Os Filmes de Dr. Dolittle (Parte 1)


Se você tem o mínimo de contato com rede social, provavelmente sabe que vai sair um filme novo de Dr. Dolittle. De fato, se tudo correr bem, será essa semana mesmo, logo depois de eu publicar esse artigo.

E caso você seja um VERME INCULTO E PURULENTO e reclame "ain é totalmente diferente do original com ÉDI MUHPY", é porque não conhece as origens do Doutor.

Mas eu não te culpo, não parece ser um conceito que devia durar por mais de 10 minutos. E ainda assim teve 15 livros, porque o pessoal dos anos 20 não tinha muitas opções de entretenimento, aparentemente. Era uma época que eles tinham que sair de casa pra ver desenho animado, pelo amor do raio.

E como eu também não tenho muito o que fazer e ainda não decidi prezar pela minha saúde mental, vamos passear por todas as produções audiovisuais de Dr. Dolittle.

Menos o filme novo, que caso eu veja, terá um artigo só pra ele que eu linkarei aqui depois.


A origem do personagem foi baseada em um médico real chamado John Hunter, que não falava com animais mas era tão pertubado mentalmente quanto. Ou ao menos é o que parece, eu não tenho saco de ler todo o artigo da Wikipedia sobre ele, mas tem uma lenda de que ele se infectou com sífilis e gonorréia pra estudar as doenças em si mesmo.

Ele comprou o corpo de Charles Byrne (tipo um André, O Gigante do século 18) e ficou estudando e expondo o corpo, ao contrário do desejo do defunto. Ainda bem que não foi esse o episódio a inspirar os livros (provavelmente inspirou Um Morto Muito Louco), mas sim o fato de que ele comprou uma casa em Londres e abrigava uma penca de animal: zebra, búfalo, cabra, etc. Ele usava os corpos dos animais mortos em seus estudos, e os animais que deviam brigar entre si, conviviam pacificamente.

E com essa imagem extraordinária nasceram os livros. Tiveram um bom sucesso, com inclusive Walt Disney tentando comprar os direitos pra fazer uma adaptação, mas a 20th Century Fox pegou antes dele.

Ironicamente, a Disney compra a Fox justo quando os livros caem em domínio público.


Tem uma animação de Lotte Reiniger baseada nos livros, mas eu não achei pra ver então dispensaremos ela por hoje. Até porque esse vai ser um loooooongo artigo, que talvez eu precise dividir em duas ou mais partes. Veremos como vai se dar o andamento.

Então não percamos mais tempo e vejamos o primeiro filme.


O Fabuloso Doutor Dolittle (Doctor Dolittle, 1967)


Algumas obras tem sua história de fundo tão ou mais interessante que o filme em si. Mary Poppins e Mágico de Oz me vem à mente. Esse é um caso interessante, porque TUDO antes e depois do filme é mil vezes mais interessante do que o filme em si, que comparado a seus competidores é absurdamente maçante.

Mas vamos por partes. Primeiro, o filme em si.


A história nos conta sobre Doutor Dolittle, um médico de gente que tem menos tato social do que eu, mas ama animais. Sua arara Polynesia então revela que ela pode lhe ensinar a falar com os animais. Porque ela demorou tanto tempo pra lhe contar isso, eu não lembro e não faço questão de lembrar.

Esse é um ponto interessante do filme, o Doutor não nasceu com o dom de falar com os animais, ele teve que aprender a linguagem de cada um deles, e a gente até vê um pouco disso na prática. "Bom dia" na língua do porco precisa emitir um grunhido e levanta a perna esquerda; se levantar a direita é "noite".

Quando Matthew e um moleque aleatório que ele encontra na rua chegam na casa do doutor, ele tá tentando se comunicar com um peixe-dourado. Matthew é tipo o esteriótipo de irlandês médio, e também é o único amigo humano do doutor. Enfim, Dolittle tenta aprender a falar peixe-douradês pra poder aprender a língua do caracol rosa gigante de sei lá daonde, que é o sonho da vida dele encontrar.

Algumas pessoas tem sonhos assim mesmo, fazer o que. Umas querem ser advogadas, outras médicas, eu só quero poder misturar M&M's no arroz sem ser julgado por isso.


