O Legado de Tio Walt - Parte 4: Perigeu


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Após a leve polêmica de Trenchcoat, A Disney resolve criar um selo pra lançar filmes pra um público maduro, expandindo oportunidades de negócios. Mas a companhia andava mal das pernas, já que o rendimento do estúdio caía a cada mês, e um dos acionistas tinha um plano de fazer uma tomada de poder forçada pra lucrar com isso. 

A gerência da Walt Disney Co. tava TÃO zoada que o sobrinho de Walt, Roy E. Disney (filho de Roy O. Disney, irmão de Walt; não confunda os nomes) deixou a companhia em 77, e o atual presidente e genro de Walt, Ron Miller, não tinha as características de um líder genuíno. 


Entra em cena o novo CEO da companhia, o homem que iria salvar o estúdio de animação e a Walt Disney Company: Michael Eisner. 

Mas como diria DJ Slopes, "estamos nos apressando demais". Vamos antes dar uma olhada no filme que lançou o selo Touchstone: Splash. (Conhecido na terra de Caco Antibes como Splash – Uma Sereia em Minha Vida) 




A história nos conta sobre Woody, um moleque que durante uma viagem com a família pra uma ilha, acaba indo parar na água, quase se afoga, mas é salvo por uma sereia. Ele mal lembra dos eventos, mas agora ele cresceu e virou um cara que trabalha no ramo de entrega de legumes e frutas pra mercadinhos. Ele toca o negócio com seu irmão mulherengo Gus Polinski, que vive metendo o irmão e o negócio em situações de risco. 

Woody acaba de ser deixado pela namorada, e começa aquele processo de depressão misturado com ansiedade misturado com vontade de maratonar Um Maluco no Pedaço na Netflix enquanto se empanturra de bolo, sorvete e M&M's. 


Como estes são os anos 80 e computadores são tão misteriosos quanto alquimia no século 19 (ou 18 sei lá), Woody resolve ir pra ilha que costumava ir com a família quando moleque. 
Após uma viagem mal feita de barco a motor, ele cai na água e é salvo por uma guria nua, que acaba indo morar com ele. 

Sim, ela é a sereia que ele encontrou quando pirralho, não é spoiler pra ninguém a essa altura. 


Mas o malvado cientista Jimmy Murtaugh quer provar que sereias existem, e vai fazer tudo que estiver ao seu alcance, mesmo que isso signifique em sofrer comédia física como se fosse um dos Looney Tunes. 

Como raios esse maluco teve 8 filhos e casou com a Carmen Electra, eu não faço idéia. 

Rapaz totalmente confiável e nada suspeito.
Agora Woody e a sereia vão ter que passar 6 dias juntos enquanto fogem das circunstâncias que nem sabem que existem. 

E é claro que existe um trato com uma bruxa do mar. Ok, não é bem um trato, e o "existir" é debatível, já que é uma cena deletada. Mas Madison se encontra com uma sereia banida da sua espécie, que a alerta que ela só pode passar 6 dias no mundo da superfície, se passar disso o povo dela não vai aceitá-la de volta. 

Eu consegui encontrar pouquíssima informação, nem a cena em si eu achei. Só tem em uma edição especial do DVD e nenhuma alma caridosa se prontificou a upar na internet, então... É. 


Mas é um conceito interessante, já que aparentemente essa sereia banida teria se apaixonado assim como Madison, e tinha conhecimento da cultura e talvez até língua da superfície, podendo servir como um personagem que instruiria Madison como agir. 


Aliás, como é dito no filme, Madison nem é nome de gente, mas depois desse filme, se tornou um dos nomes mais populares pra meninas e clones da Dove Cameron.


Splash é um dos filmes mais divertidos que eu já vi. Não é muito inteligente nem surpreendente, mas a história tem um charme dificil de replicar, e grande parte se deve aos atores. 

Tom Hanks é ótimo como um cara normal que quer continuar a vida sem cometer os mesmos erros do passado. Ele é simpático, mas também pode ser babaca devido à pressão emocional que sofre; ele é franzino e meio frouxo, mas pra proteger quem ama ele faz o que pode. E quando a situação se apresenta de maneiras inesperadas, ele reage como qualquer um de nós reagiria se não fôssemos a platéia torcendo por ele sabendo de todos os detalhes da história.


Daryl Hannah como a sereia Madison é simplesmente perfeita. Ela tem muitas características que futuramente influenciariam Ariel, como a curiosidade e a forma que ela fica adorável sendo curiosa. É quase como uma criança aprendendo como funciona o mundo, é simplesmente fofo e Daryl consegue fazer isso de uma forma que não soe forçada ou estranha. 


John Candy e Eugene Levy são engraçados o suficiente mas também com uma certa tragédia. O irmão mulherengo meio que se gaba por ter um papo maneiro com as moças e também pelos seus feitos, como ter uma carta publicada na Penthouse e ter levado uma namorada como acompanhante a um de seus próprios casamentos. Mas ao mesmo tempo é ele que faz que Tom Hanks (sim, eu esqueci o nome do personagem, vá se lascar é o Tom Hanks ou Woody) perceber a sorte que tem por poder se apaixonar e viver um amor verdadeiro, enquanto ele próprio jamais poderia ter essa sensação. 

