O Legado de Tio Walt - Parte 3: Aos Trancos e Barrancos
O irônico é notar como o estúdio acabou expandindo suas produções durante a chamada Era Sombria. Os longas animados, que até então eram o carro-chefe da companhia, agora também dividiam espaço com live actions, mas... Nem sempre os live actions eram orientados pra crianças ou família. Alguns acabavam sendo mais maduros e sérios.
E tinha também filmes como Um Astronauta na Corte do Rei Arthur, mas eu divago, não falaremos desse filme.
...hoje.
Mas essa parte da retrospectiva é interessante porque finalmente a Disney toma uma posição quanto a filmes mais maduros, que acabaria mudando drasticamente a rotina do estúdio; ao mesmo tempo em que o departamento de animação e presidência pensavam "o que Walt faria?".
E então vamos pra The Fox and the Hound (conhecido na terra do sorvete Marujinho como O Cão e a Raposa).
A história começa com um filhote de raposa órfão que é adotado por uma velhinha, que por coincidência é vizinha de um caçador que também adota um filhote, mas de cão. Ele e o cão mais velho começam a ensinar o novato a caçar, mas ele faz amizade com a raposa, mesmo com todo mundo ao redor dizendo que vai dar merda.
Os dois crescem juntos, e dá merda. O caçador insiste em querer caçar a raposa e ele acaba tendo que sobreviver sozinho no campo fugindo do projeto de Seu Madruga e de seu amigo de infância, onde a amizade deles será testada.
Eu tenho certeza que eu vou fazer uns inimigos agora, mas vamo lá: O Cão e a Raposa é mais interessante que O Rei Leão, ao menos conceitualmente, porque a execução deixa um pouco a desejar.
É uma história mais simples e o primeiro ato pode ser um pouco lento demais, mas ao menos ele não se perde com alívios cômicos irritantes e com personagens que são até interessantes, mas... Sei lá, soam meio alienígena.
Os personagens de Cão e a Raposa são mais palpáveis, identificáveis, enquanto os de Rei Leão são meio previsíveis. Aqui tu até sabe como a história vai se desenrolar, mas a forma que narram tem mais impacto.
...mais ou menos.
A primeira metade do filme é meio lenta e com muita fofurice, mas é necessário pra estabelecer e passarmos tempo com os personagens. Poucos personagens de alívio cômico e... Ao menos não são irritantes e logo vão embora.
As músicas... Não são irritantes, complementam o filme, e logo vão embora.
...ok tecnicamente é um filme bem menos marcante que O Rei Leão, mas vejam bem: a história do livro é bem mais desenvolvida.
E graças a Deus eles não seguiram à risca, senão o filme ia pegar uma classificação bem maior e talvez sequer fosse lançado.
Só pra ter uma idéia, Tod teria duas esposas, ao invés só de Vixey.
A menos que ele fosse mórmon, não daria pra explicar isso.
Aliás, esse filme foi o primeiro grande projeto de nomes como Glen Keane (que já vinha trabalhando no estúdio como animador desde Bernardo e Bianca; aqui foi sua estréia como supervisor de animação de um personagem), Brad Bird, John Lasseter, e Tim Burton, que animou as cenas de Vixey.
Embora ele tivesse se apaixonado pela personagem, era um filme muito fofuxildo pra ele, e ele lembra de não ter gostado tanto de trabalhar nele.
Mas também foi o último filme de Don Bluth, que tal qual Walt em seus anos iniciais, levou alguns animadores consigo pra fazer seu próprio estúdio. Isso levou à adiação do filme, devido a falta de pessoal pra trabalhar.
Embora seja um filme menos marcante que Rei Leão, ele consegue ser uma boa fábula e ter momentos memoráveis. Eu tinha esse filme gravado em VHS quando moleque, e lembro de ter chorado quando soube que minha mãe tinha gravado... acho que era Cabocla por cima do filme.
Então... é, eu não tenho muita lembrança desse filme. Não, eu não chorei, mas se querem saber, teria sido muito mais emocionante e até faria mais sentido se um certo personagem morresse, como no livro.
Sim, tou te poupando de spoiler de um filme dos anos 80 que tu pouco provavelmente vai assistir.
De nada.