Mas o único pagamento do doutor vem de seus únicos pacientes: os animais. Eles lhe pagam em minhocas, grama, ou leite, ou "qualquer coisa que eles estejam usando como dinheiro", o que implica que os animais tem um tipo de bolsa de valores. Esse filme provavelmente se passa no mesmo universo de A Revolução dos Bichos, mas divago.
Enfim, ele não tem como ter dinheiro humano pra pagar uma viagem até um ponto aleatório do mapa em busca do caracol. Sim, o caracol é um mito e o método de viagem do doutor é literalmente o que o Nino fazia no Castelo Rá-Tim-Bum pra ouvir música.

A pior parte é que: FUNCIONA. A sorte cai no meio do mar, mas com a ajuda de uma lupa o doutor descobre que é uma ilha ambulante. Como chegar lá? Não faço idéia, mas um antigo amigo do Doutor lhe manda uma lhama de duas cabeças pra ajudar a conseguir dinheiro pra viagem.

Calma, fica pior.


Ele leva a lhama pra um circo gerenciado pelo John Hammond de Jurassic Park e um dos melhores Papais Noéis do cinema. Sim, o velho que foi longe demais em recriar dinossauros já gerenciou um circo com uma lhama de duas cabeças.

Eu amo o cinema. Às vezes.

Enquanto isso, tem uma guria que é sobrinha de um juiz ou algo assim que teve o cavalo "roubado" pelo doutor, porque o cavalo foi se consultar e o doutor botou um óculos nele porque sim o cavalo tava ficando cego.


Ok.

O juiz processa o doutor, que por sua vez consegue provar pro júri e pro público que ele de fato consegue falar com os animais, mas ainda assim é condenado ao asilo de loucos. Ao invés de bancar o Coringa, o doutor canta uma música sobre como a gente trata mal os animais até em certos ditados populares, um caminho de argumentação TÃO imbecil e risível que parece que foi escrito por um comunisteen de Twitter.

Eles conseguem fugir da prisão, alugam um barco, e encontram a ilha, mas são recebidos por uma tribo de africanos cultos. Como é uma ilha viajante, eles recebem visitantes de todas as partes do mundo, então cada nativo fala uma pancada de línguas e dão a seus filhos nomes de autores que eles gostam.

O nome do líder da tribo é William Shakespeare Décimo.

O apelido é Willie.

Eu SONHO em escrever histórias tão amalucadas assim.

Ah sim. Quase tinha esquecido. É um musical.

...Ooooh boy.


Tem um vídeo da Lindsay Ellis que disserta melhor sobre o fim dos musicais, mas pra você que não tá com saco no momento, deixa eu resumir: houve um tempo em que filmes de grande escala eram o maior gimmick do cinema. Gimmick é qualquer parada nova que é marketeada como a grande inovação do momento, mas provavelmente depois de um tempo parece antiquado e idiota.

Lembra daquele tempo em que os vídeo-games diziam que o grande lance era jogar com seu corpo? Seja usando um controle como o Wii ou PlayStation Move ou uma câmera tipo o EyeToy e o Kinect. 

Pois bem, lá pelos anos 40-50 a gimmick era o filme roadshow. Lembra que Fantasia era um filme que tentava emular a experiência de ir pra um concerto? Eles davam até o programa, com informações sobre os autores, o maestro, etc. Era tipo isso, só que a própria estrutura narrativa dos filmes se encaixava na de um musical da Broadway ou uma peça/ópera.


Isso porque em algum momento os estúdios queriam que os filmes fossem vistos como "ART", ao invés de um entretenimento barato e pro povão. Daí tivemos filmes como Ben-Hur, Cleópatra, e My Fair Lady.

Obviamente, os filmes eram mais longos, tendo até um tempo de intervalo tal qual um espetáculo ao vivo, quase 3 horas de duração, e muita, MUITA grana investida nos cenários, figurino e efeitos visuais.

Cleópatra mesmo quase quebrou a Fox na época, eles só foram recuperar o prejuízo com Noviça Rebelde. O modelo roadshow parecia que dava sinais de desgaste crítico e financeiro (até porque eles começaram a ficar mais caros por motivo nenhum), mas Mary Poppins convenceu outros estúdios a seguirem o negócio.

Daí tivemos Noviça Rebelde, Hello, Dolly!, Camelot e... Doutor Dolittle. Mas Doutor veio num período em que os grandes musicais do estilo já começavam a morrer de novo, especialmente depois de Hello, Dolly! e Camelot. Dolly eu consegui assistir e gostar, já Camelot eu levei 3 dias pra assistir e não terminei.

