[Mês do Dr. Seuss] Desenhos Russos Baseados em Dr. Seuss (parte 2)


Hey, sabia que teve desenhos russos baseados nos livros do Dr. Seuss?

Eu falei de uns ano passado, aqui ó

Mas TEM MAIS!

VAMONOS!



Сничи (1989) - The Sneetches

Eu nunca resenhei Sneetches aqui, então vou aproveitar essa oportunidade pra comentar o curta original também.

Sneetches é a história de um bando de pássaros amarelos buchudos que moram numa praia, mas só os que tem a estrela na barriga podem ser divertir, brincar, comprar sorvete, e serem aceitos nesse grupo seleto.

Há também os Sneetches sem estrelas na barriga, o que os torna mais parecidos com o Big Bird do que deveria. Pra resolver a situação, aparece um vendedor picareta com uma máquina de botar estrelas na barriga, e os Sneetches começam a pagar pra ter uma estrela na barriga. Logo, os Sneetches estrelados pagam o dobro pro mesmo cara pra ter a estrela removida e voltar a esnobar os outros Sneetches, e assim por diante, até que todo mundo fica pobre e o vendedor vai embora.


Dr. Seuss escreveu o livro como uma analogia à segregação racial/étnica, visto que ele mesmo sofreu bullying na infância por ser imigrante alemão (bem como na adolescência, durante a Primeira Guerra), e por ver o antisemitismo na Segunda Guerra.

Os Sneetches é uma fábula perfeita pra defender que somos todos humanos e que os únicos que realmente tem algum proveito das guerras são aqueles que vendem as armas/criam os problemas pra vender a solução. É um pensamento que parece óbvio hoje, mas a idéia de Seuss era transmitir isso pra crianças em fase de alfabetização, lembremos.

O desenho é bem fiel ao livro, tem músicas que embora não sejam tão memoráveis, complementam bem o texto, e é uma animação simples, mas bonitinha.


A versão russa segue o exato mesmo roteiro, só que sem diálogo algum. Os personagens só emitem grunhidos e se expressam através da animação, o que é ótimo, um curta sem barreiras linguísticas quase sempre é a melhor opção.

Tanto é que o curta ganhou um prêmio em algum festival de Los Angeles. Lembrando também que esse curta foi feito no mesmo ano de A Pequena Sereia, só pra ter uma comparação de tempo.


Pessoalmente, talvez eu tenha gostado mais dessa versão que da original, só pelos designs que são incrivelmente criativos e tomam suas liberdades, mas também tem uma certa fidelidade com os designs originais. Exceto pelo vendedor, que aqui poderia tranquilamente ser um figurante numa história do Zé Carioca.

A animação também acompanha o design meio abobado dos personagens, só que aqui ela parece mais algo que a Klasky Csupo faria se não tivesse as amarras corporativas pra baratear a produção. Se não acredita em mim, vê algum episódio de Santo Bujito e compara com Сничи, a animação russa é só mais detalhada (ou mais "suja") e com mais esforço colocado.

E sim, eu digitei o nome do estúdio sem olhar no Google.

...tá, eu olhei pra confirmar.

...OK EU ESCREVI COM UM G AO INVÉS DE K! ME DEIXEM EM PAZ EU SOU VELHO!


Eu gosto da animação russa por ter umas gags que a versão original não tem. Algumas liberdades criativas, nada de mais. Por exemplo, uma das cenas recorrentes é uma fila de Sneetches pra comprar sorvete, e chega um ponto que o sorveteiro simplesmente joga o carrinho no chão, mostrando que não tem mais sorvete. É sutil, mas é algo que agrega um pouco de valor pro desenho.

E eu gosto de como é um mundo surrealista, tem uma hora que os Sneetches tão nadando (ou no barco, sei lá), e um Sneetch sem estrela aparece nadando, é expulso pelos estrelados, e simplesmente COMEÇA A ANDAR NA ÁGUA.

Dá pra ver que os caras tiveram muita liberdade criativa, fazendo o que era esteticamente agradável/criativo ou simplesmente engraçado e inesperado.


