Os Quadrinhos de Cristal Encantado


A série Dark Crystal: Age of Resistance tá chegando FINALMENTE na Netflix, e eu tou esperando algo assim há MUITO tempo.

Como um dos poucos por essas bandas que já escreveu sobre Dark Crystal e Jim Henson, eu me sinto na obrigação de fazer algo quanto a essa série nova. Eu sou um dos fãs que esperam algo desde o anúncio da produção, e muito tempo depois, veio um trailer com uma tomada de teste e artes conceituais.

E só. Mais nada. Até que mais cedo esse ano finalmente soltaram um trailer, e a cada momento que passa estamos mais próximos de conhecer mais sobre o mundo de Thra, ao menos em forma audiovisual.


Sim, porque embora Dark Crystal não tivesse sucesso em sua época, aos poucos ganhou um grupo de fãs com uma lealdade tão grande que basicamente obrigou a Jim Henson Co. a lançar mais material baseado nesse universo. A maioria deles como livros.

Os quais eu não falarei aqui porque eu não tenho saco de ler livros como antigamente e nem tenho os meios pra os ler. Entretanto, quadrinhos também são abundantes, e por sorte, eu sou próximo o suficiente dessa mídia pra que eu possa balbuciar alguma coisa com propriedade.


Então, se quiser se preparar pra nova série e conhecer mais sobre o mundo de fantoches com ar de fantasia européia, vem comigo.


A propósito, eu não consegui ler Legends of the Dark Crystal. Não consegui nem comprar nem uma versão digital, então se alguém tiver, pode me mandar. Já cansei de procurar em livrarias, sites e Bienais do Livro. Esse e o de Labirinto, mas eu achei Return to Labyrinth digital então ok.

...

Prosseguindo com o artigo.


The Dark Crystal (O Cristal Encantado)


Eu já tinha escrito uma resenha desse filme em 2014, mas se tu for ver esse artigo, minhas habilidades de escrita eram comparáveis a um orangotando com diarréia cozinhando pão de queijo. E como eu revi esse filme recentemente e talvez tu tenha caído nessa página enquanto pesquisava sobre "aquele filme estranho que eu tinha medo quando pirralho google pesquisar", talvez seja uma boa te mostrar daonde surgiu tudo.

Jim Henson nunca quis ser exatamente "o cara dos fantoches", ele era um artista experimental, gostava de brincar com trucagens e possibilidades, fossem de narrativa, edição ou efeitos visuais, como se vê até em Conto de Areia. Logo, parecia natural que em algum momento algo como Dark Crystal acontecesse.


Os anos 80 viram nascer um estilo bem característico de contar histórias de fantasia, como História Sem Fim, Willow e até Return to Oz. Um senso de maravilhamento, de exploração de mundo, personagens que são escritos mais como fábulas do que o tom mais incrédulo e cínico dos anos 2000. Ao menos eu noto, sei lá se eu tou errado. Dark Crystal pega muito embalo nessas linhas, mas faz algo do seu próprio estilo, mas sendo um filme inteiramente em fantoches, ao invés de atores. Esse era um diferencial interessante, algo que ninguém havia tentado antes. Seria o primeiro filme totalmente animado com fantoches.

Sim, tecnicamente é um filme de animação, mas isso é assunto pra outro dia.


A história se passa num mundo estranho (ou antigo, ou outra dimensão, vai saber) cuja energia principal vem dum cristal mágico. Até que esse cristal é rachado, e duas raças surgem dele: os Mystics e os Skeksis.

Os Mystics são criaturas de cabelos longos que passam o dia a entoar cantos ritualescos, cultivar vegetais, e ler búzios. O Skeksis são arrogantes, orgulhosos, glutões e mais feios que o rascunho do mapa do inferno escrito em braile. Ou seja, os Mystics são hippies e Skeksis comunistas.