É um filme cartunescamente chato. Sua ruindade é lendária. Sério.


Mas não foi só a qualidade de cada filme que contou, problemas externos também contribuíram pra morte do roadshow. Dolly tinha alguma treta contratual com a produção teatral que ainda tava no ar durante o filme; treta entre Barbara Streisand e Carol Channing (a Dolly da peça); Barbara Streisand e seu par romântico Sr. WIlson do filme de 93 do Dennis O Pimentinha. Camelot tinha a desvantagem de não ter uma fanbase muito forte; o ator principal tava bêbado na maior parte do tempo; e o ator italiano que interpretou o francês Lancelot mal sabia falar inglês.

Agora, NADA disso se compara à absoluta anarquia, o total transtorno, o caos pandemônico que é a batida de trem chamada Doutor Dolittle. Se um dia houver um filme ou documentário sobre os bastidores dele, provavelmente vai se chamar "Lei de Murphy: O Filme".

Eu literalmente não sei por onde começar.

Primeiramente, o filme fez uma quantidade obscenamente grande de produtos, os quais foram um fracasso desgraçado e praticamente matou a cultura de fazer produtos de filmes na época. Eu vou ficar botando imagens deles a partir de agora pra cês terem uma noção.

Ok, comecemos pelo doutor: Rex Harrison.


Rex era um maluco incrivelmente babaca de se trabalhar. Constantemente fazia insultos racistas ao seu colega e co-estrela Anthony (que fazia Matthew e era judeu), e ao Geoffrey (William Shakespeare Décimo). Não só de Rex, mas de sua equipe particular, que o acompanhava pra todo canto. Ele foi inclusive apelidado de Tiranossauro Rex.

Teve um momento que a filmagem acontecia numa praia e não envolvia seu personagem. Rex simplesmente estacionou seu iate lá e se recusou a sair.

Conversas sobre como retratar o rei da ilha (que no livro tem descrições racistas pros padrões de hoje), foram complicadas. Sidney Poitier foi considerado pro papel, mas quando soube que Gilbert Price ia dublar sua voz, pulou fora. Sammy Davis Jr. foi considerado pro papel, mas Rex não quis trabalhar com alguém que cantasse melhor que ele.

O papel então foi reduzido e transformado no William Shakespeare Décimo. A ironia da história é que Sammy Davis fez uma versão da música Talk to the Animals e foi um sucesso.

Às vezes o carma demora, mas age.

Fora que ele exigia reescritas de roteiro que se contradiziam ou contradiziam o resto do filme; ficou procurando mais lugares pra filmar sem necessidade; quis trocar o compositor; e queria gravar suas cenas de canto ao vivo, ao invés de gravar num estúdio e depois só dublar feito um ser humano normal.


E aí você se pergunta porque raios alguém tão ruim de trabalhar como Rex tava nesse filme... Bom, ele tava em My Fair Lady. E Mary Poppins fez sucesso. O filme tentou replicar a fórmula dos dois filmes, mas... É como fazer um bolo formigueiro usando receita pra uma torta de frango.

Isso porque, Rex tava na pré-produção do filme, até o roteirista e compositor original vazar do projeto, aí Rex saiu também. Sem um protagonista, a Fox contratou Christopher Plummer, o Capitão Von Trapp de Noviça Rebelde e Scrooge em O Homem que Inventou o Natal. Mas pelo que eu entendi, era só pra ter um nome garantido caso Rex não voltasse.

...o que eventualmente aconteceu. Ele voltou pra produção e o estúdio foi contratualmente obrigado a pagar Plummer por não fazer absolutamente NADA no filme.

O desespero financeiro começa daqui.


Lá pro final do filme, uma mensagem chega em Dolittle que os animais fizeram greve e que não vão trabalhar a menos que Dolittle volte pra cuidar deles. Esse subplot específico vem de um roteiro inicial do filme escrito por Helen Winston, que acabou não sendo usado por inteiro. A autora do roteiro processou o estúdio, que tinha direito autoral sobre os livros, mas a idéia da greve de animais era original dela. O estúdio teve que pagar meio milhão pra ela.

E os animais... OH, os animais.

Cês lembram que eu falei no artigo de Tainá que devia ser um inferno trabalhar com criança e animal ao mesmo tempo?

