O Legado de Tio Walt - Parte 5: Renascimento


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Com Eisner no comando, aos poucos a Disney ia se reerguendo. Com o lançamento do Disney Channel e o crescimento da Touchstone, bem como o crescimento dos parques, a companhia de Walt viu a entrada de muita grana tal qual o cara que vende sanduíche aqui perto de casa depois de um show de reggae.

Ainda assim, o ganha-pão da companhia não via seus melhores dias. Claro, Ratinho Detetive trouxe uma ponta de esperança, mas ter o Pernalonga passando todo dia na casa do Mickey pra dizer "What's up, Doc? You don't CARE about your studio anymore?" não era exatamente um cenário favorável.

Assim, Mickey e Eisner fizeram uma reunião com os animadores, e como era o modus operandi de Eisner, não havia idéias imbecis o suficiente que não pudessem ser ditas em voz alta. Assim, Musker e Clements sugeriram Pequena Sereia.

"Ow papai queria fazer esse", disse Mickey. A dupla também sugeriu "ILHADOTESOURONOESPAÇO", o que fez Eisner abrir um pacote de Neosaldina. Foi aí que Pete Young Sugeriu se levantou e disse "Gente, eu tive uma idéia. Não gente, sério, escuta. Sério galera, imagina, não sério, pensa só:

Oliver Twist, mas com cachorrinhos."


Nesse momento, Jeffrey Katzemberg entrava na sala com um carimbo verde e joga na cara de Young. Era a oportunidade de fazer seu antigo plano de quando estava na Paramount, de adaptar o musical Oliver!.

Eisner arranjou uma pílula de Neusa pro Pete e a produção de Oliver and Company começou. (Conhecido na terra de Márcio Canuto como Oliver e sua Turma).


A intenção original era que o filme fosse uma continuação de Bernardo e Bianca, só que acabaram fazendo uma adaptação mesmo de Oliver Twist.
Sim, eu também não faço idéia de como isso funcionaria.


A história narra a história de Oliver, um gatinho abandonado que acaba se juntando a Dodger, um cachorro de rua COOL e sua turma de cães e um humano chamado Fagin. Só que Fagin deve grana pra um mafioso, e Oliver acaba sendo adotada por uma guria e blablabla, se tu conhece Oliver Twist, conhece a história.
...eu espero, já que o único contato que tiver com qualquer obra de Charles Dickens foi alguns capítulos de Uma Canção de Natal e as trocentas adaptações.

Aliás, eu cheguei a ver um pouco de um filme baseado em Oliver Twist, passou numa madrugada da Globo. Mas eu tinha uns 9 anos e não era o tipo de filme que chamou minha atenção, então eu dormi.
Mas eu fiquei me batendo pra ficar acordado e ver Popeye, que passou em outra ocasião na mesma situação. Enfim.


Enfim, considerando que eu não tive praticamente nenhum contato com a obra original, o filme é incrivelmente divertido. A história é curta, mas tem personagens e situações divertidas o suficiente. Pode ser só o fato de eu amar representação de Nova York em filmes, especialmente se tiver jazz no meio (sei lá, tem algo nostálgico nisso; malditos filmes natalinos), mas a cidade tem muita personalidade e dá espaço pra uma história desse tipo.

Cada personagem tem uma característica marcante e que... Sim, acaba sendo um pouco monótono, mas os dubladores e animadores conseguem fazer coisas novas com esses personagens, evitando que eles fiquem monótonos.


Ironicamente, o personagem mais plano é Oliver. Ele não é um personagem ativo, as coisas vão acontecendo ao redor dele e... É... Fora ele ser fofinho, não é muito memorável. Mais ou menos como geral costuma retratar as Princesas Clássicas, mas até elas tinham alguma profundidade comparadas ao Oliver.

Exceto a Aurora.

Aurora nem é gente.

Mas eu divago.