Mas a profecia antiga diz que o último dos Gelfling (seres humanóides que parecem fadas/elfos) é que irá restaurar o Cristal pra sua forma original, e esse Gelfling é Jen, que estava sob o cuidado do mais velho e sábio dos Mystics. Após a morte do velho, o Gelfling parte em busca da sábia Aughra, pra pegar a lasca de cristal e retorná-lo ao seu lugar de origem.


Reassistindo o filme recentemente, minha visão sobre ele mudou um pouco. Eu passei a apreciar mais a construção de mundo mais lenta, a contemplação dos cenários, as pequenas nuances de cada personagem, e só... Só o imenso trabalho em conceituar e construir os cenários e fantoches. As tomadas na selva são muito vivas e constróem o mundo de uma forma não-verbal fantástica; cada personagem e aspecto ao seu redor parece ter alguma função no ecossistema natural, exceto... os protagonistas.



Jen e Kira continuam tão profundos quanto um pires, mas hoje eu consigo ver um pouco melhor qual era a intenção de Jim e os outros roteiristas nessa história. Assim como Willow, é uma história de um zé-ninguém que se vê obrigado a fazer o que é certo pelo bem maior de seu mundo. É alguém que não tem muita escolha senão se meter no meio da briga da melhor forma que pode, e tanto Jen quanto Kira tem esse intuito, e eles tentam resolver as pequenas pistas do quebra-cabeça que é o mistério da lasca de cristal, ou o que aconteceu com os Gelfling, e se eles podem confiar no Skeksi banido.

Argumentalmente é fantástico, mas em termos de personalidade eles ainda precisavam ser muito recheados. Cê pode argumentar que eles eram planos o suficiente pra que o público se sentisse na pele deles, mas há um limite pra isso. Os protagonistas devem ser tão interessantes quanto a história de fundo, pra que nos motivemos a torcer por eles. Já temos uma história sensacional e interessante, mas poderíamos ter personagens menos apáticos e melhor desenvolvidos.



Ainda assim, é um filme sensacional e que precisa ser revisto de tempos em tempos pra ser melhor apreciado totalmente. De fato, é algo que eu tomarei pra mim como um evento anual.

Planos pra uma sequência foram feitos, mas como o filme meramente existiu e não fez tanto dinheiro quanto deveria, os planos foram deixados de lado. Recentemente teve até tentativas de Genny Tartakovsky de fazer a tal sequência, mas deram em nada. Só BEM recentemente, quando o filme tomou seu status de pérola escondida e clássico cult, é que uma adaptação em quadrinhos da sequência foi feita.



The Power of the Dark Crystal


Ok, pequena lição de História Henson. Jim era um cara criativo que não conseguia ficar parado, e queria fazer mais coisas além de só fantoches. Mas como ele descobriu que era um negócio que ele e seus companheiros sabiam fazer e que, como David Goelz disse um tempo depois, "ninguém era doido o suficiente pra fazer o que a gente fazia".

Lá pra 2005 apareceu um roteiro de uma sequência, que tal qual criança pequena simpática, ficou passando de mão em mão sem que ninguém tivesse a determinação de cuidar de fato. Durante um tempo até Genny Tartakosvky, criador de Dexter, Samurai Jack e Symbionic Titan, tava desenvolvendo o projeto. Mas tudo acabou em nada.

Os Henson até jogavam a idéia pro público, com concursos pra escritores de livros no universo do filme, lançamento do site com informações da mitologia de Thra, e até um episódio inteiro de Creature Shop Challenge. Mas nada sobre a sequência. O diretor Shane Abess até pulou fora do barco porque leu as notas de Jim sobre uma possível sequência e "ninguém se importou uma merda sobre o que Jim queria".