Pois bem, depois de ter lido o que rolou aqui, Tainá soa mais como um passeio no parque.

Trocentos animais treinados na Califórnia não puderam ser transportados pra Inglaterra, então a equipe teve de treinar mais trocentos animais ingleses. Os animais também viviam comendo pedaços importantes do cenário, inclusive O ROTEIRO DO DIRETOR. Objetos tinham um monte de duplicatas, incluindo paredes inteiras pro caso de algum animal tresloucado abrir um buraco feito o Willy Coyote.

Um dos cervos comeu tinta durante um dos intervalos, e teve que fazer uma lavagem gástrica, ou seja lá como se chame. Ovelhas mijaram em Rex. Quando foram gravar uma cena com patos na lagoa, escolheram o período do ano em que patos perdem as penas que repelem água. OS PATOS AFUNDAVAM.

Em uma cena, um esquilo precisava ficar parado do lado da arara. Tentaram amarrar o bicho com arame, mas não funcionou, então eles deram umas gotas de Gim pro esquilo, que ficou balançando a cabeça durante um tempo e depois simplesmente desmaiou. OS CARAS EMBEBEDARAM O ESQUILO.


Durante uma cena, Rex simplesmente parou de atuar, porque o diretor (que, aliás, é o mesmo de 20 Mil Léguas Submarinas) gritou "corta". Os dois então começaram a brigar, porque o diretor não mandou cortar. Só então descobriram que quem deu a ordem foi O PAPAGAIO.

Rex depois disse "talvez ele esteja certo, eu posso fazer melhor".

Em um momento Doutor Dolittle monta numa girafa. Houveram dois incidentes girafínicos no filme, um foi a morte de uma girafa, e outro, que fez a produção atrasar por três dias, foi porque a girafa (e eu cito), "pisou no próprio pênis".
(Há uma certa controvérsia sobre o fraseamento desse episódio, se a girafa teria pisado nela mesma ou em Rex, mas pelo que minha pesquisa indica, foi o próprio animal que se machucou. Como isso aconteceu, eu não faço idéia.)

Também teve o caso de que os moradores da região das ilhas não gostaram do fato do filme ter um caracol rosa gigante logo após as crianças da ilha ficarem doentes porcausa de uma espécie de caracol. Os moradores foram TACAR PEDRA NO CARACOL COR-DE-ROSA GIGANTE.


Mas a minha história favorita é do militar da Força Aérea que soube que os produtores do filme queriam aumentar um lago da região. Ele fez uma bomba caseira e EXPLODIU O SET. Ele foi preso, dispensado do regimento, e terminou sua carreira na cavalaria.

O CARA JOGOU UMA RASGA-LATA!!!!!!

NO SET DE DOUTOR DOLITTLE!!!!!

PORQUE ELES QUERIAM AUMENTAR UM MALDITO AÇUDE!!!!!!!!!!!

E ESSE CARA TEM UM PERFIL NO IMDB!!!!! Ele não tem exatamente uma carreira grande (uma ponta como ator, uma como narrador, pouco escrita e MUITO como ele mesmo, em documentário etc), mas ele foi cogitado a ser o James Bond depois de Sean Connery.

Infelizmente ele tinha as mãos muito grandes e cara de fazendeiro.

Also, pra provar que não é de hoje que o Oscar não vale mais do que o que eu deixo na privada depois de uma macarronada: o estúdio ofereceu jantares e champagnes pros votadores da Academia pra escolherem Doutor Dolittle como o Melhor Filme. O filme ganhou o prêmio de melhor canção por Talk to the Animals e foi indicado a Melhor Filme, mas foi uma das raríssimas vezes que o Melhor Filme não foi sequer indicado pra Melhor Diretor, Melhor Ator, ou Melhor Roteiro.

...

A realidade, ela é sem condições.


E então? O filme? Meeeeeeh. É interessante de assistir, mas o ritmo é muito maçante, mesmo praquela época. Como o roadshow era um espetáculo ambulante, eles foram editando o filme no meio do caminho e algumas cenas e plots se perderam no tempo, como o fato de que o doutor e a guria lá começam um romance, mesmo ela tendo tipo 25 anos e ele 58 e Matthew ter mais química com ela, algo que no filme final nunca é resolvido, aliás.

