Às vezes um crítico pode errar. Às vezes ele tá tão atolado em filmes pra ver, que quando aparece, sei lá, um Ameaça Fantasma da vida, na época eles dizem ser a melhor coisa que a humanidade já fez desde batata frita congelada. Pode levar um tempo pra público e crítica perceberem a merda que o filme é, seja pelo hype ou algum fator do tipo.
Claro, isso parte muito daquele sentimento de querer desesperadamente gostar de algo, e ignorar todas as falhas e buracos argumentais do tamanho do Estado do Amazonas que o filme (ou série, ou jogo, sei lá) tenha. Ou às vezes aquela opinião vem de uma formação diferente.
Eu, por exemplo, gosto muito de apreciar a idéia por trás daquilo, mas eu tento não fechar os olhos pras falhas que possam ter (que é o que me faz gostar mais da franquia da Sininho, mas divago). E talvez seja por isso que eu tenha gostado de Magia Estranha, ao contrário de... Bem, todo mundo.
Mas o que torna esse conto de fadas semi-shakesperiano produzido por George Lucas tão... estranho? E mais importante, é um estranho bom ou um estranho ruim?
Strange Magic nos leva a um reino fantasioso onde há duas metades: uma linda, florida, bela, ensolarada e verdejante metade onde habitam seres maravilhosos como fadas, elfos, gnomos, e a Téa Leoni. Enquanto isso, o outro lado é feio, sombrio, nojento, habitado por goblins, sapos, cogumelos falantes, insetos e o Pedro Bial. A princesa Marienne, do lado das fadas, está de casamento marcado com Roland, o Gaston local, que fisicamente lembra mais o Príncipe Encantado do Shrek, só que com 10% do carisma de ambos.
Entretanto, poucos momentos antes da cerimônia, ela vê Roland com outra garota, se enche de fúria, acaba o casamento e começa a fase de adolescente gótica independente sem acreditar no amor.
OH! A LAMÚRIA! OH! A DOR!
Enquanto Marienne ouve Kelly Clarkson e faz treinamento jedi pra se defender sozinha, sua irmã Dawn vive a paquerar com todos os caras disponíveis, ignorando o melhor amigo, o elfo/gnomo Sunny, que é louco pela fada loira.
Mas então Roland convence Sunny a ir na parte sombria pra se encontrar com a Fada do Açúcar pra que ela faça a Poção do Amor, que resolveria o problema dos dois. Mas Bog, o rei da parte sombria, não quer que tal poção exista, e acaba interferindo na missão e badabim badabum, cê sabe pra onde isso vai.
E talvez esse seja o maior trunfo e maior defeito do filme: cê SABE pra onde isso vai. Talvez uma ou duas surpresas, mas o geral cê vai prever.
A história é incrivelmente previsível, guiada por personagens clichês e pouco interessantes. Marienne é a típica menina que teve uma desilusão amorosa e decidiu fechar seus sentimentos; Dawn é o completo oposto, mas não nota que seu melhor amigo é apaixonado por ela; e Roland é o Gaston chato, eu acho que já deixei isso bem claro.
Não há um personagem que se destaque, há apenas potenciais destaques. Bog tem uma história interessante, mas que não é bem explorada; não passamos tempo suficiente com Marienne, ou com Sunny ou com Dawn... E esse é o problema.
Esses personagens deveriam ter química, deveriam ter relações interessantes. Mesmo que eles tentem de última hora fazer algo entre Bog e Marienne (que argumentalmente deveria funcionar), o desenrolar é forçado, bem como as interações entre os personagens. É muito mais crível o relacionamento entre Sunny e Dawn, e olha que nem sabemos muito sobre eles como amigos.
É quase o clichê que há em Matrix, o de termos um casal na frente do pôster, logo, pela Convenção Universal do Público, devem ficar juntos mesmo tendo tanto em comum quanto Roberto Carlos cantando Night of Fire. Bog e Marienne devem ficar juntos porque... Bela e a Fera!
Se bem que eles ainda parecem ter mais química que a Leite Moça e o TeraBeast.
Entenderam? Porque o Fera foi feito em CG! Computação Gráfica! Bites e bytes e...
...meu Deus, eu preciso sair mais de casa.
É quase o clichê que há em Matrix, o de termos um casal na frente do pôster, logo, pela Convenção Universal do Público, devem ficar juntos mesmo tendo tanto em comum quanto Roberto Carlos cantando Night of Fire. Bog e Marienne devem ficar juntos porque... Bela e a Fera!
Se bem que eles ainda parecem ter mais química que a Leite Moça e o TeraBeast.
Entenderam? Porque o Fera foi feito em CG! Computação Gráfica! Bites e bytes e...
...meu Deus, eu preciso sair mais de casa.
O resto dos personagens é incrivelmente esquecível ou copiado porcamente de algum lugar. Projeto de Agonia e Pânico de Hércules? Yup. O Rei que tem menos de meia dúzia de falas no filme mas é dublado por ator conhecido, então ajuda a promover o filme? Confere. A única personagem de apoio memorável é a mãe de Bog, mas de uma forma meio irônica, porque ela é incrivelmente deslocada do contexto, mas não faz muita coisa com isso.