E isso é passado de uma forma séria, crua, sem perder o tom mais cômico do personagem. John Candy era um ator incrível, na moral. 


E Eugene Levy consegue tanto ser engraçado como ter um ar ameaçador de vilão maquiavélico. Tu consegue legitimamente não gostar do cara, mas não o suficiente que não possa perdoá-lo. Provavelmente o fato dele ser engraçado e não fazer necessariamente nada de MALIIIIIIIGNO DUMAAAAAAAAL contribua pra isso. Ele é só um cientista que ficou cego pelo objetivo de vida de provar a existência de sereias. 


A história poderia ter sido melhor com o lance da sereia banida, mas estenderia o filme demais e fica mais interessante algo vago. Nos coloca na mesma posição de Tom Hanks, que sabe quase nada sobre Madison. Seria interessante ter... sei lá, um featurette sobre o backstory, ou mesmo a cena deletada que, pelo que eu entendi, não joga muita luz na mitologia sereística do filme, mas inclui alguns conceitos interessantes.

É um filme bonitinho e charmoso com uma história interessante, ótimas atuações e momentos legitimamente engraçados. Se não assistiu, vale MUITO a pena. 



Also, é interessante notar que a Touchstone é literalmente o estúdio Disney, mas com um selo diferente. O mesmo estúdio que financia e produz os desenhos e live action família é o que financia e produz os filmes maduros, mas os lança com o selo Touchstone por motivos de marketing. 

Provavelmente alguém na produção de Splash queria brincar com isso, poder dizer que era um filme Disney com xingamentos, nudez crua (embora genitais nunca apareçam, e mamilos e bunda fiquem por relativamente pouco tempo em tela), e temas adultos. 



Mas a criação do selo não foi a única mudança que aconteceu no estúdio. Na real, o clima no topo do estúdio tava piorando a cada dia. 


Eu provavelmente já mencionei em outro artigo, mas eu tou com preguiça demais de ir procurar, então eu menciono de novo, até porque é um ponto importante. 

Após a morte de Walt, a companhia ficou presa à mentalidade de "o que Walt faria?" Isso acabou estagnando a Walt Disney Co., que começava a perder terreno de mercado. Embora o genro de Walt e ex-jogador profissional de handegg, Ron Miller, fosse até competente como produtor de filmes, faltava ao rapaz características básicas de um líder. 

Ron Miller na época.
Enquanto isso, Saul Steinberg (o BIJINESSMAN, não o cartunista) tentava fazer um hostile takeover. Pra vocês que não falam businêss, eu fiz o favor de ler quase 40 páginas de uma tese de faculdade em inglês sobre o caso, e eu vou dar o meu melhor pra traduzir de uma forma que cê entenda. 

Então, como cê deve lembrar, enquanto Walt ainda era vivo, ele botou a empresa no mercado de ações. Isso quer dizer que podia chegar a galera, comprava um papel que dizia que tu era dono de uma fração da empresa, e quando tu precisasse ou simplesmente quisesse, tu podia vender a um preço mais alto. 
Mas se tu tivesse uma porcentagem considerável de ações, tu poderia dar pitaco no futuro da empresa, inclusive em quem seria o próximo presidente e CEO, que é basicamente um presidente supremo, que dita a visão e os próximos passos da empresa, além de representar fisicamente a companhia. 


Outro cargo de importância é o chairman of the board, que pra termos práticos aqui trataremos como presidente. Então, pra cês terem uma idéia do quão caótica tava a situação nos níveis admnistrativos da WDC (porque escrever Walt Disney Co. o tempo todo é cansativo), tinha um maluco chamado Esmond Cardon Walker; ou simplesmente Card, cujo apelido provavelmente rendia trocadilhos hilários na hora do café dos funcionários, já que esse cara era temido pelos seus colegas e subordinados. 

Começou a carreira como mensageiro do estúdio Disney lá nos anos 30, e acabou virando presidente. Como disse Kevin Smith, "em Hollywood você tropeça pra cima". 

Card Walker na abertura do EPCOT.
Enfim, esse Card era odiado e temido pelo pessoal, não poupava críticas aos funcionários, não ouvia conselhos, e suas decisões de gerenciamento envolviam não gastar um tostão em propaganda pros parques temáticos, se limitando a convencer as emissoras de fazer um especial nos parques caso precisasse de propaganda; além de não aumentar os preços das entradas pra não sujar a imagem "family-friendly" que a Disney tem. 

Se Carl Barks dissesse que esse cara foi uma grande inspiração pro Tio Patinhas, eu não me surpreenderia. 


Card sequer se importava com a divisão de filmes, que acabaram não crescendo com o público, sendo que era uma das marcas da gerência de Walt. Ele conseguia ver a demanda do público e a atender satisfatoriamente. Card eventualmente abriu mão de sua posição, que acabou ficando com Ray Watson, e Ron Miller como CEO. Mas Ron era um moleque inexperiente pra Wall Street, por não saber tomar decisões por conta própria e sempre consultar Ray antes de fazer algo sério. 