É um filme que é ótimo pra estudar o que o estúdio de animação tava tentando fazer na época, ao seguir os passos de Walt, mas ao mesmo tempo desenvolver algo próprio. Não tem tanto as marcas registradas do estúdio (princesas bonitinhas, músicas grudentas inseridas dentro da história, conceitos fantasiosos), e tenta seguir mais os passos de Dama e o Vagabundo ou Bambi. Só que sem as músicas inseridas na história.
Mas, se tiver um tempo vago e talvez criança na faixa de 10 anos por perto... talvez seja interessante ver. Ele é meio lento mas depois fica interessante.
Poderia ter sido infinitamente mais interessante, mas eu creio que o processo da saída de Bluth teve influência nisso.
Also, importante notar que esse é o primeiro filme de animação Disney a usar computação gráfica, na cena em que o caçador tenta espantar Tod com fogo.
É bem arcaico, mas seria o suficiente pra um certo animador se interessar por essa nova tecnologia.
...
Ou não, sei lá, eu tou tentando fazer um gancho pra coisas futuras, tenham paciência comigo.
Enfim, o braço de live actions Disney continuava a todo vapor, e dois filmes curiosos foram lançados nessa época e que não tão tão falados quanto deveriam.
Os filmes são Condorman e Trenchcoat, mas como o download de Trenchcoat parou na metade no torrent, eu fico devendo essa. Mas Condorman eu vou resenhar.
Agora.
Esse eu consegui baixar.
Ok.
Condorman, que aqui na terra do Beco da Poeira ficou conhecido como Condorman – O Homem Pássaro.
Sabe, eu gosto do Homem Pássaro. Sim, aquele herói antigo. Sei lá, é brega mas dá pra trabalhar o conceito, eu ainda espero um filme do personagem.
O que isso tem a ver com Condorman? Absolutamente nada, eu só queria mencionar isso mesmo.
O que isso tem a ver com Condorman? Absolutamente nada, eu só queria mencionar isso mesmo.
Curiosamente, Condorman quase não mostra o personagem título. O filme narra a vida de Woody, um cartunista ridiculamente perfeccionista a ponto de criar uma fantasia que teoricamente deveria funcionar pra voar ou no mínimo planar, viaja pra Itália, e passa a viver com seu amigo que trabalha em alguma agência de espionagem, tudo isso pra dar veracidade ao seu novo personagem.
Eu imagino o quanto Bob Kane deve estar olhando pra esse cara e dizendo "mano, tipo, te acalma, sério mesmo" lá do túmulo dele.
Acontece que por um acaso do destino, Woody é convocado pra realizar uma troca de papéis com uma espiã russa, chamada Natalia. E quando ela decide deserdar da sua agência, ela exige que Woody (que ela conhece apenas pelo codinome Condorman) a escolte pra América.
E claro que Woody, sendo um rapaz sensato, iria aceitar a missão tranquilamente OOU ELE PODERIA EXIGIR AO CHEFE DA MISSÃO PRA CRIAR TODOS OS APARATOS QUADRINHESCOS PRA TESTAR SUAS HISTÓRIAS, CLARO.
E é claro que o chefe aceita e faz todos os aparatos, porque dinheiro do contribuinte é o que não falta.
Mas eles ainda precisam escapar do vilão Krokov, que tem todos os meios pra perseguir e recapturar Natalia, no melhor estilo paródia de James Bond.
Se tu já leu alguma história pulp de espionagem/aventura, vai se familiarizar com o estilo do filme. Por vezes um ritmo lento, mas com uma história interessante, e personagens interessantes. Woody é o everyman que embora tenha os traços cômicos, ao menos tenta fazer o trabalho direito. Não é simplesmente o cara malucão alívio cômico que faz a coisa certa por puro acaso, ele tenta fazer um plano, e seguir ele, mas... Ele não é um espião profissional, então nem sempre sai como ele planeja. É um equilíbrio interessante.
Natalia é a espiã que acaba caindo na conversa de Woody ser de fato um espião, e confia nele cegamente, embora não seja uma mulher besta. Digo, ela ficou impressionada com o primeiro encontro com Wooydy a ponto de acreditar que só com ele ela poderia deserdar, ela tava desesperada também.
E tem o amigo de Woody cujo nome nunca me lembro, mas que trabalha pro mesmo cara que é o chefe do MacGyver original, que é o chefe da agência de espiões.