Ao contrário de Dodger, que é um cachorro estiloso e malandro-de-bom-coração-que-vai-todos-os-dias-pra-rua-a-fim-de-recolher-comida dublado pelo carinha que a TV União usava nas vinhetas.

Sim, o Billy Joel.


Dodger é praticamente o Zé Carioca sem a parte da preguiça, é legitimamente o verdadeiro protagonista do filme. Os outros personagens são marcantes o suficiente. Tem um bulldog culto e que sabe representar Shakespeare, um... tipo o Astro dos Jetsons que é tonto, uma cadela que parece ser a mais centrada do grupo, e um chihuahuahuehuekkk atrevido e hiperativo.

O humano sei lá porque me parece o Pateta se ele fosse um mendigo humano.
E tem a pivetinha que adota Oliver, que é uma das 5 crianças mais adoráveis criadas pela Disney.


A direção de arte é FANTÁSTICA. Dos prédios aos personagens de fundo, tudo parece ter saído direto de uma tira de jornal, ou de um daqueles quadrinhos independentes/semi-independentes. Eu não sei, tem uma personalidade tão grande quanto a própria cidade. Interessante também que eles usam muito cores quentes, quando normalmente eu vejo Nova York com tons mais frios. Não sei se era algo da época, mas tá aí.

E a música também acompanha o clima do filme, tendo tanto jazz quanto uma balada mais da época. É um pouco datado, mas estabelece o humor e conceito geral do filme, e é confortável de ouvir. O resto das músicas... Não são exatamente esquecíveis, mas também não são memoráveis. Exceto Why Should I Worry?, que é tão grudenta que eu cantarolava essa música mesmo sem ter visto o filme.


Durante uma aula no segundo ano, minha amiga Jany (que provavelmente tá estudando demais pra perder tempo lendo o blog, mas se ela ler isso ela vai lembrar) cantarolou dois versos e eu passei ANOS com eles na cabeça, vira e mexe eu tava "Se alguma granaa/Eu não ganhe-e-ei..."

É grudenta ASSIM.


E ainda falando da arte, é importantíssimo ressaltar que esse foi o primeiro filme Disney (e talvez de animação geral, sei lá. Vai que tem outro caso tipo Toy Story x Cassiopeia) a usar modelos 3D misturados ao 2D. Alguns prédios, carros, a escadaria numa música que tenta imitar os musicais grandiosos dos filmes antigos, a motocicleta-carro de supermercado do Fagin... O ESPETACULAR clímax, que com certeza entra no top 5 mortes mais violentas da Disney, junto com a Bruxa Má e Clayton... Todos usaram CG, mas ao contrário do que outros desenhos da época tentaram fazer, o CG era usado pra se misturar à animação tradicional, ao contrário de... uh... Um Conto Americano no Oeste, onde o 3D não tem contornos. Em Oliver, o que é 3D tem contornos e muito parecidos com os usados no filme.

Eu só fui descobrir que a moto do humano era CG vendo os documentários, por exemplo. Fez bem seu trabalho.

Ainda é um filme assistível por si só?

Ééééé... Eu diria que sim. Mas ele ficou um pouco datado e tu consegue ver melhor algumas falhas de narrativa.

Sobre Sonic R.

Os personagens não são aqueles personagens que tu quer torcer, o vilão não é tão desprezível que te faz querer entrar na tela pra dar uma bofetada nele; tudo é muito simples, faz parecer que é um dos estúdios concorrentes tentando imitar Disney. Que é o que aconteceu e continua acontecendo até hoje.

É um dos filmes mais fracos do estúdio, mas curiosamente, continua sendo totalmente assistível. É inofensivo e previsível, mas tem seus bons momentos. Vale a pena ver quando não tiver nada melhor pra fazer.