Ao menos uma das decisões corretas de Miller foi a de notar que, durante muito tempo, a produção de live action baratos era o que sustentava a Disney. Lembram que foi quando Walt começou a investir em live actions, diminuiu a produção de longas animados, e focou mais nos parques? Os filmes eram como aquelas trufas que tu faz por fora pra complementar a renda, e o trabalho principal seria as animações e os parques. 

Hoje essa posição vai pros canais de TV a cabo, mas eu divago. 

Ron percebeu que eles precisavam de um retorno de um público mais amplo, e criou a Touchstone, que acabou preparando terreno pros projetos de Eisner. 


Mas a criação do selo não era suficiente pra convencer que Ron tinha as qualidades de líder, ao menos pros caras da grana.
Resumindo, a admnistração da Disney como companhia tava igual o Bob Esponja naquele episódio que ele tem que ser um garçom chique em menos de 24h, acaba esquecendo de tudo pra assimilar as tarefas do trabalho, e vemos aquela cena dentro da mente dele com milhares de Bob Esponjas correndo gritando com tudo pegando fogo pelo simples motivo de perguntarem o nome dele. 


E foi nessa situação de caos que apareceu Saul Steinberg, um conhecido caçador de corporações (não achei tradução técnica pra corporate raider, vai essa mesmo), cujo plano era uma tomada hostil da companhia, comprando ações o suficiente pra tomar a empresa e vendê-la em pedaços, porque a empresa completa não tinha tanta valia, mas os assets como parques, filmes, personagens, etc. separados valiam muito. 
É o que eu imagino que aconteceu com a Rankin/Bass e Filmation, cujos direitos de filmes e desenhos tão espalhados em pelo menos 3 empresas. 


Roy Disney e os outros acionistas fizeram todos os preparativos pra fugir dessa tomada, e pra resumir a história, chamaram outra pessoa pra comprar as ações de Saul pra prevenir essa tomada, e depois chamaram Michael Eisner pra assumir a posição de CEO da Walt Disney Company, além de Frank Wells como presidente. 

"cheguei rapaziada kkkk"

Amado por uns, odiado por outros, Michael Eisner começou sua carreira no meio trabalhando na TV, em emissoras de três letras como NBC, CBS e ABC. Se cavar um pouco mais deve ter uma foto dele com o Sílvio Santos. 

Após isso, passou um tempo na Paramount, que na sua gestão lançou sucessos como Grease e os filmes de Star Trek. Eisner tava praticamente certo pra ser CEO da Paramount, mas quando chegou a hora ele disse "meh", e foi fazer lobby pra posição de CEO da WDC.

Roy Disney arrastou Eisner e Frank Wells (que trabalhava na Warner Bros) pra cargo de chefia da companhia, e pela primeira vez, alguém que não havia trabalhado diretamente com Walt (nem era da família) estava em posição de liderança. Era o sangue novo que precisavam. 


Querendo ou não, Eisner era o tipo louco que a Disney precisava no momento. Seu estilo de gestão era mais ou menos o que deve ser usado na Asylum: nenhuma idéia é imbecil demais, então bota pra fora. É uma tática de brainstorming que funciona, assim as idéias boas aparecem e blablabla. Um evento que caracteriza bem sua gestão foi quando Eisner surgeriu um Hotel do Mickey. Seria literalmente um hotel no formato do Mickey. As pernas seriam os quartos. 

A idéia veio abaixo quando o arquiteto presente na reunião perguntou onde iriam os elevadores.
Não, eu ainda não consigo visualizar o projeto baseado nas descrições que eu ouvi.


Mas é CLARO que era uma idéia retardada, só uma série pré-escolar em computação gráfica faria algo tão absurdo assim. Mas mostra que qualquer idéia seria válida pra análise, e assim Eisner expandiu grandemente o reino do Mickey, comprando a ABC (e por tabela a ESPN), e dirigindo a criação do Disney Channel e da adesão do sistema de sindicalização de desenhos, que aumentou muito a receita e a marca Disney, com desenhos que você provavelmente já viu como Tico e Teco e os Defensores da Lei, Super Patos, DESENHODUPATETA, Esquadrilha Parafuso, Darkwing Duck e DUCK TALES, WHOO-OO! 

Foi ele também que sugeriu que os caras da TV fizessem uma série sobre balas de gelatina em forma de ursos, porque o filho dele gostava. 
É sério. 

E eu tenho quase certeza que
essa fantasia de Chewbacca foi reaproveitada da
Priscilla da TV Colosso.

Eisner também teve uma PANCADA de idéia louca pros parques, que acabaram dando certo. Como a entrada de marcas de fora da Disney, como Indiana Jones, Star Wars, Twilight Zone, e até uma espécie de rave pra atrair adolescentes. 

Lá na frente veremos como o estilo de Eisner acabou desgastado, mas estou me adiantando. 


Enfim, Eisner agora tava no comando criativo e Frank Wells no financeiro e admnistrativo, numa dinâmica bastante similar à de Walt e Roy. Mas antes que o trabalho de Eisner pudesse aparecer, assuntos do passado precisavam ser terminados. 

E assim, nós chegamos ao infame ponto mais baixo na Era Sombria Disneyana: The Black Cauldron (conhecido em Caucaia como O Caldeirão Mágico). 


