The Bad Guys


A Dream Works é um dos estúdios de animação mais versáteis do mercado, mais até que a Disney.
É basicamente uma tentativa e erro, no entanto.

De um lado, temos a Casa do Rato, que faz animações que tentam agradar a todas a faixas etárias de alguma forma, mas que vem decaindo no conceito original de ser arte. Do outro, animações puramente comerciais da Illumination, que descobriu que não precisa ter um pingo de esforço pra se manter viva.

E no meio, a DreamWorks, que consegue fazer coisas como Shrek, Príncipe do Egito, Kung Fu Panda e Como Treinar Seu Dragão, mas também faz Boss Baby e Trolls.

Agora, pra ser sincero, eu não consigo discorrer muito das produções do Apartamento do Menino Pescador, porque de uns tempos pra cá eles tem feito coisas que soam como aqueles trailers falsos de Tropical Thunder, como o próprio Boss Baby. Então, mesmo que eu tenha visto alguma coisa recente deles, é provável que eu não me lembre, ou que eu tenha deixado passar porque parecia muito algo da Illumination.
O que é irônico, já que a Universal é dona da Casa dos Minions e da Casa do Shrek.

Eu ainda tento aceitar que existe Turbo, que dirá UMA SÉRIE ANIMADA DE TURBO.

Mas como todo estúdio hoje tenta fazer uma animação fotorrealista (mesmo que os personagens sejam cartunescos, o que é bisonho mais vezes do que não é), a DreamWorks agora aposta na tendência estilizada que Spiderverse nos deu. Graças a Deus.



The Bad Guys (ou Os Caras Malvados, na terra da Fábrica Richester) gira em torno de uma equipe de ladrões profissionais, daqueles que normalmente a gente acaba torcendo por serem carismáticos e terem uma inteligência admirável; algo que é muito comum em filmes de ação e thrillers, mas eu legitimamente não lembro de nada assim num longa pra família.

Por motivos óbvios, mas o filme faz um bom trabalho em navegar pela dificuldade moral de ser uma animação familiar estrelada por literais criminosos.

O líder do grupo é o Lobo Mau, que ao invés de ser uma besta infernal criada por Cao Hamburger pra traumatizar seu público-alvo, é mais maligno e engraçado como na Chapeuzinho Vermelho. Se a Chapeuzinho fosse uma dama de 30 anos com uma aura digna de Plastic Love.

Tá, ele parece o Lobo do Tex Avery, só que mais suave e menos espalhafatoso.

Ele é acompanhado por companheiros igualmente detestáveis, como um tubarão chamado Tubarão, uma cobra chamada Cobra, uma piranha chamada Piranha, e uma tarântula chamada Webs. Se isso fosse um vídeo, é aqui que eu colocaria aquele trecho de Cantando na Chuva onde o Don diz que preferiria beijar uma tarântula do que Lina Lamont.

Eu concordo, mas só porque a Webs foi dublada pela Awkafina.


Após mais uma fuga bem-sucedida, os Bad Guys são publicamente desafiados pela governadora, que é uma raposa. Literalmente. E o Lobo resolve dar o maior dos golpes: roubar o troféu de boa-vontade ou qualquer coisa assim, e bola um plano ultra estratégico pra fazer o que nenhum outro ladrão profissional conseguiu.

Agora que eu me toquei, existe uma diferença entre ladrão amador e ladrão profissional no mesmo sentido de wrestler e professional wrestler? Nesse caso, os que tem o nome “professional” tão lá mais pelo showbiz, então faz sentido.

Só que o negócio dá errado no meio do caminho e eles acabam sendo finalmente presos. Pra não irem pro xilindró, o Lobo faz um acordo com a governadora raposa de ele e o resto da gangue irem pra uma reabilitação pra se tornarem bonzinhos, sendo tutorados pelo porquinho da índia mais bondoso que se tem notícia.

Sim, é claro que o Lobo acaba gostando de ser bonzinho e é isso que cria o conflito principal.


Só de descrever a sinopse do filme já dá pra ter noção de como a história vai se desenrolar, pelo excesso de clichês conhecidos. É óbvio que vai ter um vilão surpresa, é óbvio que os Bad Guys vão ter uma mudança de atitude total até o final do filme, e é óbvio que o Lobo e a Raposa vão acabar formando um casal. Mas a forma que o filme te ganha é no caminho até isso.

Os personagens seguem os estereótipos de suas espécies, porque de outra forma a moral (também óbvia) não ia funcionar. Mas ao mesmo tempo eles nos dão algo um pouco a mais. Por exemplo, o tubarão que se chama Tubarão é o típico brutamontes sensível, mas ele também é o responsável pelos disfarces; a piranha que se chama Piranha é um baixinho enfezado, mas ele também tem um senso de humor praticamente infantil; e a cobra que se chama Cobra me lembra o Joe Pesci por algum motivo.

Da mesma forma, os personagens secundários (que não são muitos, mas tão lá) também seguem seus arquétipos previsíveis com um algo a mais, pra torná-los memoráveis ou ao menos imprevisivelmente divertidos.


Os diálogos são rápidos, engraçados, inteligentes ou simplesmente sangram carisma. O vai-e-vem entre o Lobo e o Cobra em especial, já que os dois são os melhores amigos e que tem debativelmente maior tempo de tela dentre os personagens principais.

