[Mês do Dr. Seuss] How The Grinch Stole Christmas, Live! (ou a versão de TV do musical do Grinch)


E estamos aqui novamente em mais um Mês do Dr. Seuss, onde temos um mês inteiro dedicado a rimar, desde que não envolva Among Us.


Forçado, tá, mas eu queria tunar um pouco o SEO. Nunca se sabe.


Enfim, como tamos no anos 2020 e por algum motivo bizarro Lin-Manuel Miranda tá virando o novo deus dos musicais (ou só trabalhando feito um burro de carga e puxando o saco dos executivos certos), eu tou a fim de resenhar algo musical baseado nas obras do velho Geisel.


E eu poderia escrever sobre Seussical, mas o Waiting in the Wings já fez isso de maneira fantástica, muito melhor do que eu poderia fazer usando menos fonemas petrificados em bits. Talvez algum dia, sei lá, vai depender da forma, porque a própria existência atual do Seussical é… estranha. Não dá pra pegar uma versão definitiva e resenhar da mesma maneira que eu faço.

Mas dá pra fazer isso com o musical do Grinch.

Sim, isso existiu, tem uma história ligeiramente fascinante, e uma gravação desastrosa em 2020. Então, andiamo!



Antes de mais nada, é preciso entender que a versão filmada pra TV pela NBC é uma adaptação do musical que acabou indo pra Broadway em 2007 e fez outros tours esporádicos depois disso. Algumas diferenças existem, porque é claro que sim.

A parte boa é que o filme segue muito do plot e narrativa do desenho de Chuck Jones, e a parte ruim é que ele pega a parte ruim do filme com Jim Carrey, ou seja, piadas com gases e o subplot consumista. Embora tenha apenas uma unidade de piada envolvendo gases em todo o musical, é um daqueles momentos que meio que te tiram da história por estarem absolutamente soltos sem propósito real, exceto porque o filme com Jim Carrey fez isso e alguma parcela do público vai esperar uma piada com arroto ou peido em uma adaptação de Dr. Seuss.

Essa é uma das frases mais tristes que eu escrevi na vida.


Agora, o plot de consumismo é bem amaciado, e eu creio que seja usado de uma forma mais amigável e que não tira o lado wholesome que os Whos sempre tiveram no livro e no especial animado. Tem uma música inteira sobre “não importa o presente, o que importa é a intenção”, mas também assume que “ok fazer compras no natal é um inferno”.

É claro, eu tou parafraseando, porque eu não sei rimar.

Outra gigantesca diferença é que a história é narrada por Max, o cachorrinho do Grinch. Ah é, o Max fala aqui.


Okay. É uma mídia diferente, era necessário uma mudança dessas, compreendo.


Com isso dito… o especial natalino é basicamente a versão teatral, só que beeeeem condensada, marcando a duração de uma hora e meia (sem contar intervalo) enquanto a duração do musical teatral é de duas horas, como de cost…


Pera, o musical tem uma hora e 25… E pensando bem, teve os créditos da versão gravada, então não é bem 1h30… Então…

…porque tantos críticos desceram a lenha na gravação da NBC, enquanto não teve nada além de elogios à versão teatral?

Vamos descobrir.


Como o especial foi gravado em plena pandemia e porque o espetáculo não é feito em grande escala desde… 2017…? Eles tiveram que fazer algumas alterações no ritmo e estilo da peça. O bom é que manteram aspectos que não só referenciam o musical, mas também os livros do Seuss, com esse estilo muito cartunesco de cenário que emula os traços do velho Geisel.

E como é um musical gravado, ele toma algumas vantagens em relação a uma produção realmente ao vivo, como a de poder transicionar de uma cena pra outra em questão de segundos. Em um momento a gente té com o Grinch e Max na caverna, e num piscar de olhos estamos com as crianças cantando Watchamawho, com cenários e props totalmente diferentes, e ao final do número, estamos de volta na caverna.

Em teoria, era pra ser como a gravação de Cats em 98, a versão definitiva do espetáculo que pudesse ser a melhor amostra do que a peça oferece. Mas em Cats, temos uma experiência completa, coesa, e bastante próxima do musical teatral em termos de ritmo e flow, enquanto em Grinch… Temos pausas.


Ok, pausas pro intervalo, é um filme pra TV, afinal de contas. Compreensível. Porém, essas pausas mais atrapalham que ajudam, e o ritmo da história fica prejudicado. Lembrando que não é uma história complexa, não é um O Sol É Para Todos, não é Hamilton, tampouco Corcunda de Notre Dame. É o freakin' Como o Grinch Roubou o Natal, contar essa história numa peça musical em três atos em 1h30 não devia ser ciência espacial.

E ainda assim, a produção parece mais interessada em apresentar as músicas do show ao invés de ligar uma coisa a outra. Embora haja alguns pedaços de diálogo, eles não são suficientemente executados ou editados pra nos dar uma respirada das músicas. Pode parecer incrível, mas a menos que seja uma ópera, ter músicas constantes é cansativo mesmo pra quem ama o gênero.

Pra efeito de comparação, Aladdin (Broadway) é uma peça que tem um equilíbrio bom entre o diálogo e música, enquanto Hamilton ignora totalmente os diálogos em prol de uma estrutura operática.