O filme tava em produção desde os anos 70, e foi usado como teste aos novos animadores, que eram jovens cheios de energia, esperança, e espinhas, que davam o melhor que podiam pra fazer o melhor filme possível, mas eles começaram a ver como a banda tocava. Ordens diretas e autoritárias dos executivos, que foi um dos motivos que levou Don Bluth a liderar um grupo pra cair fora da Disney e fazer seus próprios filmes. Isso levou a produção de Caldeirão a demorar ainda mais. 

Pra piorar, o filme teria como base os dois primeiros livros das Crônicas de Prydain, que tem uns 30 personagens. Então... É. 

A história base do filme não é muito complicada, no entanto. Na real, é até bastante interessante. 


Tem um moleque com um sotaque britânico cujo trabalho é cuidar de uma porca com o poder de ter visões sobre o passado, presente e o futuro. Ou algo assim. 
...ok. 

A última visão da porca revela que o Rei Caveira... Rei... Esqueleto... Qual era o nome dele na dublagem? Rei de Chifres? Que nome... pouco ameaçador e brega. Dane-se, vou chamá-lo de Imperador Grumm. 
Enfim,a visão da porca revela que Grumm quer encontrar o Caldeirão Negro (ou Mágico, ou Encantado, sei lá) que é um artefato com o poder de ressuscitar os mortos em um exército imortal. 

O moleque então leva a porca pra um esconderijo, mas no meio do caminho encontra um projeto de Smeagol peludo e irritante, a porca é capturada por Grumm, ele vai resgatar, encontra uma princesa e blablabla. 

Se ele tivesse em Descendentes certeza
que seria o Esqueleto do He-Man.
O plot em si soa interessante, parece o tipo de fantasia que tava saindo muito nos anos 80, como Dark Crystal, Labirinto, Wizards, Willow e Senhor dos Anéis. Aliás, Ralph Bakshi foi até chamado pra dirigir o filme, mas disse que seu estilo era bem diferente do family friendly Disneyano. 

Graças a Deus que ele recusou, senão presenciaríamos uma cena deletada envolvendo Eilonwy com suas roupas rasgadas. 

...Ralph Bakshi é um cara estranho. Enfim. 


A narrativa sofre de problemas clássicos de adaptações de livros, mas normalmente a produção ao menos acerta o tom pra fazer um filme mediano, ou eles mudam o suficiente em prol de uma idéia muito melhor. Isso quando não tão sabotando o filme pra que ele seja o mais diferente possível do livro.


Aqui, não só os personagens são uma versão INCRIVELMENTE branda dos livros, como o filme em si falha em construir uma narrativa atraente. É uma fantasia medieval genérica, mas com cenários surpreendentemente bem-feitos. A pintura dos backgrounds é lindíssima, mas todas as cenas de ação se resumem em floresta sombria, floresta clara, e castelo de Greyskull arquitetado pelo mesmo sujeito que fez a Mansão Winchester. Embora sejam criativos e belos de serem apreciados, depois de um tempo passam a serem monótonos, só mais do mesmo. 


Os personagens não ajudam a enriquecer a história. O moleque principal é arrogante e aprende a lição, e pouco mais que isso é desenvolvido. Eilonwy nem tem motivo pra ser princesa, não vemos eles serem salvos pela posição dela nem nada do tipo, nem sequer vemos o reino dela, ou alguma indicação que isso exista. O bardo é um personagem até ok, mas... Meh. Ajuda em um momento na barganha com as bruxas e só. Gurgi (ou seja lá o nome dele, eu não vou persquisar agora) é um personagem irritante, com voz irritante e que não faz absolutamente nada de útil. 


Aliás, spoiler a seguir, mas eu creio ser fundamental pra exemplificar o nível de falta de direção da história.
Gurgi se sacrifica pra acabar com a magia do caldeirão. Foi um momento ótimo porque não só podemos nos livrar desse desperdício de celulose, como também é um final heroicamente trágico pro personagem. Se eu me importasse com ele até sentiria algo. Mas aí o que fazem no final? RESSUSCITAM ELE. 

...ok, não só isso é imbecil do nível "quadrinhos ocidentais de super-heróis", onde a morte é o equivalente a um corte no dedo... ou a perda dos membros em Star Wars, porque isso torna o sacrifício de Gurgi de menos valor. Tu não sente o peso da morte dele. 

Tomara que esteja envenenada.
Mas além disso, esse ato poderia ser capaz de trazer de volta o poder do Caldeirão Negro, e talvez até Grumm de volta. Pensa nisso, a única forma de acabar com a magia do Caldeirão seria com alguém entrando por vontade própria no Caldeirão, mas sem poder voltar. Não passou pela cabeça de nenhum dos personagens que, caso o caminho inverso fosse realizado, teria risco de deixarem o Caldeirão num estado anterior ao sacrifício, revertendo tudo? 

Sabemos que não é assim que ele funciona... Aparentemente, mas NINGUÉM questiona isso, nem sequer pra uma das bruxas falar algo como "ah não, tá de boa, uma vez cancelada a magia ela não volta". 

MEU DEUS, que filme chato e imbecil. 


Mas ao menos dar crédito ao filme, por ser o primeiro filme de animação a misturar com força 2D com CG, e usar de uma forma inteligente, sem destoar do visual. Ao invés de fazerem personagens ou cenários em 3D, eles se limitaram a usar efeitos de cenário, como fumaça e a magia do Caldeirão. 