Mas ao mesmo tempo, o filme consegue ser interessante. Os designs são excessivamente detalhados e até pouco inspirados (pra efeito de comparação, Epic saiu dois anos antes e parece ter um mundo menos detalhado, mas mais interessante, pelos trailers. Aliás, esse é outro filme que ninguém viu né?), mas com o tempo é algo que se acosutma e até se entende a direção que eles queriam com tudo.
Tudo tem uma pegada meio Arthur e os Minimoys e Epic, só que mais realista, um meio-termo entre os dois filmes. E de alguma forma, funciona. Aos trancos e barrancos, mas funciona. E obviamente, não é um bom sinal.
E é uma pena, porque os caras da Lucasfilm de fato são talentosos, tanto a equipe das texturas, iluminação, rigging e o raio a quatro, como os animadores e modeladores. É uma equipe criativa e habilidosa, mas parece que a direção aqui não foi muito acertada.
Eu ACHO que a idéia visual era parecer um daqueles desenhos de contos de fada, tipo os do Michael Hague, só que atualizados. Mas assim... Não é um estilo que qualquer um saiba usar. Raios, tem desenho do Michael Hague que eu não consigo gostar. Eu sinto que tem técnica ali, que o cara sabe o que tá fazendo, mas que o resultado final acaba sendo meio bagunçado, meio sem foco, e às vezes até antiquado no sentido ruim.
Mais ou menos, foi o que eu senti aqui: uma equipe que tem as técnicas, sabe como usar, mas que em algum momento se perdeu e acabou virando uma bagunça visual.
Provavelmente é o excesso de detalhes, que acaba poluindo a fotografia e não casando bem com os personagens concebidos. Tipo o que aconteceu em O Bom Dinossauro e algumas cenas de Malévola.
Eu ACHO que a idéia visual era parecer um daqueles desenhos de contos de fada, tipo os do Michael Hague, só que atualizados. Mas assim... Não é um estilo que qualquer um saiba usar. Raios, tem desenho do Michael Hague que eu não consigo gostar. Eu sinto que tem técnica ali, que o cara sabe o que tá fazendo, mas que o resultado final acaba sendo meio bagunçado, meio sem foco, e às vezes até antiquado no sentido ruim.
Mais ou menos, foi o que eu senti aqui: uma equipe que tem as técnicas, sabe como usar, mas que em algum momento se perdeu e acabou virando uma bagunça visual.
Provavelmente é o excesso de detalhes, que acaba poluindo a fotografia e não casando bem com os personagens concebidos. Tipo o que aconteceu em O Bom Dinossauro e algumas cenas de Malévola.
O ritmo narrativo do filme é meio zoado, mas não é impossível de acompanhar. Se bem que eu fui interrompido constantemente durante o filme, então não posso falar muito sobre isso. Mas a história flui naturalmente, e os personagens conseguem se manter em suas características e desenvolver a história.
A única coisa que se salva no filme são as músicas. Na real, eu só descobri que que era um musical jukebox quando eu fui de fato assistir.
...cê sabe, musical jukebox. Quando o filme tem os personagens cantando músicas que já existem e que se encaixam naquela situação, como Mamma Mia!, Across the Universe, Moulin Rouge e Cantando na Chuva.
A escolha de músicas é bem eclética. Na verdade, chega a ser engraçado, vamos de Bob Marley a Elvis Presley e Deep Purple em questão de minutos. Algumas performances são... Ruins, mas outras são tão exageradas que acabam sendo divertidas.
Por exemplo, Sunny cantando Three Little Birds chega a ser cômico de tão formulaico e clichê, mas a música na abertura (que eu nem lembro mais), Stronger, e as que o Bog canta se encaixam bem na história e os atores conseguem dar uma performance agradável.
Claro, tem momentos como quando a Dawn começa a cantar I Can't Help Myself o próprio filme é auto consciente de que é irritantemente meloso. Mas pro público, não é tão ruim quando a execução desse clichê.
É... Complicado. Eu realmente quero gostar desse filme, mas tudo que ele se propõe a fazer é medíocre. Os designs são interessantes, mas o mundo concebido não compartilha desse nível de atração; os personagens são desprovidos de carisma e alguns chegam a ser clichês ambulantes; e algumas músicas não são bem executadas.
Entretanto, ele pode ser uma Sessão da Tarde boa. Quando cê tá com nada pra fazer, quer ver algo novo, mas ao mesmo tempo com uma sensação familiar, esse filme pode ser uma boa pedida. Ele tem bons momentos o suficiente, e dá pra tirar sarro dos maus momentos. O roteiro é previsível demais, o que te deixa numa posição confortável, mas ainda joga um ou outro elemento novo, que dá um ar de novidade.
Mas infelizmente, dá pra ver porque a Disney não quis arriscar distribuir esse filme na linha principal, jogando pra Touchstone fazer o serviço. Eu poderia dizer que depois de Marte Precisa de Mães eles não querem mais arriscar, mas ele veio no mesmo ano de Gnomeu e Julieta, outro filme family-friendly que usa referências Shakesperianas... E que provavelmente também foi tão mal divulgado como Strange Magic.
O filme falha no âmago que se propõe a fazer: quer falar sobre amor com personagens e narrativa que não tem amor. Poderia ter sido algo mais, mas acaba sendo divertidinho sem muita pretensão, o que pode ser um motivo pra irritar profundamente alguns.
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