Sonic: O Filme


Cê provavelmente viu ou vê isso no seu grupo de amigos: tem um cara e uma guria que se dão bem de forma ok, ambos tem personalidades iluminariantes e constantemente completam as piadas um do outro quando tão numa roda de conversa. O cara é gente boa, generoso, trabalhador. A guria é inteligente, meiga, e geralmente ela quem aparta as brigas. Os dois gostam das mesmas coisas e parecem o casal ideal.

Todos os amigos do grupo incentivam o romance entre os dois, mas sempre que eles tentam, alguma coisa parece não funcionar. Alguns dias saem faíscas, ou simplesmente fica um climão manero de "ok, e agora?".

O relacionamento entre jogos e filmes é tipo isso aí.



Adaptações cinematográficas de jogos quase sempre saem perdendo alguma coisa, seja em tom, ou história, ou os produtores simplesmente fazem o que quiserem tendo só o nome da IP pra tacar no logotipo do filme e nos personagens.

Jogos quase nunca conseguem fazer uma versão jogável dos filmes, geralmente porque eram produtos de seu tempo e nada mais que isso, tendo por vezes pouca ou nenhuma paixão por trás.

Quadrinhos também passaram por isso, mas é assunto pra outro dia e eu não consegui transformar numa analogia inteligente. Enfim, existem exceções, como os jogos da Disney pro Mega Drive/SNES, e talvez os filmes de Mortal Kombat e Clue, mas eu nunca vi nenhum desses filmes então eu não saberia dizer.


Só agora a Marvel conseguiu fazer um plano a longo prazo pra realmente adaptar quadrinhos de uma forma tanto rentável como artisticamente fiel, enquanto a DC continua a jogar tudo na parede e ver o que gruda. Os tempos parecem ter mudado, e agora que a febre de heróis vai dar uma decaída depois de Ultimato, parece que adaptações de jogos vão ser a grande coisa. Tivemos Detetive Pikachu que foi surpreendentemente bom, e em pouco tempo teremos o filme do Mario pela Illumination.

Fora os filmes baseados em atrações dos parques Disney, mas aí são outros 500. E eu ainda tento acreditar que o gênero capa-e-espada vai voltar de alguma forma. Enfim, nesse meio tempo, temos o filme do Sonic, que por si só tem uma história interessante por trás.

Essa capa é ARTE.

Desde os anos 90 tentava-se criar um filme do Sonic (digo, um longa em Hollywood; tivemos um OVA no Japão, mas nada além disso), mas os roteiros eram TÃO ruins que o projeto nunca saiu do chão. Lembrando que nessa época tivemos o filme do Mario, que em termos de fidelidade de adaptação tá no mesmo patamar de Dragonball Evolution e Riverdale do CW.

Eu comentei sobre o mais próximo que chegaram de fazer um filme no podcast com spoilers, mas deixar um vídeo no final do artigo sobre isso caso se interesse.

Enfim, depois de anos de desenvolvimento, o projeto passou da Sony pra Paramount (que por algum motivo é parcialmente dona da Sega, ou Sega of America, ou algo assim), a mesma produtora dos filmes de Transformers e Tartarugas Ninja, ambos de Michael Bay. O que poderia dar errado?


Oh.

Ok.

A repulsa por parte dos fãs já era esperada pelos mesmos executivos que deram luz verde pros Bayformers e Tartarugas Bombadas Ninja, e provavelmente iriam cagar na cabeça dos fãs e acusar eles de machismo ou seja lá o que caísse na roleta, assim como se faz normalmente na indústria.

O que eles não esperavam era o público comum detestar o visual tanto quanto os fãs, o que os obrigou a adiar o filme e refazer o boneco do zero, com a ajuda de gente que de fato trabalhou com jogos do Sonic, como o celebrado Sonic Mania.


O mais impressionante é que O RESULTADO FINAL FICOU BOM! Algo que é um feito inédito pro meio. Ok, a mesma Paramount teve que mandar refazer os designs dos Transformers e do monstro de Monster Trucks, mas o primeiro continuou sendo um amontoado de caos ilegível enquanto o outro... 

...

Ninguém ligou pro filme do MacGyver jovem com caminhões. Embora o fato dos testes de audiência com a criatura terem sido tão desastrosos que levou as crianças na platéia a saírem correndo e chorando da sala.

Esse lance de refazer filmes é uma lata de minhoca pra outro dia, mas saber que tiveram que refazer o filme e até regravar cenas era importante pra todo o contexto.

Valeu a pena?

Cada centavo.


O filme segue o gênero "animais fofinhos em CG que vem pro nosso mundo, encontram um humano e se metem em altas aventuras", como Alvin e os Esquilos, Smurfs, Peter Rabbit, e Hop. Exceto que Sonic é bom.

Acompanhamos a vida do Cyclops, que recuperou a visão normal, tentou a vida de Príncipe da Disney, mas foi chutado pela Elsa que conseguiu sua franquia própria na Casa do Rato e agora vive escondido da mídia como um policial de uma cidade do interior.

Gaste 3 minutos no IMDB caso não tenha entendido essa piada.

Ele reclama da vida lenta que leva, até que seu radar capta alguma coisa a trocentos quilômetros por hora. Sim, é Sonic, o raio azul, Sonic, que vai de norte a sul, e que vivia em seu mundo até que uma fatalidade o obriga a se esconder na Terra.