É uma história muito longa, e se tu tiver interessado, tem um artigo no Muppet Wiki sobre isso. Em 2016 eles ficaram sem saco de continuar mais uma vez o projeto e jogaram no colo da Archaia pra publicar uma adaptação em quadrinho mesmo. Eles já tinham lançado outra série em quadrinhos baseada em Dark Crystal (a qual veremos mais adiante), além de títulos baseados em Fraggle Rock, Labirinto, Storyteller e Conto da Areia. Então era um caminho óbvio.


A história se passa séculos depois do primeiro filme, onde os Gelfling voltaram a ser uma raça numerosa e forte, e todos em Thra levam oferendas ao fazerem pedidos ao Cristal. Mas uma Fireling  vinda das profundezas do mundo chamada Thurma aparece do nada pedindo um fragmento do Cristal pra salvar seu povo, cuja chama está morrendo. Os Gelfling a proíbem, mas ela toma um pedaço mesmo assim, novamente separando Skeksis de Mystics, e acordando Lorde Jen e Lady Kira.

Que por algum motivo que eu não lembro estavam em sono congelado. Sei lá.

Thruma se junta ao Gelfling Kensho em sua jornada de restaurar seu mundo, enquanto ambos são caçados pelos Gelfling, e Jen tenta entender exatamente o que se passa, especialmente com a nova profecia que Aughra lê, que indica que "um mundo morre e o outro sobrevive ou algo assim, sei lá, se virem aí".


A leitura dessa... mini-série...? Era pra ser um filme, mas... Enfim, a leitura é meio estranha, porque o roteiro parece muito um filme oitentista. E isso totalmente no bom sentido. A história parece realmente uma evolução de onde paramos, mesmo que recicle alguns clichês porque... Bom, os Skeksis sendo medonhos, Mystics sendo hippies, e Chamberlain fazendo "hhMMMMMmmmm" são coisas que nos fizeram amar o filme original, então é claro que vão repetir aqui. Mas quando o fazem, fazem com algo novo.

Chamberlain persegue o casal principal porque ele naturalmente quer o poder todo do Cristal pra si, tal qual como no primeiro filme. Skeksis são criaturas repugnantes, obnóxias, petulantes e arrogantes, então suas necessidades e desejos não mudaram muito. Mas Chamberlain sempre teve mais personalidade que seus irmãos, era o manipulador, era o mais proativo, e isso ainda é refletido aqui.


Jen e Kira continuam com suas personalidades tão planas quanto um terreno zerado em Zoo Tycoon 2, mas agora ao menos eles tem um motivo. São velhos, cansados, e sábios, porque são velhos e cansados, e como sabemos, idade e canseira trazem sapiência. O problema é que com o Cristal partido, Kira corre o risco de morrer, então Jen vai atrás de Thurma e Kensho pra conversar e descobrir como resolver a situação, enquanto seus soldados querem exterminar os "hereges infiéis bebedores de Pepsi".

Kensho e Thurma formam um dos casais mais adoráveis que eu já vi, e olha que eu vejo a série de Enrolados. Eles não se dão bem 100% do tempo, e a própria situação que eles vivem não lhes permitem florescer um romance, mas a gente consegue sentir que sim. É incrivelmente natural, eles começam a se ajudar por simplesmente sentirem que é o certo a se fazer, e aos poucos começam a se apegar mais um ao outro. Mas ao mesmo tempo é algo puro, inocente, algo que poderia ou não resultar num relacionamento sério, e mesmo que a história nunca nos dê isso, ainda assim não sentimos uma falta de catarse. É espetacular.


Eu tou realmente mais interessado em saber se Thurma vai salvar o povo dela, e se Kensho vai fazer os Gelfling perceberem seus erros. Que, aliás, é um grande tema da história. Os Gelfling se tornaram arrogantes, egoístas, e superprotetores quanto ao Cristal e às oferendas, em essência virando basicamente fariseus dos tempos bíblicos. Cobram muito do povo, chegando até ao ponto de os maltratar, e pelos motivos errados.