Infelizmente, o 2D sofre muito por si só, com no mínimo dois momentos em que os personagens ficam semi-transparentes, ou que o estilo de animação muda de limpinho pra "sujo como 101 Dálmatas". 


É realmente um filme MUITO ruim, não só um dos piores filmes que a Disney já fez, mas um dos piores de animação. Claro, não chega ao top10 ou algo assim (temos Foodfight, Norm of the North pra isso), mas ainda assim, é um ponto baixíssimo. Não é à toa que ele conseguiu o feito lendário def perder em bilheteria pro filme dos Ursinhos Carinhosos. 


Felizmente, a Disney anunciou que comprou os direitos dos livros, e com essa onda de fazer séries de filmes, talvez os livros tenham o tratamento que merecem. Quanto a essa... coisa, eu recomendo passem longe, a menos que sejam obrigados por algum motivo. 

Tipo escrever retrospectivas/dissertações sobre a História da Disney/Animação em um blog de internet. 

Uma pena cenários tão bons
sejam desperdiçados aqui.


Após o fracasso monumental que foi O Caldeirão Mágico, era hora do estúdio agir. Era agora ou nunca. Algo precisava ser feito, o destino do estúdio de animação tava em jogo. 
Mas, parafraseando George Lucas, a História não se repete, ela rima. 


E mais uma vez, o estúdio foi salvo por um rato. 


The Great Mouse Detective (que tem tipo uns 3 nomes alternativos só em inglês, mas que na região de Maranguape é conhecido como As Peripécias do Ratinho Detetive) custou apenas 14 milhões, e 
rendendo 38 milhões, o filme conseguiu mostrar que ainda havia um futuro pra animação Disney. 


Não chega perto da bilheteria de Um Conto Americano (84 milhões), mas era um período difícil pra Disney, compreenda. 

Na real, os filmes de Bluth durante a Era Sombria só mostravam como os filmes Disney estavam fracos de conteúdo, lançando O Segredo de NIMH, Um Conto Americano e A Terra Antes do Tempo (ou Em Busca do Vale Encantado). 

Mas eu divago. 


A história é baseada numa série de livros, narrando as peripécias saltitantes de Basil, um rato que mora debaixo da casa de Sherlock Holmes. Ao tentar capturar Ratingan, Basil se encontra com Dawson, um médico que acaba de voltar do Afeganistão, e uma garotinha cujo pai é fabricante de brinquedos e foi sequestrado por Ratingan. Agora o rato com nome de tempero pra pizza precisa solucionar o caso e finalmente capturar seu arqui-inimigo. 

A história claramente toma referências de Sherlock Holmes, com a diferença que ele é um rato. 

...devia ser suficiente, não? 

Ééééé... Ok. 



Há um claro esforço de fazer algo criativo aqui, e de fato, o filme consegue ser uma coisa própria mesmo com o conceito ser INCRIVELMENTE desgastado. 
Não, sério, pensa aí quantas histórias envolvendo ratos e aventuras "maior que seu tamanho imitando aspectos do mundo humano", tu deve lembrar de umas 5 sem nenhum esforço. 

Só na época desse filme já tinha O Segredo de Nimh e An American Tail (fora Bernado e Bianca), então tinha certa concorrência. 


Os personagens tem muito carisma. Basil é elétrico e cheio de si, mas não a ponto que o torne uma má pessoa. 
Rato. Quis dizer rato. 

Dawson é um gordinho gente boa e que muitas vezes não sabe exatamente como agir. A pivetinha é adorável e só. Ratingan é dublado pelo Vincent Price e ele ama cada segundo disso, o que o torna um personagem muito divertido; quase uma versão ratazana do vilão de Pete's Dragon. 

Mas, como na época o filme tava passando por aperto de orçamento, a duração dele é curtíssima. 
E isso é um ponto negativo que na real, se torna positivo. 


Ele te dá uma dose exata da história e te deixa querendo mais. Eu quero ver mais Basil em ação, eu quero ver mais Ratingan fazendo maldades, eu quero ver como Basil resolve os crimes e deduções. 

Que, aliás, é algo que vemos pouco. Sim, Basil é inteligente, mas ao contrário de histórias do tipo (Scooby-Doo, Dekaranger, as próprias histórias do Holmes), os casos podem ser acompanhados pelo público, apresentam pistas, lançam teorias, tornam o público em parte participante da história. 

Aqui, já sabemos quem é o vilão, e vemos pouco das deduções de Basil. Claro, isso é em prol de apresentar o personagem como vilão e nos divertirmos com ele (que é um assunto interessante pra um outro dia, aliás), mas ainda assim, eu sinto que uma série animada sobre Basil poderia ter esses elementos e ser incrivelmente interessante. 


Ao menos temos Tico e Teco e os Defensores da Lei. 



Ah sim, e teve o clímax na torre do Big Ben, que foi a primeira vez que usaram modelos 3D numa animação 2D.

De qualquer forma, é um filme bom. Não é espetacular, mas dado o histórico do estúdio nesse período, foi espetacular e salvou o estúdio da falência, e deu mais um pouco de ar pra se preparar pra reestruturação. 

