Conto de Areia


Talvez nem todo mundo saiba, mas Jim Henson era um cara que ia muito além de fantoches. Ele é bem mais conhecido pelo trabalho com Muppets, Sesame Street e Fraggle Rock, mas no fundo ele era um apaixonado por efeitos visuais e como usar eles a favor de uma narrativa.

E nem necessariamente efeitos que envolvessem bonecos, mas edição de vídeo, sincronia musical, animação stop-motion, etc. E antes mesmo dos Muppets e Sesame Street sequer saírem do papel, Jim fez alguns projetos experimentais e especiais pra TV. Alguns deles foram feitos, como Hey, Cinderella!, The Cube, Time Piece, The Frog Prince, e os pilotos pro Muppet Show que eu já resenhei aqui, Valentines Special e Sex & Violence.

Outros foram engavetados por falta de alguém que bancasse, e hoje veremos um desses filmes perdidos de Jim Henson, que tomou a forma de HQ: Conto de Areia (Tale of Sand).



É complicado falar dessa graphic novel sem mencionar outros trabalhos parecidos de Jim, como The Cube e Time Piece.

Exceto que eu não vi The Cube porque é um longa metragem e eu ultimamente tou sem tempo nem saco pra ver. Quando eu ver eu faço um podcast sobre isso ok? Mas Time Piece é um curta metragem e tem no YouTube, então se tu vai pular em Conto de Areia sem nenhum conhecimento sobre esse lado mais artístico-conceitual do velho James, eu recomendaria ver Time Piece antes. É um curta sem diálogos e o pouco de inglês que tem é compreensível mesmo sem saber bulhufas da língua.

Ok, então sobre o que é Conto de Areia?


A história conta sobre um cara que mora numa cidade do Velho Oeste, e a cidade toda tá em festa porcausa dele. Por qual motivo? Sei lá. O xerife dá umas instruções, uma bolsa cheia de coisas que ele pode precisar, e um mapa. Seu objetivo é chegar são e salvo na Montanha da Águia, e sua última instrução é "não confie no mapa".

A partir daí, o maluco passa pelo deserto encontrando todo tipo de obstáculo, de armadilhas pra ursos até bandidos árabes, tudo arquitetado por um vilão quase vaudevilliano com um tapa-olho.

...

Ok, então sobre o que é Conto da Areia?

...sei lá.


O estilo da comédia de Jim Henson e Jerry Juhl (que também assina o roteiro do filme, além de várias outras produções com Henson) é bem caótico, mas baseado em experiências ou observações deles sobre a vida. Quem viu o Muppet Show original sabe que a fórmula deles é pegar algo clássico, normalmente de gosto refinado e zoar de uma forma quase infantil. O resultado é, ironicamente, algo tão refinado ou inteligente quanto o original.

Time Piece e Conto de Areia tem quase a mesma lógica, mas ao invés de uma obra de arte, eles usam filosofias sobre a vida. Time Piece mostra a evolução da humanidade e talvez até como alguns costumes antigos continuam mesmo nos dias de hoje, de outras formas. É sobre a mudança do tempo e como nada realmente muda tanto.

Conto de Areia também trata sobre a jornada da vida, mas de outro ângulo. Sem querer dar spoilers, mas o final do livro dá a entender que a jornada do protagonista não acabou. Como se tudo que ele passou, todas as dificuldades, todos os inimigos enfrentados, fossem só uma fase da vida, um ciclo que se encerrava pra começar outro. Como quando tu termina o Ensino Fundamental e começa o Médio, termina o Médio e vai pra Faculdade, entra no mercado de trabalho, casa, tem filhos, netos e por aí vai. Cada fase da vida tem suas dificuldades, seus adversários, e muitas vezes tu se sente sozinho, mas no final e começo de cada ciclo há uma alegria. Ao mesmo tempo em que a mesma vida que te dá essa alegria te joga na próxima fase sem muita informação e com instruções confusas.


É uma visão um pouco depressiva, e eu nem sei se era exatamente isso que Jim e Jerry queriam passar. É uma história surreal e que poucas vezes faz sentido, com suas imagens sendo mais alegorias de alguma coisa que não é exatamente clara. Além de ser surreal, é praticamente um non sequitur, então às vezes a próxima cena quebra totalmente tua expectativa. O que faz sentido, se for considerar a analogia sobre ciclo da vida que eu mencionei lá em cima.

Na real, eu tenho uma ligeira impressão do que deveria ser essa história. Como é uma história surreal, baseada em conceitos filosóficos, e acima de tudo, era pra ser um filme experimental (tal qual Time Piece), nem tudo precisa de uma resposta. Talvez a intenção seja algo mais abstrato, te fazer questionar algumas coisas sobre a vida. Eu sei lá, Jim era um cara genial e absurdamente criativo, e talvez mais à frente do seu tempo do que eu imaginava. O fato dessa história não ser autista (onde só o autor compreende) já é alguma coisa.


A arte é sensacional. Nunca li nada que o artista fez, mas ele consegue um traço que soa realista e detalhado, mas que também se encaixa nos temas e narrativa abstratos. O uso das cores pra evocar emoções e até cenários diferentes é muito bem usado, e a arte final muda de acordo com a necessidade: algumas vezes é limpa e definida; em outras é meio embaçada, especialmente quando precisa dar a idéia de movimento.

Eu tenho alguns problemas com a narrativa visual, entretanto. Especialmente quando tem página dupla mas o flow da história não te indica naturalmente pra onde tem que ir. Em alguns momentos o foco de visão te obriga a ler "fazendo curvas" mas as indicações pra isso são meio estranhas ou simplesmente não são tão claras como deveriam. Mas eu que sou chato mesmo.

E o acabamento da editora BR que publicou o livro no formato "livro de anotações", com capa dura e elástico ao lado é interessante, evoca os rascunhos do roteiro original (que também aparecem vez ou outra na história). Sei lá se isso foi feito nos EUA também.


Conto de Areia talvez não seja pra todo fã de Muppets, mas é interessante pra conhecer um lado de seu criador que normalmente não aparece tanto. A companhia ultimamente vem se perdendo em filmes de baixo orçamento pra pré-escolares, raramente fazendo algo que realmente valha o nome de seu criador. Mas recentemente eles lançaram na Netflix um especial de culinária temático de Halloween, e tão produzindo filmes e séries baseados em Dark Crystal, Labirinto e Fraggle Rock. 

Embora essas últimas obras mencionadas tenham algo em comum (uso de fantoches), as obras mais adultas e surreais como Time Piece, The Cube e Conto de Areia são menos conhecidas do público mainstream, e talvez por isso mesmo merecem uma olhada. Jim fazia muito mais do que fantoches, e esse é um exemplo sensacional. Vale muito a pena dar uma lida pra compreender melhor como funcionava a mente dele.

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