Kensho serve os guardiões do Cristal como oferenda pela sua família, e ele os serve cegamente, até que Thurma o faz repensar suas decisões. De novo, a forma que esses personagens interagem é muito natural e satisfatória.

Claro, lembra muito Icarus and the Sun do Gabriel Picolo quando cê para pra pensar, mas ainda assim é satisfatório o suficiente pra me fazer soltar uns "nhown" em voz alta quando eu li.

Não me julguem, eu sei que vocês fazem o mesmo quando lêem suas fanfics de doente.

SEUS DOENTES!


O traço e narrativa também são espetaculares. O traço meio cartunesco coreano dá uma vida especial ao mundo de Thra, mas ao mesmo tempo consegue captar a beleza e criatividade de um mundo que deveria ser feito com trucagens físicas. Os personagens são expressivos, as cenas de ação são claras (embora em alguns momentos falte algumas linhas de ação), e no geral, o desenho consegue te passar a idéia que o roteiro te quer passar.

O detalhamento que eles dão a esse mundo, que agora tem mais vida que no primeiro filme, a forma que vemos a sociedade estruturada após a reforma, os seres animalescos e plantas vivas e o mundo do fogo, é simplesmente bom demais.


E só quando tu lê tu consegue perceber a dificuldade que deve ser produzir isso em filme. Tem uma personagem que tá constantemente em chamas, e a menos que a CG seja muito bem feita (ou uma trucagem muito loca e perigosa e provavelmente cara), o efeito não vai ser convincente, ao menos não seria durante os anos 2000.

Talvez se Age of Resistance for bem-recebido, tenhamos uma adaptação em filme dessa história. Talvez não, porque eles vão querer fazer alguma coisa no mesmo período de Age of Resistance, tal qual Katy Keene se passando no mesmo universo de Riverdale do CW. Mas enquanto isso, esse quadrinho é provavelmente nossa única oportunidade de saber o que aconteceu depois do primeiro filme, e faz esse trabalho com maestria.


Essa história ganharia uma continuação em 2018, chamada...




Beneath the Dark Crystal




Essa série ainda tá em publicação, mas como só falta uma edição pra acabar, acho que já dá pra dar um veredito.
Eu achei um saco, mas eu sou minoria, aparentemente.


Após os eventos de Power, Kensho e Thurma seguem suas vidas, cada um no seu lugar. Obviamente a saudade começa a apertar e o casal se vê lidando com seus problemas separados, mas ao mesmo tempo relacionados, mas ao mesmo tempo nem tão relacionados assim. Sei lá, é complicado.

Kensho se vê perdido quanto ao seu propósito como líder dos Gelfling, e Thurma precsa enfrentar uma outra fireling que reclama o direito ao trono por ser da linhagem direta dos primeiros fireling. Enquanto Kensho tem sua crise de juventude que faria John Hughes abrir um sorriso, uma guarda chamada Toolah esbarra em Kensho e se junta em sua jornada porque motivos.


Aparentemente Toolah quer ajudar os Gelfling necessitados blablabla e Kensho toma isso como um sinal e rouba oferendas ao Cristal e parte com Toolah pra devolver aos Gelflings e Podlings. Enquanto isso, Thurma viaja com Nita, a reclamante ao trono dos Firelings, até os confins de Mithra, a parte inferior de Thra. Elas buscam uma forma de decidir de uma vez por todas quem é a legítima herdeira ao trono e no caminho encontram estátuas de antigas rainhas dos Firelings bem como dos... fundadores (?) da raça; e um ser que se intitula como O Fogo Parado ou seja lá como ficou na tradução. Que apesar de ter aparência maligna e chifres e misterioso não é dumal.

Ok, eu acabei de descrever vagamente a Aughra mas cês entenderam.

