mesmo que por um momento.

…

Espero que tenham apreciado esses versos, é a última vez que faço poesia na vida.

Enfim, TWAS THE NIGHT BEFORE CHRISTMAS! HOORAAAY!



Não é surpresa pra ninguém que a Disney tem uma mão boa com filmes e especiais de Natal. Ora raios, eu mesmo já escrevi sobre vários aqui, como Aconteceu no Natal do Mickey, o especial de Natal do House of Mouse, Santa Clause, Muppet Christmas Carol, Christmas Carol com Jim Carrey, e algum dia pretendo escrever sobre o especial de Natal que há décadas é capaz de fazer um país inteiro parar, o único momento onde a taxa de criminalidade cai astronomicamente.

Mas, talvez por ser mais seguro reprisar filmes de Natal que foram pros cinemas, o Disney Channel não faz tantas películas natalinas assim. Claro, sempre tem os especiais de Natal em cada série, como Boa Sorte, Charlie, É Natal, mas filme mesmo é raro.

E hoje vamos dar uma olhada em um desses filmes, que tem o fato curioso de ter Bryan Cranston antes dele ter câncer.


Twas The Night nos mostra Danny, um moleque tão feio quanto aquele vizinho da família Baker em Doze é Demais com Steve Martin. Danny gasta toda sua voz fina engrossando-a pra narrar sua vida, que é tão maçante quanto soa.

Digo, o quarto dele é muito chato. Não tem muitos posters, enfeites, ou gadgets típicos da época. Todo mundo sabe que um sinal de personagem engajante dos anos 90 e 2000 precisa ter um quarto tão abarrotado de coisas aleatórias que faria a Junk Lady de Labirinto parecer o Monk.


Mas, mesmo assim, ele tem um bom coração e quer comprar presentes de Natal pra sua família. E como ele arranja dinheiro pra isso na véspera de Natal? Ora raios, enganando o irmão caçula, óbvio!

Mas o plano de vender a quinquilharia pro Augustus Gloop sem carisma não funciona, porque seus pais o fazem devolver o dinheiro e ainda culpam a má influência do Tio Nick.

Tio Nick é o grande astro do filme, se me perguntar.

Tio Nick é um vigarista medíocre, mas que tem um bom ramo pra sua época. Ao invés de vender óleo de cobra, vende websites pra nerds que querem fazer startups, mas não entrega nada do serviço.

O tipo de plot que só poderia existir nos anos 2000, se tivesse sido escrito nos anos 90.

Como resultado de um de seus golpes, dois nerds amarram Nick numa cadeira e fazem sua melhor imitação de gangster de sessão da tarde, berrando “WHERE’S MY MONEY?” da maneira mais ameaçadora que podem, o que significa que eles não poderiam dar medo no Tadeu Mello nem que a vida deles dependesse disso.

Mas, pra ser justo, eles soam muito como blogueiros de cultura pop no Twitter vendo alguém reclamar da Negariel.

Mas os dois nerds tem grana o suficiente pra contratar um japonezão como leão de chácara, e Nick consegue escapar após uma série de estripulias que o faz roubar a roupa de Papai Noel de um Papai Noel de Shopping, e após um sinal profético de um ônibus, resolve se esconder na casa do irmão bem-sucedido.

Tão bem-sucedido, de fato, que tanto ele quanto a esposa são médicos… Ou veterinários… porque eles são chamados justamente na véspera de Natal pra tratar de um surto da gripe das renas.

…

…

Okay.

Eu poderia fazer uma piada com algo como "gripe renal", mas... uau. Específico.


Nick chega em casa e absolutamente todo mundo adora ele, porque ele é simplesmente um cara gente boa e sabe as palavras certas. Ora raios, ele até elogia a filha do meio da família, a “confundindo” com uma modelo de passarela. 

A menina vive com a cara enfiada num livro de física quântica e sabe tanto sobre computadores que poderia ter um futuro brilhante como coadjuvante numa série de heróis do CW, eu não acho que um elogio de “cê tá ficando gata” seria tão válido pra ela. E ainda assim, funciona!

