Ninja Assassino (Shogun Assassin, 1980)


Eu não sou o cara mais indicado pra filme de samurai. Ou filme de arte marcial em geral. Eu literalmente posso contar nos dedos os filmes do tipo que assisti: Garras de Louva-a-Deus, Guerreiros de Jade, aquele episódio d'O Carateca de Chapolin, e Ninja Assassino. Eu nem sei se dá pra considerar Sakuya, mas enfim.

Mas ultimamente eu tenho notado que eu tenho um certo apreço por filmes lentos, mas com muita personalidade. Eu sei lá, eu comecei a gostar de estudos de personagem desde que descobri a versão Broadway de Corcunda de Notre Dame, fora Dark Crystal, que ao rever dia desses, notei que tem mais elementos similares a filmes de faroeste.

E filmes de samurai são basicamente filmes de faroeste japoneses. E eu vi alguns faroestes... Embora não lembre muito, por ter visto pouco. Tinha um do Terence Hill da série do Meu Nome é Ninguém, e um do Terence Hill com Bud Spencer onde o Terence acabava se tornando Mórmon pra poder casar com duas gurias ao mesmo tempo.

Mas eu divago, vamo falar de Ninja Assassino hoje.



Antes de mais nada, esse artigo foi encomendado pelo Padrim Cauã, se tu tem algum filme que assistiu e que talvez seja obscuro ou esquecido e valha a pena ser comentado, faz uma assinatura lá que a gente vê o que pode ser feito e tu ainda ganha umas recompensa.



Shogun Assassin na real é uma edição misturada de dois filmes da série Lobo Solitário, que por sua vez foi baseado em uma HQ japonesa. Eu nunca vi os filmes originais nem li os quadrinhos, então eu fui nesse filme completamente cego. Até que uma hora eu percebi que era melhor eu abrir os olhos pra poder ver o que raio tava acontecendo no filme.

A história conta sobre um samurai que foi encarregado de matar o shogun, e depois o irmão do shogun ou algum clã poderoso e corrupto do Japão marcou o maluco pra morrer. O sujeito volta pra casa todo serelepe e pululante, já pensando em comemorar o trabalho bem-feito levando a esposa e seu filho pequeno pra comer no McSushi, quando descobre que mataram a sua amada, mas o moleque sobreviveu.

Movido pelo mesmo tipo de fúria que move John Wick, Liam Neeson e Marlin, o samurai parte pra terminar o serviço enquanto leva seu filho consigo, e toda a história é narrada do ponto de vista do guri.


A narrativa do filme é meio zoada, já que... Bom, ele pega os dois primeiros filmes e tenta colocar só as cenas de ação na mesma linha. Alguns pontos do plot ficam meio perdidos no caminho e o filme não parece ter um foco ou um caminho razoavelmente notável, é uma cena de ação atrás de cena de ação. Mas, a seu favor, são divertidas de assistir... Se tu gosta de carnificina cartunesca.

Aqui temos o supra-sumo dos efeitos visuais teatrais da época. Imagine cabeças cortadas, rostos sendo fatiados, sangue jorrando como se tivesse uma mangueira vazando, tudo feito com maquiagem e tinta guache. É o tipo de coisa que sabe que é exagerada, mas não liga, pelo simples fato de ser uma ação divertida. Ao menos pra quem já tem uma noção do que esperar do filme.

As cenas de ação tem longas tomadas apreciativas, onde temos mais a preparação pro conflito do que o conflito em si. Ainda assim, há o lance da estratégia que tanto vemos em outras obras japonesas de luta, como shonens. Por exemplo, o inimigo duela com o protagonista na frente do sol, pra que a luz natural atrapalhe o lobo de visualizar seu oponente, mas o cara dá um jeito de refletir a luz do sol e o feitiço vira contra o feiticeiro.

Daonde RAIOS ele tirou essa idéia? Não sabemos, mas é daora então deixa quieto.


Outro ponto é quando ninjas mulheres atacam nosso herói, e elas são chamadas justamente por serem habilidosas, empoderadas, vitalícias, mortais e atraentes. Mas quando fica claro que o desfecho da batalha será desfavorável pra elas (no caso era a chefa do clã ou algo assim, sei lá), ela simplesmente salta fora do seu kimono e sai correndo de costas.

...
Sabe, o usual.


E sim, o efeito é exatamente como cê tá pensando: o henshin do Homem-Aranha Japonês ao contrário: roupa na frente, atriz atrás da roupa pulando pra fora.

O filme tem esse tom exagerado sem necessariamente se tornar uma comédia ou comicamente não-intencional. Tu consegue entender o que os caras queriam fazer com alguns efeitos que acabam parecendo mais à vontade em... sei lá, Kamen Rider Amazon, mas os outros efeitos são executados de uma forma mais natural. Não é algo tão low-budget que seja engraçado, mas também não é um primor de efeito visual digno de um blockbuster: é um recurso teatral que espera se servir da suspensão da descrença.

Sim, usaram um nabo como uma kunai.

E como eu mencionei, é um filme lento. A ação que se desenrola é frenética, bem coreografada e divertida de assistir, mas até que chegue lá há muitos momentos silenciosos, onde pouca coisa acontece. Mas aí é que tá a beleza do negócio, há uma certa liricidade nisso. Se tu não gosta aí são outros 500, mas é uma técnica narrativa válida e bem executada aqui.