Essa é uma história que TOTALMENTE não precisava existir. Power of the Dark Crystal eu compreendo, até. O filme termina com um final feliz mas vago, e a sequência preenche algumas lacunas e mostra como possivelmente a sociedade e o mundo teria avançado a partir daquele ponto. Tinha um mistério em torno das profundezas de Thra, uma aura lendária em Jen e Kira, e uma sociedade de Gelflings corruptos e gananciosos. De certa forma, continuamos a ver isso aqui, em lugares afastados do Castelo, mas...

...

Sei lá, é tão vazio.

A história tenta dar algum significado profundo demais, mas acaba sendo perdida em sua complexidade. O filme original e a sequência em quadrinhos tinham conceitos abstratos complexos, mas eles eram pontuais e não te distraíam da aventura principal. Era coisas como Jen contando a Aughra que seu mestre estava morto e ela respondia olhando pros lados e dizendo "Então ele pode estar em qualquer lugar!"; ou a profecia de que os dois mundos eram um só e um precisava morrer pro outro renascer.

São conceitos abstratos e um pouco confusos, mas que são mais parte da construção de mundo e fáceis de serem acompanhados. Aqui eles enfiam muita mitologia de uma forma desconexa e soltam filosofias como se fosse algo natural. Acaba sendo cansativo de ler e eu literalmente não consegui me apegar aos personagens.


Também não ajuda que a introdução de personagens importantes sejam muito rápidas e de tom irrelevante, como Toolah e o bardo. Toolah chega do nada e "ENTÃO BORA AVENTURA YAY", e o bardo é liberto da prisão e "sei lá eu vou andar com vocês agora". Eu só consigo me interessar pelas gêmeas ladras porque elas tem uma dinâmica divertida entre si, eu totalmente veria uma série de ação-comédia com foco nelas.



Mas todo o resto parece muito perdido, e nem é pelo arco de auto-descobrimento de Kensho e Thurma, mas a própria direção da história. Não dá pra saber exatamente o que eles querem fazer com esses personagens. Lembra quando cê era criança e tentava pegar os brinquedos de um filme e tentar continuar a história?

Tipo sei lá, Corcunda de Notre Dame ou Rei Leão. Tu lembra como o filme acabou, mas tem o boneco do Frollo/Scar e precisa usar na brincadeira cujo cenário acontece depois do filme. A brincadeira vai acabar resumindo em sei lá, o Quasímodo sendo prefeito da cidade, Simba tendo que resolver os problemas dos animais (como o Tigre Pacato não conseguir lutar contra as hienas), e por algum motivo aparecer um irmão gêmeo dos vilões dos filmes.

É basicamente isso, só que alguém foi pago pra escrever.


Desde o começo pareceu uma história sem eira nem beira, mas existe um legítimo potencial nela. Lá pro final Kensho e Thurma meio que se encontram através de magia e ambos precisam conversar sobre seus medos interiores e resolver seus conflitos, e um acaba ajudando o outro em suas jornadas.

Era esse o tipo de coisa que eu queria ver mais, mas ao invés disso eles nos dão duas narrativas paralelas que não tem ligação entre si e não nos deixam acompanhar direito nem uma coisa nem outra.


A arte é bonitinha, pegando carona nas influências orientais que já vinham de Power, mas dando um ar mais estilizado, meio que de ilustração tradicional. Em alguns momentos funciona, mas em outros acaba sendo confuso demais e as cenas que envolvem ação acabam prejudicadas. O mundo de Thra já é bastante estilizado, e às vezes esse estilo específico não ajuda na clareza visual.

Fora as cores que ou são agradáveis ou tão claras e ofuscantes que cansam a vista.


Sei lá, aparentemente a série foi bem recebida, mas eu achei um saco. A pior parte é que depois desse artigo ir pro ar, eu ainda vou ter que ler a última edição, senão eu vou ficar agoniado.




Creation Myths


Essa minissére é o equivalente ao livro de Gênesis de Dark Crystal. Literalmente, ele traça desde a própria criação de Thra, percorrendo os eventos que levaram ao status quo que temos no filme.