E eu gostaria de notar também outra coisa. Eu peguei uma rruma de coletânea Disney, tanto de músicas puras como de remixes/covers (pra fazer os podcasts sobre músicas Disney), e em nenhum deles eu lembro de ter encontrado UMA música sequer desse filme. Tem coleânea de música pura que eu ouvia e não fazia IDÉIA daonde vinha, e quando eu fui ver era de Bambi.

BAMBI!


E eu pessoalmente acho um crime, o filme pode não ser lá essas coisas, mas a trilha sonora tem muito valor, pelo menos duas músicas tem ótimo valor nostálgico e grudento (Once Upon a Time In New York City e Why Should I Worry?).

E uma última trivia antes de fecharmos esse filme: debateu-se muito na Disney se eles deveriam apagar as Torres Gêmeas em relançamentos futuros depois do 11 de Setembro. Seria um processo caro e demorado, e em 2001 já tinha sido lançado em VHS. A Disney optou por não apagar as Torres, e muitos nova-iorquinos parabenizaram o estúdio por manter uma visão da cidade antes do ataque. Provavelmente porque da forma que tá na abertura, é uma memória nostálgica e bela. Eu não sei.

acredite no seu potencial
comece sua redação com "eu acho que"
xaveque as meninas com músicas random da Disney
coma merda

Mas, no final das contas, esse filme também foi um teste pro estúdio. Veja bem, desde O Cão e a Raposa que o estúdio não tinha produzido um musical puro, e embora tivesse recebido críticas mistas, teve uma boa bilheteria ( eventualmente superando Em Busca do Vale Encantado de Don Bluth, mesmo tendo perdido pra ele na semana de estréia), o que levou ao então presidente do estúdio, Peter Schneider, a anunciar que a Disney planejaria fazer um longa animado por ano. O que era algo insano na época, ainda mais considerando que a Disney acabava de se recuperar de seu pior fiasco, sendo lembrado todos os dias pela concorrência, que mandava cartões dos Ursinhos Carinhosos pra Michael Eisner.


Cansado dessa pachorra da concorrência, Disney resolveu agir. Desde 86 Ron Clements tentava fazer um pitch de Pequena Sereia pro estúdio, mas sempre aparecia algo na frente, como a sequência de Splash, Roger Rabbit e Oliver.

Com Oliver fora do caminho, finalmente o próximo projeto tava livre. E rapaz, foi um dos projetos mais ambiciosos do estúdio. O desenvolvimento do conceito inicial resultou num musical animado estilo Broadway, algo que agradaria ao público moderno da época; mas as técnicas de animação seriam as tradicionais, incluindo o uso de referências de modelos vivos.

O que levou um dos animadores a desistir do projeto depois de saber disso.

...é, o cara vai trabalhar na DISNEY e não quer fazer parte de um filme que use modelos reais pra fazer a animação, vai entender.




Enfim, o trabalho manual do filme era gigantesco, a animação era a mais caprichada possível, o trabalho de pintura deveria ser impecável e o mais próximo possível dos clássicos. Até tentaram usar a câmera multiplano, mas o equipamento tava num estado tão lamentável que fizeram esse serviço por fora.

A semente pode ter sido lançada com Ratinho Detetive, mas foi A Pequena Sereia que definitivamente salvou a Walt Disney Animation e definiu toda uma Era. Uma história clássica e conhecida, feita de forma tradicional tradicional, mas com uma narrativa mais moderna e técnicas de animação inovadoras que tentavam não envelhecer facilmente.

Começava a Renascença Disney.


A história acompanha a história de Ariel, uma sereia que tem um fascínio pelas coisas da superfície e coleciona cacarecos, quinquilharias e bugigangas aleatórias que encontra em navios naufragados.
Tipo um otaco em feira de desenho japonês, só que gastando menos.

Mas seu pai, o Rei Tritão que certamente assistiu Splash 15 vezes, absolutamente proíbe que ela vá pra superfície, temendo que algo de ruim aconteça com ela.