O que seria complicado, já que os chefões do estúdio tinham... Alguns problemas. 




Conheçamos John Lasseter. John era filho de uma professora de artes e um vendedor de peças de carro, e sonhava em trabalhar com animação. Depois que se graduou, começou a trabalhar nos parques Disney, sendo até guia na ride Jungle Cruise. De alguma forma (lembremo-nos: em Hollywood você tropeça pra cima) ele consegui um emprego de animador na Disney, e teve contato com cenas dos lightcycles de Tron. 

Naquele momento, John Lasseter disse "mermão, que parada loca". 


John se juntou com Glen Keane pra conversar sobre um projeto misturando animação tradicional e computação gráfica, sendo essa última uma espécie de evolução natural da Câmera Multiplano. 
Eu já discordo, não seria usado à tanta exaustão e com a mesma naturalidade, mas como vemos em Ratinho Detetive, funciona se for bem dosado. 

Glen Keane trabalhou nesse filme, aliás. 


Glen achou a idéia de John do balaco baco, e John disse "ow ow bora fazer baseado nesse livro da Torradeira Valente", mas Glen preferiu fazer um curta de teste baseado em Onde Vivem os Monstros, já que havia rumores que o estúdio iria adaptar esse livro. 


Com a cena teste em mãos e um sorriso no rosto, John levou a idéia de fazer A Torradeira Valente nesse estilo pros chefões do Walt Disney Animation. Mas Ed Hansen (chefão da animação na época) e Ron Miller não viam o custo-benefício de fazer um filme de animação tradicional mesclado com 3D, já que se ia custar o mesmo tanto ou um pouco mais que um filme tradicional, pra que fazer em 3D?

Minutos depois, John Lasseter iria ser despedido da Disney.
...pela primeira vez.


Alguns dizem que John estava muito à frente dos executivos à frente do estúdio, e eu consigo entender o motivo. Foi o mesmo pessoal que por anos amargou derrotas em bilheteria e crítica, mas que não queriam arriscar algo tão diferente assim. Compreendo totalmente o lado deles também. 

Felizmente, John se encontraria com outro apaixonado por tecnologia, e dariam os primeiros passos pra uma grande revolução no meio. 


Mas isso é história pra outro dia. Por ora, vejamos o filme que estreou diretamente no ainda jovem Disney Channel, e só depois na tela grande, The Brave Little Toaster (na terra da rapadura de castanha, é conhecido por A Torradeira Valente). 


A história começa nos mostrando o dia-a-dia dos eletrodomésticos vivos em uma casa abandonada. Cansados de esperar a volta do dono, eles resolvem ir atrás dele, e nisso se metem em altas aventuras e confusões. 

E... é basicamente isso. 
...é. 

E pra um plot tão raso, é incrivelmente satisfatório. 


Os personagens não são exatamente complexos, mas também não precisam ser. São eletrodomésticos e tem dilemas relativamente simples. Ainda assim, é possível se identificar e torcer por cada um deles, especialmente pelo aspirador de pó tsundere dublado pelo Ghost Host da Haunted Mansion/Tony the Tiger. 

E esse é um conceito que eu nunca imaginei que pensaria na minha vida. 

Na real o elenco por vezes lembra muito o de Ursinho Pooh, mas sem ser incrivelmente infantil, é algo mais palpável. Ainda são personagens inocentes e incrivelmente simplórios, mas o conceito é parecido. 


Um dos elementos mais interessantes do filme é o visual. Ele realmente NÃO tem cara de algo feito pela Disney. Até porque... não foi. A idéia foi mandada pros chefões, mas como eu mencionei, eles rejeitaram, porque o uso de 3D proposto por John Lasseter iria custar praticamente o mesmo de full 2D. 

Então o filme foi feito independentemente, e só então distribuído pela Disney. 

Mas o traço é muito diferente do normal, parece algo feito pra TV, com menos orçamento, sem tempo pra refinar alguns pontos, o que deixa certos humanos um pouco estranhos (em especial Chris). Não é um traço ruim, longe disso, mas é o tipo de coisa que tu esperaria de um daqueles filmes direto pra vídeo de um estúdio que não é pequeno, mas também não é grande.
Tipo... Uh... Goodtimes? Talvez?


A narrativa do filme é bem básica, mas é interessante o suficiente e os personagens tem um crescimento notável. Alguns consideram esse filme um protótipo dos filmes da Pixar, não só porque MUITA gente da Pixar trabalhou nele (como John Lasseter e Joe Ranft), mas também por ter tropes comuns, como coisas do cotidiano ganhando vida, ou mesmo temas um pouco mais adultos no meio. 

O tema de ser esquecido e substituído é bastante presente durante o filme, algo que seria melhor apresentado lá na frente com Toy Story 2; bem como algumas suposições que, quando tu para pra pensar... são um pouco sombrias demais. 

Por exemplo, no começo do filme os heróis tentam usar uma geladeira pra sair de casa. Uma vez que a lógica das regras de mundo começa a ser desenvolvida aqui, supõe-se que os aparelhos que usam eletricidade são vivos, enquanto os outros não. 

Então... porque a geladeira não se mexe? 