Essa produção do Grinch, especificamente, fica no meio termo. Ela tem poucos diálogos, na maioria das vezes só o suficiente pra introduzir a próxima música, ou porque faz parte do livro e seria uma blasfêmia não incluir algumas falas icônicas.

Mas pelo menos as músicas são boas. Há um bom senso de adaptação e até de transpor a musicalidade que já existia nos livros, especialmente em trechos como “I hate Christmas eve, the whole Chritmas season”, cujos versos seguintes em alguns momentos   vem da boca de outros personagens, pra ter consistência narrativa. Como eles não adaptaram o “The Grinch had an idea”, eu não sei.

Meu único problema musicalmente é a inclusão de Where Are You, Christmas?. Não é uma má interpretação e tem seu lugar na trama, mas não tava nas produções teatrais, sendo exclusiva do filme de 2000. No filme, a música é cantada pela Cindy Lou-Who, e ela canta porque justamente se sente deslocada em meio a uma cidade consumista e blablabla.


Aqui, no entanto, é cantada pelos adultos também, logo após descobrirem que o Grinch roubou o Natal deles. Não é exatamente uma canção errada no lugar errado, mas deveria ter sido adaptada, porque ver adultos cantando linhas como “My world is changing/I’m rearranging” soam totalmente desconexas e fora de lugar.

Normalmente os críticos e público tiveram problemas com a forma que o Grinch em si foi interpretado, que foi mais… Uh… 2020.

Digo… tem uma piada sobre distanciamento social. Eu achei engraçada. Se o Gênio pode fazer a piada “Não é óbvio? Sou azul de orelhas pontudas, sou seu avatar!” no California Adventure, não vejo porque o Grinch não poderia fazer uma piada “eu já fazia o distanciamento social antes de ser moda”.


Eu particularmente gosto quando ele quebra a quarta parede e fala diretamente com o pessoal em casa, inclusive criticando o sofá do público. É o tipo de interação que se teria num teatro, mas adaptada pra TV. Ok, eu aceito.

Alguns viram um pouco do Trump nesse Grinch, mas aí já é doença mental mesmo.

No geral, esse é um Grinch mais excêntrico, um pouco puxado pro Jim Carrey, só que mais cínico e um pouco mais mean-spirited. Jim Carrey ainda tentava ser um pouco simpático em alguns momentos, mas esse aqui ativamente não se importa.


O Max jovem é o filho do não-Jafar de Descendentes, que também tava em Crepúsculo, e é estranho ver ele num papel mais inocente e alegre, mas ele o cumpre bem, incluindo seus famosos twists no ar. Se ele fosse mais forte fisicamente talvez pudesse ser um wrestler, quem sabe.

O Max Velho é interessante, porque ele constantemente interage na história, a ponto de que, no papel soa estranho, mas na prática eles fazem funcionar, de uma forma meio surreal. Ele tá contando a história e participando ao mesmo tempo, é divertido.

Aliás, o Grinch e o Max Velho já apareceram juntos num outro musical pra TV, produzido pela Casa do Rato: Once Upon a Mattress, onde o Max era o príncipe e o Grinch o cavaleiro que engravida a namorada antes do casamento nos dez primeiros minutos de filme.

Sim, é um filme da Disney. É surreal, mas foi baseado num outro musical teatral. Vale muito a pena ver, aliás, recomendo, outro dia resenho ele direito.


E falando em elencos inesperados, a Vanessa Hudgens (ou seja lá como se escreve o nome dela) foi uma das primeiras Cindy-Lous, beeem antes da fama. O Grinch já foi interpretado pelo Patrick Page. Se o nome não lhe for familiar, ele foi o Frollo no musical de Corcunda de Notre Dame (aqui uma versão com áudio mais limpo, a voz desse cara é impressionante) e o Lumiére em Bela e a Fera.

Outro que vestiu o manto verde foi Stefan Karl Stefansson, o Robbie Rotten de Lazy Town. Aqui, um vídeo dele em ação e uma entrevista dele no personagem, ambos os vídeos absurdamente divertidos.

Embora não seja perfeito, o especial natalino tá LONGE de ser ruim. As músicas são divertidas, o figurino embora seja muito diferente dos outros Whos que tamo acostumados, tem lá seu charme, e pelo menos não são assustadores iguais os do filme de 2000. Os cenários são muito bem trabalhados, a interpretação dos atores é engajante e traz coisas novas aos personagens.


O único defeito é realmente a montagem e a fluidez do negócio todo, que fica parando constantemente e não se esforça muito em ligar as pontes entre um segmento e outro. É legal de ver pelo menos uma vez pra se familiarizar com o material e vez ou outra ver algum segmento interessante.

Eu vou guardar o arquivo do filme aqui, porque não tem jeito NENHUM de ver isso legalmente aqui, e porque o torrent em HD levou uns quatro dias pra ser baixado. E quando fui ver, AS LEGENDAS TAVAM INVERTIDAS. A linha de baixo era a linha de cima e vice-versa. E não tem legenda solta desse filme na internet.

É. Não tem jeito. Esse filme precisa de mais procura, e se você é apreciador de produções baseadas nos livros do Dr. Seuss ou do Grinch, ou de teatro musical, vale muito a pena ir atrás disso, pra ver nem que seja uma vez.


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