E então, alguma coisa ruim acontece com ela. Ariel acaba se apeixonando por um humano, e vai em busca da ajuda de uma bruxa do mar pra ter pernas e convencer o cara a ser seu Namorado. BLablablabla o resto da história cês sabem, o príncipe se casa com outra, Ariel vira espuma do mar, etc.

...é claro que não. Isso na versão original (que eu até resenhei uma animação japonesa, aqui mesmo), mas a essa altura do campeonato a Disney literalmente não podia fazer esse final, ou seria suicídio.

...não da Ariel, do estúd-ok, da Ariel também, mas esse não é o ponto.

Also, o cenário desse filme é LNDO.
Assim como aconteceu nos outros filmes da Renascença e nos Clássicos, a equipe do filme era composta pelo pessoal certo no lugar certo. Exceto que a equipe foi forçada a se mudar do prédio de animação fundado por Walt pra um estacionamento com trailers, porque a equipe era bem reduzida e o estúdio precisava cortar gastos.

Isso acabou de uma certa forma, unindo mais o pessoal. O filme PRECISAVA ser um sucesso, o departamento de animação estava por um triz.

E felizmente, o filme é sensacional.


A história é conhecida, mas como sempre, o filme nos dá elementos novos suficiente pra que continuemos interessados na narrativa, que por si só é divertida de assistir. Trazendo gente da própria Broadway (como os compositores Alan Menken e Howard Ashman e a atriz e cantora Jodi Benson), todo o feel do filme tem algo de novidade, mas ao mesmo tempo confortável. É como ver um musical animado, não só pelas músicas, mas pela atuação, pelos personagens, pelos cenários.

Meu Deus, essa animação.


Qualquer um que me conhece mais de perto sabe que eu tenho dificuldade pra chorar com filme. Sei lá porque, eu tenho que tar MUITO emocionalmente ligado pra chorar ou ao menos ameaçar de chorar.

Então... Toda vez que eu vejo esse filme e noto a animação no cabelo da Ariel debaixo d'água, meus olhos ameaçam de marejar.

É.


É tão lindo, tão natural, e foi feito à mão, na marra. É sensacional.

Destaque também pra segunda metade do filme, onde Ariel perde a voz e a animação no rosto e corpo ficam excepcionais. Ela consegue ser curiosa, engraçada, esperta, com uma expressividade que lembra muito Charles Chaplin e a Sininho.

Aliás, eu tenho um fraco por personagens muito expressivas, provavelmente desde a Sininho e Jane (já que eu vi Peter Pan e Tarzan quando moleque), e é o que me faz amar personagens como Ariel, Sininho, e a Nojinho de Inside Out.


Mas não só a protagonista era adorável e simpática, todo o elenco é divertido e palpável. Rei Tritão é um pai que se preocupa com o futuro da sua filha, mas sendo ela a caçula, ele tem medo de ser duro demais com ela, como todo pai viúvo. Sebastião é praticamente o guardião da guria, mas que também tem coração mole; Flounder é o peixe medroso melhor amigo da Ariel, e Scuttle é um Wingull que dá descrições zoadas dos objetos humanos. Praticamente uma Desciclopédia com asas e a voz do Scrooge de Scrooged.

E sim, pela primeira vez, temos um Príncipe com personalidade e falas! HOOORAAAAAY!

Falas feitas por um guri de 16 anos que tinha a voz mais grossa do que deveria!

HOORAA-pera que?

E sim, eu não tenho regra pra tradução, às vezes eu falo os nomes em inglês e às vezes em português, depende do meu humor.


Muito das tradições Disneyanas pros próximos anos foram criadas ou refinadas aqui, aliás. O trope de uma canção pro vilão (que desde Frozen é algo inexistente, mas outro dia falamos disso); do protagonista ter algum sidekick animal (coisa que era feito desde Branca de Neve e foi aperfeiçoado com Pinóquio e Cinderela); e do protagonista cantar suas dores/objetivos, na apelidada de "I Wish Song".