Vale a pena ver esse curta, é bobinho, é divertido, é engraçado, e tu vai conseguir a mesma experiência e lição do original. A única diferença é o final, no original os Sneetches chegam a um consenso e viram amigos, aqui terminamos nesse preto-e-branco sem conclusão digno de Avenida Brasil.

Os Sneetches começam a se confundirem entre si, o vendedor pega a grana e vai embora, e o curta termina assim, literalmente.

É. Life is pain.





Король Черепах (1988) - Yertle the Turtle


Yertle the Turtle é uma história sobre uma tartaruga que se autointitula rei, mas seu reino se estende até onde sua vista alcança. O que não é muito, considerando que ele mora num pântano raso. Ele é basicamente a versão quelônia do Kevin Baugh, parando pra pensar.

Querendo expandir seu reino, ele obriga as outras tartarugas a subirem umas das outras, pra que ele fique no topo e assim possa ver além do pântano. Suas ambições terminam quando ele quer atingir a lua, e a tartaruga da base arrota, destruindo a torre de Rafael.

Essa piada era muito melhor na minha cabeça.


O desenho russo segue basicamente a mesma história, exceto pelo final, que é diferente. Digo, até onde eu sei, porque eu não entendo russo e não achei uma versão com legenda. De fato, o curta que eu baixei nem tinha final, tive que ir atrás em um site russo com o final.

No livro, a torre é desfeita porcausa do arroto de Mack, a tartaruga da base e que já tinha reclamado de dores nas costas e do medo de quebrar o casco. Aqui, parece mais medo da tartaruga base. Ele vê que Yertle quer atingir a lua e corre, desfazendo a torre.


Não sei se é particularidade da cultura russa, ou se por ainda estarem na União Soviética a história original tinha implicações que o governo não queria que a história tivesse. Pelo menos da forma que eu entendi, no livro, o arroto significa que a insatisfação era tão alta que qualquer coisinha, mesmo uma atitude involuntária, resultaria na queda do líder. Ou que o líder tava tão cego aos problemas do povo, que algo totalmente fora do controle do líder causou sua própria queda.

Não sei se era isso que Dr. Seuss tinha em mente quando escreveu a história, que era pra ser uma analogia da ascenção de Hitler ao poder e seu regime ditatorial. OBVIAMENTE isso não passou despercebido pela União Soviética, inclusive há mais detalhes nessa adaptação adicionadas que não tão no livro.


Na animação russa (que, aliás, é a única animação 2D baseada no livro; as outras versões são feitas totalmente em cima das ilustrações do livro ao invés de animadas tradicionalmente, ou são fantoches), tem uma cena que as tartarugas levam comida pra Yertle no topo, e são reprimidas quando tentam roubar um pouco antes de passar adiante.

Provavelmente deixaram passar essa como uma forma de passar idéias anti-ocidentais ou anti-capitalistas, mas talvez a intenção dos autores tenha sido de criticar as elites do próprio país também. Eu não tenho como confirmar isso, porque como a maior parte desses curtas, informações são escassas, e as que tem geralmente são rasas e em russo.


A direção de arte é brilhante, não é nada inovador até onde eu saiba, mas é muito bem executada. É uma animação de recortes, tal qual South Park era naquele curta original e que tenta emular até hoje, só que é muito bonito, muito detalhado, e um senso de arte elevado.

Digo, a tomada em perspectiva é simplesmente... uau.

Se conseguir achar pra ver, vale a pena, nem que seja pela direção de arte.




I Can Hear You «YA VAS SLYSHU» - Horton Hears a Who


EU LHES APRESENTO: O HORTON MAIS FEIO DE TODOS OS TEMPOS!

MEU DEUS É UM ELEFANTE AMARELO COM DEDOS E PÉS HUMANOS!

ARGH!


Ok, o curta adaptar bem o livro, blablabla, eu literalmente não consigo comentar muito porque não tem legenda.