Isso porque o protagonista é um personagem interessante. Talvez pelo filme ter sido editado com uma parte do primeiro filme e a maior parte do segundo, esse desenvolvimento se perca no meio do caminho, mas ainda é um personagem fascinante. Um homem que não hesita em colocar o filho pequeno em perigo, mas que ao mesmo tempo o protege e defende e até o ensina a se defender a certo nível. Digo, o berço dele é basicamente o batmóvel e o moleque sabe como usar.
Um homem que aparentemente perdeu tudo e é movido só pela força do ódio e vingança tal qual adolescente militante no Twitter, mas que ao mesmo tempo poupou a vida de adversários pelo caminho, até salvando a vida de uma delas.

Claro, a cena parece mais uma cena de estupro à primeira vista (e foi até censurada em algum momento), mas ele é um homem bruto e ao final da cena (e com a narração do moleque) cê entende melhor o que aconteceu. Ela até teve a oportunidade de matá-lo, mas não o fez, o que também adiciona uma certa personalidade à inimiga.



E é isso que te deixa interessado na história, além do gimmick da chuva de sangue e festival de violência gratuita. O Lobo Solitário é um personagem interessante, complexo, mas que ao mesmo tempo não fala muito, não se exibe muito. Aparentemente sabemos pouco sobre ele, mas ele mostra sua personalidade em cada ação e reação dos personagens ao seu redor.

Tem um momento que ele é gravemente ferido numa batalha, e o filho dele vai buscar água num rio distante, e é obrigado a levar água na própria boca pro pai. Não vemos praticamente nenhum diálogo entre os dois durante boa parte do filme, mas podemos sentir um amor e cuidado genuíno entre os dois, e até o senso de urgência e sobrevivência.


A dublagem americana é uma pérola por si só. Foi uma edição e dublagem praticamente feita no fundo de quintal, com um orçamento equivalente às Compras de Natal com a Família. Pagaram um balde de frango frito pra uma atriz interpretar todos os papéis femininos, e o filho do diretor ou algo do tipo pra narrar a voz do moleque, onde ele se limitava a repetir as falas que lhe diziam porque ele não sabia ler.

Ou então eu entendi algo errado da trilha de comentários, mas são 3 horas da manhã e eu não durmo direito há pelo menos 3 dias seguidos, então me dêem um desconto.




No geral, é um bom filme. Não é espetacular, mas é algo que vale a pena, nem que seja pra conhecer um pouco o gênero. Normalmente quando se pensa em filme de artes marciais se pensa em algo exagerado como O Tigre e o Dragão, ou algo com uma certa inspiração tipo Karate Kid, ou algo que é basicamente uma sátira incrivelmente arrogante e pretensiosa tipo Matrix. Ou sei lá, Kill Bill.

Eu nunca vi Kill Bill.

É um filme que vale a pena ver pra começar a entender um pouco desses chanbara (filmes de samurai com violência exagerada) e dramas de período (chamados de jidaigekis; basicamente histórias japonesas que se passam nos tempos feudais, eles tem Shadow Warriors e nós temos O Cravo e a Rosa). A introdução pra história em si é meio lenta, os plot points são meio soltos, e a narrativa pode soar confusa. Mas os personagens são interessantes, a ação é retardadamente divertida de assistir, e a lentidão não é lenta o suficiente pra ser irritante ou maçante.

É uma boa porta de entrada pra esse tipo de filme. De fato, eu provavelmente vou atrás de ver os originais em um futuro próximo, parece que eles são realmente melhores.

Mas não por enquanto, eu baixei mais quadrinhos antigos do que consigo ler, então... Fica pra próxima.

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Also, ele parece o Edin de Jaspion.
Não sei como fazer uma piada disso.
***
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3 comments

  1. +Kapan, gostei bastante de sua resenha!

    Admito que assisti poucos filmes com essa temática oriental de lutas (lembro que já assisti Kung-Fusão há algum tempo atrás, bem como o primeiro Karate Kid e o remake de 2010 e alguns poucos além destes)!

    Se possível, poderia por favor produzir uma resenha dos filmes Zatoichi (o samurai cego) e O Último Samurai (aquele com o Tom Cruise)?

    Obs: aliás, seria ainda melhor uma nova sequência de artigos no blog sobre as animações do estúdio Gibli, que produziram clássicos como A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado, entre outros, nos mesmos moldes do que você produziu com os filmes da Disney!

    No mais, continue com o ótimo trabalho e aguardo resposta!

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    Respostas
    1. MALUCO SIM eu esqueci totalmente que eu vi Kung Fusão
      Eu preciso rever qualquer dia desses, a única coisa que eu lembro bem é a luta contra a vaca e os etês franceses no final

      Ghibli tá na lista, mas tem outros estúdios na frente, calma hauehaue

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  2. +Kapan, uma coisa que gostaria muito que acontecesse no terceiro filme da Mulher-Maravilha com a Gal Gadot é um crossover com os Cavaleiros do Zodíaco (primeira versão do anime), focando principalmente nos Deuses Gregos do anime!

    Imagine só uma cena pós-crédito em Mulher-Maravilha 1984 mostrando a deusa Athena recrutando os seus cavaleiros e indo até o universo da Mulher-Maravilha para que ajude a combater Hades ou até mesmo uma conspiração entre os cavaleiros de ouro para destronar os deuses.

    Já digo logo que esse crossover caso ocorra tem grande chance de fazer mundialmente uma bilheteria semelhante ao filme Vingadores: Guerra Infinita, dado o escopo das possíveis batalhas!

    PERGUNTA: Por que a Mulher-Maravilha em algumas missões de resgate e/ou de reconhecimento não usa um traje tático e/ou furtivo, para evitar de chamar a atenção, com isso usando o elemento surpresa a seu favor (só uma dúvida que tenho)?

    No mais, continue com os ótimos artigos e aguardo resposta!

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