Em Branca de Neve é literalmente a primeira música, mas aqui há um conceito diferente por trás. Em musicais da Broadway, geralmente a segunda/terceira/quarta música mostra o protagonista exalando seus anseios e objetivos. Pequena Sereia tem Part of Your World, Corcunda de Notre Dame tem Out There, Enrolados tem When Will My Life Begin, e por aí vai.

Aliás, Part of Your World quase foi cortada do filme pelo executivo Jeffrey Katzemberg, que durante um teste de público notou que um moleque derrubou pipoca e ficou catando ao invés de assistir o filme.
Glen Keane (que implorou pra animar a cena) conseguiu convencer Katzemberg a deixar a cena. Um outro teste foi feito com adultos, que choraram e a cena ficou.
Sim, é tipo Over The Rainbow, só que com motivos menos imbecis.

Quando tu tá com a namorada no shopping
e ela vê a melhor amiga dos tempos de escola
Outro aspecto que é relevante mencionar é que o par romântico finalmente precisa passar um tempo juntos. Sim, sem mais aquele lance de "te conheci agora e vou me casar contigo", que Encantada e Frozen adoram zoar. Na prática isso só aconteceu com as Princesas Clássicas (todas as... 3), depois de Pequena Sereia os personagens tiveram mais desenvolvimento. No geral mesmo, como eu falei, até o pai da protagonista tem um desenvolvimento palpável e compreensível.



Mas também tem suas críticas... Cabíveis, até. Veja bem, numa narrativa, o final da história não pode nos levar pro início, no sentido de que o Herói precisa ter aprendido alguma coisa, mesmo que seja uma piada (como acontece muito em comédia pra TV). Ariel não demonstra ter aprendido nada, ela tem o Retorno com Elixir, mas... Não vemos na prática nada que demonstre que ela assume que tomou decisões erradas. Tem uma cena muito curta quando Úrsula completa seu plano, mas não é muito desenvolvida (até por estar no meio do clímax).

Pode-se argumentar também que o Rei é que precisava aprender uma lição, e ele a aprende com sucesso, mas Ariel também faz merda e até sofre o dano, mas não demonstra muito arrependimento.

Lembrando que foi culpa da Ariel
ter transformado basicamente o capeta do mar
no Aquaman/Namor.
Mas... Se fosse pra botar isso no filme, iria atrapalhar o ritmo ou narrativa visual. A cena da transformação da Ariel na pedra é icônica e flui muito bem. Talvez com um detalhe a mais, tipo um close no rosto de Ariel chorando, como se fosse a última olhada em Eric, pudesse dizer tudo isso de forma visual, emocionante e rápida.

Mas, regra de conto de fada: a emoção prevalece sobre a razão na maioria das vezes.


E do ponto de vista técnico, vários testes com o CAPS foram feitos aqui, como o arco-íris do final e alguns modelos 3D como barcos, escadas e a carruagem de passeio quando a Ariel vai pra superfície.

Aliás, nesse momento específico
dá pra notar que as rodas não se mexem.
O que mais eu posso dizer que não tenha sido dito? É um filme fantástico. Até um ponto negativo, que seria a sequência Under the Sea, que ficou debativelmente datada depois de TODO FILME SUBMARINO SEGUIR A ESTÉTICA DA CENA, tornando tudo brega demais, acaba te conquistando seja pela música ou pela criatividade das letras, ou mesmo pelo carisma do Sebastião.

E mais uma vez, esse é um filme que prova que uma adaptação não precisa ser 100% fiel à original pra ser boa, como muitos gostam de pensar. Imagina o CAOS que ia ser se a DIsney matasse a protagonista. Se deu uma merda federal com o castelo com um pênis na capa do VHS e o padre com o membro excitado durante o casamento (que não passavam de mal-entendidos e a Associação dos Pais Desocupados da América querendo arrumar confusão), imagina se eles seguissem fielmente a história.


