Power Rangers (2017)
Eu tenho uma história bem curiosa sobre minha relação com esse filme.
Provavelmente é mais engraçada na minha cabeça, mas enfim.
Março de 2017. Começo do ano e fim de ano tem saído filmes que há pouco tempo, meio que se tornaram uma tradição assistir, como Star Wars e o canon Disneyano (Zootopia e Moana). Mas foi nesse mês que saiu mais um filme que minha mãe queria muito ver: Maria Bonita e o Lobisomem. E se você leu essa resenha, minha vontade de ver o filme era ao mesmo tempo negativa e incrivelmente grande. Eu SABIA que ia ser uma merda, eu sabia que ia desrespeitar e cagar em cima da tradição Disney de fazer filmes e criar personagens fantásticos, com uma narrativa cativante. A questão era mais: como e até onde eles fariam isso?
Ao mesmo tempo, outro filme em cartaz era o dos Puliça Poderoso, que eu também tava com zero vontade de ver. Especialmente porcausa do design das armaduras, dos Zords, do Alpha... Mas eu tava legitimamente interessado nos personagens, porque pelos trailers, pareciam interessantes, um novo estilo de histórias de super-heróis, uma mistura entre o estilo japonês e dos heróis da Marvel.
Porque Deus te ajude se você for copiar a DC.
E agora que eu finalmente vi o filme do Esquadrão Mecânico IronManger, eu posso dizer que...
...eu provavelmente deveria ter visto Power Rangers.
Digo sim, eu tenho um estranho sentimento masoquista de ver um filme ruim, mas veja bem, eu prefiro ver um filme bom no cinema e ver o ruim algum tempo depois, baixando ilegalmente, sem peso na consciência de que eu contribuí pra propagação de fezes.
E sim, eu tenho algo especial pra quando Emoji Movie sair no torrent.
E eu não tenho vergonha alguma em dizer isso.
Sem mais delongas, Power Rangers: Força Groove Street.
A história começa com a pior e mais manjada piada possível sobre vacas. Sim, o moleque "ordenha" uma vaca e o outro fala "ah não, é um menino". Coisa que A Vida Moderna de Rocko já fez nos anos 90 e eu imagino que boa parte das comédias do mesmo tempo também.
Mas eles vão um passo além e deixam o órgão do bicho em primeiro plano e iluminam com uma lanterna, caso vocês não tenham entendido.
Vida Moderna de Rocko teve mais respeito pelo seu público, e olha que em um momento o Rocko come testículos de urso.
Mas eu divago.
Nosso herói Jasão é descoberto pela polícia e acaba causando um acidente de carro, o que o leva a ganhar uma tornozeleira e ir pra detenção no colégio, bem ao lado da sala onde Clark Kent estudou.
Na detenção ele conhece Billy, um guri com dificuldades de interação e que tenta fazer amizade com Jason após este o defender de um bully.
Bully este que não se chama Bulk ou Skull, caso esteja se perguntando.
Na mesma sala está Kimberly, que após ser cortada (quase literalmente) do time de líderes de torcida, banca a Mulan e corta o cabelo.
...OOOOOH! NÃO, COMO É POSSÍVEL? QUE ULTRAJE! QUE REBELDIA! OOOH MEUS SAIS! UBLORGH UBLORGH UBLORGH
É... esse filme tem uns momentos meio... Bocós. Eu já falo especificamente disso.
Enfim, de alguma forma esses três e mais dois jovens acabam se encontrando em uma pedreira, ocorre uma explosão, moedas do poder, blablabla acordam sem saber como voltaram pra casa e com poderes. E ao voltar pro lugar, descobrem que eles são parte de um grupo de guerreiros destinados a proteger o cristal da Terra das mãos da bruxa espacial Malévola, e auxiliados pelo Walter White e pelo Medo de Inside Out, os 5 adolescentes com atitude vão ter que aprender a lutar e se transformar em menos de 10 dias.
Eu já esperava que seria um filme mais sombrio e realista, algo mais no estilo dos filmes da Marvel recentes. E... É basicamente o que temos, com a diferença que estamos conhecendo esses personagens agora. E eles são legitimamente bons personagens.
São realmente adolescentes com atitude, e à medida que vamos conhecendo seus problemas, suas confusões mentais, seus dilemas, vamos nos apegando a eles.
...mais ou menos.
Digo, os problemas que eles enfrentam são bem palpáveis. Eu definitivamente consigo entender um pouco a atitude de Zack após saber dos problemas dele, o mesmo com a Trini, com o Billy, e a Kimberly. Mas o arco narrativo do Jason não parece muito notável, ele é forçado pelo Zordon a ser o líder, e do nada ele começa a agir como tal. Um dos personagens até pergunta algo como "quem te botou como chefe?" Faltou um pouco de lapidação nesse aspecto.
E eu nem vou dar spoiler aqui, mas o arco de redenção da Kimberly é lindo e pode até ajudar jovens que passaram por situações parecidas. Na real, cada um tem esse potencial, o que é interessante e talvez não se torne datado daqui a alguns anos.
E eu nem vou dar spoiler aqui, mas o arco de redenção da Kimberly é lindo e pode até ajudar jovens que passaram por situações parecidas. Na real, cada um tem esse potencial, o que é interessante e talvez não se torne datado daqui a alguns anos.
Mas provavelmente o ponto forte do filme acaba sendo também sua fraqueza: os personagens.