Numa versão alternativa, Matthew que se apaixona por Emma. Tanto Matthew quanto o Doutor cantam Where Are the Words?, cada um em uma versão diferente, mas o filme se perdeu.


A versão em que Emma e Matthew terminam juntos ao menos dá alguma catarse, já que o romance termina sem resolução de nenhum dos lados no filme final. Mas mesmo sem contar isso, é um filme desnecessariamente lento, desnecessariamente longo, com músicas que não marcam tanto quanto deveriam, mas que são divertidinhas ao menos.


Eu gosto do tom meio irônico/sarcástico que o filme tem, a comédia dele é muito textual, envolve muita resposta rápida do Doutor e de Matthew, isso eu legitima e não-ironicamente gosto do filme.

Não é um filme BOM, mas é interessante de ver, vale a pena ver ao menos uma vez na vida.

E claro, por algum motivo, fizeram uma série animada.


As Aventuras do Dr. Dolittle (Dr. Dolittle, 1970, 1 temporada com 17 episódios)


Essa é uma das paradas mais estranhas que eu já vi. O filme foi um fracasso de bilheteria e crítica, os produtos relacionados mataram a prática por algum tempo, e foram fazer a série animada depois de 2 anos. Mas ao mesmo tempo, eles tinham os livros pra se basear, os covers das músicas faziam um sucesso absurdo, e crianças de 5-6 anos da época provavelmente gostavam do filme de qualquer jeito.

Sei lá, faz sentido e não faz ao mesmo tempo. Do que se trata a série?


Dr. Dolittle, o moleque do filme/livro cujo nome eu não me importo o suficiente de lembrar, e um bando de animais viajando o mundo e cuidando de animais enquanto fogem de um bando de piratas que tem uma ilha-submarino, e querem aprender a se comunicar com os animais pra poder dominar o mundo.

Eu vi dois episódios porque sinceramente às vezes eu temo pela minha saúde mental. É um desenho bobo dos anos 70, mas até pro nível de desenhos bobos, é incrivelmente vanilla. É muito básico, nada muito diferente do que já se tinha na época e provavelmente a concorrência fazia melhor. As piadas são básicas ou sem graça, assim como a forma de resolver os dilemas de cada episódio.


O que tem de legal é o design do navio, o fato que deram personalidade à lhama de duas cabeças, os piratas que parece mais o elenco diverso de Power Rangers (tem um pirata de cada nacionalidade, praticamente), e o fato que as músicas tem relação com o episódio. Na época de desenhos como Scooby-Doo, The Archies e Josie and the Pussycats, as músicas geralmente eram rock hippie/bubblegum pop normal e só jogado lá pra depois fazer um CD e arrastar pais de crianças choronas pra comprar.

Aqui as músicas são cantadas pelo delírio febril que vai me assombrar pelos próximos dois meses, os gafanhotos hippies.

...

Eu tenho quase certeza que essa imagem é ilegal em pelo menos 5 países.

Enfim, no primeiro episódio o Doutor cura uma ilha de gafanhotos que pegaram gripe por comer folha com inseticida, e como agradecimento a banda viaja no navio.

Os piratas são legais, mas são o básico de vilões incompetentes, embora o chefe deles realmente pareça ter alguma capacidade de elaborar planos mais realistas. Um dos piratas usa um tapa-olho mas só no olho cego, o que é engraçado. O estranho é que ele fica com o outro olho fechado mas em alguns momentos ele consegue abrir os dois. Huh.

Tem um episódio que eles planejam vencer uma corrida de barcos, ganhar a perua de prêmio, e usá-la como refém em troca do Doutor ensinar eles a falar a língua dos animais.
Sim, é imbecil, mas é bem melhor que a média dos vilões de desenhos sabadais matutinos da época.

Digo, cês assistiram Josie e as Gatinhas? Aquilo é tão exagerado e sem nexo que parecem dois desenhos completamente diferentes. Sim, é o que dá graça da série, mas ainda assim é legal ver um vilão com um plano mais concreto.

...essa palavra existe? "Sabadais"? Ou seria "sabático"? Que seja.


O desenho foi inclusive exibido no Brasil pela TV Cultura e TV Tupi, com a dublagem do Tio Phil como o Dolittle. O tempo todo eu achei que fosse a mesma voz do Manda-Chuva, mas ele foi dublado pelo Lima Duarte, algo que ainda não me entra na cabeça. Sei lá, eu conheço o tom de voz do Lima Duarte, eu não consigo imaginar o bispo do Auto da Compadecida fazendo aquela voz contida e elegante.