Aliás, na época o filme foi mal recebido no país de Hans Christian Andersen, justamente por isso. Até que a rainha Margareth II mandou um "ow, sossega o facho aí, seus retardado. o Hans nem sabia terminar as histórias dele". E depois de ter lido o conto original na íntegra... eu concordo plenamente, que finalzinho desgraçado, viu.

Algo parecido aconteceu com Hércules, mas eu chego lá.


Se ainda não viu Pequena Sereia, assista assim que puder. É um filme fantástico e que cimentou e moldou a Disney nos anos 90 até como a conhecemos hoje, onde os filmes tentam ser filmes família, onde as crianças conseguem ser entretidas e os pais não precisam se martirizar por 1h30.

Eu poderia terminar com
um print de outro BELÍSSIMO cenário,
mas esse frame ficou engraçado.

Enquanto isso, alguém na divisão de TV achou que era uma boa idéia dar a uma das animações televisivas um filme pra cinema. Porque não existem idéias imbecis o suficiente que não possam ser ditas em voz alta, se der certo massa, se não, meh.

Mesmo dando lucro (o filme custou 2 milhões e rendeu 18 milhões só nos EUA), DuckTales: O Filme não foi o sucesso que o estúdio esperava, o que o levou a cancelar uma série de filmes de DuckTales, um filme de Tico e Teco e os Defensores da Lei, e a retrabalhar o título de Goof Troop Movie pra só A Goofy Movie.

Mas falemos de DuckTales primeiro.


A história começa com Tio Patinhas e sua trupe atrás do tesouro de Collie Baba. Eles realmente encontram, mas acabam perdendo tudo pro guia, Dijon, e seu mestre, Morlock, interpretado por Doc Brown. Mas uma lâmpada sobrevive, e os moleques descobrem que... Como assim, "que moleques"? Huguinho, Zezinho, Luisinho e Patrícia, ora raios! Nunca viu DuckTales? DEVERIA. SEU VERME IMUNDO E BEBEDOR DE PEPSI.

Enfim, os moleques descobrem um gênio dentro da lâmpada, que foge de Morlock. Isso porque o maluco tem um talismã mágico (um talismágico?) que permite que ele se transforme em qualquer animal. Num mundo habitado unicamente por animais isso soa complicado, mas eu divago. Acontece que se juntar o talismã na lâmpada, o seu dono terá desejos infinitos, e blablabla aventura, desejos, lição de moral, lucros.


Eu não vi muito DuckTales, mas eu via esse filme DIRETO quando moleque. Segundo meus pais eu via ele quando eu era bebê, mas eu mal conseguia lembrar. Na real eu lembro de duas ocasiões BEM específicas que eu vi a série na tv, quando passava na Globo. Provavelmente era num dia de sábado, que normalmente quando eu conseguia ver ou passava Fórmula 1, ou vôlei, ou carnaval.

Enfim, não precisa ter visto a série pra ver o filme, o que é um GRANDE plus. Nenhum evento da série é mencionado, nenhum personagem fora o núcleo principal (Tio Patinhas, as crianças, Bóing, o mordomo e a babá), e tudo que é desenvolvido no filme (Dijon e Merlock) são suficientes pra tu entender.


Digo, não é como se Merlock fosse um vilão incrivelmente desenvolvido, com um grande plano pra dominar o mundo ou algo assim, mas o filme explica as motivações dele suficientemente bem, por mais simplórias que sejam. Assim como Geninho, cujas motivações são intrinsicamente ligadas às de Morlock.

No final das contas, é só um episódio de DuckTales de uma hora. Mas é um BOM episódio?
Digamos que... funciona.


Talvez não seja o melhor elaborado, mas é divertido. É um bom filme familiar. Tu vai ter piadas, aventura, crianças normais sendo crianças normais, personagens já conhecidos e bem representados, e uma animação e direção de arte fenomenal.