Pitombas, o maluco chega em casa e a primeira coisa que faz é dar uma bitoca na cunhada, chamar ela de “lindeza” e perguntar porque ela ainda é casada com o perdedor como o irmão dele.

Eu não faço idéia do que é rizz, mas se eu vi rizz algum dia, esse maluco tem rizz.


Enfim, porcausa da… crise repentina de gripe das renas… os pais tem que deixar o lar, e abandonam as crianças aos cuidados de Nick.

Eu gosto muito da caracterização aqui, o pai e Nick são claramente dois extremos opostos e não se batem, e isso é mostrado na cena em que ele manda que todas as crianças vão dormir cedo, e Nick é meio “yo bro chillax é Natal badabin badabum”.

Mas a história real começa quando Nick recebe um e-mail de vídeo dos nerds bullies… porque roteiristas de canais adolescentes não fazem idéia de como funciona tecnologia, aparentemente. E pra se ver livre de seus opositores, puxa um vírus que tava lá no DESKTOP, JOGA NA JANELA DO E-MAIL, E O VÍDEO PERDE O SINAL.

Não só isso, mas Nick diz baixinho “ah é e qualquer computador num raio de 10 milhas também”.

…

MALDITOS ÍMÃS, COMO ELES FUNCIONAM?


Isso acaba zoando o sistema de navegação do Papai Noel, e o velho miserável é forçado a pousar na residência de Danny pra consertar o sistema. O que, segundo o elfo técnico, é basicamente… sei lá, esvaziar a lixeira ou algo igualmente irrelevante e sem lógica.

E já que enfiamos tecnologia no negócio, porque não transformar o bom velhinho em sci-fi também? Porque é aqui que descobrimos que Kris Kringle usa um dispositivo que parece um brinde de McLanche Feliz pra congelar o tempo ao seu redor e entregar presentes. Só que os presentes parecem enfeites de natal (ou Zuru Mini Brands), e ele usa o mesmo gadget pra aumentar o tamanho dos presentes.


Mas, devido a shenanigans, Nick acaba nocauteando Noel e usurpando o gadget natalino, e convence Danny que a idéia é fazer o trabalho do Papai Noel essa noite só pra fazer uma média com o coroa. Mas na real ele quer ir na casa dos ricaços e roubar suas mobílias, jóias e obras de arte, miniaturizando-as e levando consigo.

Mas nesse meio tempo, Noel acorda e junto dos irmãos menores tenta reaver seu trenó e a irmã superdotada usa um computador numa loja de eletrônicos, que é “o computador doméstico mais poderoso já concebido, com 1.2 terabyte de HD e processador de seis gigahertz e 512 megas de RAM”.

Eu não sei se fico mais abismado com essas specs aleatórias ou com o fato de que o computador mal consegue processar gráficos de PS1.

Also, ela controla o negócio com um joystick da Logitech.

Isso não pode acabar bem.


Pra ser bem justo, o filme em si não é lá essas coisas. Claro, nem todo filme Disney Channel pode ser Pixel Perfect ou Phantom of the Megaplex, mas é bastante divertido mesmo com pouco orçamento.

A narrativa em si é bastante básica e previsível, tem até uma Revelação do Mentiroso no terceiro ato que faz Danny perceber que o tio dele não é legal como parece e blablabla. Mas o legal é como o diálogo é escrito pra tentar amansar esse clichê, Nick continua querendo continuar o trambique, convencer Danny, ao passo que em outros filme, esse tipo de personagem estaria ligeiramente arrependido, pelo menos.

Fora que eles traçam esse paralelo entre Danny estar se tornando seu tio trambiqueiro por admirar ele, enquanto o seu irmão caçula o admira e sofre de seus trambiques. Não é dito em voz alta, mas existe, sinal que é um filme que respeita a inteligência de seu público.

Que é mais do que eu posso dizer de Frozen, Turning Red, e outros filmes recentes cujo orçamento entra na casa de bilhões de dólares.

E sim, a entrega de fala do Bryan Cranston ajuda demais. Ele é provavelmente o melhor ator desse filme junto do Papai Noel.


