tipo de homem se apaixonaria por Malévola? Embora eu talvez nem deva perguntar porque imagina o tanto de piadas dolorosas que eles fariam, tornando o filme ainda mais longo, inclusive. Mas uma explicação seria necessária.
Raios, se não consegue pensar em algo melhor, diz que criou eles com magia. Criou clones baseados nos vilões e deixou eles crescerem. Sim, eu sei, foi usado em Star Wars, mas quem se importa? ESSES VILÕES DEVIAM ESTAR MORTOS E-
...*suspira*
Outro ponto que me deixou meio irritado foi o casting. Não exatamente dos filhos, mas mais dos vilões. Em especial a Cruela, que agora é negra.
“AAAHH KAPÃO RACISTA DEIXA EU DENUNCIAR NO HUMANIZA REDES” Vá pra merda.
Meu ponto é, Cruela De Vil é pálida e extremamente magrela, e isso é uma linguagem visual crucial pro desenvolvimento da personagem. Vão incluir gente de etnia diferente? That's fine, go ahead, mas pelo menos mantenha a identidade visual dos personagens. Já que, cê sabe, teoricamente são os mesmos personagens dos longas originais, e isso não é um reboot geral. Mesma coisa com a mãe da Bela Adormecida.
O Jafar mais gordinho até encaixa, imagino que a vida na ilha seja um tédio e ele prefira ficar enchendo a cara de Doritos e guaraná de caju vendo a sétima reprise de Friends, mas… Ele simplesmente não parece Jafar. Dou crédito pro ator tentar imitar a voz do personagem, mas o roteiro não ajuda muito.
O desenrolar do filme em si não é tão ruim. Quando se foca nos filhos se envolvendo com o colégio, descobrindo coisas boas, ao mesmo tempo que tentam levar adiante o plano, por quererem provar pros pais que são capazes n'stuff. Nesses momentos, lembra um filme básico do Disney Channel, o que acaba sendo uma lufada de ar fresco.
Até que o filme vez ou outra nos mostra os vilões e suas atuações horrendas e seus diálogos medonhos e as músicas…
...sim...falemos das músicas…
Lembra como High School Musical era ridículo, mas ao mesmo tempo era um produto de seu tempo e seu valor atual é basicamente assistir e dizer “nossa, como a gente era idiota”?
É mais ou menos o que temos aqui. Só que é irritante, graças ao excesso de autotune.
E algumas letras são tão sem inspiração que faz aquela tua redação de 20 linhas sobre a imigração dos cubanos parecer uma tese de mestrado.
E outras letras são só Disney-teen básico mesmo.
Sem esquecermos do falecimento de Be Our Guest.
Oh, yeah. Temos uma versão autotunezada de Be Our Guest.
Curiosamente o diretor dessa batida de trem também dirigiu os 3 High School Musical.
E This is It.
Os atores fazem o máximo que podem pra dar carisma aos personagens. |
Eu nem tenho palavras pra descrever o quão ruim é esse filme. Ao iniciar o filme com tantos problemas no exterior e interior dos personagens clássicos da Disney, faz com que notemos os outros erros muito mais. E o fato deles trazerem esses personagens de volta constantemente durante o filme, bem como os musicais irritantes só piora as coisas.
Eu estava disposto a aceitar a filha de Mulan, mas quando ela apareceu, imediatamente a forma de falar dela me irritou, bem como a forma que ela atuava. Me fez notar mais os erros, por justamente ter um início tão ruim que foi nos lembrado durante todo o filme.
Se você quer algo novo que realmente trate os personagens Disney com o devido respeito que merecem e traduzidos de forma mais próxima possível, vá ler Princesa Kilala ou se aproxime da franquia Kingdom Hearts, seja nos jogos ou quadrinhos.
Se você quer um filme bobinho-teen com dor e sofrimento, assista Descendentes. Não vai se arrepender.
Ou vai se arrepender de qualquer jeito, sei lá.
Mais imagens a seguir (a maioria das expressões da Dove Cameron. Não reclamem, as reações dela são uma das coisas boas do filme.)
Dat concept. |
AS PIADAS ELAS SE ESCREVEM SOZINHAS |
Acho que já é seguro dizer que a Evie lembra a Tati Zaqui. Só que bonita. |
***
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2 comments
Obrigado. Agora não preciso mais assistir isso. Os comerciais já me deixavam com um pé atrás.
ResponderExcluirParticularmente me parece aquelas ideias que já estão mortas desde o início. Não sei, acho que eles estão pensando na direção errada... Acho que o publico que assistiu aos filmes quando criança não são o mesmo publico que assiste seriados Teen do mesmo naipe desse filme.
Mas acho que se eu fosse assistir, seria só para rir. Digo... Se eles são a "nova geração de vilões", então acho que não precisamos mais de heróis, pois a polícia e o conselho tutelar já deve ser capaz de cuidar deles :P
Mas ao menos o positivo é que realmente foram lá para dar continuidade a um plano maligno dos pais. Eu já imaginava que seriam um conjunto de adolescentes que preferem se preocupar mais com romance do que com dominar o mundo.
Assim que eu vi a propaganda pela primeira vez, eu pensei "isso é um aborto de filme, a ideia já tá morta. bom, os vilões já tão mortos, então o filme já tá morto". Mas aí eu resolvi aceitar como um universo paralelo, porque, como eu falei, House of Mouse usa toda a galera viva, e até cria buracos argumentais (Ariel aparecendo de sereia fora d'água e em outro episódio aparecendo como humana). Mas são conceitos e contextos totalmente diferentes.
ExcluirE sim, o conceito de ter filhos de vilões levando o legado é daora, mas... Não são os vilões originais. Simplesmente isso.
E dava pra ter explicado melhor como raios funciona esse mundo (já que eu imagino que seja uma realidade paralela) e de onde raios brotou essa gurizada toda. Surgiram por magia, foram adotados, clonagem...?
O filme TEM ideias boas, fato. E conceitualmente algumas funcionam (filhos pra dar continuidade aos planos malignos), mas falha em todo o resto.
Exceto na Dove Cameron, que tenta dar o melhor que pode.