A personalidade do Doutor inclusive continua sarcástica e fina, tal qual no filme e provavelmente no livro, mas eu sou um porco inculto, então eu não saberia dizer. É engraçado porque tem uma hora do episódio da corrida de barcos que o pato chega pra dizer que eles tão sem combustível, e o Doutor responde com "Débil mental, isso é impossível" com a mesma classe e elegância de "Bom dia, meu bom senhor, poderia me ver 3 quilos dos seus melhores tomates, por gentileza?".

Até que eu fui ver e o nome do pato no original é Dab Dab, e na dublagem é Deb Mental.

Also, Orlando Drummond dubla o cachorro Zip, ou é Jip sei lá, mas eu não vi ele dublado, então tou confiando na Wikipedia.


Sei lá, o desenho é legalzinho, é um pouco melhor do que eu esperava, mas hoje não é muita coisa além de uma curiosidade. Mas ele foi feito projetado pra uma manhã de sábado sem aula ou tarefa de casa, onde crianças passariam pelo menos 5 horas vendo TV com uma infinidade de desenhos animados. No meio de uma programação com outros desenhos talvez não fosse tão ruim.

Exceto que ele brigava diretamente com Josie e as Gatinhas, Sabrina, e os Harlem Globentrotters.

Yikes.


Mas alguém na Fox algum dia achou que seria viável um reboot da franquia, e provavelmente deve ter exigido carta branca.
E assim nasceu o filme com Eddie Murphy.


Doutor Dolittle (1998)


Esse aqui é o que a maioria de vocês deve se lembrar. O segundo remake com Eddie Murphy de um filme sessentista, que na época parecia querer que a gente esquecesse que os anos 60 existiram. O remake adapta só o tema de um médico que fala com os animais e muda de profissão pra veterinário, todo o resto é material novo.

Que... É muito tentativa e erro.

O filme mostra Eddie como um médico que desde guri falava com animais, mas isso trazia problemas a ele, o que obrigou seu pai a chamar um exorcista pra resolver a parada.


...yeah, ok.

Anos depois ele virou um médico onde ele não dá a mínima pra sua família. Antes que ele morresse e tivesse que fazer um remake de Papai Fantasma (o mais próximo que ele chegaria disso foi em Haunted Mansion), temos um subplot onde o hopistal onde ele é sócio tá à venda e detalhes da compra precisam ser resolvidos e blablabla.

Pro filme não perder a atenção das crianças, temos piadas escatológicas que envolvem Dolittle tendo que dar uma injeção anti-alérgica numa mulher que parece uma mistura genética da Alexandrismos com a Lola Escreva (e o filme dá um close na bunda dela porque A FAAAAMILY PICTURE), e no caminho de volta acaba atropelando um cachorro que o chama de barbeiro com a voz do Tom Cavalcante.

A partir daí o médico fica loucaço tentando entender o que raio aconteceu, adota o cachorro que atropelou, e finalmente resolve tratar um tigre suicida com uma doença estranha, porque ele achou um desafio novo depois de passar uma noite inteira cuidando de um monte de animal que apareceu do nada na casa dele.


É um filme seguro e medíocre, mas... Nyeeeeeaaargh. Ele tem umas tiradas boas, mas não é suficiente pra te fazer ver o filme. O arco dramático do Doutor poderia ter sido melhor explorado se não fosse uma comédia de verão com Eddie Murphy. O lance dele não conseguir se conectar com as filhas é clichê, mas ao menos resulta numa epifania pro próprio personagem, que não só resulta em algo adorável, mas também pra evolução do Dr.

O negócio é que Dolittle realmente cresce durante o filme, e é uma evolução palpável. Tem seus altos e baixos, mas é bem crível. O pai dele também é um personagem com uma função crucial no momento ideal, e a mulher de Dolittle no papel de esposa que tenta entender o marido e ela também aprende alguma coisa no fim do dia.

Isso considerando que no começo do filme o único membro da família que eu legitimamente gostava era a Maya, a filha mais nova. A filha adolescente, Raven, não me incomodava muito e eu tinha vontade de socar os pais. O porquinho da índia caiu no meu desgosto depois de ouvir a voz do Chris Rock.
E sim, eu nunca fui com a cara da Raven-Symoné, fão faço idéia do motivo.


