Aladdin (2019)


Enquanto Bob Iger não resolver tomar UMA decisão certa em relação aos remakes (Caldeirão Mágico, Espada Era a Lei), vamos continuar nas apostas certas. Ao menos nas que dêem alguma grana, porque o contrato do maluco tá pra acabar e ele quer sair em grande estilo.

Foi esse tipo de decisão que nos deu essa enxurrada de Remakes sem vida (Alice), sem sal (Cinderela) ou que simplesmente destróem o original, cagam em cima, e ainda esfregam na sua cara e dizem que é chocolate (Hermione e Zé Colméia), mas que graças a um departamento competente de marketing, fizeram grana.
Exceto Oz e Pete's Dragon porque ninguém além de mim se importa com esses filmes.

Mas ao menos essa maré tem mudado recentemente. Mogli ainda parece perdidaço no que quer realmente ser, mas ao menos tem boas intenções. Cinderela embora seja sem sal e tire parte do que a personagem-título seja, tem algumas mudanças interessantes e que complementam bem a história do longa de 1950. Pete's Dragon, Christopher Robin e Mary Poppins Returns foram a salvação dos remakes, já que o primeiro é uma competentíssima releitura do filme original (inclusive com o sentimento final de "ok"), e Christopher Robin/Mary Poppins conseguem ser sequências similares em moral, mas que respeitam tanto os filmes como os livros originais.

Aladdin segue essa mesma linha desses três últimos, dando liberdade a gente que compreende a obra original e suas diferentes interpretações.


Em tempo, a Dalia parece com a Angelina Jolie. Eu e minha amiga passos o filme inteiro com a sensação de que ela lembrava alguém, sem saber exatamente quem. Só agora quando eu vi ela sem a maquiagem e figurino no IMDB eu descobri. Angelina Jolie.
Misturada com a Sandra Bullock. Ou o contrário. Enfim.


ALADDIN ROUBOU PÃO NA CASA DO JOÃO
Aladdin nos conta a história do ladrão pé-rapado árabe que se chama Jamil e Uma Noit-Aladdin, o nome dele é Aladdin. Ele vive tranquilamente sendo um mão-leve com um senso de honra, quase um Robin Hood das arábias. Até que numa bela manhã de sol... Porque é claro que é de sol. Estamos no deserto. Aladdin se encontra com a princesa Mila. Digo, Jasmine. E eles passam mil e uma noites de amor juntos na praia, num barco, num farol...

...

Esse foi o a pior piada com o pior build-up e pior punchline que eu já fiz na vida. Agora já foi, não vou editar isso.

Hey, eu já contei o plot com descrições fortalezenses pro filme, eu não ia reciclar piada. Eu não sou preguiçoso, ao contrário dos profissionais muito bem pagos.

Ok, acontece que ele não sabe de primeira que ela é a princesa, ele acha que ela só trabalha no palácio como serva ou algo assim, e logo os dois se engraçam um pro outro. Mas Jafar, o vizir real tem outros planos pro moleque. O maluco cuja voz na dublagem sofre do mesmo mal da Elsa e do ranger preto em Power Rangers RPM tem planos pra tomar o reino de Agrabah e assim levar o reino a uma era de prosperidade, crescimento, e exércitos.
Basicamente o que Iger fez com Eisner, mas divago.

"Então cê quer que eu arrisque meu pescoço por uma chaleira?"
"Já viu o preço de uma nova na Casa Freitas? Pois é."

Mas para isso, Jafar precisa de algum otário pra entrar na Caverna dos...

...

Cave of Wonders. Eu vi o filme dublado e não lembro o termo em português. Oh well. Jafar precisa de um otário pra entrar na Cave of Wonders e pegar uma lâmpada mágica e assim ter poder pra tomar o reino. Mas não um otário qualquer, um "diamante bruto". E ele encontra em Aladdin o tal diamante bruto, porque Iago disse.

Iago, sua arara/papagaio.

O que me faz pensar que esse sim é um homem que confia muito em seus animais. Digo, no original ele fazia um mumbo jumbo numa bola de cristal e perguntava "DIAMANTEBRUTO" e a bola respondia "CÉREBRODEEINSTEIN" e Jafar respondia "MEMOSTRADIAMANTEBRUTO" e a bola mostrava Aladdin.