O Prof. Carvalho sugeriu que ela tivesse morta. 
Eu pensei que poderia ser uma regra específica, mas não. Lá na frente aparece uma geladeira viva. 
E a casa tinha sido abandonada faz um bom tempo. 
Então... é. 



No final das contas, é um filme excelente pra ver, tanto por motivos históricos como pra ter uma diversão descompromissada. É bem previsível, mas ainda consegue te surpreender com algumas coisas. As músicas não são exatamente grudentas, mas uma vez que tu ouvir, são inconfundíveis. Minha favorita é Worthless; a ironia de ter uma música animada sobre carros contando suas histórias de vida enquanto são destrinchados e reciclados resume bem o tema principal do filme, como também dá uma dose de humor negro. 

Aliás, toda a sequência no ferro velho é agoniante no mesmo molde de An American Tail, e é sensacional. 




Mas enquanto isso, a Touchstone não parava. Enquanto liderava a Paramount, Eisner usava a estratégia de Singles e Doubles, um termo de baseball que diz que mesmo jogadas mornas, onde os jogadores chegam nas primeiras e segundas bases, podem ser necessárias pra vencer o jogo. Cê pode acabar fazendo um home run no processo, mas caso não, tá de boa, tá progredindo no jogo. 

E se tu não entende analogias de baseball, vai jogar 2020. 



A estratégia que Eisner que... parando pra pensar, o sobrenome dele sempre me faz lembrar de Will Eisner, quadrinhista cuja assinatura usava a mesma fonte da logo da Walt Disney Company. Huh.
Enfim, a estratégia que ele trouxe da Paramount  era a de fazer filmes baratos, com atores de TV não tão bem conhecidos, nem tão caros, ou cuja carreira estava em baixa, prometendo que o filme iria trazer eles de volta pro estrelato. Por exemplo, Robin Williams tinha acabado de largar as drogas, e fez Bom Dia, Vietnã (que aliás, é muito bom). O filme custou 13 milhões de dólares, e arrecadou 120 milhões. 

A idéia era fazer filmes com conceitos mais universais e fáceis de marketar pro público comum. Se não fossem bem de bilheteria, ok, foi barato. Se fizessem bem, comemoremos. Se fez MUITO BEM, Eisner dava uma festa pros funcionários com open bar de batata frita. 


Mas isso não queria dizer que o estúdio não pudesse arriscar um projeto maior e mais caro. Quando estava na Paramount, foi Eisner que deu uma chance pra Spielberg e George Lucas em Motoqueiros do Baú Antigo. 
Ou será que eu traduzi "Raiders" errado? Enfim. 


Essa era uma dessas vezes. Um filme que juntou os maiores nomes da época: Disney (usando a Touchstone), Amblin (estúdio de Spielberg), Robert Zemeckis (diretor da trilogia De Volta Para o Futuro), e até outros estúdios concorrentes como Warner, Paramount e MGM. 

Um filme que desafiava animadores tradicionais, produtores, e o pessoal dos efeitos visuais que eventualmente serviam café na hora do intervalo. 

Um filme chamado Who Framed Roger Rabbit (na terra de Gilberto Barros, "Uma Cilada par Roger Rabbit") 


A história trata de Eddie Valiant, um detetive particular que odeia desenhos animados. Mas não que ele seja um velho ranzinza ou um membro da Academia de Cinema, mas literalmente, os personagens de desenhos que permeiam o mundo. Há uma cidade onde eles vivem, Toontown, e eles vão pra Hollywood estrelar em desenhos animados. 

E a grande estrela do Maroon Studios é Roger Rabbit, que não aceita que sua esposa, Jessica, o tenha traído com Marvin Acme, o dono das indústrias Acme. 
Sim, AQUELA Acme. 

E quando o velho aparece morto esmagado por um cofre, Roger é acusado de matar o cara, e Eddie relutantemente aceita ajudar o coelho, porque acredita que ele é inocente. 

Vamo comentar logo a parte técnica porque é basicamente só porcausa disso que o filme é conhecido. 


Misturar animação e live action é algo feito desde literalmente o início da animação. Fleischer já botava Koko no mundo real, como também ia pro mundo dos desenhos; Walt Disney fazia isso com Alice's Comedies, foi refinando com Song of the South, Mary Poppins, e Gene Kelly dançou com desenhos em pelo menos duas ocasiões. 

Mas o que os produtores desse filme queriam era algo totalmente único, maior, melhor. Os personagens animados deveriam coexistir com humanos reais, em um mundo real, interagir com objetos reais e reagir a condições reais de luzes. 

"Ô meu Valdisnei, bota mais uma dose
que hoje ela me fez sofrer"
E só depois de um teste de menos de um minuto com todos esses elementos foi que a Disney e a Amblin deram sinal verde pra produção. O orçamento inicial era de 50 milhões, mas a Disney achou caro demais e baixou pra 30 milhões e um recado de "te vira aí". 

O orçamento final foi de 70 milhões.

Mas você realmente vê esses 70 milhões na tela. 


A mistura de animação e live action REALMENTE funciona. Tu nota que os caras tiveram esforços extras pra fazer com que as coisas funcionassem, até mesmo dentro da lógica do mundo. Por exemplo, na cena que os fuinhas revistam a casa de Eddie, eles poderiam tar usando armas animadas. Mas não faria sentido, porque teoricamente, só armas reais afetam humanos reais. Logo, as fuinhas usam armas reais mesmo sendo personagens animados. 