Mas ao fim do filme eu consegui não desgostar deles e gostar um pouco de Dolittle. Pena que o resto do filme seja meh.

Quando não são piadas com gases ou bunda ou algo que adultos acham que só adultos vão entender mas são innuendos óbvios demais até pra crianças, são piadas cretinamente previsíveis e sem graça. Mas tem algumas idéias boas, especialmente na montagem onde o Dr. cuida de uma penca de animal que invadiu a casa dele. De novo, uma pancada de piada tentativa-e-erro, mas ao menos conceitualmente são boas.

Tipo ele tratando um cachorro compulsivo por bolinhas na maior calma do mundo, ou quando ele vai cuidar de um casal de pombos com PROBLEMAS MATRIMONIAIS, que é algo na linha de tratamento médico mas totalmente inesperado pro contexto. Claro que eles enfiam uma pancada de piada que só adulto vai entender, mas que pra pré-adolescente não chega a ser "edgy".

Agora, o trabalho de fantoches nele é sensacional. Jim Henson provdenciou os bonecos animatrônicos e tem até nomes como Bill Barreta manipulando nesse filme.


Agora, é interessante como ele ainda tem referências às histórias originais. Tem um momento que ele faz um óculos sob medida pra um cavalo com problema de vista, e até a lhama de duas cabeças dá pra ver no fundo, em um momento que o Dr. tá falando com o tigre.

Eu lembro disso porque quando eu era moleque eu notei e fiquei voltando a fita várias vezes a ponto da música tocada na cena e da voz do Homer Simpson no tigre estarem cravadas a ferro e fogo na minha mente. E eu lembro até de mostrar empolgado pro meu pai porque era algo bizarro e fora de lugar pro contexto do filme e eu tinha notado, e ele "ah mas é um circo né tem essas coisa bizarra mesmo".


EU ESTAVA CERTO! TINHA ALGO A MAIS SOBRE A LHAMA DE DUAS CABEÇAS!

...

Meu Deus, como minha vida é patética.


Ok, mas é um bom filme? Como eu posso descrever... É mais curto e menos maçante que o Dr. Dolittle original, e é um remake melhor que aquela abominação que foi O Professor Aloprado.

Eu consegui não odiar os personagens, ter algumas risadas legítimas, easter eggs não exatamente inteligentes, mas o suficiente pra que me lembrasse do material original.
A história nova encaixa melhor no conceito de "médico que fala com os animais" (fora terem deletado o lance dele ter que aprender a língua de cada animal), a história é desenvolvida de forma fluida e lógica.

Os efeitos visuais são MUITO bons (diferente de usar bocas 3D, usam bocas dos próprios animais abrindo e fechando, só reorganizando os frames específicos, dando um tom mais natural), os animais são bem treinados, em especial Lucky, e ainda termina o filme com Louis Armstrong cantando Talk to the Animals.

É um filme obrigatório pra ver? A menos que tu esteja entediado ou curioso pra ter uma amostra da comédia básica do final dos anos 90 e começo dos 2000, não. Não serve bem como aventura nem como comédia.


Also, eu só queria saber como faz pra editar Trivia no IMDB, tem um trecho lá que diz que eles assistem o filme original na TV, o que implicaria rupturas do tecido da realidade do tamanho do Rio Amazonas, mas o único momento em que há uma TV ligada é quando eles tão assistindo Mr. Ed no hospício.

Aliás, Eddie Murphy consegue atuar mais dramaticamente, dá pra ver o arrependimento dele ao começar a discutir com os doidos pra não ficar doido também.

Última trivia: o tigre filhote que pede que Dolittle cure o tigre doente é dublado pelo irmão de Stuart Little.

THE MORE YOU KNOW


O filme fez uma bilheteria desgraçada de tão grande, e como toda grande bilheteria...

...tem uma sequência.


Dr. Dolittle 2 (2001)



O segundo filme toma uma rota óbvia em comparação ao primeiro. Dr. Dolittle estabelece o personagem e seu novo universo, enquanto o segundo tenta ser um filme ambientalista, porque aparentemente a fad de filme "salvem a natureza" enquanto ironicamente desperdiçavam recursos naturais pra fazer filmes ruins ainda não tinha morrido totalmente.

A morte total mesmo veio com o filme do Zé Colméia e o longa de Lorax.