A animação da série já era boa (como outras do estúdio, aliás), e nesse filme eles se superaram. Tu nota que tem um esforço, que tem grana sendo investida, e que os caras realmente tentaram fazer algo do nível dos longas Disney que estavam sendo feitos na época. Claro, não chega a ser uma maravilha técnica e artística como Pequena Sereia, mas pra uma equipe que só fazia séries animadas pra TV, isso é demais.

Com o passar do tempo eles foram melhorando MUITO (como veremos mais adiante), e esse filme mostra o potencial.

Eu particularmente AMO o design do castelo de Morlock, é tão brutal, caótico, e sombrio, mas tem uma certa ordem.


Na época, o filme não recebeu boas críticas, que acusavam de zoar as tradições e histórias de Carl Barks. Até Siskel e Ebert se recusaram a resenhar o filme no programa deles.

O qual eu digo: bando de sacripantas desprezíveis, o universo de DuckTales é completamente diferente do de Barks-Rosa. O desenho mesmo já pegava algumas idéias dos quadrinhos e fazia sua própria versão. Se essa versão é boa, ruim ou as duas versões conseguem coexistir, são outros 500.

O filme é competente ao fazer referências às histórias de Indiana Jones (até pelo poster, inclusive feito pelo Drew Struzan), mas não as usa de muleta, e o que ele faz de novo e criativo é bom e divertido. Não é uma referência direta, é mais aquele sentimento de que "isso se encaixaria bem se Indiana Jones fosse uma animação pra crianças".


E é basicamente esse o filme, guardadas as proporções. É um ótimo filme de aventura pra crianças, que consegue ser algo próprio e até independente da série (até o plot base como os meninos conviverem com o Tio Patinhas e Patrícia são basicamente ignorados, mas não se sente deslocado).

Se tiver crianças pequenas, vale MUITO a pena assistir. E se tiver fazendo nada também, é uma excelente sessão da tarde.




Parecido com esse, mas não totalmente, temos a primeira sequência na História Disneyana. Lembra daquele filme "ok" com dois ratinhos que aparece uma mulher fazendo topless naj anela? Então, NÓS OUVIMOS VOCÊS E FIZEMOS OUTRO FILME DELES!
PORQUE TODO MUNDO NA ÉPOCA AMOU TANTO ESSE FILME QUE UMA SEQUÊNCIA ERA INEVITÁVEL!

NÉ? NÉ???
...

...The Rescuers Down Under. (conhecido em Segipe como Bernado e Bianca na Terra dos Cangurus)


A história nos conta sobre Cody, um moleque que mora vizinho ao Coragem, o Cão Covarde. Ele passa os dias a conversar com animais e salvar os que estão em perigo.

...sim, já já vamos a isso.

Ma aí um CAÇADOR DUMAL aparece querendo capturar uma águia raríssima do tamanho de um Boeing que acabou de ser salva pelo moleque. O CAÇADOR DUMAL sequestra Cody e Bernardo e Bianca se juntam a um Rescuer local pra salvar o guri.


A sequência de abertura te mostra tudo o que tu precisa saber sobre o filme: é uma maravilha audiovisual. Primeiro filme feito totalmente com o sistema CAPS, ele mostra toda a capacidade da técnica digital que ainda precisava ser aprimorada, mas já dava resultados DAORA™.

Digo, olha a abertura disso. Poucas sequências conseguem te jogar no meio do filme com o sentimento de aventura com pouquíssimos elementos como essa. Isso porque eu não mostrei as cenas onde Cody voa com a águiazona.

E como podem ver, eu não tava zoando quando eu disse que ele era vizinho do Coragem.



E agora eu notei que mencionei mais cedo o CAPS mas não expliquei o que era. Pois bem. O CAPS (que é uma sigla pra Computer Animation Production System; em português Paradinha Daora pra Pintar Desenho Animado no PC). O sistema desenvolvido pela Pixar permite que o animador escaneie o frame de animação e pinte a cena digitalmente, com mais tons e variações de cores e gradiente.