Como é de esperar, o filme se comporta quase como um desenho animado, guardadas as proporções. Na real, a melhor comparação mesmo é com história em quadrinhos pulp, já que tem o já citado ritmo meio lento, mas ao mesmo tempo é proveitoso. Tu não sente que tá perdendo muita coisa, porque esses momentos servem pra construir um local ou situação. Agora sim, tu sente que é realmente um filme antigo, praticamente um produto de sua época... Mas ainda é apreciável.
Os apetrechos e as formas como Woody se safa das situações e encontros com os espiões russos são criativamente divertidas, e até surpreendentes. Se fosse feito hoje provavelmente teria muito mais apetrechos e tecnologia e... Não seria má idéia. Esse é um filme que eu ficaria legitimamente curioso em ver uma versão feita com os efeitos visuais atuais, e até com uma narrativa mais polida.
Mas eu creio que não é um filme que seria interessante pro público de agora. A idéia dele é ser um herói brega e irreal de quadrinhos pulp em uma situação real. O conceito em si é ridiculamente promissor e dá brecha pra várias idéias interessantes, mas o público de hoje já tá SATURADO de super heróis, e a Disney tem a Marvel. Eu não consigo ver uma nova versão de Condorman tão cedo.
Mas, o que temos aqui é bom o suficiente. Eu não posso dizer que li muito quadrinhos pulp, além de uma coletânea de histórias da Era de Ouro da DC e um encadernado do Fantasma na Segunda Guerra. Mas eu consigo ver o propósito dos produtores nesse filme, e embora não seja exatamente atraente pra crianças (já que o miolo do filme é pratiacmente espionagem tradicional e o personagem como herói só aparece no começo e no final do filme), vale muito a pena ver se tu gosta de quadrinhos de heróis antigos.
Condorman obviamente é bem diferente do que o estúdio costuma fazer. É uma paródia aos heróis e espiões pulp, e dois anos depois a Disney iria lançar Trenchcoat (conhecido no país do Serenata de Amor como Se Sobreviver, Mande um Postal), que foi a gota d'água pro público.
Pais reclamaram que o tom do filme era muito pesado pra crianças, e tendo a marca Walt Disney não ajudava, já que nessa época, já tinha-se o conceito de que o nome da companhia representava um entretenimento familiar.
Mas ao que tudo indica, o estúdio queria mudar essa imagem, lançando filmes com temáticas mais adultas. No caso, Trenchcoat é uma paródia de história de detetives hardboiled e film noir.
Que foi mal recebida por público e crítica, além do nome "Walt Disney" não ser visto em canto nenhum no filme. Só no relançamento em 2011 no aluguel digital que o filme recebeu o logotipo que conhecemos.
O crítico e historiador Leonard Maltin aponta que a Disney não conseguiu mudar a imagem que já tinha dos anos 50 e 60, e acabou criando o selo Touchstone.
Vejam bem, Touchstone é só um selo pra distribuir filmes mais adultos, mas é a mesma Disney.
Então, se liguem: Mudança de Hábito, Pulp Fiction, e séries como Eu, a Patroa e as Crianças são tecnicamente feitos pela Walt Disney, mas lançados com o selo Touchstone.
Agora você sabe etc, gi ái jô soares.
E eu só não vou resenhar Trenchcoat porque, como eu já mencionei, eu não consegui terminar de baixar. É um filme ridiculamente raro, eu só consegui achar um arquivo ativo e ainda era ripado do VHS.
Mas prosseguindo, porque ainda temos dois filmes memoráveis pra assistir, como o próximo caso, Tron (conhecido na terra de Caucaia com o subtítulo de Uma Odisséia Eletrônica).
A história nos conta sobre Flynn, um jovem e brilhante programador que fazia joguinhos em seu tempo livre. Mas um novato rouba seus projetos e publica como se fossem dele, o que o leva a galgar níveis maiores na empresa, até chegar a presidente.
Seus colegas que continuaram na empresa começam a suspeitar quando um programa com Inteligência Artificial avançadíssimo começa a criar vontade própria, ao querer invadir e dominar outros países, além de bloquear acesso aos funcionários quando bem entende por motivos de "porque sim".
Mais rápido do que se possa dizer "MALDITOS COMUNISTAS CIBERNÉTICOS", os colegas de Flynn vão em sua busca pra pedir ajuda, já que ele é que manja das parada.
Flynn tenta hackear o sistema em busca de provas, mas foi bloqueado pelo Programa Mestre. Mas seu colega Alan diz que tem um programa de busca de arquivos chamado Tron, e que não seria difícil pra Flynn usar o tal programa.