A história começa normal, mostrando Eddie Murphy ocupado com o trabalho normal de médico-cirurgião mas ao mesmo tempo se ocupando de ser um veterinário. Porque raios ele não se dedicou exclusivamente aos animais eu não faço idéia, teria sido mais fácil até do ponto de vista narrativo. Nem mostra ele como médico de gente mais, então é irrelevante.

O plot começa mesmo quando um castor parodiando Don Corleone chama o Dr. pra fazer alguma coisa quanto ao desmatamento da floresta próxima a São Francisco, e a solução é arranjar um casal de ursos em extinção pra ficar no lugar e assim seriam protegidos por lei.

Eu nem sabia que a esposa do Dr. era advogaTa, mas ela que faz o caso deles. Enfim, a solução arranjada foi trazer um urso dessa espécie pra ter filhotes com a ursa da floresta. O problema é que esse urso trabalha no circo e tem síndrome de estrelinha.


Enquanto rola isso, Dolittle também tem que lidar com sua filha adolescente Raven, que começa a querer ainda mais se distanciar do pai e da fama com os animais que ele tem. Ele, por sua vez, não se sente exatamente confortável de ver a filha crescendo e namorando.

Tudo bem que ela namora o Lil' Zane nesse filme, mas faz parte da comédia. Aliás ele é filho do Tio Phil, então deve contar pra alguma coisa.

Além disso eles também tentam enfiar um subplot onde o Dr. estaria ignorando sua esposa em prol do projeto com o urso e por isso ela ficaria com raiva e... Não vai a lugar nenhum exceto uma cena onde os bichos ficam assistindo o Dr. tentando fazer as pazes com a patroa pro urso aprender alguma coisa.

Aliás o nome do urso é Archie. Um urso chamado Archie que não consegue ter sucesso com UMA fêmea é ironia demais pra mim.


Em comparação ao primeiro, é um filme bem mais agradável. Apesar de ainda ter muito humor de banheiro, é em doses menores e mais toleráveis. A gente não vai ter a bunda de uma senhora idosa com alergia em primeiro plano, por exemplo, agora é mais...

...piada de cunho sexual.


...porque... o plot principal revolve na procriação de ursos.

You know, for kids!

Aqui é um pouco mais óbvio do que no primeiro filme e talvez mais fácil das crianças entenderem do que se trata. É engraçado porque nos EUA foi classificado com PG (ou seja, livre mas com guia parental), no Brasil como Livre mesmo porque ninguém se importa. Até a página do IMDB não explicita o tom das piadas, só "humor groseiro e má linguagem", que foi classificada como "mediana".


Incomodou? Eeeh não muito, mas talvez seja inapropriado pra algumas idades. Algumas piadas são sofríveis como as tartarugas no começo. O problema é que o resto da comédia não seja tão engraçada pra crianças ou adolescentes... Talvez pra tiozões.

O lance do Eddie Murphy tentando proteger e entender sua filha adolescente é engraçado por ser tão constrangedor. E aqui eu começo a não ir com a cara da Raven Symoné porcausa desses trejeitos que ela faz querendo ser independente, mas acaba sendo arrogante e prepotente.

Sei lá me parece muito aquelas adolescentezinha de internet que acham que entenderam a vida aos 14 anos e querem ensinar o padre a rezar a missa o tempo inteiro. Mas ao menos ela ainda é uma boa atriz e consegue se sair bem nos momentos dramáticos, e Murphy consegue ser um pai comicamente superprotetor mas também legitimamente compreensivo.

Porque adivinha o maior twist? ELA FALA COM OS ANIMAIS.

DUN DUN DUUUUUUN


Faz sentido pro arco narrativo dela, ela sente vergonha do trabalho do pai mas agora tem que lidar com ela sendo a próxima Dolittle falante.

Falante com os bichos.

Also, tem um elemento desse filme que referencia o filme original: os animais fazem uma greve.


...so there's that.

Sei lá eu ri mais desse filme não-ironicamente do que o primeiro, já é melhor pra mim. Ainda não é espetacular ou algo que te faça parar tudo pra assistir isso e tem alguns elementos sofríveis, mas uma Sessão da Tarde em que não tenha absolutamente NADA melhor passando na TV e tu não tenha outra opção de entretenimento... É, não vai te machucar.

Ok esse artigo tá longo demais, vamos continuar no próximo artigo, ok? Ok.


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