Yadda, yadda, yadda, lâmpada, parada, princesa, lucros.


Como alguns dos remakes/sequels recentes de clássicos do estúdio, Aladdin'19 tenta dar sua interpretação própria à história. A vantagem é que Aladdin era um dos carros-chefe do Rato nos anos 90-2000, com três longas animados, uma série de TV, uma série em quadrinhos, e um musical da Broadway. E se quiser esticar, tem um especial direto pra vídeo que tem alguma referência sutil no remake, Disney Princess Enchanted Tales: Follow Your Dreams.

Sim, eu não vi, tu não viu, sua sobrinha não viu, sua tia não viu, Zé Wilker não viu, absolutamente ninguém viu essa bagaça, exceto uma ou duas pessoas que escreveram o artigo na Disney Wiki. Provavelmente uma delas foi o diretor do filme, porque algumas informações batem.

Em um momento, Jasmine menciona que Hakim, chefe dos guardas, chegou no palácio quando era moleque. Embora o papel de Hakim seja baseado no de Razoul, o nome é o mesmo (ou muito parecido) com o de Hakeem, que aparece nesse especial e é de fato um moleque que trabalha nos estábulos do palácio.

Ou talvez eu esteja vendo coisa demais e tenha tido sono de menos.


Mas o fato é que desde que mostraram primeiras imagens do Will Smith como o Gênio, eu vi que o filme tava indo na direção certa. O aspecto físico lembra muito o do Gênio na Broadway (interpretado primeiramente por James Monroe Iglehart, que foi o melhor Gênio em carne e osso), assim como o figurino. Ainda assim, ele tem características do desenho como a trança de cabelo. Ou seja, é um design que mistura as versões existentes e ainda tenta dar algo novo nos detalhes e no design final.

Da mesma forma, Will dá uma interpretação própria do personagem. É claro que o Maluco não vai ter as mesmas habilidades imitatórias de Robin Williams. Raio, nem James Monroe Iglehart tem, mas ambas as versões dão seu jeito pra passar por isso e ainda manter a essência do personagem. Friend Like Me na Broadway tem trechos de outras músicas Disney e elementos pop aleatórios (tipo sei lá Dancing with the Cimitars, parodiando Dancing with the Stars) e a personalidade pululante do Gênio.

No remake, o Gênio de Will é um personagem mais... sábio. A excentricidade dele parece vir mais do quão confortável ele se sente ao ter Aladdin como mestre, ao invés de um maluco tirano. Soa mais natural pro ator e os dois personagens tem uma química sensacional. Eu realmente consigo acreditar que o Gênio quer ajudar Aladdin porque consegue ver ele como amigo, ao invés de ser mais por ter um acordo "uma mão lava a outra", embora funcione perfeitamente no longa original. Ajuda muito o fato do Gênio ter uma forma humana pra se disfarçar e ajudar Aladdin em conquistar Jasmine.

É tipo Hitch só que com magia.


Aladdin também é um personagem diferente, mas ainda fiel ao longa de 92. No filme Disneyano, temos dois momentos que mostram a generosidade de Aladdin em querer ajudar os necessitados. Aqui ainda os temos, mas parecem ter sido expandidos de alguma forma. De novo, a impressão que o filme dá é que ele parece mais um Robin Hood pobre, que rouba pra comer e de quebra ainda ajuda os necessitados como uma missão pessoal. Ou talvez seja eu lembrando da HQ que serve de prequel pro filme, sei lá.

Ainda assim, esse Aladdin é diferente do Aladdin de 92. Ele parece bem mais altruísta e não se importa em gastar um desejo pra se salvar, quando no original isso era um motivo pra questionar se era ou não um desejo válido e se o Gênio devia um desejo pro Al.

Sim, o de quando Aladdin é jogado no mar. Até hoje há discussões sobre se seria um desejo válido, já que o personagem nunca pediu explicitamente que fosse salvo. Aqui eles dão um jeitinho de fazer que se gaste esse desejo, mas Aladdin não se importa muito. Afinal, ele tá acostumado a se virar pra sobreviver, vai dar um jeito pra contornar isso da mesma forma que engana os guardas nas fugas diárias.