Eu só tenho várias perguntas quanto a algumas escolhas criativas aqui, como ter objetos humanos na floresta, e os Whos parecerem camponeses russos.


A animação é o mesmo estilo da de Thidwick/Welcome (é inclusive o mesmo diretor, que também dirigiu o do Cat in the Hat), só que aqui ela é mais viva, mais animada, enquanto Welcome era mais parada.

Ainda assim, quanto menos eu ver esse Horton Simpson, melhor.


Eeeeww...

Aliás, não, pera. Tem uma cena que não faz NENHUM sentido.
Ok, os Whos são criaturas microscópicas que habitam em um grão de poeira numa flor. Ok.

Então, como RAIOS CONGELANTES

HORTON SEGURA O MOLEQUE QUE SAIU VOANDO DA VILA DOS WHOS???



EU EXIJO RESPOSTAS!!!!





Я жду птенца - Horton Hatches the Egg


Antes de mais nada, a tradução que o google dá pro título desse curta é "I'm Waiting for a Chick", que traduziu pro português como "Estou Esperando uma Garota".

Tá.

Horton Hatches the Egg é a história do elefante ultra gente boa que aceitou chocar o ovo de uma pássara preguiçosa que queria um descanso. Nisso os outros bichos começaram a tirar onda com ele, ele foi levado por caçadores pra Nova York pra ser exibido, a pássara retorna porque ela tava numa praia perto ou algo assim, e o ovo nasce sendo um elefante com asas ou algo do tipo eu não sei eu tou com fome.


O curta corta a parte dos bichos, mas adiciona um trecho... intrigante. Ele expande a parte de NY, onde os humanos que capturaram Horton na árvore ficam ainda mais ricos e famosos e acabam indo pra uma cidade de faroeste, por algum motivo. Provavelmente devia ser a visão dos russos sobre os EUA igual a gente tem do Acre.

Não, sério, tem uns pistoleiros e saloons e o raio a quatro, mas todo mundo pára pra ver o elefante chocando um ovo. É incrível como o nonsense consegue unir as pessoas.


Outra alteração é que a pássara aqui aparentemente migra pro sul, e esse era o motivo dela abandonar o ovo nas mãos de Horton. Claro, ela ainda curte a praia como se estivesse num filme com a Annette Funicello, inclusive o pássaro que rejeita ela no começo agora chega com uma caixa de minhocas (ou doces, ou jujuba minhoca eu sei lá). Ou seja, ele só queria ela sem o filho.


Entendi.

Esse curta é mais um trunfo da direção de arte, que pelo amor de Oz. Pelas imagens dá pra perceber que é algo totalmente diferente do que já se viu, até pros padrões modernos.

Ok, sabe como o curta do Yertle era feito de recortes? Então, é tipo isso aqui, só que os "recortes" são modelos físicos. É stop motion, usa modelos de massa, mas eles agem e se mexem num plano 2D. É basicamente um stop motion feito no 2.5D, é surreal de assistir.


Tem momentos que os personagens viram a cabeça (como o Horton), e dá pra ver que é um modelo totalmente diferente pro rosto de frente, é um esforço muito bom. Outros personagens tem pescoços giratórios como os pássaros, que causa a estranheza, mas não chega a soar errado.

Eu gosto também que os humanos são tridimensionais mas a pintura deles e o acabamento tenta emular um 2D, e vários humanos são feitos em 2D mesmo, sendo puros recortes.


E além disso, o estilo minimalista que o curta adota também é fantástico, muito típico da arte russa da época, ou que eles tentavam resgatar, não sei.

Vale muito a pena ver, mas só se tu já conhecer a história, porque eu não achei nenhuma versão com legenda.


E é isso, acho que com esses acabamos todos os curtas russos baseados em Dr. Seuss, a menos que descubram mais algum e eu tenha que voltar a escrever sobre isso de novo no futuro.

É uma jornada interessante, mas cansativa caso tu não conheça a língua ou não tenha legendas.

Não sei como encerrar, então... sei lá, toma o Horton amaldiçoado.


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