A história nos é narrada por um andarilho contador de histórias, que... bom, conta histórias. O que cê esperava, nado sincronizado? Enfim, ele nos conta sobre como Thra foi criado e como o Cristal Negro é o coração pulsante do mundo, de como as criaturas e raças surgiram, especialmente Aughra. Descobrimos que Aughra é muito mais do que aquela velhinha engraçada que parece seguir o arquétipo de Mestre Yoda, é mais... uma versão tribal do Yoda.

Ela é curiosa com o mundo, aprendeu a língua das criaturas, das pedras, ensinou os Gelflings sobre o mundo, e coisas assim. Ela é basicamente uma historiadora de Thra.


E então vieram os seres alienígenas conhecidos como UrSkeks, que de fato ensinaram aos Gelfling sobre agricultura, arquitetura, etc. Mas Raunip, o filho de Aughra, suspeita que essas criaturas não estejam contando tudo sobre si ou suas origens, além de praticamente terem se apossado do Cristal e do Castelo.

Sim, Aughra tem um filho, e ele é basicamente o protagonista dessa minissérie. Não é o único, porém. Temos segmentos que acompanham Gelflings como Gyr, um viajante lendário que visita as diversas tribos de Gelflings trocando informações, cultura, e principalmente, músicas. Mas ele ouve uma canção estranha em um sonho, e decide viajar até os confins de seu mundo pra encontrar a tal canção.



As narrativas dos três volumes se resumem a essas histórias que tem um tom de lenda, são narrados como histórias épicas, mas ao mesmo tempo soam como História. Como o próprio Brian Freud descreveu em um dos textos introdutórios, "parecia mais um trabalho de arqueologia, mas era arte". De fato, todas as histórias dos livros são feitas de uma forma que soem como mitologia, e funciona de uma forma fantástica.

No primeiro volume, intercalado com algumas das histórias, ainda tem uns contos curtos em prosa, que seria o equivalente ao contar histórias ao redor da fogueira, como os próprios Gelfling fazem. Uma delas é sobre como as meninas ganharam asas; outra sobre como um herói chamado Jarra-Jen salvou uma tribo de um rei maligno, numa narrativa que lembra MUITO a de Momotarou e tantas outras na linha de "ajuda alguém pelo caminho-recebe uma recompensa-usa a recompensa pra resolver o conflito final".

E são histórias interessantes que, embora não tenham muita importância na grande história de Aughra, Raunip e Gyr, dão um pouco mais de carne e vida ao mundo.



O traço é incrivelmente lindo, e sempre foi algo que me deixava muito confuso quando eu pensava sobre os quadrinhos de Dark Crystal, antes de ler. Digo, é uma série em quadrinhos baseada em um filme de fantoches, mas ao mesmo tempo é feito de uma forma pra tu não pensar que são fantoches, sendo um filme de fantasia normal. Mas os fantoches e suas limitações fazem parte do charme visual de Dark Crystal, então... como fazer?

As expressões faciais dos personagens são bastante fiéis ao que vemos nos filmes: Gelflings tem emoções básicas e muita linguagem corporal (já que no filme não temos tanta variedade, já que era o primeiro filme com bonecos realistas assim, logo limitações eram notáveis); Aughra e Raunip são bem mais expressivos (especialmente Raunip, embora ele ainda conserve uma qualidade fantochesca notável), e por aí vai. Ainda assim, eles permitem que os personagens sorriam ou mudem suas expressões usando as maçãs do rosto, mas grande parte da emoção mesmo vem do olhar e do corpo.

Com isso dito, por vezes a anatomia dos rostos parece meio zoada. Vira e mexe o alinhamento dos olhos não bate, ou eles parecem ter mais cabelo do que deveriam ter. Dá pra arranjar uma desculpa pra quase tudo, mas ainda assim soa estranho, visualmente.Talvez pelo fato de a caixa craniana dos Gelfling e de Raunip serem diferentes de um humano comum causem uma certa confusão na hora de projetar o desenho, mas é mais cata-piolhagem minha. Os cenários e personagens são obscenos de tão detalhados, é uma visão maravilhosamente espetacular, tal qual o filme original.