Aliás, esse lance do conflito entre Aladdin e Gênio e o uso do último desejo ainda existe, mas é trabalhado de outra forma. Em 92 há toda uma celeuma do Gênio ficar de mal com Aladdin, enquanto aqui Will tenta convencer o moleque a repensar o assunto, e reafirmando que ele precisa ser ele mesmo e etc. De novo, é o mesmo conflito, mas tratado de uma forma diferente porque são personagens diferentes.

E falando em personagens diferentes, Jasmine também é sensacional.


Ranger Rosa realmente se apaixonou pela personagem, e pela primeira vez, TEMOS UMA PRINCESA DISNEY LIVE ACTION QUE PRESTE! HOORAAAAY!

Ao contrário do primeiro filme, aqui Jasmine tem um arco narrativo melhor definido. Claro, no original ela queria liberdade e contrastava com Aladdin, que queria dinheiro pra ser livre, enquanto a princesa tinha dinheiro mas não era livre. De novo, o vídeo do Screen Prism explica melhor do que eu.

Ela não é uma princesa tão independente quanto gostaria, mas ela mostra que tem potencial pra isso. Por exemplo, no original ela consegue pular de um prédio pro outro tal qual Aladdin, enquanto aqui ela mal consegue acompanhar o maluco fugindo dos guardas; em vários momentos ela parece menosprezar ou até se rebelar totalmente contra as ordens que lhe são impostas. Aqui ela parece querer dialogar, expor seus argumentos, mostrar competência, mesmo que ainda não seja perfeita em todos os aspectos.

É uma diferença necessária, já que nessa versão Jasmine é uma princesa distante de seu povo e do mundo exterior. Mas ela quer se aproximar de seu povo, conhecer suas necessidades, e resolver seu problemas e passa até a apreciar mais a cultura popular de Agrabah.
É tipo como a Anna não tem noção de como funciona o amor na vida real, só que o choque de realidade pra Jas é grande demais, e é isso que a motiva a querer mais ainda se tornar sultana, algo inédito em seu reino.

E assim como As Novas Aventuras de Aladdin, agora Jasmine tem uma dama de companhia, que é uma das melhores adições do filme.


Sério, as interações dela com os outros personagens são hilárias. Embora não seja um filme tão cômico como o original (que tinha piada até no ápice de romantismo do filme), ainda temos uma comédia de punchlines e de constrangimento. Cê sabe, personagens que se vêem em quiproquós gerados por terceiros e não sabem exatamente como se portar, como em Sobrevivendo ao Natal. Claro que aqui é bem mais family-friendly que o filme onde Batman aluga uma família pra passar o fim de ano, mas cês entenderam.

E é um tipo de comédia relativamente difícil de ser escrita e executada, mas todos os atores conseguem vender perfeitamente as reações necessárias pra cada momento. Exceto talvez Aladdin, que é o ator cômico mais fraco do elenco principal. Mas ele consegue passar a idéia de um moleque perdido no meio da alta sociedade, e nos outros momentos ele consegue vender o personagem, então ok. Talvez só não tenham dado muita oportunidade pra ele ser engraçado, o que... Faz sentido, Aladdin é mais um Zé Carioca malandro do que um Pateta piadista.

E sim, a CG do Will Smith é meio zoada no começo, mas depois se acostuma. De fato, a pior coisa do filme é provavelmente o Jafar, mas eu acho que foi mais culpa da dublagem BR que tirou toda e qualquer possibilidade dele soar ameaçador. Não importa o quão maligno ou imponente ele seja ou tente ser, no momento que ele abre a boca e solta a voz do Trunks de Dragon Ball ou do Chip de Cassiopéia, todo respeito se dissipa mais rápido que o Thanos estalandos os dedos.

Eu não tou só jogando essa referência aqui, o próprio filme o faz em um momento. Não diretamente, mas ainda assim.