Ele vive na região onde se tornou uma lenda urbana, mas em um momento onde sua solidão e sensação de incapacidade o atingem mais forte do que devia, ele acidentalmente causa um blackout na cidade, e o governo chama o único cara perturbado o suficiente pra resolver a situação.


Ok.

Sonic encontra o policial e pede ajuda, e ele, movido pela sua vontade de ajudar os outros numa situação de vida ou morte, decide ajudar o ouriço e ambos se metem em altas confusões de tirar o fôlego.

Sim, o filme segue bem o padrão de Sessão da Tarde, mas é uma BOA Sessão da Tarde. A narrativa é simples, não enfiam conceitos ou termos muito complicados, é uma aventura direta com piadas a torto e a direito e referências aos jogos e quadrinhos do Sonic.

Sim, quadrinhos. Tem mais referências aos gibis do que eu esperava, mas tudo funciona perfeitamente bem.


Como foi estabelecido numa história que eu inclusive comentei no blog, Sonic é basicamente um multiverso, e esse é só mais um deles. E nesse universo, Robotnik é magro, tal qual uma das versões dos quadrinhos. Mas aqui, Jim Carrey faz um trabalho especial com o gênio do mal.

Olha só, rimou!

O conceito de "cientista maluco" é aplicado, mas Carrey o transforma mais em "cientista excêntrico". Ele é legitimamente inteligente (como os jogos sempre afirmam), e ele parece ter ficado meio biruta com tanta inteligência.


Ele se diverte com seus robôs e equipamentos com uma inocência infantil, mas uma obsessão madura. É simplesmente divertido de assistir o cara em cada segundo que ele aparece na tela. Toda vez que a câmera foca nele, é um espetáculo, e ele é um personagem bem-escrito, com suas piadas e comebacks e arrogância, mas Carrey faz com que tudo funcione perfeitamente.

Sonic também tá exatamente como tu espera que um mascote que é basicamente o Mickey Mouse punk agiria: piadas rápidas, piadas com velocidade, mas uma sinceridade e emoção que te faz entender e empatizar com ele.

Não teria funcionado com o design original, porque tu estaria constantemente vendo um bicho horrendo que te lembra o Sonic ao invés de um personagem visualmente agradável e fofinho.


Os outros personagens são ok. Eles servem pra avançar a história, tu se importa com eles o suficiente pra torcer por eles e pelos seus dramas, o que faz com que a comédia funcione melhor. Nenhum deles é exatamente desgostável, não tem um personagem que quando aparece tu fica "ah não esse cara não".

Todos tem sua função exata e a cumprem perfeitamente sem extrapolar a boa-vontade, nenhum personagem tem mais tempo de tela do que deveria ou falas forçadas pra fazer graça.


A CG também não é sofrível como em outros filmes do gênero, o modelo é bem construído, animado e interage bem com o mundo ao seu redor. De alguma forma, Sonic e o policial tem alguma química de buddy movie, que talvez só não é 100% funcional porcausa das regravagens.

Eu imagino que eles tinham uma foto ou um modelo do Sonic baseado no design original no set, e o Cyclops tinha que olhar praquilo e imaginar o melhor amigo dele. É exigir um pouco demais de um ator.

As referências aos jogos, quadrinhos e outras mídias do Sonic não tão simplesmente jogadas ali "porque sim", elas tem um propósito. Claro, tem aqueles easter eggs que só os fãs abilolados e com tanta habilidade social quanto uma bolacha cream cracker vão pegar e que não fazem diferença alguma na história (tipo ter uma rua chamada Mega Dr.), mas no geral elas constróem esse universo novo de uma forma criativa.


Por exemplo, tem o doido local da cidade que jura que viu o Sonic e até fez um desenho dele. O desenho é o Sanic, um meme que acabou cimentando cada vez mais o status autozoativo da marca. Mas se tu não souber de nada disso, a informação que tu vai pegar é: "Sonic é tipo o pé-grande do lugar". Pronto. É tudo que tu precisa pra avançar na história do filme sem muitos problemas.

...de fato, tem momento que parece que o social media do twitter do Sonic que escreveu, o que é um ponto a favor, de fato.
Tem umas piadas que chegam a ser absurdas, tipo aquela do trailer, que é o que tinha me convencido que, mesmo com o Sonic parecendo um atleta olímpico com testosterona bugada, seria engraçado de ver.

Sim, aquela cena do "bebê na bolsa". Aquilo é fantástico de tão awkward.


Sonic O Filme é como um fast food bem-feito: é gostoso, saboroso, muito tempero, mas ao mesmo tempo não tem muito conservante nem faz mal pra tua saúde. Claro, ainda é um produto industrializado, mas é feito com amor e carinho.

Esse filme é literalmente nível Mary Poppins de filme família. Só que sem a moral significativa pros pais. E sem música.

Assista, e se puder, assista no cinema. Valorize o trabalho dos caras que tiveram que refazer, mostre pro estúdio que é ASSIM que se faz um produto.



"BORA VER SONIC"

Aliás, se tu já viu o filme ou não liga pra spoilers, ouve o podcast aí que tem tanto nossa opinião sobre o filme, as referências que encontramos, comento as outras tentativas de fazer filme do Sonic, e como poderia se dar a sequência e o universo cinemático da Sega.


  

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