Não é como se os outros personagens não fossem gostáveis, longe disso, mas é notável que há um foco maior entre o Lobo e o Cobra, e bem menos dos outros. O que ajuda a disfarçar isso é o fato de que são animais que vivem num mundo de humanos.

…ah é, tem isso.


Uma coisa que eu descobri hoje foi que os censores mandaram que a MGM animasse um final alternativo, onde aconteceria o casamento do Lobo com a Vovó, e no final o Lobo ia tirar a máscara e revelar ser um homem.

Os censores acreditavam que o final original promovia bestialidade.


Considerando que até esse final foi perdido (provavelmente tá nas mãos de algum militar) e que até essa versão é debatível se ainda exista, dá pra notar que mesmo nos anos 40 ninguém entendia o conceito de funny animals.

Vê, é o mesmo caso do “Se tanto o Pateta quanto o Pluto são cachorros, por que só o primeiro fala?”. O Lobo no curta de Tex Avery, o Pateta e os Animais de Bad Guys são funny animals, um termo usado pra identificar personagens antropomórficos que agem como gente.

Essencialmente, o Mickey é um cara normal como eu e você, só que calhou dele nascer parecendo um camundongo. Essa é a idéia. Pateta é um cara normal que por acaso parece um cachorro australiano, enquanto o Pluto é um cachorro de verdade.


Em Bad Guys acontece algo parecido, onde os Animais são escritos como seres humanos que por acaso parecem animais, e animais, que são animais mesmo.

Sim, eu tou usando terminologia de Wicked porque é a que melhor cabe aqui.

Sim, eu abri um parêntese imenso só pra despejar essa cultura inútil no colo de vocês. Façam bom uso dela em conversas normais.

E complementando o diálogo, a animação é fantástica. FANTÁSTICA, EU DIGO!

Meu bom Oz de antimatéria, como é BOM ver uma animação agindo como animação nessa era atual. Quando tudo tenta o máximo possível ser fotorrealista, inclusive sendo o melhor exemplo possível do porque esse tipo de animação não funciona e não passa de uma tech demo de luxo feita pra ganhar uns trocados e ainda de quebra se passar por live action, é bom ver que a estilização ainda existe e tá voltando à tona com filmes como Turning Red, Luca e Bad Guys.

Claramente influenciado pelo Aranhaverso, mas tomando um tom visual próprio, mais próximo de um livro ilustrado. Não o livro ilustrado que deu origem ao filme, os designs e até alguns conceitos são totalmente diferentes, mas um livro ilustrado bonito de ver. Raio, algumas cenas parecem artes conceituais vivas, é lindo.


Os modelos são 3D, mas tem uma forma de renderizar que os torna mais parecidos com uma pintura de aquarela. Normalmente quando o 3D tenta emular o 2D (como jogos de desenho na era do PS2 ou o Tico no filme de Tico e Teco e os Defensores da Lei) é um cel shading, um 3D puro com bordas grossas emulando um traço 2D. Aqui há uma animação 2D real nas expressões, detalhes de cena, e até em linhas de movimento, tal qual um desenho japonês.

Ah sim, e as bocas de Lupin III. Se a Pixar imitou o Ghibli com Luca e Turning Red, é claro que a DreamWorks ia fazer algo parecido.


Eu não consigo recomendar esse filme o suficiente. É um longa absurdamente divertido pra crianças, com animais engraçados e animação divertida de ver; mas também pra adultos, e famílias no geral, por ter personagens carismáticos, plot twists que são previsíveis (o que é bom pra crianças, estimulando raciocínio lógico) mas um ou outro consegue te pegar desprevenido, e um design de produção do balaco baco. É uma lufada de ar fresco pra filmes familiares e a animação ocidental como um todo.

Se vai ter um sucesso financeiro? A bilheteria já rendeu, mas eu esperaria ver mais coisas como brinquedos e quinquilharias, se bem que ultimamente quase nada disso tem chegado direito nas prateleiras.

E se tem chegado, custa tanto quanto um carro popular.

Mas o filme é bom sim, vale muito a pena ver. É ideal pra uma tarde entediante com umas surpresas aqui e acolá.

O filme tá disponível no Amazon Prime, até o fechamento desse artigo, só pra aluguel, mas assim como Sapatinhos Vermelhos e os Sete Anões, talvez num futuro próximo ele fique direto na assinatura básica do Prime.




E sim, o filme foi baseado numa série de livros, e eu tou surpreso que eles tejam disponíveis na Amazon com frete grátis Prime. Pelo que eu vi, alguns volumes inclusive tão disponíveis no Kindle Unlimited (mais informações sobre  a assinatura a seguir)

Eu comecei a ler, e é uma leiturinha bem rápida, bem gostosa, de verdade. É bem simples (é um livro pra crianças, raio!), mas é bem imaginativo e com um diálogo divertido, além das expressões. É basicamente uma história em quadrinhos com quadros grandões, então é ideal pra ser a primeira HQ dos pequenos, mas tem valor pra adultos que saibam apreciar um bom traço.

Se tiver interesse, dá uma olhada aí, ou acessa a página de pesquisa com os livros digitais (porque aparentemente não tem uma página organizada da série)



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