Exceto que o Programa Mestre escaneia Flynn e o manda pra dentro do mundo virtual, e agora Flynn vai ter que se passar por programa, encontra Tron, encontrar o arquivo que precisa, mandar pro Alan, e voltar ao mundo real de alguma forma.
A história pode ser um pouco confusa se tu não prestar muita atenção, ou se tu ver só uma vez. Ao menos eu fiquei um pouco confuso quando eu vi, alguns plotpoints eu não acompanhava muito bem. Até pelo lance de ter programas com consciência própria (mais disso em um minuto).
Eu sei lá, lá pra metade do filme eu meio que tinha esquecido qual era a missão do maluco ou o que exatamente eles precisavam fazer. Mas agora que eu assisti uma segunda vez, não é uma história tão complicada de acompanhar.
Agora, isso sou eu, no ano de 2018 falando que se tu não prestar atenção, o filme pode soar um pouco confuso. Nesse exato momento, tamo tão rodeado de tecnologia que tem gente com literal fobia de ficar sem celular. Raios, no momento que escrevo isso, Elon Musk mandou um carro pro espaço. Literalmente.
Imagine NA ÉPOCA QUE FOI LANÇADO.
Ééééé. Em 1982 (ou 83 sei lá, eu tou com preguiça de abrir o IMDB), os computadores e o chamado "mundo virtual" pareciam coisa de outro mundo, era tratado como uma outra dimensão. Não sei se por ignorância ou por simplesmente parecer mais atrativo.
Considerando o tanto de filmes e quadrinhos e jogos que são ambientados dentro de um mundo virtual (Matrix, Re-Boot, e aquele episódio de Padrinhos Mágicos) eu tou inclinado pra segunda opção.
Com um pouco de ignorância também, mas mais por ser algo novo mesmo.
E na real, isso é ótimo, porque acaba dando aos produtores uma boa liberdade criativa, e Tron é um dos marcos nesse sentido.
A estética futurista de Tron curiosamente não ficou datada. Tu consegue olhar ainda hoje e dizer que realmente se parece com algo dentro de um computador, um ambiente virtual, algo por trás do que é visto na tela. Digo, sim, é notoriamente oitentista, mas veja bem: Toy Story foi feito pensando com foco nos brinquedos, porque os humanos ainda não pareciam realistas. Fazer um filme em CG focando em personagens de plástico fazia sentido, já que os modelos pareciam de plástico.
Algo parecido acontece em Tron: eles usam equipamentos não muito potentes, logo as imagens de dentro desse mundo carregam o potencial equivalente que se imagina ter. É abstrato, mas ao mesmo tempo concreto o suficiente pra termos uma noção do que tá acontecendo, mesmo quem não é muito chegado a computadores. O que é ótimo pra esse público, mas naquele tempo o filme fracassou na bilheteria justamente porque o tema não era algo muito popular.
Mas graças a Deus o filme conseguiu um público ao passar do tempo e o evoluir da tecnologia, porque é simplesmente fantástico. Os cenários são incrivelmente criativos, o design de produção é interessante e vivo, e até a CG datada tem um certo charme, ainda mais quando tu vai pesquisar como raios os caras fizeram isso.
Cê sabia que eles não conseguiam renderizar imagens em movimento? Ééé. Eles tinham que renderizar e filmar frame por frame, mexendo pouco a pouco, manualmente.
E os efeitos visuais? Quase tudo feito na marra. As filmagens dentro do computador foram feitas gravando tudo em preto e branco num estúdio (com props de papelão), e uma equipe pintava as cores neon nos frames, tal qual uma animação.
São efeitos práticos tradicionais pra representar um mundo digital.
Isso é lindo demais.
Aliás, os computadores que fizeram as imagens em CG tinham absurdos 2MB de memória e 330MB de HD.
Meu celular que é uma batata com papel alumínio tem mais poder de processamento que isso.
Aliás, eu fico pensando se daqui a uns anos a gente vai ver os computadores... Sei lá, da Pixar como algo tão arcaico e ultrapassado como vemos esses computadores dos primórdios de computação gráfica.
E isso é insano, se tu for parar pra pensar.
Uma última curiosidade, um dos mais interessantes Hidden Mickeys tá em Tron, e é o tipo da coisa que tu nunca vai perceber, mas uma vez que tu percebe, não tem mais volta: só vai olhar pra aquilo.