Parece estranho mesmo pra mim, que nunca viu Quebrando Mau, ver Heisenberg como um quase palhaço. Ele tem uma atuação muito melhor do que o esperado pra um filme Disney Channel, que geralmente (a menos que cê seja um ator jovem tentando lançar carreira) é bem genérica e não muito mais do que o roteiro pede.

Mas Nick é um malandro, safado, pestilento, folgado, lábia doce, gato polar, mas ao mesmo tempo cê consegue ver que ele tem um bom coração e quer fazer a coisa certa em algum momento, mas suas escolhas de vida o obrigaram a ter essa casca, esse jeito de ser e viver, e dá pra ver alguém redimível nele.

Danny é um ator jovem que, dada a sua atuação, aparentemente não quer lançar a própria carreira, o que contradiz meu parágrafo anterior.

Mas,

Ainda assim ele tem lá seus momentos. Na Revelação do Mentiroso do terceiro ato, ele consegue ter algumas emoções sutis em… pouca expressão facial. É um misto de desapontamento, surpresa esperada, que o rosto não exprime bem, mas o gestual conta.

Se ele não tivesse a voz quebrando pro fino, talvez se passasse melhor.


E não venham reclamar de spoiler, é óbvio que tem a Revelação do Mentiroso no terceiro ato, não encham o saco.

O Noel aqui também é bem divertido, embora não seja tão original assim. Ele é gentil, sábio, e suas ações e tom de voz tem um certo gravitas, sobretudo perto de crianças, mas ainda assim ele é meio ranzinza às vezes, e se irrita de uma maneira que… dependendo como cê veja, pode soar rude ou ameaçador.

Ele também é analfabeto tecnológico e prefere o jeito antigo de fazer as entregas, mas esse ano as renas dele griparam.

…

…

Pera, é um plot point abestalhado que justifica dois plot points do filme?

Uau, impressionante. Satisfatório, eu diria. Não é só uma gag jogada ao vento porque “haha renas gripadas no Natal” pra fazer Nick ficar sozinho com as crianças e ter uma aventura. Huh.

O resto do elenco é ok. Tem uns thugs que meio que passam a respeitar Noel porque… cócegas…

…

No filme não é menos estranho do que eu falando em voz alta.

...

Tá, não é.

Enfim, thugs não ameaçadores, se esse filme fosse pra Fox Kids alguém já tinha apontado uma glock pro Papai Noel.

E tem os irmãos menores do Danny que… o mais novo mostra que consegue ler falas de um diálogo, e a do meio consegue mais ou menos soar como se soubesse sobre tecnologia e física quântica. Ela também é basicamente uma ferramenta narrativa pra jogar a idéia de que “se Papai Noel existisse ele teria que congelar o tempo pra fazer todas as entregas numa noite só, eu fiz os cálculos”. Que é exatamente o que o gadget do Noel faz.

Isso e ser a oposição ao Danny quando Noel tenta reaver o trenó.

Twas the Night não é um filme que quebra padrões, nem é absurdamente engraçado ou criativo. É um filme natalino divertido na média, entrega exatamente o que propõe, e ainda dá um extra com um pouco de coração no lugar certo, e Bryan Cranston mostrando que sabe fazer uma pratfall e sorrir feito um palerma pra ganhar 10 centavos de desconto no Starbucks.


Até os efeitos visuais são meio hit and miss. Quando o tempo se congela, às vezes são só atores paralisados numa clara primeira tomada, onde ainda dá pra ver eles se mexendo um pouco; mas outras são mind boggling.

Tem uma cena que eles invadem a casa de um velho tomando chá numa cadeira, e a fumaça tá lá parada no tempo. Ok, normal, é só um png na pós-produção, aí Nick levanta o velho, tira o apoio dos pés dele, e solta, e o velho levanta e quica de acordo, junto da fumaça.

É um efeito simples, mas tem um resultado bem legal.

Se tiver montando uma lista de filmes natalinos pra ver e esse for novidade, vale a pena colocar. Mas se for pra ver ele sozinho, talvez cê não goste tanto assim. De qualquer jeito, vale a pena ver uma vez na vida.

Se você prestou atenção, o título é baseado no conto Twas the Night Before Christmas, que é um patrimônio imaterial da humanidade, por ter diversas tradições que associamos ao Natal publicadas pela primeira vez.

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