E não só isso, mas aposenta definitivamente o uso da Câmera Multiplano, já que agora tudo é digital, mas a animação ainda é feita na marra, como era feito desde os primórdios.



E é uma das melhores animações que tu vai ver vindo da Disney. Provavelmente não top5, mas um top10 com certeza. As cenas de vôo foram muito influenciadas pelos filmes do Hayao Miyazaki, e se nota. Tem uma emoção, uma energia que realmente precisa ser vista numa tela grande.

E... eu não sei se é só comigo... Mas o design de personagens não parece Disney. Eu não sei se foi intencional ou não, mas parece mais um daqueles estúdios menores ou concorrentes querendo imitar Disney. Tipo os filmes do Don Bluth, o cara tem experiência Disney, mas ele muda o suficiente pra que seja algo próprio, tornando o resultado confuso o suficiente pra enganar nossas tias.

Não quer dizer que o design seja RUIM, é só... Diferente. Sei lá, depois de um tempo meio que me incomoda, mas eu sou um velho de 60 anos no corpo de um jovem que conversa com uma pelúcia da Alice, do que é que eu sei?


Mas assim como o primeiro... É um filme meio meh. As partes de aventura são interessantes, mas eu já não conseguia ligar pros personagens antes. Não é como se do nada eu me importasse com eles agora, já que tem um subplot de Bernardo pedir Bianca em casamento que... eh.

E aí tem o rato-canguru (ou seja lá como se chama isso) que fica no meio dos dois e... eh.

Ele parecia ter potencial pra ser o guia e ter uma personalidade engraçada ou gostável, mas passamos tão pouco tempo com ele que...

...eh.

Parece o mapa com os pontos
turístico de Fortaleza
E aí tem o sequestro do Cody que... eh.

Parece que depois da abertura do filme, toda a história se envolve numa imensa bola de "ok" que me dá uma agonia. Poderia ter sido MUITO melhor, mas... Não é, é só o primeiro filme de novo com uns plotpoints a mais e uma animação incrível e um final TÃÃÃÃÃO ruim que eu nem me importo de dizer que o filme termina com todo mundo voando na águia e ficamos sem saber se o moleque volta pra casa. O que é inaceitável porque vemos os policiais chegando na casa dele entregando a mochila do moleque pra mãe, implicando que ele tá morto. Terminamos o filme e a mãe ainda acha que o guri não vai mais voltar e ela vai ter que viver sozinha e triste pro resto da vida.


Fora que esse filme me fez notar que ninguém explica como as crianças entendem os ratos, mas não entendem outros animais, como a iguana do vilão ou a águia.
Tipo, literalmente, primeira cena do filme o Cody tá lá  conversando com um Canguru, e tem uma cena inteira onde ele tá preso com outros animais e ele conversa com eles. Porque a iguana não fala? Porque o caçador não consegue falar com a iguana ou com outros animais? Esse filme se passa no mesmo universo que Legend of Titanic ou Pocahontas?

E é importante notar também que esse é um filme que usa modelos 3D misturados com 2D, só que... não funciona tão bem. Provavelmente por não ter contornos definidos como em Oliver, mas o design de produção pedia que tais traços não existissem. Então... é. Não tem escapatória, é feio, não combina, mas ao menos serviu pra testar a tecnologia.

E ei, deve ter dado um trabalho ingrato pra fazer isso. É quase uma forma artesanal de 3D.


Enfim, é um filme assistível. Tem momentos grandiosos, belos de ver e ouvir, mas pouca substância. Sei lá, se tu gosta de bichinhos fofinhos e Sessão da Tarde, talvez tu goste disso. Gostei de ter visto, mas não veria de novo fora algumas cenas soltas no YouTube.


Ao menos os filmes iriam melhorar daqui pra frente.


***
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