E pra encerrar o artigo de hoje, mais um daqueles fimes sombrios pra crianças. Assim como Watcher in the Woods e Return to Oz, esse filme marcou levemente uma geração por ser sombrio e assustador.
Mas, como veremos mais pra frente, não é lá essas coisas, mas ainda é... interessante.
Então vejamos Something Wicked This Way Comes (conhecido na terra de Caco Antibes como "No Templo das Tentações", que é um nome incrivelmente brega e meio sem nexo com o filme, mas é melhor do que... sei lá, "Tem Caroço Nesse Angu".)
O filme é baseado num livro que foi baseado num roteiro escrito por Ray Bradbury após ver Cantando na Chuva, e, como todo ser humano decente com mais de dois neurônios e membro produtivo dentro de uma sociedade , considerou o maior musical já feito.
Claro que isso foi antes de Mary Poppins e Noviça Rebelde, mas divago.
O maluco foi mostrar o roteiro pra Gene Kelly, que amou o livreto, mas não conseguiu patrocinadores pra fazer o longa. Ray reescreveu em um livro, que só então foi adaptado pra filme.
Stephen King escreveu uma adaptação, mas foi rejeitado. A essa altura ele ainda não tinha feito O Comboio do Terror, então...
...eu nem sei que piada eu deveria fazer aqui. Digo, provavelmente não botaram fé no roteiro dele e... Enfim.
O filme narra sobre dois moleques, Will Halloway e... JIM NIGHTSHADE.
Sério, o sobrenome do guri é NIGHTSHADE.
Parece algo saído dos quadrinhos da Marvel nos anos 60, pelo amor do Kirby.
Enfim, Will e Jim são dois moleques normais de sua idade que passam o dia perambulando pela cidadezinha do interior dos anos...40? Sei lá. Até que da noite pro dia surge um circo. Não, sério, o maluco de cartola lá começa a jogar propaganda um dia antes, os meninos ouvem um trem vindo, o acompanham, e na cena seguinte o circo tá montado.
Por mais que pareça, não é problema da edição, é só aquela coisa que te faz dizer "tem caroço nesse angu".
As coisas pioram quando o pessoal começa a ir pro tal circo e tem seus desejos atendidos: o barbeiro fica rodeado de mulheres, o cara da tabacaria rica trizilhionário, o lado retardado da fanbase de Star Wars consegue remover o episódio 8 do canon, e a professora velha rejuvenesce, e por aí vai.
Só que os moleques não contam pra ninguém, já que ninguém vai acreditar neles. Exceto que o pai de Will, um velho bibliotecário, acredita, já que há evidências de que isso aconteceu mais de uma vez. Além disso, o cara precisa vencer seus próprios medos e passado pra ganhar o afeto do próprio filho.
Quando cê para pra pensar, é um filme com um plot bem meh. Soa muito como uma Sessão da Tarde fraca e previsível. Mas o que brilha no filme é a narrativa e a forma de como ele se torna assustador.
Esse é um dos filmes que precisa ser usado como referência num futuro filme da Haunted Mansion: ele consegue ser assustador, mas também tem momentos leves; há um legítimo mistério aqui, e a atuação do Jônatas Presso te faz acreditar em tudo. Ele é claramente um vilão vaudevilliano, como o vilão de Pete's Dragon, só que menos exagerado e cartunesco. Ele é mais elegante, sutil, que não se deixa entregar que é um cara mal; mas ao mesmo tempo ele te faz levantar aquela sobrancelha de desconfiança, aquele ar de que alguma coisa tá errada. Mas cê poderia dizer que é só o personagem pra vender ingressos do circo.
Os moleques atuam surpreendentemente bem. Claro que há momentos que soam mais falsos que o pedido de desculpas do Jake Paul, mas em outros eles parecem ser realmente amigos de infância tentando resolver um problema maior que eles. Aliás, não só um, como vários.
Além de termos o arco narrativo do pai de Will (que se sente velho e incapaz de cuidar do filho), temos o arco de Jim e seu pai que foi numa viagem pra África, mas é dado como morto. Vemos o moleque tentar resolver a saudade que sua mãe tem dele, ao procurar o carrossel que muda a idade do usuário (embora isso traga conceitos... pouco usuais pra filmes pra criança, mas eu acho que faz parte da história original, esse desconforto ao se pensar demais); como também o novo namorado da mãe. Não é algo muito explorado, mas tá lá, dentro do tema de ser ou se sentir incapaz de resolver seus próprios problemas, e o circo sendo uma forma de resolvê-los instantaneamente.