A questão é: você deveria ler isso? Depende.

Pra fãs ávidos pra conhecer mais do mundo de Thra, ou pra estudantes de arte qualquer que seja (cinema, quadrinhos, ilustração, roteiro, escultura, cookies empanados) é obrigatório. Tu vai encontrar uma mitologia incrivelmente detalhada e fiel ao filme original narrada de uma forma interessante e imersiva.

Praqueles que até gostam do filme e até se deram ao trabalho de ler o quadrinho com a sequência, talvez seja melhor passar. Não temos muita coisa além de realmente apreciar os eventos que aconteceram antes do filme, e há praticamente nenhuma referência a nenhum evento ou personagem do filme ou de Power of Dark Crystal. Acaba sendo uma leitura pesada e cansativa, com muita informação visual e narrativa que sim, aos poucos vai se afunilando pra uma única narrativa e mais fácil de acompanhar, mas até lá tu já vai estar cansado.


Talvez seja o tipo de coisa pra se ler sem compromisso, um capítulo ou dois por dia ou por semana, sei lá. E isso se tu tiver uma curiosidade mórbida. Mas pra gente do meio ou que estuda o meio, é obrigatório. É uma narrativa montada de forma fantástica e contada de uma maneira que te traz pro mundo de Thra, e tu vai se sentir como um Gelfling ouvindo histórias ao redor da fogueira enquanto assa um caramelo.

Ou seja lá o que eles comam por lá.

Also, tem uns textos explicativos sobre o trabalho de Jim Henson e Brian Froud no filme original, além dos desenhos conceituais do próprio Brian. Caso tenha interesse na vida e obra de Jim, são trechos interessantes pra ler.




The Dark Crystal Tales


Esse aqui é bem diferente dos anteriores. Não é uma história em quadrinhos, é um livro pra crianças que tão aprendendo a ler, com ilustrações grandes, frases curtas e histórias simples. Sim, parece desinteressante, mas assim como Creation Myths, ele tem lá sua qualidade artística.

As histórias são curtas e bobinhas e geralmente envolvem piadinhas visuais e lições de vida interessantes (no caso, a história envolvendo Jen e seu mestre), mas as ilustrações são espetaculares. Detalhadas, cheias de vida. Vale a pena ter algo assim na estante ou pra presentear alguma criança, ou pra servir de referência pra desenho.



E essas foram as obras quadrinhísticas baseadas em Dark Crystal. Traçando uma linha do tempo simples pra tu se situar quanto à série da Netflix:



The Gelfling Gathering é um pdf disponível no próprio site de Dark Crystal. Talvez eu comente quando ler os livros, sei lá.


Tem ainda uma PANCADA de livro que eu não tive saco de ir atrás e nem escrevo sobre porque eu ainda não desenvolvi bem minhas habilidades pra resenhar livros. A maioria dos livros do Universo Expandido foram escritos por J.M. Lee, que foi o vencedor de um concurso da Henson Company pra produzir conteúdo de Dark Crystal.

Aparentemente, tão produzindo a série nova como uma sequência dos livros, já que tão marketeando como "prequel da nova série da Netflix. A boa notícia é que dois deles foram publicados no Brasil em português, até o momento: Sombras do Cristal Encantado e A Canção do Cristal Encantado. Tu pode conferir aí embaixo os links pra comprar.

Sim, eu vou comprar num futuro próximo, mas vai demorar até eu ter e ler todos os livros. Até lá, me ajuda aí comprando os livros e os quadrinhos (os quadrinhos tão ridiculamente baratos, aproveita) se puder, ajuda muito aqui. Eu preciso fazer a feira e tal.


 

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