Da mesma forma acontece com vários outros objetos, e a sincronia e interação entre as partes funciona quintessencialmente bem. 

Essa palavra existe? Enfim. 


E claro, temos o crossover mais ambicioso de todos os tempos. Dane-se Vingadoidos e sua Treta Sem Fim, aqui temos os grandes personagens da Era de Ouro da animação juntos! Mickey e Pernalonga, Donald e Patolino, Dumbo, Koko, Betty Boop, Pica-Pau, Chicken Little, Branca de Neve, Droopy, a lista continua. 

E pra mostrar como respeitam tanto essa Era, não foi usado um único efeito em computação nesse filme. Todas as animações são feitas da forma tradicional; e também trouxeram pessoas que trabalharam com esses desenhos, como Mae Questel (voz da Betty Boop) e Chuck Jones. 

E sim, é o Koko xavecando a
harpa de Como É Bom Se Divertir lá no fundo.
O que é engraçado, já que Chuck Jones odiou o filme, dizendo que era simplesmente errado um filme onde o herói em carne e osso tenha mais simpatia do público do que o animado. Além de que os produtores não entendiam os personagem ou a Era que diziam homenagear, por arruinar a sequência de piano que ele ajudou a planejar, e até Frank Thomas disse que o filme falha no protagonista ter... paixão? Eu pesquisei o que "pathos" significa, mas... Que? 

John KRIKFALUSHI também falou que a animação faltava direção e os personagens não tinham personalidade ou vivacidade. 

Mas é o mesmo cara que fez Adult Party Cartoon, então... É. 

Eu pessoalmente creio que Chuck Jones odiou o filme em parte por usarem uma versão anterior à sua do Patolino, que ele pessoalmente não gostava e insistiu que usassem a dele, mas Zemeckis acabou usando a versão de Robert Clampett. 

O que eu consigo até concordar é que... No fundo, é uma história "ok". 


A gente lembra mais pela tecnologia e pela maravilha que é ver tantos desenhos clássicos juntos, coexistindo num mundo cheio de referências e até piadas um pouco pesadas com esses desenhos (isso é, pesadas vindo da Disney; tem um detalhe de cenário que sugere que a Alice é garota de programa, por exemplo). Mas no fundo, é só uma história de detetive noir/hard boiled. 

Mas o que faz a história funcionar é o constraste. Ter um arquétipo de Humpfrey Bogart contracenando com um arquétipo de Pernalonga é interessante por si só, são extremamente opostos. 

Não sei vocês, mas eu acho que gosto menos desse filme hoje do que quando criança. Mas não por achar ele ruim, mas por entender do que se trata e perceber que o que eu lembrava de quando pivete e gostava tanto dura menos tempo do que eu imaginei. 

É tipo Um Maluco no Pedaço, eu tou revendo a série e notando como as histórias são menores do que eu lembrava, tem mais momentos legitimamente dramáticos, e às vezes os episódios nem tem uma conclusão fechada. 
Não torna a série ruim, continua boa. Só que é "menos" do que eu lembrava. 


O filme em si tem uma narrativa visual incrível. Sem uma linha de diálogo ele conta a história dos dois irmãos desde a infância até a carreira como detetives particulares em Hollywood, explicando até outros momentos do filme, como Betty Boop ser a única personagem que Eddie respeita e o clímax do filme. 

Ainda deixa brechas, mas tu consegue entender o suficiente. 


O que mais posso dizer além do que todo mundo já disse? Esse filme tem lá suas falhas, mas é mais referente à idéia que tu tinha quando criança e a que tu tem agora. Quando criança tu via esse filme pra ver desenhos interagirem com atores, ver Mickey Mouse, Pernalonga, Patolino, Pateta, Pica-Pau na mesma cena. Hoje, talvez tu aprecie mais a narrativa visual e veja que a parte dos desenhos é menor do que tu lembrava. Mas assim como Detona Ralph, esses personagens ficam em cena apenas durante o tempo necessário, sem atrasar a história. Que funciona perfeitamente bem. 

Eu diria pra tu assistir quando tiver tempo, mas cê já assistiu. 

Então... Uh... Assista... No áudio original, quando tiver tempo. Ou reveja, sempre é um filme interessante pra rever a qualquer momento, e tentar pegar todos os detalhes e cameos. 

E se ainda não estiver satisfeito (como eu não fiquei), toma uma rruma de vídeo de bastidores do filme, incluindo cenas de teste

Porque se eu não botar essa cena aqui
alguém vai reclamar.

Mas o estúdio principal, a Disney, ainda sofria amargamente com suas animações. Nada dava muito retorno, e o que o estúdio produzia era suficiente só pra continuar vivo, e ninguém sabia exatamente por quanto tempo isso continuaria. 

Era preciso um home run. Um sucesso. Algo que tomasse o mundo de uma vez só e elevasse novamente o estúdio ao patamar que estivera nos anos de Walt, ou talvez, ainda mais do que isso. 

A Disney precisava mais uma vez ser salva por uma princesa.



***
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