Claro que isso faz com que o Sr. Escuro roube sua alma, mas detaaaalhes né.
Assim como Watcher in the Woods, esse não é um filme de terror na sua cara, ele é mais lento, mas não só isso, ele é mais... Relaxado. É quase como se fosse um filme de Peanuts se usasse elementos assustadores.
Não, sério, para pra pensar: temos moleques comuns enfrentando dilemas sérios e difíceis sobre a vida, em uma cidade do interior, e passamos uma parte razoável de tempo desenvolvendo o plot e outra parte com essas questões difíceis. Se tirasse todos os adultos, botasse um cachorro e mais crianças, seria basicamente Peanuts.
Entre esse e Watcher in the Woods... Eu pessoalmente prefiro esse. O final não é tão satisfatório quanto eu imaginei, mas é bem melhor que Watcher. Sim, qualquer um dos finais.
O filme em si é bem meh, mas tem momentos que vale a pena assistir. O produto final passou por várias refilmagens e cenas adicionais (que até desagradaram Ray Bradbury, que também assina o roteiro), mas tudo numa tentativa de deixar o filme mais family-friendly e marketeável.
Assim como Watcher in the Woods.
E assim como ele, é um filme que ousa ser uma história de terror pra um público mais jovem, com conceitos interessantes, mas com uma execução "meh" pra "ok".
Mesmo assim, vale ao menos uma assistida, se tiver curioso.
E no próximo artigo as coisas voltam aos trilhos. Ou ao menos começam. Veremos como a Disney quase fechou o departamento de animação, perdeu em bilheteria pra Ursinhos Carinhosos, e quase sofreu uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) hostil, mas foi salva por um homem e sua careca brilhante.
***
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2 comments
+Kapan, gostei muito de seu artigo!
ResponderExcluirGosto muito dos filmes da Disney dos anos 1940, como Make Mine Music (se não me engano, em português o título é Música Maestro), Como é Bom se Divertir e Melody Time.
Aqui cabe dizer que do filme Make Mine Music, a melhor parte ao meu ver é Two Sillouettes. Sério, todo o fundo musical e a temática são perfeitos para se mostrar para a namorada em aniversário de namoro.
Fora que gosto muito dos curtas Aquarela do Brasil (Alô Amigos) e de Os Quindins de Iaiá (Você Já Foi a Bahia?), que basicamente interpreto como uma homenagem ao Brasil.
Obs: seria muito insano, mas ao mesmo tempo divertido, um curta animado da DC Comics do The Flash e da Fire/Fogo (heroína brasileira da Liga da Justiça Internacional, que se não me engano o nome é Beatriz Bonilla da Costa, aquela que possui o fogo verde) baseado nesse curta da Aquarela do Brasil, com o The Flash convidando a heroína a fazer parte da Liga da Justiça e se divertindo nas ruas a noite na cidade do Rio de Janeiro.
Obs 2: se sobrar tempo, poderia comentar sobre a série da Stargirl que será lançada no DC Universe, o serviço de streaming da DC Comics, que contará não só com filmes animados, séries de televisão e filmes live-action, mas também com um grande acervo de quadrinhos da editora.
Grato pela atenção e aguardo resposta!
Eu ia responder antes, mas eu tive problemas de internet, mas agora normalizou ahueauea
ExcluirOs anos 40 foram bem estranhos pra Disney, quando tu para pra estudar o período tu nota que o estúdio conseguia sobreviver, mas tinha essa busca por uma identidade maior, algo que firmasse. Já tava encaminhado a marca principal ser "family friendly", mas ainda precisava ser lapidado em algumas áreas. Mas sempre é bom ver esse estilo clássico de animação, que ainda era resquício da animação dos anos 30 (eu ainda vou fazer um vídeo sobre isso, só preciso pesquisar mais)
Eu inclusive escrevi sobre esses filmes na primeira leva de artigos, olha a tag Tio Walt que tu vai achar.
E essa idéia... é legitimamente boa haeuauea É algo que eu totalmente veria num canal de youtube dum estudante de animação, adoraria ver.
Eu vou passar essa idéia sobre coisa da DC/Marvel pra minha aprendiz, ela que manja mais de heróis. Eu só conheço por cima (mais pelos filmes e desenhos), quadrinho mesmo eu só leio comédia ou arcos fechados.
Brigado por comentar!