Cada Ranger é bem construído e interessante, e nós queremos saber mais deles, conhecê-los mais. Sabe o passado deles, o que os levaram a agir da forma que agem. E enquanto os conhecemos, é massa. Mas lá pra metade do filme, sentimos falta de uma coisa: os Power Rangers.
Veja bem, pra que eles possam morfar com sucesso, precisam se entender e agir como um time, o que os obriga a se conhecerem melhor e blablabla. O que é uma idéia genial, mas ao mesmo tempo empurra toda a ação possível lá pro final, e o que temos de resultado ainda é de fato muito pouco. Graças à câmera tremida, não dá pra apreciar nem as lutas nem as armaduras direito.
O que... É um bom ponto, eu acho? Digo, eu entendo mais o conceito das armaduras serem um meio termo entre algo orgânico e tecnológico, assim como os Zords. Mas... É, ainda não me desce, é estranha à beça. Mas ainda assim, eu queria poder apreciar um pouco mais os designs durante a luta.
E não me entendam mal, são lutas bem coreografadas e tu consegue entender bem a ação (ao contrário de Bayformers), mas... Não tem o feeling Power Rangers. Provavelmente é coisa da direção.
Mas os efeitos visuais são competentes e o conceito de algumas coisas funciona. Até o Alpha, que eu ODIEI na arte conceitual, fica mais simpático em movimento. E o Zordon desde o começo pareceu uma interpretação interessante, tanto argumentalmente quanto visualmente.
Mas os efeitos visuais são competentes e o conceito de algumas coisas funciona. Até o Alpha, que eu ODIEI na arte conceitual, fica mais simpático em movimento. E o Zordon desde o começo pareceu uma interpretação interessante, tanto argumentalmente quanto visualmente.
E toda a ação praticamente acontece só no clímax, acaba sendo um pouco cansativo, de certa forma. No sentido de que eu perdi a empolgação total pra isso, começou a sequência de ação e eu só esperava acabar. E a ação era como se eles tivessem um pouco de medo de... Ser Power Rangers. Cê sabe, explosões, as poses, etc. Tentaram dar um ar mais de Vingadores do que Power Rangers, mas quando cê tem Power Rangers, cê quer ver os clichês clássicos, mesmo que o estilo seja meio Vingadores, e dá sim pra achar um meio termo entre os gêneros.
Eles passam mais tempo dentro dos veículos que lutando mesmo, se tivéssemos uma luta a pé na metade do filme, não incomodaria tanto.
Eles passam mais tempo dentro dos veículos que lutando mesmo, se tivéssemos uma luta a pé na metade do filme, não incomodaria tanto.
E dava pra ter trabalhado melhor o ritmo, nos dar ao menos uma cena de ação no meio, nos deixar mais empolgados pro final. Sei lá, eles conseguem morfar, tem uma cena de luta mesmo que em treinamento, mas desmorfam durante a luta, porque o elo entre eles ainda não é tão forte. Daria pra trabalhar o arco pessoal da Kimberly do mesmo jeito, assim.
Mas ainda assim, é um filme de ação... Até bom. Não é espetacular, tem fanservice pra fãs de Power Rangers (e um pouco de Sentai, talvez), os personagens são bastante sólidos, mas não tem uma exposição muito boa. O que pode ser positivo, caso de fato se torne um universo cinemático ou sei lá como os caras chamam.
E como eu mencionei lá em cima, tem umas cenas e diálogos bocós, como a Kimberly cortando o cabelo porque motivos. Mas mesmo com momentos assim, o filme não deixa de se levar a sério, de uma forma que... Meio que funciona. Ainda tem aquele elemento meio bobalhão anos 90, mas de uma forma mais disfarçada e tentando entrar no contexto do filme.
Um exemplo é a atuação da Rita, que é muito exagerada, como a personagem original, mas ao mesmo tempo ela tem uma certa dignidade, que é reforçada pelo visual e até atuação dela. Tu consegue levar ela a sério e ao mesmo tempo se divertir, mesmo ela sendo ridiculamente plana. O que é justificável, esse é um filme que explora a equipe de heróis, estabelecendo personagens. Rita provavelmente volta em uma sequência, e poderemos ver mais dela.
E como eu mencionei lá em cima, tem umas cenas e diálogos bocós, como a Kimberly cortando o cabelo porque motivos. Mas mesmo com momentos assim, o filme não deixa de se levar a sério, de uma forma que... Meio que funciona. Ainda tem aquele elemento meio bobalhão anos 90, mas de uma forma mais disfarçada e tentando entrar no contexto do filme.
Um exemplo é a atuação da Rita, que é muito exagerada, como a personagem original, mas ao mesmo tempo ela tem uma certa dignidade, que é reforçada pelo visual e até atuação dela. Tu consegue levar ela a sério e ao mesmo tempo se divertir, mesmo ela sendo ridiculamente plana. O que é justificável, esse é um filme que explora a equipe de heróis, estabelecendo personagens. Rita provavelmente volta em uma sequência, e poderemos ver mais dela.
É meio complicado recomendar esse filme, porque se você for fã de Power Rangers, você pode não gostar por não ter tanto Power Rangers quanto tu gostaria; ou tu pode amar por motivo de pura nostalgia mesmo. Se tu não for fã, pode gostar porque é um filme que trabalha bem os personagens, bem como a fotografia e narrativa, mas ao mesmo tempo pode não gostar porque não é a tua praia.
0 comments