No geral, é um filme bem aceitável, mas ridiculamente divertido. Assim como... Aladdin de 92. Que é o mesmo efeito que Pete's Dragon me deu, só que as aventuras de Elliot ainda terminam com uma sensação meio vazia no final, sei lá porque. Mas em Aladdin isso não acontece.

Aladdin foi muito um produto de seu tempo, tanto em roteiro, design de produção, Robin Williams. Jasmine era uma mulher empoderada pros padrões da época; Aladdin era o típico herói underdog da época; Robin Williams era o cameo glorificado que se tornou comum na Disney nos anos que se seguiram sem necessariamente entender porque o Gênio funcionou e tantos outros personagens não. Tem vários tropes que sim, funcionam até hoje mas ao mesmo tempo soam antiquados (como o Gênio ficar de mal com Aladdin lá pro começo do terceiro ato), elementos que foram traduzidos de uma forma diferente.

E essa é a palavra-chave: diferente.


Assim como a versão Broadway, o remake toma várias liberdades pra contar sua própria história, mas ainda assimilando elementos do original. Um filme que influenciou MUITO o longa de 92 foi O Ladrão de Bagdá, e SIM EU AINDA VOU FAZER O VÍDEO SOBRE ISSO, TENHAM CALMA. O importante pra agora é que, nesse filme, a cidade onde a história se passa é uma cidade portuária, e o filme começa mostrando barcos chegando no cais. Da mesma forma, o remake de Aladdin começa com barcos chegando no cais, o que é muito similar pra ser uma mera coincidência.

O lance do Gênio contar a história do filme disfarçado de outro personagem, como era a intenção original; e tal elemento ainda tá de uma forma ou de outra presente na Broadway. Assim como tem linhas melódicas emprestadas de Arabian Nights do teatro, com letras diferentes. Friend Like Me e Prince Ali tem referências diretas à versão teatral, de coreografia, de conceito geral.

Claro que nenhum deles tem a mesma duração da Broadway, provavelmente eles não teriam grana ou criatividade suficiente pros 7 minutos e meio de Friend Like Me ou quase 6 minutos de Prince Ali. Não, não. Bom, seria ótimo ter Proud of Your Boy ou pelo menos A Million Miles Away, que funcionam como a "I Wish Song" de Aladdin e Jasmine. Ou raio, pelo menos These Palace Walls, que é infinitamente melhor que a grudenta e sem graça Speechless. Funciona porque Naomi Scott realmente te vende a performance, mas o conceito da sequência musical é meio zoado até pros padrões do filme. E é uma letra pobre, repetitiva, que poderia ser passada de outro jeito.

É o Alan Menken, dá pra fazer algo com a melodia de Palace Walls com o arco narrativo da Jasmine de querer ser ouvida/respeitada no palácio, pelo amor de Oz. Do jeito que ficou parece millenial repetindo frase feita em rede social achando que tá sendo útil pra sociedade.


Ok, o resumão mesmo é: o remake de Aladdin é uma salada do longa original, da versão Broadway e de Ladrão de Bagdá. O filme entende o material original e respeita todas as influências na medida do possível. Ele sabe que enfiar subplot de Babkak, Omar e Kassim seria estender o filme sem precisão e ninguém além de nerds sem vida e que passam mais tempo do que deveriam pesquisando sobre musicais iriam entender, mas que tenta agradar ao público casual com uma legítima história de ação, aventura e romance com um tom épico (como Ladrão de Bagdá foi em sua época), e jogando esses pequenos easter eggs como um agrado aos nerds abilolados como eu.

É uma versão de Aladdin que consegue andar com as próprias pernas, respeitando o material original e suas origens, e é espetacular. Tem o mesmo tanto de erros e acertos que o original e a versão Broadway, mas isso é assunto pra outro dia. O importante é que é um filme que consegue não só ser um dos melhores remakes recentes da Disney, como de fato consegue disputar com as outras versões em pé de igualdade.

Vão ver Aladdin, é um claro caso de caça-níquel, mas um caça-níquel feito com amor e respeito.

SÉRIO OLHA QUE FOFA ESSA JASMINE
PARECE UM ALFAJOR TEMPERADO COM CANELA
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